"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



segunda-feira, 28 de junho de 2010

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - CAPITÃO-MOR BENTO MACIEL PARENTE

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* ??/??/1567 – Caminha, Portugal

+ ??/02/1642 – Recife, Pernambuco


Bento Maciel Parente foi veterano das guerras da Paraíba e do Rio Grande, onde participou da construção do Forte de São Filipe e da Fortaleza dos Reis Magos. Participou da Campanha do Salitre, sendo enviado ao interior da Bahia, 80 léguas sertão adentro. Em 1609, serviu como Capitão de Entradas e Descobrimentos em São Vicente, no Maranhão e no Pará.

Durante o período da União Ibérica, Bento Maciel Parente fez parte da vitoriosa campanha de Alexandre de Moura, participando de expedição que partiu da Capitania de Pernambuco, com a finalidade de expulsar os franceses do Maranhão, e realizando brilhante campanha, que obrigou o invasor a capitular no dia 1º de novembro de 1615.

Com a ascensão de Jerônimo de Albuquerque ao governo do Estado do Maranhão, em janeiro de 1616, foi nomeado Capitão de Entradas. Durante esta década, explorou os rios que desembocam na baía de São Marcos, ao sul de São Luís: o rio Mearim e o rio Pindaré. Seguindo os exemplos e processos dos bandeirantes, construiu o Forte da Vera Cruz do Itapecuru.


Atuação como Capitão de Entradas na Amazônia

A construção do Forte do Presépio e a fundação da cidade de Santa Maria de Belém, por Francisco Caldeira Castelo Branco em 1616, constituíram-se nos pontos de apoio de que Pedro Teixeira e Bento Maciel Parente necessitavam para dar combate aos holandeses e ingleses invasores nos anos que se seguiram.

Bento Maciel Parente foi um dos eleitores das primeiras eleições para Câmara Municipal de São Luís, em 1619, quando chegaram ao Maranhão os primeiros açorianos. Em julho de 1621, o rei de Portugal nomeou-o Capitão-Mor do Grão-Pará. Durante o seu governo, Bento Maciel fortificou o Forte do Presépio e ordenou uma investida contra os invasores holandeses, com objetivo de expulsá-los da colônia.

Em maio 1623, junto com Luís Aranha de Vasconcelos, Aires de Souza Chichorro e Salvador de Melo, conquistou dos holandeses os pontos fortificados de Muturu e Mariocai, próximo á foz do rio Xingu, também chamado de Paranaíba, fundando, no lugar do Forte de Mariocai, o Forte de Santo Antônio de Gurupá e fazendo dele a base de apoio para as suas arrancadas, expulsando nos anos seguintes os holandeses do Baixo Xingu e do rio Tapajós.

A ação realizada no Forte de Mariocai foi um grande feito. Liderando cerca de 70 soldados e aproximadamente mil índios em canoas nativas, o Capitão-Mor do Pará investiu contra os invasores holandeses. Buscando ludibriar a guarnição holandesa, Parente manobrou rumo ao Forte de Orange, na parte leste do Baixo Xingu, provocando a debandada dos invasores que fugiram em direção à selva. A vitória portuguesa na sobre as forças holandesas foi alcançada no Forte de Nassau, 67 km acima do Xingu, uma vez que a fortaleza capitulou sem luta.

Em 1625, Bento Maciel Parente foi responsável pela criação do Escudo das Armas e da bandeira da cidade de Belém, com provimento de D. Luis de Souza. A idéia era colocar o escudo no Forte do Castelo, simbolizando a coragem, a tradição e o pioneirismo dos portugueses. O governador recebeu auxílio de Pedro Teixeira, Aires de Souza Chichorro e Francisco Baião de Abreu.


Combate aos holandeses no Nordeste

Em 1630, a capitania de Pernambuco foi invadida pelos holandeses. Bento Maciel foi consultado, e, logo depois, enviado para a luta. Participou de várias fases da resistência. Em 1634, em reconhecimento a seus feitos, foi elevado à condição de fidalgo.

Em 1636, com a morte de Francisco Coelho de Carvalho, governador do Estado do Maranhão, Jácome Raimundo de Noronha assumiu interinamente. Finalmente, em junho de 1637, Bento Maciel Parente foi nomeado para o posto que há muito almejava: governador o Maranhão. Durante o período em que governou o Estado, Bento Maciel continuou a repelir as várias incursões de ingleses e holandeses.

Em 1637, em reconhecimento aos seus muitos serviços, obteve a mercê do foro de Cavaleiro do hábito de Cristo e a de perpétuo Senhor e a donataria da Capitania do Cabo Norte, atual estado do Amapá, por doação de Felipe III de Portugal, com a honrosa cláusula, de que todos seus herdeiros e sucessores na Capitania se chamariam Macieis Parentes. A doação foi registrada no livro Segundo da Provedoria do Pará.

Noticiada no Maranhão a ocupação do Ceará, pelos holandeses, Bento Maciel Parente enviou tropa ao Cabo Norte, pois entendiam que, por se localizar no extremo do Amazonas, estaria vulnerável tanto aos ataques de ingleses, franceses, holandeses e, mesmo espanhóis, que poderiam vir do Peru ou Equador por rio ou por mar.

Obtendo a ciência e a evidência da ameaça holandesa, o Governador criou uma estratégia para enfrentar os invasores com os recursos que possuía. Para fazer face ao inimigo, distribuiu três frentes de ataque: uma ficaria no Forte de São Felipe, outra estaria de prontidão na Praia Grande e a última foi mandada para confirmar no Araçagi os boatos dos nativos sobre a aproximação de uma frota inimiga. Logo retornou com a notícia de que se tratavam de navios holandeses - de gente amiga, pois já era oficial a trégua ibérica com os holandeses – pelo que o Governador do Maranhão não se preocupou com as naus, homens e armas.

Em novembro de 1640, uma esquadra holandesa de 19 embarcações, mandada por João Maurício de Nassau-Siegen, que desde 1637 era governador-geral da Nova Holanda, com sede em Pernambuco, aproximou-se de São Luís. Como era do cotidiano de nações amigas, a esquadra holandesa foi acolhida com uma salva de canhões do Forte São Felipe. Os holandeses não corresponderam às boas vindas, o que ocasionou a advertência, sendo realizados novos disparos – desta vez reais – contra a frota. Os holandeses voltaram e prosseguiram para o sul da cidade, ancorando no local onde hoje é conhecido como portinho.

No encontro entre os holandeses e luso-brasileiros, o comandante da frota, Johan Cornellizon Lichthart, ratificou o Tratado de Trégua, lavrando um entendimento em "Termo", pelo qual o governador poderia continuar no seu cargo. Solicitou, ainda, um local da ilha para que sua tropa pudesse acampar até vir de Portugal a decisão definitiva do Tratado.

 
Estandarte do 51º Batalhão de Infantaria de Selva, cuja denominação histórica  homenageia o Capitão-Mor Bento Maciel Parente

 
Contudo, o batavo não cumpriu sua parte do acordo, saqueando e ocupando a cidade. O “Termo” de entendimento antes assinado pelos respectivos representantes das nações foi substituído por um novo denominado de Capitulação. Houve a substituição das bandeiras e no mastro passou a tremular a bandeira da Companhia das Índias Ocidentais holandesa.

Os holandeses intimidaram os poucos habitantes que não fugiram a prestar juramento de fidelidade aos Estados Gerais das Províncias Unidas, ao mesmo tempo em que embarcavam todas as tropas portuguesas para serem repatriadas para Portugal.

O Governador Bento Maciel Parente foi feito prisioneiro e mandado por Nassau para a Fortaleza dos Reis Magos, mas faleceu a caminho, em fevereiro de 1642.

Os holandeses ocuparam o Maranhão, não passando ao Grão-Pará. Dez meses depois, Antônio Muniz Barreiros, a partir do Itapicuru e com reforços de Pedro Maciel Parente, Capitão-mor do Grão-Pará e seu irmão, e de João Velho do Vale, comandaram um levante contra os invasores. Durante algum tempo ainda resistiram os holandeses, até que, em fevereiro de 1644, partiram, deixando a cidade em destroços.


Homenagem do Exército Brasileiro

Como justa homenagem pela audácia destemperada, pela coragem e pela sua infatigável energia, contribuindo para que o domínio português se firmasse, defendendo a Colônia contra agressões externas, ao mesmo tempo em que estendia para o interior a conquista e exploração do Brasil que hoje temos, o Comandante do Exército concedeu a denominação histórica de Batalhão Capitão-Mor Bento Maciel Parente ao 51º Batalhão de Infantaria de Selva, com sede em Altamira, no Estado do Pará.

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A POLÔNIA SUCUMBE DIANTE DE DOIS INIMIGOS

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Os poloneses foram um dos povos que mais sofreram com a 2ª Guerra Mundial. Ali a guerra terminou em 1945, mas o final do conflito não significou a libertação do país, como ocorreu em boa parte da Europa.  


Na noite de 16 para 17 de setembro de 1939, tornou-se claro que a Polônia não tinha só um inimigo, mas dois. Desde 1º de setembro − o dia em que começou a guerra −, a Polônia estava conseguindo se defender de forma corajosa, ainda que sem sucesso, contra  o poderoso Exército alemão.

Tropas alemãs invadem a Polônia em 1939

Até aquela noite, no entanto, não se sabia que a Alemanha e a União Soviética − na verdade, ferrenhas inimigas ideológicas − haviam se aliado num protocolo secreto anexado ao Pacto de Não-Agressão. Segundo este protocolo, Hitler e Stalin pretendiam dividir a Polônia. Naquela noite, o Exército Vermelho cruzou a fronteira oriental polonesa para assegurar sua parte do butim. Iniciava-se um dos mais terríveis episódios de uma história cheia de desgraças.

A Polônia dividida entre alemães e soviéticos

Em 1945, a Polônia era um país desmantelado. A fronteira ocidental havia sido empurrada 500 quilômetros para o oeste, de acordo com acertos feitos em novembro de 1943 pelo soviético Joseph Stalin com o então primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, e o presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, em Teerã.

Milhões de poloneses que moravam no leste do país foram transferidos para territórios antigamente de domínio alemão. Varsóvia ficou despovoada e em ruínas. Sob o ponto de vista de sua população total, a Polônia foi, entre as nações atingidas, a que mais sofreu perdas humanas.


"Esteira rolante de cadáveres"

Seis milhões de poloneses morreram no conflito, dos quais mais de 95% civis. Durante seis anos, a Polônia pareceu um "matadouro mecanizado, cuja esteira rolante transportava constantemente os cadáveres de seres humanos assassinados", como disse certa vez o escritor polonês e Nobel de Literatura Czeslaw Milosz.  Situavam-se na Polônia ocupada os principais campos de concentração − Auschwitz, Treblinka, Sobibor, Belzec, Chelmno e Maidanek. Apenas 10% dos 3,3 milhões de judeus poloneses conseguiram se salvar.

Um fato que a perspectiva alemã às vezes deixa de considerar é que não foram apenas os judeus a ser sacrificados pela fúria destruidora dos alemães. Conforme os objetivos de guerra dos nazistas, a Polônia deveria desaparecer como nação. Por isso, a partir de 1939 foi iniciada uma verdadeira caça aos que manifestassem uma ideologia nacionalista polonesa.

Intelectuais, religiosos e nobres foram transportados aos milhares para campos de concentração, ou executados imediatamente. A meta era "germanizar" os territórios poloneses e transformar a população em mão-de-obra escrava.


Luta militar contra alemães e política contra os soviéticos

A resistência era combatida de forma cruel pelos ocupadores nazistas. Para cada alemão morto, eram executados cem reféns poloneses. Com o ataque de Hitler à União Soviética, em 1941, ficou claro para a resistência polonesa que a única forma de serem libertados do terror nazista seria a vitória de Stalin.

Mas o que esta "libertação" significaria revelou-se o mais tardar com o descobrimento das valas comuns de Katyn, perto de Smolensk, em 1943. Ali Stalin havia mandado executar mais de quatro mil oficiais poloneses que haviam caído nas mãos do Exército Vermelho em 1939.

Cadáveres de oficiais poloneses massacrados pelos soviéticos na floresta de Katyn

A resistência polonesa decidiu-se por duas frentes: contra os alemães travariam uma luta militar e, contra a União Soviética, uma política. Em 1944, quando o Exército Vermelho começou a se aproximar do país pelo leste, os poloneses queriam se apresentar a eles como senhores do próprio país.

Planejaram então que, poucas horas antes da chegada dos soviéticos, Varsóvia pegaria em armas para expulsar os alemães. A 1º de agosto de 1944, a resistência polonesa começou os combates contra os nazistas, mas foi deixada na mão pelos soviéticos, pois Stalin recusou-se a ajudar. As tropas soviéticas foram freadas por Moscou do outro lado das margens do Rio Vístula − às portas de Varsóvia − e assistiram a 63 dias de encarniçados combates, com um saldo de 200 mil poloneses mortos.


Duplo trauma nacional

Os alemães sufocaram o levante e expulsaram os sobreviventes da cidade, que estava completamente em ruínas. Hitler determinou até mesmo a implosão do que havia restado de pé, consagrando Varsóvia como a capital mais destruída na 2ª Guerra Mundial.

Até hoje, o levante de Varsóvia não é apenas um trauma nacional, mas também um duplo símbolo da resistência polonesa − contra o terror nazista e contra a opressão soviética. Todos os anos, a 1º de agosto, milhares de habitantes da capital polonesa se reúnem para comemorar a insurreição. Festividades públicas foram repudiadas oficialmente ainda nos anos 1980.

Durante o levante de Varsóvia, um obus alemão explode contra um prédio da cidade.  Varsóvia terminou arrasada.

1945 foi o ano da libertação do terror alemão. O aniversário desta data é lembrado de forma correspondente pelos poloneses. Mas ninguém esquece que a Polônia não ficou livre em 1945. O regime comunista instalado por Moscou apenas fez com que o terror nazista fosse substituído pelo stalinista.

Muitos poloneses, como mais tarde o ministro das Relações Exteriores Vladislav Bartoszewski, foram prisioneiros tanto de Hitler como depois também de Stalin. Muitos poloneses afirmam hoje que, para a Polônia, a 2ª Guerra Mundial não acabou em 1945, e sim com o final da Guerra Fria, em algum momento ao longo dos anos 80.

Fonte: DW


sexta-feira, 25 de junho de 2010

IMAGEM DO DIA - 25/06/2010




Tropas japonesas desembarcam em Shangai em 1938 durante a Guerra Sino-Japonesa

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PENSAMENTO MILITAR

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"Uma batalha perdida é uma batalha que se considera perdida."

(Maurice de Saxe, marechal francês)

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A CAVALARIA BIZANTINA






Durante os séculos X e XI – período em que o Império Bizantino atingiu seu maior poderio - os cavaleiros bizantinosconstituíam as mais bem pagas, equipadas e organizadas forças militares de seu tempo.

Durante o reinado do Imperador Nicephoros II (963-9), Bizâncio, livre da ameaça búlgara, realizou diversas expedições militares na Ásia Menor. Chipre e Síria foram conquistadas, e os árabes subjugados na Palestina. Com as conquistas, o tesouro do Estado cresceu e o império ficou mais rico. Nicephoros formou unidades inspiradas na cavalaria pesada (clibanarii) e extra-pesada (klibanophoroi) romana. Esse nome derivado do klibanion, um corpete usado pelos cavaleiros bizantinos, cujo nome, por sua vez, veio do latim Clibanarius (cavaleiros pesadamente blindados). Tendo em vista que seu equipamento era muito caro, o klibanophoroi provavelmente só existia na guarda do imperador (tagmata).

Cavaleiro bizantino.  É possível observar a armadura do soldado e do cavalo

No campo de batalha, o klibanophoroi utilizava uma formação em cunha, com 20 homens na primeira linha, 24 na segunda, e mais quatro em cada linha a seguir. A última linha (12ª) possuía 64 homens, e toda a unidade 504. A formação mais utilizada era composta por 10 linhas e 384 homens. Homens. Um em cada quatro ou cinco homens era armado com um arco em vez de uma lança, e posicionado ligeiramente para trás no interior da cunha. Havia três unidades de klibanophoroi no tagmata, totalizando entre 1.000 e 1.500 homens. Cada unidade possuía seus próprios galhardetes nas lanças, vestimentas e tinha uma cor distinta.

O klibanophoroi eram armados com uma lança (kontos) de 4 metros de comprimento, que tinha sido adotada a partir do sármatas e alanos, e uma espada (spathion, derivada da espada latina), com lâmina de 90 cm. As quatro primeiras fileiras do klibanophoroi também utilizavam vários dardos curtos (marzabarboulon), que eram conduzidos em um estojo de couro pendurado na sela.

A cavalaria bizantina utilizava três tipos básicos de armadura: inteiriça, em escala e laminar, esta em maior quantidade. As armaduras laminares eram principalmente de ferro, apesar de couro e chifre também serem utilizados. Os cavaleiros utilizavam também uma grande proteção para as pernas, até a altura do joelho (epilorikion), feitas de couro e feltro com algodão acolchoado. As partes inferiores das pernas eram protegidas por caneleiras de ferro (podopsella), e os antebraços com armadura própria (chiropsella).

A armadura dos cavalos era feita de chifre, de ferro ou lâminas, com diversas camadas que protegiam o animal.

Após a derrota dos bizantinos diante às mãos do Seljúcidas em Manzikert, em 1071, os klibanophoroi deixaram de existir.

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quinta-feira, 24 de junho de 2010

NOTÍCIA - MORRE O GENERAL MARCEL BIGEARD, HERÓI DE TRÊS GUERRAS DA FRANÇA

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PARIS - O General Marcel Bigeard, um dos veteranos mais condecorados da França, que liderou as tropas da Resistência Francesa na 2ª Guerra Mundial e unidades de pára-quedistas nas guerras na Argélia e na Indochina, morreu sexta-feira, 18 de junho, aos 94 anos de idade, em Toul-França, onde morava. Sua morte foi confirmada por sua esposa, Gabrielle Grandemange.

O General Bigeard, foi ferido em combate cinco vezes e fugiu de campos de prisioneiros de guerra por três vezes, e alcançou o status de verdadeira lenda na França.  Apelidado de "o Heróico Bigeard " por Charles de Gaulle, Bigeard participou de batalhas contra os nazistas e contra os rebeldes nas colônias francesas da Indochina e na Argélia.

Durante a Guerra da Argélia, o Coronel Bigeard emite ordens para seu regimento utilizando um rádio de campanha


Ele foi considerado o melhor pára-quedista no mundo - afirmou Martin Windrow, historiador militar britânico, à Associated Press - e qualquer que seja a verdade, ele certamente tem uma comprovação no campo de batalha.

Em 1954, saltou com seu batalhão de pára-quedistas na base francesa sitiada de Dien Bien Phu, na Indochina, e lutou contra o Vietminh - os vietnamitas comunistas e as forças nacionalistas - até a derrota da França em 1954.

No meio da guerra de independência da Argélia, seu regimento de pára-quedistas recuperou o controle de Argel, a capital, em 1957.

Um perfil do General Bigeard - que era coronel na época - publicado na revista Time, em 1958, definiu assim sua forte personalidade: "Um tirano, mas o ídolo de seus homens, Bigeard os chicoteava para fazê-los correr 15 milhas em uma hora. Ele os obrigava a fazerem a barba todos os dias, não importa onde estivessem, distribuía cebola crua em vez da ração de vinho tradicional, porque ‘o vinho reduz a resistência.’"

Nascido em Toul, em 1916, Marcel Bigeard começou sua vida profissional como um funcionário de banco, antes de entrar para o exército francês em 1939. Foi capturado pelos alemães em junho de 1940, mas fugiu um ano depois e juntou-se à infantaria colonial no Senegal.

Em 1944 saltou de pára-quedas na França para liderar um grupo clandestino de resistência contra os alemães.

Bigeard serviu ao exército francês até 1974, aposentando-se como um general de quatro estrelas, antes de ser nomeado ministro da defesa do presidente Valéry Giscard d'Estaing.  Posteriormente, foi eleito deputado na Câmara do Parlamento da França.

Sua reputação foi manchada em 1999, quando revelou à Agência France-Presse, após o lançamento de uma das suas memórias da guerra, que os militares franceses usaram a tortura durante a guerra da Argélia.

Marcel Bigeard com suas condecorações


Em Julho de 2000, ele declarou que a tortura na Argélia tinha sido um "mal necessário", e descreveu-a como "uma missão dada pelo poder político", mas nunca especificou se tinha tomado parte pessoalmente em tais atividades.

Marcel Bigeard escreveu 16 livros, memórias, em sua maioria, e recebeu, dentre outras honrarias, a grã-cruz da Legião de Honra, uma das maiores distinções da França, bem como a Medalha da Resistência e a Ordem de Serviços Distintos, do governo britânico .

Além de sua esposa, Bigeard deixou uma filha, Marie-France.



Fonte: The New Tork Times

OS LINDES ROMANOS

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Os lindes - palavra derivada do latim limes, que designa estradas que marcam a divisa entre fazendas ou pomares - serviam como uma barreira que mantinha os bárbaros fora do Império Romano.  Também ofereciam aos exércitos romanos que atuavam nas fronteiras uma base protegida de suprimentos e um refúgio, no caso de precisarem retrair após uma derrota.

A estrutura dos lindes variava dependendo do tipo de fronteira a ser defendida.  Na Bretanha, assumiram a forma permanente de impressionante muralha de pedras - a Muralha de Adriano - que separa o norte e o sul das ilhas britânicas.

A impressionante Muralha de Adriano definia o limite entre o Império Romano e os povos bárbaros da Bretanha.

Ao longo do Reno, uma parede de troncos verticalmente dispostos e um baluarte de barro conectavam acampamentos legionários e auxiliares.  Nessa região os bárbaros careciam da tecnologia bélica necessária para promover cercos.

No árido norte da África e no Oriente Médio, onde os partos e os persas sassânidas desafiavam Roma, os romanos preferiam uma rede de fortes legionários e de cidades fortificadas.

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Reconstituição dos lindes existente na região do Reno, atual Alemanha.  É possível visualizar na imagem a paliçada de troncos e uma torre de observação, onde eram postadas as sentinelas

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APENAS UM VELHO SOLDADO


Aconteceu em 26 de maio de 1942, durante a 2ª Guerra Mundial, no Teatro de Operações da África do Norte.

O Afrika Korps alemão avança através dos campos de minas que se alongam no flanco sul do exército britânico e irrompe nas linhas da retaguarda. Um grupo de carros blindados e veículos meia-lagartas alemães ataca, repentinamente, o Quartel-General da 7ª Divisão Blindada britânica. Os ingleses, surpreendidos, esboçam uma fraca resistência. O General Messervy, comandante da divisão, trata de se afastar do local, com dois oficiais de seu estado-maior. As metralhadoras alemães, no entanto, matam o motorista e o veículo para.

Messervy compreende que não tem escapatória. Toma então uma resolução audaciosa. Sem vacilar, com um rápido golpe, arranca do colarinho as insígnias do seu posto e consegue, assim, não ser identificado. Pouco depois, conduzido para a retaguarda junto com seus oficiais, é entrevistado por um oficial médico do Afrika Korps. Este, ao ver diante de si um homem de idade madura vestindo o uniforme, lhe diz:
- O senhor tem mais de 35 anos, não é?... Nós, no Afrika Korps não queremos ninguém com menos de 35 anos...

Messervy, imperturbável lhe respondeu:
- Sou apenas um velho soldado ... lutei na outra guerra e me apresentei novamente, como voluntário, para lutar nesta... porém não sou nada mais que o limpador de banheiros do comando da minha divisão...

General Sir Frank Messervy

Nessa mesma noite, Messervy conseguiu iludir a vigilância de seus captores e se internou no deserto, rumo às linhas britânicas. Caminhando sem parar, sob o sol ardente da manhã, ao longo de quase 30 km, o General Messervy conseguiu finalmente chegar ao QG do 8º Exército.

O “velho soldado”, um dia e meio depois, estava novamente à frente da sua divisão.

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terça-feira, 22 de junho de 2010

IMAGEM DO DIA - 22/06/2010



Durante a Guerra dos Seis Dias de 1967, soldados de infantaria israelenses partindo para um patrulhamento no setor das Colinãs de Golã 

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MEDALHA SANGUE DO BRASIL



A Medalha de Sangue do Brasil foi criada por intermédio do Decreto-Lei nº 7709, de 5 de julho de 1945 com o objetivo de a agraciar oficiais, praças, assemelhados e civis, destacados para o teatro de operações na Itália, e que alí tivessem sido feridos em consequência de ação objetiva do inimigo.

A medalha é de bronze e possui as seguintes características:

Anverso: Sabre das Armas da República. Três estrelas vermelhas representando os três ferimentos recebidos pelo General Sampaio, no dia 24 de maio de 1866, na Batalha de Tuiuti – Guerra do Paraguai. Dois ramos de "Pau Brasil", orlando a medalha, lembram a Pátria e as origens de seu nome glorioso. Uma faixa arqueada está inscrita – Sangue do Brasil.

Reverso: esfera da Bandeira Nacional envolvida pelos dois ramos de "Pau Brasil". A fita é de cor vermelha com um friso central, dividido em três partes iguais com as cores nacionais: amarelo, verde, amarelo.


O General Ernai Ayrosa da Silva ostentando sua Medalha Sangue do Brasil, recebida quando era capitão da Força Expedicionária Brasileira

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PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - MARECHAL OLYMPIO FALCONIÈRE DA CUNHA


* 19/06/1891 - Itajaí-SC
+ 11/08/1967 - Rio de Janeiro-RJ


Nascido em 19 de junho de 1891, em Itajaí, Santa Catarina, assentou praça como cadete, em 09 de março de 1912, já com 21 anos de idade, sendo declarado aspirante a oficial em 02 de janeiro de 1915, 2º Tenente em 19 de outubro de 1916, 1º Tenente em 09 de janeiro de 1921, Capitão em 06 de outubro de 1927, Major em 10 de fevereiro de 1933 por merecimento, Tenente-Coronel em 07 de setembro de 1937 por merecimento, Coronel em 24 de maio de 1940 por merecimento, General-de-Brigada em 29 de julho de 1943, General-de-Divisão em 25 de setembro de 1948 e, finalmente, General-de-Exército em 22 de março de 1955.

Sua inclusão nos quadros da Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi inesperada e fora da organização Divisionária do tipo americano, que só comportava três generais: o Comandante da Divisão e os Comandantes das Armas. O Comandante da Infantaria acumulava as funções de Sub-Comandante da Divisão. Não Havia portanto, um comando especifico para outro oficial-general.

Entretanto, o General Falconière foi designado para integrar a FEB no dia 17 de julho de 1944. O 1º Escalão já se encontrava na Itália desde o dia 16, sob o Comando do General Mascarenhas de Moraes. Falconière permaneceu no Rio de Janeiro, ao lado do General Cordeiro de Farias que comandasse o 2º Escalão, aguardando designação de funções, pelo Gen Comandante da FEB.

Guardava-se um certo mistério, em torno dessa designação para a FEB. Chefe dinâmico, inteligente e culto, muito rigoroso, principalmente no campo administrativo, Falconière não era homem para ficar de braços cruzados, sem uma responsabilidade definida. Originário da Infantaria amava sua Arma de origem.

Quando da partida do grosso da FEB para a Itália em 22 de setembro de 1944, Falconière comandou o 3º Escalão, juntamente com o 2º Escalão, comandado pelo General Cordeiro de Farias, no mesmo comboio, que chegou à Nápoles em 05 de outubro de 1944.

Tal como se esperava, Falconière ficou sobrando. O General Zenóbio, verificando que não havia cargo para o outro general, ficou com a pulga atrás da orelha. Não admitia, de forma alguma, ceder o seu lugar ao General Falconière. Ademais, Zenóbio vinha de demonstrar a melhor capacidade de comando, ao dirigir as operações do 1º Escalão, alcançando magníficas vitórias.

Falconière era amigo intimo de Cordeiro, a quem se devia a sua indicação e designação para a FEB. Cordeiro de Farias se tivesse possibilidade de obter a troca de Zenóbio por Falconière, não vacilaria um só instante.

Mas o General Mascarenhas de Moraes solucionou o problema sem dificuldade. Era preciso criar um comando de órgãos de retaguarda que reunisse todos os órgãos subsidiários, hospitais, judiciário, transporte, etc., e providenciasse toda a dinâmica das operações da retaguarda, isto é, dos órgãos escalonados até Nápoles, que era o ponto de contato com a corrente que vinha do Brasil. Órgãos dispersos em toda a Itália, que não podiam ser controlados pelo Estado-Maior de operações. Assim designado como chefe e comandante dos órgãos de retaguarda, Falconière passou a ter sua sede, seu Posto de Comando na cidade de Montecattini, ao sul do rio Arno.

Embora aparentemente simples, surgiam constantes complicações, não somente com as organizações e comando militares estrangeiros, como com os próprios brasileiros.  O Correio Regulador, os órgãos de abastecimento, órgãos transportadores. Órgãos de hospitalização, remuniciamento, todos, constituíam uma pesada retaguarda.

O deposito de Pessoal da FEB, com cerca de 10.000 homens, dava intenso trabalho ao General Falconière, porque tinha uma certa dependência do Comando do 5º Exército, que lhe fornecia, diariamente os meios de vida e de preparação técnica, inclusive oficiais instrutores, armas e munições para o adestramento.

Ao encerrar-se a campanha da Itália, o General Mascarenhas de Moraes apreciou a colaboração do General Olympio Falconière da Cunha nos seguintes termos:

"A maneira feliz por que o General Olympio Falconière da Cunha se desincumbiu das suas funções de Comandante dos órgãos não Divisionários da 1ª DIE, serviu para confirmar o elevado conceito que goza no seio do Exército e permitir que sua figura de chefe honesto e dedicado fosse cercado de merecido prestígio pelo Comando Americano no Teatro de Operações da Itália.

Sua personalidade austera e enérgica foi uma garantia para o acatamento das ordens do Comando e para a disciplina em nossos órgãos da retaguarda, sempre um sério problema para os Exércitos em lutas. E, graças à sua ação, todas as situações difíceis sempre foram satisfatoriamente solucionadas.

As nossas brilhantes vitórias tiveram, do General Falconière, uma oportuna colaboração, pelo modo rápido e objetivo como foi feito o recompletamento do pessoal. O caráter prático dado à instrução do Depósito, com sua sábia e segura assistência, fez com que as substituições na frente não encontrassem solução de continuidade na eficiência combativa das tropas. E, assim, pode o Comando empregar sempre os seus meios em toda a plenitude de suas próprias possibilidades técnicas e físicas e, na ofensiva da primavera, perseguir o inimigo tenaz e fortemente e impor-lhe uma derrota total, com a rendição incondicional da famosa 148ª Divisão Alemã.

Nos últimos dias de campanha, exerceu ainda importante ação de comando, com a organização de um Destacamento que ocupou Tortona, Voghna e Castelnuovo, acionando, então, suas Unidades com presteza e critério e pondo à prova, mais uma vez, os seus reconhecidos e admirados dotes profissionais.

O apoio moral que recebi, em toda a fase da campanha, da pessoa de General Falconière, diz bem do seu caráter franco, leal e respeitador para com o Chefe, e da elevada formação do seu espírito militar. Apontando o nome do General Falconière ao Governo para a promoção ao mais alto posto da hierarquia militar, faço-o convencido de que o seu acesso virá premiar um digno chefe que muito fez para que o Brasil e o Exército gozassem, hoje, de um merecido prestígio que muito honram e enobrecem a Força Expedicionária Brasileira."

(a) Gen Div J. B. Mascarenhas de Moraes - Comandante da FEB


O General Falconière (a direita) recebendo a rendição da 148ª Divisão de Infantaria alemã


Como se vê, as atividades do General Falconière, no seu Posto de Comando de retaguarda, apesar de nunca ter se aproximado do “front”, nem participado de qualquer jornada de combate, mereceram as entusiásticas expressões traduzidas nesse louvor do Comandante da FEB. De qualquer forma, ele foi um chefe dotado de grande capacidade de comando, ao longo de toda a sua brilhante carreira militar.

Elevado ao Posto de Marechal, Olympio Falconière da Cunha encerrou sua brilhante carreira, vindo a falecer em 11 de agosto de 1967 no Rio de Janeiro.


Fonte: ANVFEB

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segunda-feira, 21 de junho de 2010

MUSEU DO CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS




Localizado na Ilha das Cobras, na cidade do Rio de Janeiro-RJ, o Museu do Corpo de Fuzileiros Navais está integrado ao sítio histórico da Fortaleza de São José, onde, em 1809, instalou-se a Brigada Real da Marinha, origem do Corpo de Fuzileiros Navais.

O Museu expõe seu acervo em túneis que foram construídos para servir de ligação segura entre as fortalezas erguidas pelos portugueses, a partir do século XVII, naquela ilha. A curiosa ambientação, pouco comum em museus tradicionais, provoca uma proximidade do visitante com as peças expostas.

Visitação de escolares ao museu

Na primeira galeria, estão reunidas peças de uniformes, medalhas, documentos, prataria e material arqueológico, além da maquete das fortificações que formavam o complexo de onde se originou a atual Fortaleza de São José. Ao longo do segundo túnel, ficam dispostos antigos armamentos, sobressaindo-se uma espingarda de chumbeira, do ano de 1859. Outros destaques do acervo são: o primeiro Regulamento da Brigada Real da Marinha (1808) e um manuscrito de 1811 que nomeava oficiais para servirem à Brigada.

São destaques do circuito expositivo uma motocicleta Harley-Davidson modelo 1953 e uma escavação arqueológica, na qual o visitante pode observar parte do contraforte da muralha da Fortaleza, construída no século XVIII.

O Museu do CFN participa do Projeto "Fim de Semana no Centro", no qual, em todo segundo fim de semana de cada mês, o Museu abre suas portas. A partir das 11:00h, no Espaço Cultural da Marinha (ECM), são distribuídas senhas para embarque nos ônibus que conduzem os visitantes do ECM até o Museu do CFN. Ao término da visitação, os mesmos ônibus retornam ao ponto de partida. O horário de visita durante esse evento é das 12 às 16:00h, com conduções saindo de hora em hora.


O Museu do CFN oferece ainda os seguintes serviços:

· Auxílio às pesquisas históricas;

· Arquivo iconográfico com mais de cinco mil fotos;

· Possibilidade de expor, externamente, parte de seu acervo, desde que devidamente autorizado pelo Comando-Geral do CFN.

O Museu está aberto de terça a sexta-feira, das 12h às 16h, com entrada franca. As visitas são conduzidas por guias especializados e podem ser marcadas pelo telefone (21) 2126-5053.

Acesso: no final da Rua Primeiro de Março, entrar na área do 1º Distrito Naval; atravessar a ponte Arnaldo Luz; subir pelo elevador do Hospital Central da Marinha e dirigir-se ao Batalhão Naval, ou, de carro, entrar pelo portão do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro.


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quinta-feira, 17 de junho de 2010

PENSAMENTO MILITAR

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"Em qualquer batalha, não costumam trazer a vitória o número de soldados e a coragem instintiva, mas a arte e o treinamento. "

Publius Vegetius, escritor romano 
 
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quarta-feira, 16 de junho de 2010

IMAGEM DO DIA - 16/06/2010

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Durante a Guerra Peninsular, uma bateria de artilharia a cavalo francesa atravessa um curso d´água espanhol

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CAÇA SPITFIRE É RESTAURADO PARA COMEMORAR OS 70 ANOS DA BATALHA DA INGLATERRA

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Este ano estão sendo comemorados os 70 anos da Batalha da Inglaterra. Para marcar essa significativa data, um caça Supermarine Spitfire Mk.IV, pertencente ao Imperial War Museum, foi convertido em uma aeronave Spitfire Mk.I, com a assistência da fabricante britânica de carros esportivos Lotus Cars Ltd, de Norfolk, e repintado com as cores do Esquadrão 41 (F) pela Vintage Fabrics Ltd, de Essex.

O Spitfire do Imperial War Museum em fase final de restauração

A Batalha da Inglaterra começou em 10 de julho de 1940 e terminou no dia 31 de outubro do mesmo ano. Cerca de 2.900 tripulantes britânicos, da comunidade britânica e dos países aliados tomaram parte na batalha. O esforço dos tripulantes foi apoiado pelo importante trabalho do Comando de Caças e pela disponibilidade do radar, bem como da perícia e do esforço das tripulações no solo, observadores, cartógrafos e comandantes nas diversas bases de operação.


Fonte: Real Força Aérea Britânica

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DE "HERMANN, O SUPERGERMANO" A ANÃO DE JARDIM


Por Sabine Damaschke

No ano 9 d.C. a Batalha de Varo, ou "da Floresta de Teutoburgo", demarcou os limites entre as culturas romana e germânica. Seu protagonista, Armínio, foi instrumentalizado como herói da Alemanha, mas é hoje visto com humor.

Em 16 de agosto de 1875, na cidade de Detmold (oeste da Alemanha), era inaugurado o monumento a Armínio, o primeiro herói germânico. De espada em punho, moldado com 200 placas de cobre e ostentando 56 metros de altura, ele olhava ameaçador por sobre a Floresta de Teutoburgo, em direção à França. Uma multidão de 30 mil pessoas veio homenageá-lo como unificador das tribos germânicas e seu libertador do jugo romano.

O culto ao "Pai Original dos Alemães", como o designou o humanista Ulrich von Hutten, atingia o ápice. "Era uma época em que os alemães procuravam demonstrar sua unidade e potência perante o arqui-inimigo, a França", explica o historiador alemão Michael Zelle.


De Armínio a Hermann

Nascido no ano 18 a.C., Hermann (versão germânica de seu nome) foi assassinado por volta dos 37 anos idade. A efígie do vencedor da Batalha de Varo adornava quadros, arcas e canecas de cerveja, sempre representado com cabelos louros esvoaçantes. Por vezes trajava armadura, por outras, uma vestimenta de pele.

Assim os alemães imaginavam um "verdadeiro germano", um herói com que pudessem se identificar. O nome Hermann fora uma criação de Martinho Lutero: tratava-se da tradução direta (Heer-man) da designação latina dux belli (líder na guerra).

Porém, quanto mais crescia o ídolo, mas desaparecia a figura histórica de Armínio. Hoje, os historiadores não sabem mais qual era sua verdadeira aparência física. Seja como for, certamente não trazia elmo alado nem armadura, mas sim as calças e camisa longa características das tribos da província romana da Germânia.

Confiança funesta

Armínio, filho do chefe dos queruscos, Segimero, dispunha de direitos civis segundo a lei romana e liderava os contingentes de sua tribo a serviço dos ocupadores.

O poeta romano Marco Veleio Patérculo descreveu-o assim: "Era um homem jovem, de ascendência nobre, valente na luta, rápido de raciocínio. Mais capaz de cabeça do que seria de esperar de um bárbaro, que revela o fogo do próprio espírito no semblante e no olhar."

A Batalha de Teutoburgo em quadro de Peter Janssen, o velho (1870-73)

O cônsul romano Públio Quintílio Varo confiava em Armínio, e em 9 d.C. deixou-se atrair por ele a uma emboscada na Floresta de Teutoburgo. Esta terminou com a morte ou captura de 15 mil soldados romanos. Varo suicidou-se, em seguida.


Redescoberta dos reformadores

Essa aniquiladora derrota para a força ocupadora romana, porém, não resultou na fundação de um reino germânico sob a regência de Armínio. Segundo o historiador Peter Kehne, o guerreiro querusco sempre subordinou a "consciência germânica" a sua própria sede de poder. "Na política interna, ele fracassou devido à sua aspiração de domínio autocrático."

Monumento em homenagem a Hermann na cidade de Detmold, Alemanha

Armínio não pretendia, portanto, opor um "reino alemão" ao poderio romano: ele desejou dominar, pura e simplesmente. Entretanto seus próprios irmãos de tribo não o permitiram: em 21 d.C., o ambicioso comandante foi assassinado.

Mas Armínio pôde ascender postumamente à categoria de "supergermano" graças ao autor romano Tácito, que no ano 98 o glorificou como "um filho das tribos germânicas". Durante o Renascimento, a obra de Tácito Germânia foi redescoberta e instrumentalizada pelos reformadores religiosos na luta contra Igreja romana.


Heróico, mas nem tanto

Desde então, Hermann foi repetidamente utilizado como figura de identificação, sempre que a Alemanha se sentisse ameaçada, explica o historiador Ralf-Peter Märtin. Por exemplo, nas Guerras de Libertação do século 19, na Primeira Guerra Mundial e durante o regime de Hitler.

"Após 1945, Armínio foi despolitizado", observa Michael Zelle. "Hoje, o monumento a Armínio em Detmold é, sobretudo, atração turística e, de acordo com o espírito da época, marca registrada de uma região." Passados 2 mil anos desde a batalha, a efígie do herói decora novamente xícaras, camisetas e canetas esferográficas.

Mas desta vez os alemães encaram seu "supergermano" com um toque de humor. É assim que, na exposição comemorativa Império – Mito – Conflito, em três cidades da região da Floresta de Teutoburgo, pode-se comprar uma estátua do herói em versão "anão de jardim": com apenas 56 centímetros de altura, "Hermanão" cabe em qualquer quintal.

Fonte: Deutsche Welle

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sexta-feira, 11 de junho de 2010

AVIADORES FRANCESES NA FRENTE RUSSA



Uma esquadrilha de Yak franceses alinhados em um campo auxiliar na URSS em 1943.  As aeronaves francesas podiam ser reconhecidas pelo cone das hélices que eram pintados nas cores da bandeira da França


Após a derrota francesa de 1940 e a instalação do governo colaboracionista de Vichy, a Força de Franceses Livres, sob a liderança do General De Gaulle, resistiu em diversos teatros de operações da 2ª Guerra Mundial.  Em um desses palcos, no entanto, a atuação dos franceses é pouco conhecida: a União Soviética.

Em 1942, as forças francesas livres, acantonadas na Síria, organizaram um grupo de caça que, por decisão do General De Gaulle, foi destinado a combater na frente russa. Essa reduzida unidade aérea representaria a França na luta da Frente oriental. Um símbolo da França imortal. Suas asas, ostentando a Cruz de Lorena, sulcariam os céus da Rússia, unidas com os aparelhos russos, numa estreita comunhão de ação contra o inimigo comum.

Piloto francês no cockpit de seu Yak.  Podem ser vistas as marcações de vitórias obtidas contra aviões alemães


Os homens que teriam a missão de tripular os aviões da França Livre haviam fugido da opressão que o seu país suportava e se agruparam em torno da figura daquele que representava para eles e para o mundo livre a presença da França liberal, democrática e eterna. O heterogêneo grupo de homens, animado pelo desejo de lutar contra o invasor de meia Europa, era formado por operários comunistas de Paris, homens pertencentes aos partidos políticos tradicionais, e até membros da mais alta nobreza da França, como o caso do Visconde de La Poype, cuja presença surpreendeu os próprios russos, que não compreendiam aquela camaradagem de armas com um aristocrata que se aventurava a lutar ao lado dos bolchevistas. No entanto, as façanhas do visconde no céu da Rússia fizeram que ele fosse condecorado como “Herói da União Soviética”. Somente mais três pilotos franceses receberam distinção semelhante.

O Grupo, denominado Normandie Niemen, instalou seu centro de operações na base de Ivanov, em dezembro de 1942. Ali recebeu os aviões Yak I em cujas asas já se encontrava pintada a Cruz de Lorena.


Orientados pelo seu chefe, o Comandante Tilasne, um hábil e arrojado jovem piloto, os franceses iniciaram uma série de vôos de adestramento para familiarizar-se com os aparelhos e com as duras condições do teatro de operações.

Finalmente, em março de 1943, o Grupo entrou em ação. Em poucos meses, entre março e junho de 1943, conseguiu um crédito favorável de 15 aviões inimigos derrubados contra três perdidos.

Ao efetuar-se a grande ofensiva alemã em Kursk, o Grupo Normandie Niemen estava localizado ao norte da zona de operações. Até esse momento aquele setor se mantivera tranqüilo, e os pilotos, adaptando-se à vida dos seus companheiros russos viam os dias transcorrer dentro de uma relativa calma, apenas interrompida pelas esporádicas incursões dos aviões inimigos. Ao se intensificarem as ações, no entanto, os homens do Normandie Niemen foram lançados numa luta sem quartel.

Nas encarniçadas batalhas aéreas que se travaram durante o verão de 1943, sobre Kursk e Orel, os pilotos franceses combateram sem trégua contra os aviões da Luftwaffe. A esquadrilha perdeu dois terços do seu efetivo; entre outros, tombou o comandante Tulasne.

Outros homens chegaram posteriormente para preencher os claros e o Grupo continuou lutando, junto com os russos, até o final da guerra.


Pilotos franceses chegam à URSS para reforçarem o Normandie Niemen


Equipados, a partir de janeiro de 1944, com os novos caças Yak-3, os pilotos franceses atingiram, nesse último período de sua ação, uma cifra máxima de 273 vitórias. Deste modo, a França Livre cedera, generosamente, o sangue dos seus melhores filhos, mandando-os lutar em defesa de um país estrangeiro, porém igualmente agredido. A Cruz de Lorena sulcou os céus da Rússia, assim como o de vários outros campos de batalha onde a liberdade travava a sua luta em defesa da dignidade do homem.


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