"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



segunda-feira, 29 de novembro de 2021

EDITOR DO PORTAL PARTICIPA DE SEMINÁRIO NA UNIVERSIDAD SIMÓN BOLIVAR DA VENEZUELA

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No último dia 25 de novembro, o editor do portal Carlos Daróz-História Militar participou do seminário "Los aviones de guerra de aquí y de allá: la aviación militar de Brasil y Venezuela (1915-1950)", promovido pela Universidad Simón Bolívar, com apoio da Escola de História da Universidad Central de Venezuela.

Dividindo mesa com o Dr. Edgar Blanco e com o engenheiro Freddy Pedrique, o historiador Carlos Daróz explorou  o tema Los aviadores brasileños en la Gran Guerra e abordou a experiência dos aviadores brasileiros que  atuaram no conflito 1914-1918 na Itália, EUA e Reino Unido.




Registramos aqui o agradecimento ao Dr. Germán Guía Caripe pelo convite e pela rica oportunidade de participar do seminário representando o Brasil junto à academia venezuelana. 




domingo, 28 de novembro de 2021

UNIFORMES - SOLDADO SAUDITA, 1ª GUERRA DO GOLFO

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Exército Saudita
10ª Brigada Mecanizada
Soldado de infantaria
1ª Guerra do Golfo (1991)



O soldado pertencente à 10ª Brigada Mecanizada saudita utiliza o uniforme padrão adotado durante a 1ª Guerra do Golfo. Seu fardamento é o Desert BDU, de fabricação norte-americana, elaborado com seis cores para camuflagem no deserto, o mesmo utilizado pelas forças militares dos EUA e de outras forças da Coalizão na ocasião.

Utiliza capacete aço-fibra M-1 com cobertura camuflada para guerra no deserto. Muito bem equipado para combater em ambientes desérticos, o soldado está armado com um fuzil de assalto Heckler und Kock H&K G-3 7,62 x 51 mm, padrão no Exército Saudita.


sábado, 27 de novembro de 2021

O CESSAR-FOGO NA INDOCHINA (1954)

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Em 21 de julho de 1954, a França e a então República Democrática do Vietnã assinam um acordo de cessar-fogo, dividindo o país asiático em dois: o norte comunista e um frágil Estado pró-ocidente ao sul.


Por Michael Kleff

"O bom senso e a paz venceram." Com essas palavras, o então primeiro-ministro da França, Pierre Mendès-France, anunciou, em 21 de julho de 1954, o cessar-fogo na Guerra da Indochina. A derrota da "Grande Nação" na batalha de Dien Bien Phu, em maio do mesmo ano, fora o começo do fim do domínio colonial francês no Vietnã.

As negociações de paz em Genebra duraram quase dois meses. Além de representantes da União Soviética, da França, do Reino Unido e dos Estados Unidos, pela primeira vez desde a vitória do comunismo na China em 1949 diplomatas daquele país subiram ao palco da política internacional.

O Vietnã foi representado por duas delegações: uma defendendo os interesses da monarquia Bao Dai (sul) e outra com representantes da Liga pela Independência (Vietminh), liderados pelo primeiro-ministro Pham Van Dong, da República Democrática do Vietnã (norte).

Para ressaltar sua rejeição ao comunismo, o secretário de Estado norte-americano, John Foster Dulles, negou-se a estender a mão para seu colega chinês. "Somente um acidente de automóvel poderia me colocar em contato com Chou-En-lai", declarou à imprensa.


Garantia de soberania e unidade

Dulles permaneceu apenas quatro dias na conferência, da qual os norte-americanos participaram meramente como observadores. "Apenas tivemos a possibilidade de presenciar a tomada de decisões com as quais não concordávamos", disse mais tarde o diplomata Alexis Johnson, um dos observadores dos EUA.

Na declaração final do encontro, foram garantidas independência, soberania e unidade ao Camboja, ao Laos e ao Vietnã. A fronteira provisória entre o Vietnã do Norte (sob o regime comunista de Ho Chi Minh) e o Vietnã do Sul (monarquia independente encabeçada por Bao Dai) foi fixada aos 17 graus de latitude. Além disso, os signatários do documento comprometeram-se a realizar eleições gerais no Vietnã.

Tropas franceses capturadas pelo Vietminh na Indochina
 
Numa declaração complementar, os EUA prometeram renunciar a qualquer intervenção militar no Vietnã. Era evidente, porém, que o Vietnã do Sul e os Estados Unidos jamais cumpririam os acordos, como explicou Johnson: "A delegação sul-vietnamita deixou claro que não aceitaria a realização de eleições em dois anos. Exatamente essa era também a nossa posição. Todas as acusações de que transgredimos os tratados negociados em Genebra são falsas. Nós não os assinamos; portanto, não tínhamos como transgredi-los."


Decisão só no campo político

A recusa dos EUA em assinar o cessar-fogo e a divisão do Vietnã foram para o então primeiro-ministro norte-vietnamita, Pham Van Dong, a prova de que os norte-americanos, desde o início, eram contra a conferência e sempre tentaram impedir que ela chegasse a uma conclusão positiva.

Mas também o Vietminh só aprovou os resultados da Conferência de Genebra devido à forte pressão da União Soviética e da China. A Liga pela Independência obteve unicamente a garantia de que a luta pelo poder no Vietnã não mais seria decidida pela via militar e, sim, no campo político. O Vietminh estava confiante de que venceria as eleições previstas para todo o país.

A partilha da Indochina francesa lançou as bases para a Guerra do Vietnã

Todos os participantes da conferência para a paz na Indochina sabiam que as decisões de Genebra apenas representavam um armistício e não o fim do conflito. O presidente Dwight Eisenhower e seu secretário de Estado, John Foster Dulles, ligaram os Estados Unidos, em 1954, indissociavelmente ao destino do Vietnã do Sul.

Depois da derrota francesa em Dien Bien Phu, os EUA passaram a ocupar o lugar da França, no afã de garantir a segurança do Vietnã do Sul, do Laos e do Camboja. Com isso, os norte-americanos estabeleceram as bases para a intervenção posterior no mais longo confronto militar do século 20: a Guerra do Vietnã (1959-1975).

Fonte: DW

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sexta-feira, 26 de novembro de 2021

SEMINÁRIO NA UNIVERSIDAD SIMÓN BOLÍVAR, DA VENEZUELA

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Hoje tive a felicidade de participar do seminário LOS AVIONES DE GUERRA DE AQUÍ Y DE ALLÁ: LA AVIACIÓN MILITAR DE BRASIL Y VENEZUELA (1915-1950), promovido pela Universidad Simón Bolívar, com apoio da Escola de História da Universidad Central de Venezuela.
Dividindo mesa com o Dr. Edgar Blanco e com o engenheiro Freddy Pedrique, explorei o tema LOS AVIADORES BRASILEÑOS EM LA GRAN GUERRA e abordei a experiência dos aviadores brasileiros que atuaram no conflito 1914-1918 na Itália, EUA e Reino Unido.
Agradeço o Dr. Germán Guía Caripe pelo convite e pela rica oportunidade de participar do seminário representando o Brasil junto à academia venezuelana. 🇻🇪


domingo, 14 de novembro de 2021

A BATALHA DE CAMERONE (1863)

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Conhecida no México como Batalha de Camarón, o combate travado em 30 de abril de 1863 entre a Legião Estrangeira Francesa e o Exército mexicano, é considerado, pela Legião, como um momento decisivo em sua história. A conduta atribuída à Legião neste combate é mística e Camerone tornou-se, dentro das fileiras da Legião, sinônimo de coragem e luta até a morte.


Como parte da intervenção francesa no México, em 1863 um exército francês comandado por Conde de Lorencez, sitiava a cidade mexicana de Puebla. Temendo problemas de logística, os franceses enviaram um comboio com 3 milhões de francos, material e munições para o cerco. A 3ª Companhia da Legião Estrangeira foi encarregada de proteger o comboio, sendo o capitão Danjou o comandante.

Em 30 de abril, às 01:00h, os soldados estava a caminho. Às 7 da manhã, após uma marcha de 15 milhas, pararam em Palo Verde para descansar e preparar o café-da-manhã. Logo depois, uma força do Exército mexicano de 800 cavaleiros foi avistada. O Capitão Danjou ordenou o destacamento a assumir formação em quadrado e, apesar de recuarem, causaram as primeiras perdas pesadas ao exército mexicano, principalmente ao maior alcance do rifle francês.

Buscando uma posição mais defensável, Danjou ocupou as proximidades da fazenda Camarón, uma hospedagem protegida por um muro de três metros de altura. Seu plano era manter ocupadas as forças mexicanas para evitar ataques contra o comboio que estava nas proximidades. Enquanto os legionários preparavam-se para defender a hospedagem, o comandante mexicano, o coronel Milan, exigiu a rendição de Danjou e de seus soldados, ressaltando a superioridade numérica do Exército mexicano. Danjou respondeu: "Temos munições. Não vamos nos render."

Capitão Jean Danjou 

Aproximadamente às 11 horas, as tropas mexicanas receberam reforços, com a chegada de 1.200 soldados de infantaria. A hospedagem se incendiou, mas os franceses haviam perdido toda a água no início da manhã, quando mulas foram perdidas durante o recuo. Ao meio-dia, o capitão Danjou foi baleado no peito e morreu, seus soldados continuaram lutando, apesar todas as adversidades sob o comando do segundo tenente Vilain, que resistiu durante quatro horas antes de cair durante um ataque das tropas mexicanas.

Às 5 da tarde apenas 12 legionários permaneciam em torno do segundo tenente Maudet. Logo depois às 18:00h, com munição esgotada, os últimos soldados sob o comando do tenente Maudet, desesperadamente organizaram uma carga de baioneta. O coronel Milan, comandante dos mexicanos, evitou que seus homens cortassem os legionários sobreviventes em pedaços. 

Quando os seis últimos sobreviventes foram convidados a se renderem, eles requisitaram aos soldados mexicanos o retornar à base com a sua bandeira, manter suas armas e escoltar o corpo do capitão Danjou. Milan concordou com os termos dos franceses comentando: "O que posso recusar-se a esses homens? Não, estes não são homens, são demônios", e, por respeito, concordou com estes termos.

O comboio de abastecimento dos franceses com sessenta carroças e cento e cinquenta mulas com peças de artilharia, medicamentos, víveres e francos franceses, escoltada por duas outras companhias de legionários chegou a salvo em Puebla. Os mexicanos não conseguiram conter o cerco e a cidade caiu em 17 de maio.

O Capitão Danjou era um soldado profissional e havia perdido a mão esquerda durante uma expedição de mapeamento na campanha da Argélia. Ele tinha uma mão prostética, de madeira articulada e pintada para se assemelhar a uma luva, presa a seu antebraço esquerdo. Negligenciada por ambos, franceses e mexicanos que vieram para enterrar os seus mortos, a mão foi encontrada mais tarde por um agricultor anglo-francês, Langlais, e foi vendida e levada para a casa da Legião Estrangeira.

Em decorrência dessa batalha, Napoleão III da França determinou inscrever na bandeira de todos os regimentos estrangeiros a inscrição "Camerone 1863". Todos os militares franceses passaram a fazer a apresentação de armas ao passar pelo local da batalha em gesto de homenagem. Em 1892 foi construído um monumento com uma inscrição em latim rezando: 

"Eles foram aqui menos de sessenta, opostos a todo um exército que lhes destruiu a vida antes que a coragem abandonasse seus soldados franceses".

Na França, o dia 30 de abril é comemorado como o "Dia de Camerone", uma data importante para os legionários. A mão protética de madeira do Capitão Danjou é trazida para a exposição durante cerimônias especiais. A mão é o artefato mais importante na história da Legião e o legionário que a carrega durante desfile em sua caixa protetora é tido como grande prestígio e honra.

Tropas da Legião Estrangeira celebrando o Dia de Camerone, em Aubagne


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terça-feira, 9 de novembro de 2021

A PRIMEIRA E ÚLTIMA MISSÃO DO GIGANTE SOVIÉTICO

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Cinco torres, três canhões e seis metralhadoras. A bordo, uma dúzia de homens. Não se trata da encarnação flutuante do poder soviético em alto-mar, mas de um tanque do Exército Vermelho, o T-35, que, na década de 1930, por ironia do destino, acabou sendo destruído logo nos primeiros dias da Segunda Guerra Mundial.

Por Alexandr Korolkov


Desde que apareceram durante a Primeira Guerra Mundial, os tanques rapidamente cresceram em tamanho, poder e armamento – até que a agilidade imposta pela Segunda Guerra Mundial os trouxeram de volta a uma dimensão razoável.

O primeiro tanque multitorre pesado foi o francês Char 2C, seguido, no final dos anos 1920, pelo britânico A1E1 Independent, uma imponente máquina de 33 toneladas. Apesar de este modelo de cinco torres jamais ter sido fabricado em massa, tudo leva a crer que ele pode ter inspirado os projetistas soviéticos.

A base industrial herdada pelos bolcheviques, prejudicada pela perda de muitos engenheiros experientes na Revolução Russa, era incapaz de produzir tecnologia moderna para produção em massa e teve de ser erguida a partir do zero. Na época, o planejamento experimental soviética surgiu com todo vapor.

Construir tanques leves era mais fácil e bastava copiar modelos estrangeiros. Mas não havia nenhuma receita pronta para os tanques pesados. Era necessário, portanto, usar o conhecimento adquirido em projetos conjuntos com engenheiro alemão Edward Grotte.

O tanque médio TG, do grupo de design soviético-alemão, não foi produzido em larga escala, mas deu à jovem equipe soviética uma experiência prática de valor inestimável. Com o tempo, os russos evoluíram para projetos maiores – e logo o T-35 saiu do papel.


O monstro de aço T-35: demasiadamente pesado e desajeitado para ser eficiente


Excesso de peso

O tanque deveria pesar cerca de 35 toneladas, mas o protótipo de 1932 ultrapassou em 10 mil toneladas as expectativas iniciais. O monstro resultante tinha mais de três metros de altura, torres com canhões de 76 milímetros acoplados e metralhadoras que podiam girar 360 graus.

Duas torres menores, com canhões de 45 milímetros e outras metralhadoras que podiam dar meia volta, foram implantadas nas partes fronteira e traseira do veículo. Outras duas torres de metralhadora e uma porta de disparo sob a arma traseira completavam o arsenal do tanque.

A máquina era alimentada por um motor de 500 cavalos de potência e atingia velocidade máxima de apenas 28 quilômetros por hora na estrada aberta. Os militares aceitaram o tanque, mas estavam insatisfeitos com o design de chassi complexo e a capacidade reduzida do motor.

No início dos anos 1930, os estrategistas soviéticos planejavam os próximos estágios da guerra entre tanques. Os modelos médios T-28 romperiam as defesas inimigas, os T-35s iriam invadir e aniquilar tudo à volta com seu enorme poder de fogo, seguido por uma terceira onda de T-26s e modelos ainda mais leves.

No entanto, a experiência da Guerra Civil Espanhola, a batalha soviética contra os japoneses e a Guerra de Inverno com a Finlândia demonstraram a ameaça da artilharia antitanque e a necessidade de montar ofensivas.

Em condições severas, a blindagem de 10 a 50 mm era insuficiente. Porém, as tentativas de aumentar a espessura fizeram com que a massa do tanque chegasse a 55 toneladas, e nenhum motor soviético era capaz de fornecer energia para um veículo dessa dimensão.

Outra desvantagem era a incapacidade do comandante de liderar simultaneamente os disparos a partir de cinco torres. Os projetistas tentaram, sem sucesso, equipa-lo com sistemas de armas navais para sincronizar o disparo múltiplo, mas, no início dos anos 1940, o tanque já estava obsoleto em termos de design e táticas de uso.


Garoto-propaganda

O T-35 não entrou em ação até a invasão alemã da União Soviética, em junho de 1941. Ele servia mais na frente ideológica, ocupando praças de cidades como um símbolo do poderio militar soviético e atraindo multidões e observadores estrangeiros.

Um raro T-35 que sobreviveu à guerra preservado em museu


O veículo era representado em cartazes e na medalha “Para coragem”, onde durou muito mais do que na vida real. Em 1943, quando o T-35 já havia entrado para a história, ele ainda lutava pela pátria na propaganda soviética.

No campo de batalha, contudo, a história era menos impressionante. Dos 59 T-35s fabricados entre 1934 e 1939, 48 deles entraram em guerra, enquanto o resto passava por reparos ou era apenas usado em escolas de formação.

O tanque não sobreviveu aos primeiros dias de combate, já que as máquinas criadas para um ataque repentino não eram capazes de realizar um recuo longo. Apenas sete T-35 foram eliminados na batalha; o restante simplesmente quebrou ou foi abandonado por suas tripulações.

A 34ª Divisão de Tanque da URSS, que tinha as unidades a seu dispor, foi alertada no início da manhã de 22 de junho, quando a invasão começou. Três dos tanques quebraram antes mesmo de entrarem em combate. Depois de percorrer o oeste da Ucrânia, dois dias depois restavam apenas 10 tanques prontos para combate.


Hora de partir

Na confusão do recuo e da luta de fronteira, só existe um registro do seu desempenho em combate. Em 30 de junho de 1941, um grupo de tanques, que incluía quatro T-35s, foi enviado para reforçar outras unidades, mas foi atacado quando estava a caminho.

Artilheiro de uma torre frontal, V. Sazonov escreveu mais tarde: “Nossa última luta foi desastrosa. Em primeiro lugar, disparamos a partir da outra margem o rio, de um povoado chamado Sitna, e depois atacamos com o resto de nossa infantaria. Eles titubearam assim que as balas alemãs começaram a soar, então avançamos e ficamos sob fogo de canhão alemão pela esquerda.

Virei a torre para observar melhor, olhei, olhei, mas não vi nada, e então, surpresa: a torre foi atingida. Mas não era possível enfiar a cabeça para fora pois choviam balas sobre nós. As bombas alemãs nos atingiam em intervalos de cinco segundos e não mais apenas no lado da porta. Foi então que eu vi um clarão, quando ainda estávamos a 50 metros da aldeia, e uma das nossas faixas se rompeu.

Os ataques fizeram o motor parar, e a arma ficou obstruída. Em seguida, vimos soldados alemães e sabíamos que era hora de sair dali. Saltamos da torre para a estrada. Das tripulações de T-35, apenas quatro homens sobreviveram, todos de diferentes tanques.


Eterna fama

Como os soldados alemães gostavam de posar ao lado dos monstros stalinistas abandonados, há muitas fotografias de batalha do T-35, apesar de sua breve experiência de combate.

Os soldados alemães gostavam de posar para fotografias ao lado dos T-35 avariados

O gigante desatualizado nunca provou a sua coragem e terminou dias como um mero artifício de engenharia, um símbolo do poderio militar, assim como o Canhão do Tsar, no Kremlin de Moscou, que nunca foi disparado em um momento de raiva.

O último exemplar restante é mantido no museu de tanques de Kubinka, nos arredores de Moscou, onde é a estrela da exposição. Ali, o modelo ajuda os visitantes a lembrar dos projetos de design decisivos do século passado, quando os tanques ainda estavam aprendendo a ser tanques.

Fonte: Gazeta Russa



terça-feira, 2 de novembro de 2021

PESQUISA REVELA TROCA DE CARTAS EM TUPI ENTRE INDÍGENAS DO SÉCULO XVII

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Traduzidos pelo professor Eduardo Navarro, da Universidade de São Paulo (USP), documentos dão informações sobre a Insurreição Pernambucana


Por Juliana Alves

A história é escrita pelos vencedores. No caso brasileiro, primeiro foram os portugueses e, depois, os holandeses. Documentos que contam a história brasileira pela perspectiva dos que foram vencidos – os povos originários – são raros. O professor Eduardo Navarro, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, especialista em tupi antigo e em literatura do Brasil colonial, mostra uma dessas exceções. Navarro pesquisou seis cartas trocadas entre indígenas em 1645, os únicos textos conhecidos que os próprios indígenas escreveram em tupi nos tempos coloniais. Essas cartas estão guardadas nos arquivos da Real Biblioteca de Haia, na Holanda, e detalham uma guerra religiosa travada entre portugueses e holandeses, com a presença de indígenas em cada lado, conhecida como Insurreição Pernambucana (1645-1654).

O professor explica que essas seis cartas pertenciam ao arquivo da Companhia das Índias Ocidentais, uma empresa de comércio com capitais privados e também capitais do Estado holandês. Essa companhia organizou uma invasão do Nordeste brasileiro em 1625, que não foi bem-sucedida. Os integrantes da companhia voltaram para o país europeu com alguns indígenas a bordo, entre eles os caciques Pedro Poti e Antônio Paraopeba. Na Holanda, os caciques foram convertidos ao protestantismo calvinista. Cinco anos depois, houve outra tentativa de invadir a costa do Nordeste. E dessa vez deu certo, principalmente, em Pernambuco, onde os holandeses permaneceram por 24 anos, desde 1630 até 1654. 

“E por que Portugal deixou a Holanda invadir o seu território?”, provoca Navarro. Ele relata que, em 1645, fazia cinco anos que Portugal tinha saído do domínio espanhol e, para firmar sua independência, era necessário obter apoio dos holandeses. Essa aliança foi consolidada pelo padre Antônio Vieira, que também era diplomata. Ele escreveu o plano Papel Forte, que consistia em entregar o Nordeste brasileiro em troca de apoio político. Já os senhores de engenho não queriam a presença dos holandeses, pois muitos estavam endividados com a Companhia das Índias Ocidentais. Queriam que os holandeses fossem embora, para não pagar suas dívidas. Nesse período, o conde Maurício de Nassau foi quem administrou Pernambuco e conseguiu apaziguar os conflitos religiosos e dos senhores de engenho. Ele criou um ambiente de tolerância religiosa, numa época em que em território português era obrigatório o catolicismo e as outras religiões eram consideradas heresia. 

Carta de Diogo Pinheiro Camarão a Pedro Poti, de 21 de outubro de 1645

Quando Nassau voltou para a Europa, em 1644, começaram a acontecer conflitos religiosos. Jacob Rabbi, um alemão a serviço do governo holandês, provocou um massacre em Cunhaú, no Rio Grande do Norte. As portas da Igreja de Nossa Senhora das Candeias foram trancadas e dezenas de fiéis foram mortos. Esse foi o estopim para a Insurreição Pernambucana.

Navarro descreve que, do lado holandês, ficaram Pedro Poti e Antônio Paraopeba, indígenas protestantes, e, do lado português, Felipe Camarão, indígena católico, que pedia a seus parentes Poti e Paraopeba que voltassem para o lado português. “Esses pedidos estão nas cartas, todas de 1645: a primeira é de agosto e as últimas são de outubro. Foram preservadas seis cartas, mas imagino que deve haver mais”, destaca o professor. Ele conta que a primeira carta de que há registro é de Felipe Camarão, pedindo para que Pedro Poti deixasse os holandeses, sob a alegação de que eram hereges e “estão no fogo do diabo”. Camarão escrevia que os indígenas precisavam se unir, pois eram do mesmo sangue e não podiam se matar daquela maneira. A resposta do Poti é conhecida através de um resumo em holandês feito por um pastor holandês. “Poti respondeu que não havia motivo para apoiar os portugueses, já que eles só fizeram mal para seu povo: escravizaram e praticaram violência contra os potiguaras. Uma crítica bem contundente”, ressalta Navarro. Diferentes dos holandeses, os portugueses não preservaram as cartas dos indígenas, entre elas a resposta de Poti. “Por isso só é possível ver as cartas que os holandeses receberam”, lamenta o professor.

O conteúdo das cartas é constituído por textos sobre indígenas que desejam que seus parentes se unam, que abandonem as suas posições na guerra e parem de matar os seus parentes. Há comentários em que eles pedem que suas antigas tradições sejam revigoradas. Por meio das cartas, obtêm-se também informações mais específicas, como os nomes dos caciques que morreram na guerra e os lugares em que eles lutaram.

Pelo fato de as cartas serem escritas pelos próprios indígenas, pode-se observar como era a língua efetivamente falada e usada por eles, de acordo com Navarro. Assim, as cartas também são consideradas provas de que os missionários descreveram a língua corretamente. Como conta o professor, há estudiosos que dizem que os missionários jesuítas teriam adaptado a língua aos seus interesses. Entretanto, não foi isso o que aconteceu. “As cartas comprovam que missionários escreveram exatamente aquilo que os indígenas falavam.”

Antes de Navarro, houve algumas tentativas de traduções das cartas. Uma delas foi feita pelo engenheiro Teodoro Sampaio, que recebeu as cartas pelo historiador José Hygino Duarte Pereira, que foi quem as descobriu, em 1885. O engenheiro confessa, em seu artigo Cartas tupis dos Camarões (1908), que até conseguia reconhecer o assunto das cartas, mas não conseguia traduzi-las efetivamente. Eram “verdadeiros mistérios”. Ninguém mais tentou traduzi-las até a década de 1990, quando o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Aryon Rodrigues foi à Holanda buscar essas cartas. Não conseguiu traduzi-las e mostrou-as a Navarro. “Eu pedi para a biblioteca na Holanda e elas chegaram em microfilmes. E percebi que ninguém conseguia traduzi-las porque não havia dicionário em tupi antigo. Eu tive que elaborar um dicionário para depois traduzir as cartas”, explica Navarro. Após publicar Dicionário de Tupi Antigo: a Língua Indígena Clássica do Brasil (2013), Navarro começou a analisar as seis cartas de forma mais intensa.

“São os primeiros e os únicos documentos escritos pelos próprios indígenas até a Independência do Brasil. É muito raro ter algo escrito pelos indígenas que tenha sido preservado. Esse é o verdadeiro valor dessas cartas”, destaca Navarro. Com esses “documentos preciosos”, de acordo com Navarro, observa-se também os rumos da guerra. As cartas mostram o movimento dos exércitos, aspectos da cultura dos indígenas potiguaras e certa tristeza por terem perdido sua cultura tradicional.

“Esse trabalho me alegra muito”, comenta Navarro. Ele afirma que há duas razões para essa alegria. A primeira é que a pesquisa é uma contribuição para a cultura brasileira. A segunda é que as cartas auxiliam no ensino. O professor conta que desde 2001 ensina tupi para um grupo de indígenas potiguaras, na Paraíba, que tinham deixado de falar sua língua e hoje buscam uma afirmação da sua identidade e querem aprender a língua. 

Fonte: Jornal da USP


segunda-feira, 1 de novembro de 2021

DIÁRIO DE GUERRA NARRA O SOFRIMENTO DE PRISIONEIROS AMERICANOS

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Os escritos revelam a vida de prisioneiro de guerra, a angústia das famílias e a determinação de dois homens de preservar a história que viveram


Uma iniciativa chamada Projeto de História dos Veteranos publicou os escritos e a história de dois soldados norte-americanos na Segunda Guerra Mundial. George Washington Pearcy e Robert F. Augur se conheceram num campo de prisioneiros de guerra nas Filipinas.

Pearcy mantinha um diário, escrito atrás de rótulos de latas ou qualquer outro pedaço de papel. Em setembro de 1944, depois de dois anos neste campo, ele ia ser transferido para o Japão. No entanto, a travessia de navio nunca chegou ao destino final. Antes de Pearcy ser obrigado a embarcar, ele confiou seu diário a Augur, que continuaria no campo. Pearcy, na época com 29 anos, foi morto semanas depois quando o navio japonês Arisan Maru foi atingido por um torpedo de um submarino americano. Augur, que na época tinha 34 anos, sobreviveu à guerra, voltou para casa e levou o diário de Pearcy. Quase 75 anos depois, a Biblioteca do Congresso americano adquiriu os escritos dos dois companheiros de guerra e publicou na internet, junto com a correspondência da família.

Os escritos revelam a vida de prisioneiro de guerra, a angústia das famílias e a determinação de dois homens de preservar a história que viveram. Pearcy descreveu seus companheiros de campo. Eles estavam magros como esqueletos, comiam sapos e caramujos e se vestiam com trapos. Pearcy também documentou suas doenças: malária, diarreia crônica e beribéri. Além disso, fazia listas das pessoas que conheceu, do que comeu e do que faria quando voltasse para casa.

Augur e Pearcy haviam sido capturados em 1941, quando o Japão atacou as forças norte-americanas nas Filipinas. O Projeto de História dos Veteranos recebeu os escritos de Pearcy em dezembro de 2015, de familiares. Era o único diário original de prisioneiro de guerra no Pacífico. Quando o projeto divulgou online o diário, em fevereiro, e mencionou o papel de Augur, a família dele reconheceu a história e ofereceu seus escritos também.

George Washington Pearcy nas Filipinas em 1941

Antes de ser capturado, Augur já tinha sido condecorado por heroísmo na luta que lhe custou uma perna, a Batalha de Corregidor em 1942. Augur escreveu num pequeno caderno preto o nome de seus companheiros, seus endereços e, em alguns casos, seus destinos. Ao lado do nome de Pearcy, estava a data que ele havia embarcado para o Japão: setembro de 1944.

Quando Augur foi solto, ele enviou o diário de Pearcy para os pais dele: Frances e Claude Pearcy. “Eu espero e rezo que tenham recebido notícias dele… ou que em breve recebam uma mensagem sobre sua chegada em segurança”. Nem Augur nem os pais de Pearcy sabiam que Pearcy já tinha morrido havia cinco meses.

A tripulação do submarino norte-americano não sabia que a embarcação japonesa levava 1.775 prisioneiros de guerra, incluindo Pearcy. O navio naufragou em 24 de outubro de 1944, no Mar do Sul da China. Os pais de Pearcy só saberiam do destino de seu filho sete meses depois. Eles continuaram a escrever para o filho e, em 25 maio de 1945, a mãe escreveu que tinha recebido notícias de Augur. Quatro semanas depois, o Departamento de Guerra escreveu aos pais de Pearcy, informando que ele havia morrido.

O corpo de Pearcy nunca foi encontrado. Mas em outubro de 1945, dois meses depois que a Segunda Guerra Mundial terminou e um ano depois que Pearcy morreu, seus pais receberam uma correspondência atrasada do filho, dizendo que ele amava os dois e desejando parabéns pelo aniversário do pai.

Fontes: 
- The Washinton Post-2 POWs, 2 World War II diaries tell a story of friendship, suffering and death
- Library of Congress-George Washington Pearcy collection 1915-1949