"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



domingo, 28 de junho de 2020

IMAGEM DO DIA - 28/6/2020

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O Karukaya era um destróier de segunda classe da classe Wakatak. Externamente, as classes Momi e Wakatake eram idênticas. O Karukaya foi afundado em 10 de maio de 1944 depois de ser torpedeado duas vezes pelo submarino USS Cod, 150 milhas náuticas a noroeste de Manila, nas Filipinas. Setenta e três membros de sua tripulação não sobreviveram.

terça-feira, 23 de junho de 2020

BATALHA DE VERDUN SIMBOLIZA ABSURDO DA 1ª GUERRA MUNDIAL

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Durante 300 dias de 1916, alemães e franceses se confrontaram com violência inaudita às margens do Mosa, resultando numa carnificina com centenas de milhares de mortos e sem sentido estratégico nem vencedores reais.


Por Volker Wagener

O rugido da artilharia pesada começa de manhã cedo: por nove intermináveis horas os alemães disparam armas de todos os calibres. O mundo nunca vira algo igual: a 200 quilômetros de distância ainda se ouvem os canhões de Verdun. "Tempestade de aço" é como o escritor Ernst Jünger denominaria esse horror.

O 21 de fevereiro de 1916, início da ofensiva que os alemães chamaram de "Operação Tribunal", não foi um dia normal de guerra. Os combates já duravam um ano e meio na Europa, mas a Batalha de Verdun viria a se tornar o símbolo mais eloquente da Primeira Guerra Mundial (1914-18).

Lá 162 mil franceses e 143 mil alemães perderam a vida: uma média de 500 mortos por dia do lado da Alemanha, mais ainda do outro lado. Na maioria dos casos não se trata de caídos em combate no clássico sentido militar: a violência das armas esfacela, explode, pulveriza os soldados.


"Sangria" de peso psicológico

Até hoje o sentido da ofensiva germânica continua sendo um enigma. Mas Erich von Falkenhayn, chefe do Estado-maior alemão, forneceu uma explicação: Verdun seria uma "bomba de sangue", com o fim de aplicar uma sangria nos franceses.

Para o General Von Falkenheyn, Verdun seria "uma bomba de sangue" para debilitar os franceses

Também perdura até nossos dias o debate sobre por que o local escolhido terá sido o acidentado terreno ao longo das margens do Rio Mosa, que faz uma curva em Verdun. Peritos militares são unânimes em apontar que – mesmo se fosse tomada pelos alemães – a cidade não seria um bom ponto de partida para investidas mais profundas em direção a Paris, localizada a 250 quilômetros de distância.

De fato, a meta de Von Falkenhayn com essa batalha não era nem um avanço nem um cerco, mas literalmente esgotar o sangue dos franceses, "sangrar até ficarem brancos", como definiu o general alemão. Um cálculo cínico, já que, para a França, Verdun era bem mais do que um nó estratégico-militar.

Como explica o historiógrafo Herfried Münkler, a cidade na região da Lorena representava "um símbolo da oposição franco-alemã". Lá pela primeira vez o Império Carolíngio fora dividido em três, no século IX. Mais tarde, no fim da Idade Média, se formaram a partir daí a França Oriental e Ocidental. Local de grande significado psicológico para os franceses, Verdun não podia, sob hipótese alguma, cair nas mãos do inimigo.


General Pétain envolve a nação inteira

Entretanto, o defensor da cidade, general Philippe Pétain, percebeu a intenção de Von Falkenhayn, contrapondo-lhe uma astuta tática. Ele envolveu literalmente toda a nação francesa na batalha no leste do país, mobilizando mais de 70% de seus soldados para as trincheiras de Verdun, pelo menos uma vez, por um período de oito e dez dias.

Com esse princípio rotativo, Pétain realizou uma jogada de xadrez com amplas consequências: quase todas as famílias da França estavam de alguma forma presentes no local da batalha. Sobretudo entre fevereiro e junho de 1916, contingentes importantes do Exército nacional concentraram-se lá.

General Pétain, o defensor de Verdun:  "On ne passe pas!"

Mesmo em retrospectiva, parece inimaginável o poder de fogo gerado por essa guerra industrializada que se travava pela primeira vez. Calcula-se que, em menos de 30 quilômetros quadrados, foram disparados 10 milhões de tiros, com um peso total de 1,35 milhão de toneladas de aço. O estrondo deixou muitos surdos, e aos sofrimentos dos soldados logo veio se somar um mau cheiro indescritível.


Carnificina disfarçada de vitória

Verdun transformou-se num polo de extrema concentração de violência em espaço reduzidíssimo. As substâncias de combate empregadas deixaram a área contaminada por décadas, com certos trechos declarados zone rouge – zonas interditadas.

Essas foram algumas das cicatrizes duradouras de uma orgia de destruição material e de vidas humanas que em nenhum momento rendeu mais de quatro quilômetros de terreno conquistado para os dois exércitos.

Cemitério militar em Verdun

A partir de julho de 1916, após o fracasso de várias ofensivas alemãs menores, o general Von Falkenhayn ordenou "defensiva estrita", pois há muito as tropas nacionais eram necessárias em outros focos de combate, sobretudo no Rio Somme, no front ocidental.

Em outubro os franceses avançaram, retomando, até dezembro, quase todos os territórios perdidos. Essa aparente vitória, contudo, fora na realidade um empate militar ao preço de uma catástrofe humana sem precedentes. E o início de um culto memorial que se mantém cem anos depois.


Símbolo da estupidez da Primeira Guerra

Entre os incontáveis monumentos aos 300 dias de Verdun, nenhum é tão impressionante quanto o Ossário de Douaumont, erguido em 1927 diante do forte mais poderoso e setentrional da zona de batalha. Na torre principal dessa sepultura de massa jazem os restos mortais de cerca de 130 mil soldados franceses e alemães, todos desconhecidos. Até hoje ainda são depositados lá ossos da época, achados por acaso em jardins, campos e bosques da região.

Para a França e os franceses, a catástrofe de Verdun é superposta hoje pelo sentimento de vitória, uma vitória de defensiva, segundo o lema de Pétain: "On ne passe pas!" – "Aqui não se passa!"

Restos mortais nas trincheiras de Verdun: a batalha foi um símbolo do desperdício de vidas ocorrido durante a 1ª Guerra Mundial

Para os alemães, em contrapartida, ela permanece como símbolo da total falta de sentido. Ainda assim não faltaram esforços para glorificar a posteriori a carnificina. Um exemplo são os 14 volumes de Die unsterbliche Landschaft – Die Fronten des Weltkrieges (A paisagem imortal – Os fronts da Guerra Mundial), de Erich Otto Volkmann, lançado em 1934-35, logo após a ascensão dos nazistas ao poder.

Além dos números astronômicos de suas vítimas, a Batalha de Verdun permanece na memória mundial também por motivos estratégico-militares, como um cínico exemplo de uma estratégia desumana.

Como analisa o historiador militar German Werth: "Ao contrário da 'batalha de movimento' no Rio Marne, a batalha no Mosa foi marcada por falta de imaginação e monotonia, fazendo dela um símbolo perfeito para a estupidez assassina de quatro anos de uma guerra de posições."

Fonte: DW


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domingo, 21 de junho de 2020

NOVO LIVRO CONTA A HISTÓRIA DA ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DA AERONÁUTICA

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Mesmo em tempos de Covid-19, chega ao mercado o primeiro volume da obra Pensando a educação: uma história da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica (ECEMAR), escrita pelo Coronel João Rafael Mallorca Natal, que atuou na instituição de ensino por cerca de doze anos.

O presente volume trata da gênese da Escola, ou seja, suas origens, como parte do processo de apoio fornecido pelos EUA ao Brasil, durante e logo após a Segunda Guerra Mundial, até 1948, ano da consolidação da ECEMAR em sua sede própria, no bairro carioca de Laranjeiras. Porção significativa da oficialidade da Força Aérea Brasileira cursou a ECEMAR, último degrau de educação na carreira militar aeronáutica. 



Em um futuro próximo serão publicados o Volume II (Laranjeiras e Galeão), e Volume III (Afonsos). Essa trilogia fornecerá uma visão ampla de Educação de Pós-Formação no âmbito da FAB.

Pensando a Educação é uma obra essencial para os estudiosos da história da educação militar e das instituições militares e preenche uma lacuna na historiografia sobre o tema.
Para garantir seu exemplar, basta seguir os procedimentos abaixo:

- Depositar o valor de R$ 40,00 (quarenta reais) na conta do Banco do Brasil, agência 4819-4, Conta Corrente 15.150-5.
- Enviar para o e-mail rafaeljrmn@uol.com.br o endereço completo, inclusive com CEP, para a remessa pelos Correios.



sábado, 20 de junho de 2020

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - CAPITÃO MARCOLINO JOSÉ DIAS

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Por Renato Coutinho

O Capitão Marcolino José Dias (também conhecido como Marcolino Dias dos Santos) trouxe da Bahia, sob seu comando, a 2ª Companhia de Zuavos baianos. Tinha sido nomeado Alferes em comissão, depois efetivado no posto e, no momento do embarque para o Rio de Janeiro, já havia sido promovido ao posto de Tenente em comissão. No dia 19 de maio de 1865, a Ordem do dia nº 447, da Repartição da Ajudância-Geral, publicou a nomeação para Capitão em comissão do Tenente da 2ª Companhia de Zuavos baianos Marcolino José Dias. O Corpo de Zuavos, mais conhecidos como "Zuavos Baianos" ou "Zuavos da Bahia", chegou a ter como comandante interino o Capitão Marcolino José Dias. 

Sabemos que, infelizmente, o Corpo de Zuavos foi dissolvido e seus membros foram transferidos para outras unidades. Muitos deles foram servir no Corpo de Saúde e, os demais, foram incorporados em diversos batalhões de infantaria brasileiros. O Capitão Marcolino Dias foi servir no 8º Corpo (Batalhão) de Voluntários da Pátria, batalhão este que foi organizado no Rio de Janeiro com grande contingente da Província do Rio de Janeiro e, também, com pequenos contingentes de Alagoas e Sergipe.

O 8º de Voluntários da Pátria participou com destaque do assalto contra Curuzu (3 de setembro de 1866). Conquistamos a posição defensiva paraguaia ao custo de 941 baixas (baixas computadas entre os dias 1º e 3, incluindo as baixas da Marinha). Sofremos mais de 830 baixas, do Exército Brasileiro, no assalto de infantaria do dia 3. Os paraguaios sofreram 2.132 baixas. Avançando debaixo de fogo inimigo, o 8º de Voluntários penetrou no entrincheiramento paraguaio, lutou corpo a corpo com os infantes paraguaios e conquistou a posição com muita determinação e coragem (claro que outros batalhões brasileiros também combateram e tiveram participação na captura da trincheira inimiga). O 8º de Voluntários capturou duas bandeiras paraguaias nesta ação, uma que tremulava no topo da posição paraguaia e, outra, que pertencia a um dos batalhões de infantaria paraguaios que defendia Curuzu. O batalhão sofreu 105 baixas na tomada de Curuzu (talvez 106 baixas).

A bandeira paraguaia que tremulava no topo do entrincheiramento de Curuzu, "desafiando nossos soldados", foi derrubada e capturada pelo bravo e destemido Capitão Marcolino José Dias. Ele foi ferido quando estava se aproximando da bandeira inimiga, mas conseguiu capturá-la e protegê-la. Ficou de posse daquele troféu de guerra até quase o fim do combate e ai de quem tentasse tomá-la de suas mãos. Ele só foi passar adiante o troféu no momento em que o comandante da 1ª Divisão de Infantaria brasileira, Brigadeiro (General de Brigada) Joaquim José Gonçalves Fontes, apareceu no interior da trincheira paraguaia, entregando o estandarte inimigo para o comandante de sua divisão (o 8º de Voluntários fazia parte da 2ª Brigada de infantaria brasileira, a qual, por sua vez, fazia parte da 1ª Divisão de Infantaria brasileira).

O Capitão Marcolino José Dias foi muito elogiado na parte (relatório) de combate do comandante do 8º de Voluntários da Pátria, Major Rufino Voltaire Carapeba (descrevendo o feito de armas do mencionado Capitão). O comandante da 2ª Brigada de infantaria brasileira, Tenente-Coronel Augusto de Barros e Vasconcelos, também elogiou o comportamento e o feito de armas realizado pelo nosso ilustre capitão baiano.

Em 1867, por Decreto de 15 de junho, foram concedidas honras do posto de Capitão do Exército ao Capitão em comissão Marcolino José Dias. Ainda em 1867, Marcolino recebeu baixa por motivo de incapacidade física não especificada (talvez em decorrência do ferimento recebido em Curuzu). 

Fonte: História Militar e Militaria brasileira

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terça-feira, 16 de junho de 2020

BATALHA DO GELO (1242): ALEXANDER NEVSKY CONTRA OS CAVALEIROS TEUTÔNICOS

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Em 1242, com uma brilhante armadilha, Alexander Nevsky levou ao fundo os Cavaleiros Teutônicos


Por Sergio Cauti

Santo para a Igreja Ortodoxa, herói para o povo, mito para a Rússia. Protagonista central de eventos que realinharam o equilíbrio religioso e político no Leste Europeu, na Idade Média, e grande líder militar e político. O príncipe Alexander Nevsky foi tudo isso. O feito que lhe garantiu lugar na História e no imaginário mundial foi a vitória em uma batalha decisiva para a nação russa, travada sobre um lago congelado. A Batalha do Gelo foi um confronto modesto diante de épicos que mudaram a História, como Waterloo e Stalingrado. Mas mudaria para sempre o destino da Rússia.


Ataques de vikings

Os antecedentes do confronto tem lugar décadas antes. Na primeira metade do século XIII, a Rússia Kieviana – primeiro grande Estado eslavo da História – era uma mistura de etnias e culturas e vivia um período de prosperidade. Isso até os vikings dominarem a região. Mas Kiev entraria definitivamente em colapso em 1240, quando o mongol Batu Khan, descendente de Gêngis Khan, tomaria definitivamente a capital da Rússia. Os príncipes russos sobreviventes e as cidades-estado que não foram destruídas submeteram-se ao Khan, que fundou na região o Canato da Horda Dourada, anexando-o ao Império Mongol.

Novgorod estava entre as poucas que escaparam. Unindo habilidade política ao pagamento de pesados tributos aos mongóis, conseguiu manter sua independência. Mas na Idade Média, bonança atraía violência. Se Novgorod escapara da ameaça dos mongóis vindos do leste, estava prestes a enfrentar um perigo maior: os europeus, que pressionavam do oeste. Os suecos foram os primeiros.

Queriam controlar as ricas rotas fluviais entre o Báltico e o Mar Negro. Com uma forma de governo rara para a época, Novgorod escolhia, entre a aristocracia, o Kniaz, um príncipe com o mandato temporário de comandante político e militar. O cargo era revogável pela assembleia do povo, a Vetche. O Kniaz de então era Alexander Jaruslavic, de 19 anos.

Jaruslavic e sua pequena armada atacaram o Exército sueco às margens do Rio Neva, destruindo-o completamente. Foi tão definitiva a derrota, que a vontade dos suecos em conquistar o território russo desmoronou. A vitória mudaria o sobrenome de Jaruslavic para Nevsky (em russo, do Neva). Mas faria surgir forte inveja na aristocracia, os chamados boiardos, o que obrigaria o Kniaz a se exilar. Logo, uma ameaça bem pior do que os suecos faria a aristocracia mudar de ideia. Uma ordem de monges guerreiros de origem alemã, os Cavaleiros Teutônicos, invadira a vizinha Livônia, atual Letônia, que havia se tornado o epicentro das Cruzadas do Norte.

Alexander Nevsky, comandante militar e santo na Igreja Ortodoxa
 
O que os movia era o impulso de levar o cristianismo, pela espada, aos povos pagãos da Europa do Leste. Novgorod professava o cristianismo ortodoxo. Mas, se algum cavaleiro teutônico foi tomado por alguma dúvida moral sobre uma possível luta de cristãos contra cristãos, o papa Gregório IX, não. Abençoou a expansão como forma de glorificação do catolicismo.

Os cruzados avançavam em direção de Novgorod e os boiardos chamaram o príncipe de volta. A ofensiva teutônica começou no inverno de 1240. Os cruzados chegaram com sua pesada cavalaria. Devastaram e saquearam o que encontraram pela frente e conquistaram Pskov, parceira comercial de Novgorod. O jovem príncipe juntou à sua guarda pessoal, formada por cavaleiros de elite, uma milícia com gente de Novgorod e dos clãs tribais. Atacou de surpresa e reconquistou Pskov. Os prisioneiros foram libertados, mas não houve piedade aos boiardos que colaboraram com o invasor. Foram enforcados.


A armadilha

Os teutônicos eram soldados profissionais. Passada a surpresa, reorganizaram-se e passaram ao contra-ataque. Perto de Tartu exterminaram parte do Exército de Nevsky em missão de observação. O revés fez o príncipe mudar sua estratégia. Era hora de recuar para enfrentar os teutônicos em terras conhecidas. Como local do confronto, Nevsky escolheu o Lago Peipus.

O lago era profundo, estava congelado e era cercado por pântanos que davam passagem somente em três pontos, que Nevsky conhecia bem. O príncipe também sabia que naquele começo de abril a superfície gelada do lago era fina. E não aguentaria o peso da cavalaria teutônica. Era possível montar uma armadilha para os cruzados, percebeu. Posicionou suas tropas para obrigar o inimigo a cavalgar bem em cima do gelo e aguardou. Os alemães caíram no engodo. Mesmo em inferioridade numérica, 800 cavaleiros contra 5 mil russos, estavam seguros de sua superioridade bélica, com seus poderosos cavalos e pesadas armaduras.

O Lago Peipus nos dias atuais: cenário da batalha
 
Assim, subestimaram o inimigo, considerando-os um bando de camponeses mal-armados e sem treinamento militar. Não deixavam de ter razão. “Os homens de Nevsky não eram soldados. Eram camponeses tirados à força de seus trabalhos rurais, não treinados e mal-armados”, diz Mikhail Krom, professor de Estudos Históricos Comparados na Universidade Europeia de São Petersburgo.

Os cruzados repetiram a clássica e bem-sucedida tática utilizada em todos os confrontos precedentes: cavalgar compactos para o centro do Exército inimigo, usando a força de impacto da cavalaria pesada para dividi-lo em duas partes e enfrentá-las separadamente. Nevsky estava preparado.

Quando o inimigo estava próximo, deu a ordem de abrir a frente em duas partes, que atacaram os invasores pelos flancos. Isso obrigou os teutônicos a permanecerem no centro do lago. O príncipe escondia mais um trunfo: arqueiros mercenários mongóis a cavalo. Foram decisivos. Esse detalhe tático entrou na tradição eslava como o mito de que anjos chegaram dos céus salvando o príncipe.


Sob a água e o gelo

Cercados e ofuscados pelo sol refletido no gelo, os cruzados foram fustigados pelas flechas e atacados pela infantaria. O confronto foi rápido, mas sangrento. Os cruzados tentaram se retirar da superfície do lago, mas o gelo quebrava por debaixo deles. Cavalos e cavaleiros desapareciam nas águas geladas. O ponto de força da cavalaria teutônica, as armaduras pesadas, se revelou sua maldição. Somente 300 cruzados se salvaram do massacre.

A batalha sobre o gelo do Lago Peipus: vitória de Nevsky
 
Mais uma vez, Nevsky voltou triunfante como gênio militar. A estratégia de amizade com os dominadores asiáticos lhe assegurou, em 1252, a nomeação como Grão-Príncipe. Alexander começou uma política de acomodação com os mongóis. Não lutou contra eles e perseguiu os rebeldes que não queriam pagar os tributos ao Canato da Horda Dourada.

Mas, segundo uma versão aceita pelos historiadores, os mongóis mostraram-se ingratos e o teriam envenenado, aos 43 anos, durante uma visita oficial. “Provavelmente, ele tinha se tornado independente demais”, especula Mari Isoaho, professora de História da Universidade de Helsinque e autora do livro The Image of Aleksandr Nevskiy in Medieval Russia. Três séculos mais tarde, a Igreja Ortodoxa proclamou Alexander Nevsky santo, dedicando-lhe igrejas e monastérios em toda a Rússia.

Fonte: Aventura na História

terça-feira, 2 de junho de 2020

OS CANHÕES SOVIÉTICOS DE 305mm

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O gigante Canhão do Tsar em exposição no Kremlin de Moscou é símbolo da capital russa há muito tempo. Sempre que os guias turísticos contam aos visitantes sobre sua história, eles ressaltam que a arma nunca disparou um tiro sequer. No entanto, poucas pessoas sabem que o lendário canhão foi o protótipo de uma geração notável de armas que não só entrou em serviço de combate, mas também garantiu seu lugar como os exemplares mais poderosos de seu tempo.



Por Aleksandr Verchínin



A ideia de criar uma arma terrestre de alta potência foi primeiramente lançada nos círculos militares, em 1915, no auge da Primeira Guerra Mundial, quando o Exército russo sofreu uma sucessão de derrotas contra as forças alemãs.

Essas derrotas no campo de batalha se deviam principalmente a graves lacunas nos arsenais de artilharia da Rússia e na artilharia pesada em particular, enquanto os alemães eram capazes de usar armas de última geração para esmagar uma divisão russa após a outra. O Exército russo precisava urgentemente de poder de fogo capaz de infligir perdas iguais sobre o inimigo.

As armas mais poderosas eram tradicionalmente utilizadas pela Marinha russa, já que os navios proporcionavam uma plataforma conveniente para artilharia pesada. No verão de 1915, oito obuseiros 305 milímetros tinham sido produzidos para a Marinha. Mas por causa da situação difícil no fronte, ficou decidido que quatro deles seriam destinados para as forças de campo do Exército. Os monstros de 64 toneladas podiam ser transferidos entre as localizações por transporte ferroviário, sem qualquer efeito negativo para sua eficácia. O poder devastador dessa arma foi demonstrado logo nos primeiros testes, em que bombas incendiárias, pesando quase 400 kg, provaram ser capazes de perfurar qualquer fortificação reforçada de concreto. Além disso, disparar uma arma de 305 milímetros gerava tal pressão de gases que uma salva  toda criava um vácuo em um raio de vários metros, sugando itens soltos no caminho, como se fosse um redemoinho.

As armas de 305 milímetros chegaram ao fronte no verão de 1916 e tiveram seus primeiros disparos em um momento de ira em 19 de junho. Um ataque direto a um abrigo alemão literalmente o jogou a metros no ar criando uma coluna de terra e detritos.

Canhão soviético de 305mm montado em reparo ferroviário


Naquele inverno, uma divisão das armas também entrou em ação perto de Riga, transformando as posições de tiro e ninhos de metralhadora dos alemães em crateras enormes com alguns bons disparos. A infantaria russa não encontrou resistência ao tomar controle das posições inimigas que tinham sido construídas ao longo de 18 meses.

A Revolução de 1917 e o fim repentino da Primeira Guerra Mundial para a Rússia tornou essas armas pesadas desnecessárias. No entanto, as 30 armas retidas pelo Exército Vermelho serviram de base do projeto das armas soviética de 305 milímetros, que foram mais tarde instaladas em fortalezas e bases de defesa da Marinha.

Sua força foi mostrada sobre as forças de Hitler em setembro de 1941, quando as barragens de oito armas 305 milímetros interromperam o ataque alemão a Sebastopol. Disparando de uma margem de 44 km, a bateria permanecia imune a qualquer disparo do inimigo. As armas foram igualmente usadas para defender posições em torno de Leningrado, que nunca foi dominada pela forças alemãs.

Os velhos canhões do tsar foram agrupados em cinco divisões com poder de fogo especial e enviados para a frente de batalha em 1944. Seu momento de glória aconteceu durante a ofensiva soviética na Karélia, Bielorrússia e Polônia, onde as defesas inimigas estavam concentradas em uma série de linhas reforçadas e cidades-fortalezas.

Uma divisão de artilharia organizada em apoio de tanques e forças navais bastou para romper a zona fortificada finlandesa ao longo da Linha Mannerheim, que o Exército soviético tinha atacado com grandes perdas durante vários meses no inverno de 1939 e 1940.

Canhões soviéticos de 305mm preservados


O poder das armas russas de 305 milímetros também foi sentido por posições alemãs no rio Oder, que o comando nazista tinha calculado ser suficiente para verificar o avanço soviético. Em abril de 1945, as armas pesadas também deram apoiou à tomada de Berlim.

O ponto alto dos canhões do tsar, porém, se deu durante a operação para capturar o forte gigante do Terceiro Reich em Königsberg (atual Kaliningrado), quando três divisões da artilharia pesada infligiram mais de 200 ataques diretos no reduto. Apesar de apenas 15% das bombas penetraram o invólucro de betão das colocações, foi o suficiente para romper as defesas alemãs.

Depois de ter sido produzido para esses elevados padrões de montagem, as velhas continuaram a servir na artilharia soviética muito tempo depois da Segunda Guerra Mundial. As últimas unidades foram retiradas de serviço apenas no final de 1950, e uma delas está agora em exposição no Museu de Artilharia de São Petersburgo.

Fonte: Gazeta Russa