"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sábado, 25 de fevereiro de 2012

O FIM DOS GURKAS !?

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O Parlamento do Nepal recomendou que o alistamento de cidadãos do país em exércitos estrangeiros seja proibido, uma iniciativa que pode causar a extinção do mito dos gurkas, um povo composto por ferozes guerreiros que combateram em meio mundo. A recomendação, formulada por um comitê parlamentar neste mês, segue um preceito maoísta de que esses soldados são um resquício colonial. Antes de adotar a medida, no entanto, o governo do país terá que conseguir a aprovação da Índia e do Reino Unido, conforme estipulado em acordo assinado pelos três países em 1947.


Soldados gurka em 1900


A Índia e o Reino Unido são as únicas nações que contam com a presença em seus exércitos dos gurkas, que fizeram da região do Himalaia um reduto de heróis de guerra. A recomendação apresentada pela comissão parlamentar, no entanto, define esses soldados como simples "mercenários".

O mito dos gurkas, nome oriundo de Gorkha - o distrito do Nepal de onde saíram os primeiros soldados que lutaram em fileiras estrangeiras -, nasceu no século XIX, depois que as tropas britânicas derrotaram em 1815 as nepalesas. Apesar de derrotados, os soldados do Nepal causaram uma forte impressão nos oficiais britânicos, que fizeram o máximo para obter o apoio das tropas do país asiático, a maioria formada por gurkas, para vencer a Índia em 1857, na Revolta dos Cipaios.

Integrados ao exercito britânico, os gurkas conquistaram fama internacional na 1ª e 2ª Guerras Mundiais, quando tornaram famosos o "khukri", a típica faca curva usada pelo grupo, e seu grito de batalha: "Aayo Gorkhali" (aqui vêm os gurkas). Posteriormente, participaram da Guerra das Falklands, realizada em 1982 entre o Reino Unido e a Argentina para disputar a posse do arquipélago situado no Atlântico.


Fuzileiro gurka com sua faca khukri durante a 2ª Guerra Mundial


A última contribuição dos gurkas ao Exército britânico foi na invasão do Afeganistão, onde 11 deles morreram desde o início dos conflitos, há mais de uma década. Junto às Forças Armadas indianas, os gurkas lutaram contra a China, em 1962, e contra o Paquistão por três vezes, em 1947, 1965 e 1971.
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Atualmente, 30 mil gurkas estão alistados nos exércitos da Índia, e 3,5 mil no do Reino Unido. Os soldados gurkas que se aposentaram das Forças Armadas britânicas antes de 1997 recebem menos do que os militares do Reino Unido, o que provocou protestos entre o povo do Himalaia.
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Segundo explicou à Agência Efe o presidente da Organização Gurka de Antigos Servidores do Exército (GAESO), Padam Bahadur Gurung, a associação levou o assunto duas vezes para a justiça de Londres, que, em ambas as vezes, rejeitou a equiparação das pensões. Para Gurung, esse fato demonstra que os gurkas são vistos como meros refugiados, apesar de milhares de nepaleses terem morrido nos dois últimos séculos nos campos de batalha em defesa da Coroa britânica.
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Soldados gurka em patrulha no Afeganistão.  A nova recomendação do parlamento do Nepal pode significar o fim dos gurka nos exércitos britânico e indiano.


Após ressaltar "o valor e a coragem" de gerações de guerreiros gurkas, o coronel britânico Andew Mills, encarregado de recrutar combatentes no Nepal, considerou corretas as condições oferecidas aos antigos aposentados. "A pensão é generosa, em termos nepaleses", disse Mills à Agência Efe. O salário de um gurka "britânico" é de US$ 1.500, enquanto no Nepal um soldado ganha apenas US$ 125, o que explica que 7,5 mil jovens lutem, todos os anos, pelas 176 vagas que o Reino Unido destina aos militares do país asiático.
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Fonte: Terra


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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - XERXES I

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* c.519 a.C.
+ c.465 a.C.


 
Xerxes (Khshayarsh, em Persa) nasceu em 519 a.C. e morreu em 465 a.C. Era filho de Dario I e neto de Ciro, o Grande. Assumiu o trono por designação do pai, no leito de morte — ele não era o primogênito e, portanto, não deveria ser o rei, naturalmente. No entanto, outros relatos dizem que seus irmãos mais velhos morreram antes de poder assumir o trono.
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Alguns historiadores acreditam que Xerxes seja Ahasuerus, Assuero ou Aasvero, o rei da Pérsia no Livro de Ester, um dos livros históricos do antigo testamento da Bíblia. Outros, no entanto, não concordam com essa afirmação.
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A obstinação de sua vida foi continuar a guerra iniciada (e perdida) por seu pai contra a Grécia, que ficaram conhecidas como Guerras Médicas. Dario foi derrotado em 490 a.C. na célebre Batalha de Maratona.
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A frente de um numeroso exército (aproximadamente 300 mil soldados), Xerxes cruzou o Helesponto em 480 a.C. Para facilitar o deslocamento de sua frota, mandou construir um canal que atravessava a península de Atos. Logo depois, sua armada venceu os espartanos, liderados por Leônidas, na Batalha das Termópilas, que acabou acarretando na tomada de Atenas — que ele destruiu por completo. No entanto, nenhum ateniense sequer foi ferido, pois eles já tinham tido notícias sobre o que aconteceu nas Termópilas e saíram de lá.
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Relevo de Xerxes I

Pouco tempo depois da queda de Atenas, suas tropas, em conseqüência dos graves erros táticos que cometeu, foram vencidas em Salamina e ele regressou à Pérsia derrotado, abandonando seu exército, que acabou se destroçando. O imperador Xerxes jamais conseguiu se recuperar da derrota para os gregos e a partir de então não quis mais se envolver no universo das guerras.
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Nos últimos anos de seu reinado dedicou-se a construção de palácios e monumentos que contribuíram para o embelezamento de Persépolis. Morreu assassinado por seu vizir (ministro), Artabanus, quinze anos depois de findada a guerra com a Grécia.


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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A CARGA DE PICKETT (1863)

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A Carga de Pickett foi um famoso ataque da infantaria confederada ordenado pelo general Robert E. Lee, em 3 de Julho de 1863, durante o terceiro dia da Batalha de Gettysburg. O assalto contra as posições da União inexpugnáveis em Cemetery Ridge acabou repelido com grandes baixas, decidindo a maior batalha da Guerra Civil Americana em favor da União.

A derrota significou um ponto de inflexão na guerra, interrompendo uma série de brilhantes vitórias confederadas no teatro de operações oriental. A carga tornou-se também um marco indelével na memória do povo dos estados do sul e um dos grandes símbolos do movimento literário e intelectual conhecido como "Lost Cause" (causa perdida).


Antecedentes

Nos primeiros dois dias da batalha, o Exército do Norte da Virgínia confederado obteve um relativo sucesso, ganhando terreno em várias frentes. Entretanto, os federais do Exército do Potomac foram empurrados para uma posição defensiva formidável. Do sul para o norte, as defesas estendiam-se sobre uma longa elevação chamada Cemetery Ridge (Colina do Cemitério). Então, a linha defensiva curvava-se num semicírculo voltado para o norte sobre as elevações de Cemetery Hill e Culp's Hill, dando ao conjunto do perímetro defensivo federal a aparência de um anzol. Essa disposição conferia às forças da União a vantagem das linhas internas: as tropas podiam ser deslocadas rapidamente no interior do anzol, reforçando quaisquer pontos que estivessem sob ameaça. Os confederados ocuparam uma posição paralela, muito mais aberta.

Tropas confederadas diante de Cemetery Ridge

O general Lee, comandante confederado, optou por empreender a carga contra o centro das posições federais em Cemetery Ridge, esperando que o comandante das tropas federais George Meade tivesse enfraquecido o centro para reforçar as alas que estiveram sob ataque no dia anterior. Mas o movimento foi corretamente antecipado por Meade, que manteve o centro forte.


A Carga

A execução coube ao experiente tenente-general James Longstreet, braço direito de Lee, que aceitou a ordem mesmo protestando veementemente. Longstreet, segundo seu próprio testemunho, teria dito ao comandante sulista que, tendo sido militar a vida inteira, sabia muito bem o que soldados podiam fazer e que não haveria 15 mil soldados na face da terra capazes de tomar Cemetery Ridge. Para o ataque, Lee colocou à disposição de Longstreet as divisões do major-general Isaac R. Trimble, do brigadeiro-general J. Johnston Pettigrew e do major-general George Pickett. Curiosmente, o assalto todo ficou conhecido sob o nome desse último, que comandava aproximadamente um terço das tropas atacantes. Do outro lado, aguardava o II Corpo do Exército do Potomac, sob as ordens do major-general Winfield S. Hancock.



               
Embora o ataque tenha sido liderado pelo tenente-general James Longstreet (à esquerda), ficou conhecido pelo nome do comandante de uma das divisões, major-general George Pickett (à direita)        

A carga foi precedida pelo fogo de preparação de mais de 150 peças da artilharia confederada, constituindo a maior concentração de fogo de artilharia daquela guerra. O bombardeio foi bastante ineficaz, em parte devido à temporização falha dos projéteis fabricados nos estados do sul. O fogo de contrabateria lançado pelos federais foi muito melhor sucedido. Mesmo os tiros longos, que ultrapassavam as posições da artilharia rebelde, causavam sérias baixas castigando a infantaria que estava aguardando a ordem para assalto na mata logo atrás.

Num determinado momento, o experiente comandante da artilharia da União, Henry J. Hunt, silenciou os seus canhões. Confederados concluíram que as baterias federais haviam sido postas fora de combate. Desejando poupar a escassa munição para suportar o assalto, os rebeldes também suspenderam suas salvas. Nesse momento, 12.500 homens, marchando ombro a ombro, deixaram a mata para atravessar os longos 1.200 m até as linhas inimigas, completamente expostos aos tiros das linhas da União. No caminho, encontraram uma cerca que contribuiu para retê-los por mais tempo sob a mira. Já próximas ao alvo, as tropas confederadas receberam violento fogo enfiado das baterias habilmente dispostas por Hunt. Num único ponto, os rebeldes atingiram a linha federal, mas os reforços estancaram a penetração rapidamente e os atacantes foram repelidos. Mais da metade dos homens que começaram a carga não retornou as suas linhas. Lee, reconhecendo a derrota, ordenou a retirada.





Resultados e memória

A futilidade do ataque realizado com um enorme custo em vidas representou um tremendo golpe psicológico para as confiantes forças confederadas. As vitórias contundentes na Segunda Batalha de Bull Run, em Fredericksburg e em Chancellorsville conferiram a Lee uma áurea quase mítica. Mas a derrota catastrófica em Gettysburg era evidentemente uma consequência de um julgamento pobre de Lee, muito parecido com que ocorreu na Batalha de Malvern Hill. Lee continuou sendo adorado pelos seus soldados, mas a crença na vitória não era mais inabalável.

A Carga de Pickett é frequentemente identificado como o "marco alto da confederação" ("Confederation high water mark"), o momento em que o apogeu da sociedade confederada converteu-se em rápido declínio.

Os partidários do movimento "Lost Cause" buscaram isentar o general Lee da culpa, embora ele mesmo a reconhecesse, acusando Longstreet pelos erros de execução, que incluiriam lentidão em tomar a posição e marcha sobre um trajeto que permitiria uma boa observação para os federais.

A corajosa porém fútil carga tornou-se um simbolo emblemático daquele movimento e um marco especial na memória do povo do sul. William Faulkner em Intruder in the Dust descreve os instantes que antecedem a Carga de Pickett como um momento que qualquer rapaz sulino de 14 anos consegue invocar, sempre que o desejar.





sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012