"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quarta-feira, 16 de junho de 2010

DE "HERMANN, O SUPERGERMANO" A ANÃO DE JARDIM


Por Sabine Damaschke

No ano 9 d.C. a Batalha de Varo, ou "da Floresta de Teutoburgo", demarcou os limites entre as culturas romana e germânica. Seu protagonista, Armínio, foi instrumentalizado como herói da Alemanha, mas é hoje visto com humor.

Em 16 de agosto de 1875, na cidade de Detmold (oeste da Alemanha), era inaugurado o monumento a Armínio, o primeiro herói germânico. De espada em punho, moldado com 200 placas de cobre e ostentando 56 metros de altura, ele olhava ameaçador por sobre a Floresta de Teutoburgo, em direção à França. Uma multidão de 30 mil pessoas veio homenageá-lo como unificador das tribos germânicas e seu libertador do jugo romano.

O culto ao "Pai Original dos Alemães", como o designou o humanista Ulrich von Hutten, atingia o ápice. "Era uma época em que os alemães procuravam demonstrar sua unidade e potência perante o arqui-inimigo, a França", explica o historiador alemão Michael Zelle.


De Armínio a Hermann

Nascido no ano 18 a.C., Hermann (versão germânica de seu nome) foi assassinado por volta dos 37 anos idade. A efígie do vencedor da Batalha de Varo adornava quadros, arcas e canecas de cerveja, sempre representado com cabelos louros esvoaçantes. Por vezes trajava armadura, por outras, uma vestimenta de pele.

Assim os alemães imaginavam um "verdadeiro germano", um herói com que pudessem se identificar. O nome Hermann fora uma criação de Martinho Lutero: tratava-se da tradução direta (Heer-man) da designação latina dux belli (líder na guerra).

Porém, quanto mais crescia o ídolo, mas desaparecia a figura histórica de Armínio. Hoje, os historiadores não sabem mais qual era sua verdadeira aparência física. Seja como for, certamente não trazia elmo alado nem armadura, mas sim as calças e camisa longa características das tribos da província romana da Germânia.

Confiança funesta

Armínio, filho do chefe dos queruscos, Segimero, dispunha de direitos civis segundo a lei romana e liderava os contingentes de sua tribo a serviço dos ocupadores.

O poeta romano Marco Veleio Patérculo descreveu-o assim: "Era um homem jovem, de ascendência nobre, valente na luta, rápido de raciocínio. Mais capaz de cabeça do que seria de esperar de um bárbaro, que revela o fogo do próprio espírito no semblante e no olhar."

A Batalha de Teutoburgo em quadro de Peter Janssen, o velho (1870-73)

O cônsul romano Públio Quintílio Varo confiava em Armínio, e em 9 d.C. deixou-se atrair por ele a uma emboscada na Floresta de Teutoburgo. Esta terminou com a morte ou captura de 15 mil soldados romanos. Varo suicidou-se, em seguida.


Redescoberta dos reformadores

Essa aniquiladora derrota para a força ocupadora romana, porém, não resultou na fundação de um reino germânico sob a regência de Armínio. Segundo o historiador Peter Kehne, o guerreiro querusco sempre subordinou a "consciência germânica" a sua própria sede de poder. "Na política interna, ele fracassou devido à sua aspiração de domínio autocrático."

Monumento em homenagem a Hermann na cidade de Detmold, Alemanha

Armínio não pretendia, portanto, opor um "reino alemão" ao poderio romano: ele desejou dominar, pura e simplesmente. Entretanto seus próprios irmãos de tribo não o permitiram: em 21 d.C., o ambicioso comandante foi assassinado.

Mas Armínio pôde ascender postumamente à categoria de "supergermano" graças ao autor romano Tácito, que no ano 98 o glorificou como "um filho das tribos germânicas". Durante o Renascimento, a obra de Tácito Germânia foi redescoberta e instrumentalizada pelos reformadores religiosos na luta contra Igreja romana.


Heróico, mas nem tanto

Desde então, Hermann foi repetidamente utilizado como figura de identificação, sempre que a Alemanha se sentisse ameaçada, explica o historiador Ralf-Peter Märtin. Por exemplo, nas Guerras de Libertação do século 19, na Primeira Guerra Mundial e durante o regime de Hitler.

"Após 1945, Armínio foi despolitizado", observa Michael Zelle. "Hoje, o monumento a Armínio em Detmold é, sobretudo, atração turística e, de acordo com o espírito da época, marca registrada de uma região." Passados 2 mil anos desde a batalha, a efígie do herói decora novamente xícaras, camisetas e canetas esferográficas.

Mas desta vez os alemães encaram seu "supergermano" com um toque de humor. É assim que, na exposição comemorativa Império – Mito – Conflito, em três cidades da região da Floresta de Teutoburgo, pode-se comprar uma estátua do herói em versão "anão de jardim": com apenas 56 centímetros de altura, "Hermanão" cabe em qualquer quintal.

Fonte: Deutsche Welle

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Um comentário:

  1. De 56 metros para 56 cm de altura. Com um pouco de transposição geográfica e um possível conhecimento das obras de Enéias por Armínio, talvez aqui no Brasil teríamos o que falar sobre uma coincidência com o falecido político de número 56, Enéias.

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