"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quinta-feira, 21 de julho de 2022

IMAGEM DO DIA - 21/7/2022

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Artilharia norte-americana atacando posições alemães perto de Verdun, setembro de 1918.


quarta-feira, 20 de julho de 2022

EDITOR DO PORTAL PARTICIPA DE SEMINÁRIO SOBRE ARTILHARIA NA UNIVERSIDAD SIMÓN BOLÍVAR, VENEZUELA

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No último dia 13, o editor do portal Carlos Daróz-História Militar participou do interessante seminário organizado pela Universidad Simón Bolívar, em Caracas, que teve como tema a evolução da Artilharia na América Ibérica.


O evento teve como tema central La Artillería: 4 miradas desde la historia iberoamericana, organizada pelo seminário "Caudillo, Ditador e Força Armada em Venezuela 1830-1958", dirigida pelo Prof. Germán Guia do Departamento de Formação Geral e Ciências Básicas. 

A tertúlia foi patrocinada acadêmica e logisticamente pelo Instituto de Investigações Históricas Bolivarium e pelo Funindes.

Participaram da reunião os seguintes professores, com a exposição dos respectivos temas:

- Carlos Daroz (Brasil): "A artilharia brasileira na defesa do Arquipélago de Fernando de Noronha durante a II Guerra Mundial";

- Germán Guia (Venezuela, USB): "A organização, a tática e as tentativas de profissionalizar a Artilharia Costeira Raiada Venezuelana, 1875-1877";

- Luis Eduardo González (México): "Os Sistemas de Artilharia de Mondragón";

- Alberto Castro (Peru): "O Quartel Santa Catalina e sua relevância na história da artilharia peruana".



Junto ao Prof. Germán Guia, na moderação da tertúlia esteve o Prof. Cristian Garay (Universidade do Chile, Instituto de Estudos Avançados)

Para quem gosta do assunto, segue o link para o vídeo do evento.







OS COSSACOS NAS GRANDES GUERRAS DO SÉCULO XX

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No século XX, o destino dos cossacos foi trágico: eles estiveram tanto entre as vítimas como entre os algozes. Divididos por guerras e revoluções, realizaram muitas proezas e cometeram muitas das atrocidades. 

Por Gueorgi Manaev


Em um dia quente de verão no ano de 1914, foi dado o alarme nas aldeias de cossacos da Rússia. Eles saíram cavalgando levando na mão uma pequena bandeira vermelha, o sinal de que a mobilização começara. Ao vê-los, as pessoas deixavam o seu trabalho no campo e se apressavam em voltar para casa a fim de equipar-se para a campanha da Primeira Guerra Mundial que mudaria o destino da Rússia.


“Não queremos defender os grandes senhores de terras”

Os cossacos, que no início do século XX somavam aproximadamente 4 milhões de pessoas, desde tempos imemoriais mantiveram uma tradição militar em suas famílias: eram excelentes cavaleiros e guerreiros ágeis e destemidos. Sua lealdade ao governo era assegurada pela isenção de quase todos os impostos e taxas, além de educação e saúde gratuitas. No entanto, a maioria dos cossacos comuns vivia na pobreza. A única fonte de renda era a terra que eles cultivavam ou arrendavam.

Os cossacos, que consideravam ser o herdeiro do trono o seu líder supremo (ataman), eram um dos principais pilares do poder na Rússia. Eles foram usados ativamente para dispersar manifestações e reprimir os camponeses e trabalhadores durante a revolução de 1905. Mas parte deles se recusou a ir contra o povo e defender os grandes proprietários de terras. Em algumas aldeias, oprimidos pela pobreza, os cossacos até se atreveram a se manifestar contra o governo. E, então, veio a Primeira Guerra Mundial.


Proeza desperdiçada

A notícia sobre o cossaco Kozma Kriutchkov, que juntamente com três companheiros derrotou um pelotão de 27 soldados da cavalaria alemã, se espalhou por toda a Europa. Na Primeira Guerra Mundial, Kriutchkov se tornou a primeira pessoa a ser condecorada por bravura com a Cruz de São Jorge. Ao todo, mais de 120 mil cossacos receberam essa condecoração ao longo da guerra.

Cossacos russos saindo para patrulha em 1916


Enquanto isso, as aldeias que ficaram sem os pais de família estavam entrando em decadência. O governo perdeu totalmente o apoio dos cossacos – quando aconteceu a revolução de fevereiro de 1917, algumas unidades de cossacos, direcionadas para a dispersão de manifestantes, não só se recusaram a cumprir ordens, como também passaram para o lado dos rebeldes. Em outubro de 1917, o Governo Provisório, liderado por Kerensky, foi derrubado pelos bolcheviques, sendo que muitas unidades de cossacos de São Petersburgo passaram para o lado deles.

A revolução dividiu os cossacos. Os primeiros decretos dos "vermelhos" foram recebidos com aprovação pela massa de cossacos pobres – os bolcheviques anunciaram que a Rússia havia saído da guerra e prometeram dar terra aos cossacos e não interferir nos seus assuntos, caso eles não se manifestassem contra o poder soviético. No entanto, o principal foco de resistência aos Sovietes surgiu precisamente no coração da Rússia dos cossacos, às margens do Rio Don.

Sargento Cossacos do Don, 1914.


Em 1918, o General Piotr Krasnov, que vinha de uma antiga estirpe de cossacos, liderou a resistência do exército do Don, o exército cossaco mais temível e independente. Krasnov anulou os decretos dos bolcheviques e declarou que as terras em que estava o exército constituíam um Estado independente e que ele era o seu ditador. Foram fuzilados de 25 mil a 40 mil cossacos “vermelhos” e outros 30 mil foram deportados.

Cossacos em ação por ocasião da Guerra Civil


Krasnov enviou um telegrama ao imperador alemão com a proposta de cooperação em troca do reconhecimento de seu "Estado". Berlim enviou muitos vagões de armas para Krasnov, mas após a derrota da Alemanha na guerra mundial, o “reino” de Krasnov se desintegrou e ele foi forçado a fugir. Em 1920, a resistência dos cossacos já havia sido eliminada.

Os bolcheviques começaram a eliminação dos cossacos como uma classe hostil ao poder soviético. Cossacos foram fuzilados, e famílias inteiras foram transferidas para outros territórios, a fim de "diluir" sua comunidade social. Em 1922, as terras que haviam pertencido às tropas cossacas passaram a integrar as repúblicas soviéticas. Mas isso estava longe de ser o fim dos cossacos.


O inimigo interno

No final dos anos 1930, a União Soviética começou a se preparar para a guerra. Foram revogadas as restrições que impediam os cossacos de servir no Exército Vermelho e eles foram autorizados a usar o uniforme de cossaco. Empobrecidos, iam para a guerra com armas brancas e com os cavalos exaustos dos kolkhozes (fazendas coletivas). Mas isso não os tornava desprovidos de coragem: eles saltavam das selas sobre os tanques blindados, tapavam as fendas para a visão com as fardas e, usando uma solução inflamável, ateavam fogo aos tanques.

Antes da Segunda Guerra Mundial, algumas divisões da cavalaria receberam o status de “dos cossacos”, apesar do  fato de os cossacos serem uma minoria em sua composição. Até mesmo a palavra "cossaco" fazia com que o inimigo ficasse aterrorizado.

No entanto, eles não lutaram somente do lado da União Soviética. A propaganda alemã seduzia os cossacos com a ideia de uma revanche pela guerra civil perdida e a promessa de criação de um Estado cossaco independente, a Kazakia. Os cossacos que haviam emigrado e a população de cossacos das áreas capturadas entraram para as fileiras das tropas do Reich. A eles se juntou o General Krasnov.

Em maio de 1945, a Alemanha se rendeu. O corpo independente de cossacos recebeu a ordem de atravessar os Alpes e ir para a Áustria para render-se aos britânicos. Churchill, Stalin e Roosevelt combinaram que os ex-cidadãos da URSS capturados pelos  aliados e que haviam lutado ao lado do inimigo deveriam ser entregues às tropas soviéticas.

Cossacos soviéticos participando da Parada da Vitória em 1945

Após a travessia dos Alpes sob a liderança de Krasnov, os cossacos entregaram as armas e foram alocados em campos de prisioneiros de guerra, perto da cidade de Lienz. A "extradição" começou no dia 28 de maio. Durante um serviço religioso oferecido para a massa de prisioneiros, as tropas britânicas lançaram-se sobre os cossacos e, espancando-os cruelmente, começaram a colocá-los em caminhões que transportavam os prisioneiros para o território ocupado pelos soviéticos. Isso durou duas semanas. De acordo com diferentes dados, foram entregues entre 40 mil e 60 mil pessoas, sendo que mais de 1.000 foram mortas por oferecerem resistência.

Os líderes dos cossacos que lutaram do lado dos alemães, Krasnov, Andrêi Shkuro, Von Pannwitz e outros, foram enforcados em Moscou, em 1947. Os prisioneiros que foram entregues, incluindo as mulheres, foram enviados para os campos soviéticos e submetidos a pesados trabalhos correcionais. Em 1955, os sobreviventes receberam anistia. Eles viveram e trabalharam na URSS, escondendo cuidadosamente o seu passado.

Fonte: Gazeta Russa