"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



terça-feira, 31 de março de 2009

IMAGEM DO DIA - 31/3/2009


A fotografia foi tomada em Antofagasta, 1879, durante a Guerra do Pacífico que envolveu Chile, Bolívia e Peru. Na imagem, o 2º Regimento de Infantaria de Linha do Exército do Chile em forma nos arredores da cidade.


INVASÃO MONGOL DA RÚSSIA (1223-1240)

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A invasão mongol da Rússia foi uma invasão empreendida por um vasto exército de nômades mongóis, iniciada em 1223, contra o estado da Rússia Kieviana, a essa altura dividida em vários principados. Tal invasão precipitou a fragmentação da Rússia Kieviana e influenciou o desenvolvimento da História Russa e possibilitou a ascensão do principado de Moscou.


Ataque de 1223 e a Batalha do rio Kalka

Ao mesmo tempo em que se fragmentava, a Rússia Kieviana sofreu a inesperada invasão estrangeira vinda de regiões misteriosas do Extremo Oriente. Depois das campanhas contra o Império de Khwarezm, em 1221, um exército mongol liderado pelos generais Jebe Noyon e Subedei, em uma campanha de reconhecimento para futuras conquistas, passou pelo norte do Irã e atravessou os montes Cáucaso, derrotando exércitos georgianos, polovtsianos, khazares e cumanos. No final de 1222 os dois generais mongóis partiram juntos em direção ao oeste, através das estepes até o Dniester.

Para conter a invasão dos mongóis, Mstislav o Audaz e Mstislav Romanovich o Velho formaram uma liga, da qual também aderiram príncipes de outras províncias russas tais como Kursk,Kiev, Chernigov, Volínia, Rostov e Suzdal.

No dia 31 de maio de 1223, um exército mongol com 25 mil homens, derrotou os exércitos dos vários principados russos na grande batalha do rio Kalka (1223), a qual permanece até hoje na memória do povo russo. A partir dessa derrota, o país encontrava-se à mercê dos invasores, porém, os mongóis se retiraram e somente voltariam treze anos depois.


Arqueiros mongóis em ação na Batalha do Rio Kalka (1223)


Invasão de Batu Khan (1236-1240)

A grande horda mongol de aproximadamente 150 mil arqueiros montados, comandada por Batu Khan e Subedei, cruzou o Rio Volga e invadiu a Bulgária no outono de 1236. Depois de um ano de luta, os mongóis venceram a resistência dos búlgaros do Volga, dos Kypchaks e dos Alanos.

Em novembro de 1237, Batu Khan enviou seus embaixadores para a corte de Yuri II de Vladimir exigindo sua submissão. No mês seguinte Ryazan foi cercada. Após seis dias de sangrenta batalha, a capital foi totalmente aniquilada, para nunca mais ser restaurada. Alarmado pelas notícias, Yuri II enviou seus filhos para deter os invasores, porém eles logo foram derrotados. Kolomna e Moscou foram incendiadas e, no dia 4 de fevereiro de 1238, Vladimir foi cercada. Três dias depois a capital de Vladimir-Suzdal foi tomada e queimada. A família real pereceu no incêndio, enquanto que o grão-príncipe se retirou para o norte. Cruzando o Volga, ele reuniu um novo exército, que foi totalmente exterminado na batalha do rio Sit em 4 de março.

Em seguida Batu Khan dividiu seu exército em colunas menores, as quais arrasaram quatorze cidades russas: Rostov, Uglich, Yaroslavl, Kostroma, Kashin, Ksnyatin, Gorodets, Galich, Pereslavl-Zalessky, Yuriev-Polsky, Dmitrov, Volokolamsk, Tver e Torzhok. A mais difícil de ser capturada foi a pequena cidade de Kozelsk, cujo príncipe-menino Titus e seus habitantes resistiram aos ataques mongóis por sete semanas. A historiografia russa registra que, ao saber da aproximação mongol, toda a cidade de Kitezh com todos os seus habitantes submergiu em um lago, que existe até os dias atuais. As únicas grandes cidades que escaparam da destruição foram Novgorod e Pskov. Os russos que migraram da região sul do país para escapar dos invasores se deslocaram em sua maioria para o nordeste, para as regiões de floresta com solos pobres entre a área norte dos rios Volga e Oka.




No verão de 1238, Batu Khan e Subedei devastaram a península da Criméia e pacificaram Moldávia. No verão do ano seguinte, Chernigov e Pereyaslav foram saqueadas. Após muitos dias de cerco, a horda atacou Kiev em dezembro de 1239. Apesar da forte resistência de Danilo da Galícia, Batu Khan tomou duas de suas principais cidades: Halych e Volodymyr-Volynskyi.

Após anexarem a Rússia a seus domínios, os mongóis então resolveram "alcançar o último mar" e invadiram, em 1241, a Polônia, a Romênia e Hungria. Depois disso, Subedei considerou planos para atacar o norte da Itália, Áustria e os estados germânicos, porém teve de recuar devido à morte de Ogadei Khan.


O período do jugo tártaro-mongol

Nesse período os invasores vieram para ficar, e construíram para si uma capital chamada Sarai, no baixo Volga, próximo ao Mar Cáspio. Aí estava o comandante supremo da Horda de Ouro, como era chamada a porção noroeste do Império Mongol, fixando seus quartel-general dourado e representando a majestosidade de seu soberano, o grande Khan, que viveu com a Grande Horda no vale do Orkhon do Amur. De lá subjugaram a Rússia durante séculos.

O termo o qual esta sujeição é comumente chamada, o jugo tártaro ou mongol, sugere idéias de uma terrível opressão, porém, na realidade, estes nômades invasores vindos da Mongólia não eram tão cruéis e opressivos. Em primeiro lugar, nunca colonizaram os principados russos, e não tinham muito contato com os habitantes. Diferente da dominação mongol sobre a China e o Irã, o domínio mongol sobre os principados russos era indireto, com os príncipes russos pagando tributos anuais à Sarai.

Em termos de religião os mongóis eram extremamente tolerantes. Quando surgiram pela primeira vez na Europa, eram xamânicos e, naturalmente, não nutriam fanatismo religioso; Mesmo quando adotaram o Islamismo continuaram tolerantes como antes, e o Khan da Horda de Ouro, Berke, o primeiro a se tornar muçulmano, incentivou os russos a fundarem um bispado cristão em sua própria capital. Nogai Khan, meio século depois, se casou com a filha do imperador bizantino e deu sua própria filha em casamento a um príncipe russo, Teodoro o Negro.

Alguns historiadores modernos russos acreditam que não houve uma invasão geral. De acordo com essa visão, os príncipes russos fizeram uma aliança defensiva com a Horda objetivando repelir os ataques dos aguerridos Cavaleiros Teutônicos, que se mostraram um perigo muito maior à religião e cultura russa.


Cidadela fortificada de Mstislav

O domínio tártaro teve também seu lado negativo. Como a grande horda de nômades estava acampada na fronteira, o país encontrava-se a mercê de invasões por uma força esmagadora de cruéis saqueadores. Tais invasões não eram frequentes porém, quando ocorriam, causavam uma incalculável devastação e grande sofrimento. Nestes intervalos as pessoas tinham de pagar um tributo estabelecido. A partir de 1259 os impostos passaram a ser regulados por um censo de população e, finalmente, a coleta dos tributos passou a ser encargo do príncipe local.


Influências

A influência da invasão mongol nos territórios da Rússia Kieviana foi sem precedentes. Centros tradicionais como Kiev nunca se recuperaram da destruição do ataque inicial. A República de Novgorod continuou a prosperar. Novos centros prosperaram sob o jugo mongol, tais como Moscou e Tver.


Armamento russo do século XIII


Historiadores debateram a influência a longo prazo do domínio mongol na sociedade russa. Os mongóis foram culpados pela destruição da Rússia Kieviana, a fragmentação da antiga nacionalidade russa em três componentes e a introdução do conceito de "despotismo oriental" na Rússia. Porém alguns historiadores concordam que a Rússia Kieviana não era uma entidade homogênea, seja no nível político, étnico ou cultural, e que os mongóis apenas aceleraram o processo de fragmentação que começou antes da invasão. Outros acreditam que o jugo mongol teve um papel importante no desenvolvimento da Rússia como um Estado. Sob domínio mongol Moscóvia, por exemplo, desenvolveu sua rede postal, censo, sistema fiscal e organização militar.

Argumenta-se, ainda, que Moscou, e subsequentemente a Rússia, não teriam se desenvolvido sem a destruição mongol da Rússia Kieviana. Ademais, o jugo mongol sobre os restos de Kiev e os principados sobreviventes como o de Novgorod, forçaram tais entidades a olhar para o Ocidente em busca de aliados e tecnologia. Igualmente, rotas comerciais vindas do Leste como desdobramentos das "Rotas da Seda" chegaram aos povos russos, constituindo um centro de comércio de ambos os mundos.

Em suma, a influência mongol, de um lado destrutiva ao extremo para seus inimigos, teve um papel significativo a longo prazo no surgimento da Rússia moderna.

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quinta-feira, 26 de março de 2009

IMAGEM DO DIA - 26/3/2009



1a Guerra do Golfo, 1991. Carro de combate T-64 da Guarda Revolucionária iraquiana destruído no deserto kuwaitiano. Ao findo podem ser vistos poços de petróleo kuwaitianos incendiados pelas tropas de Saddam Hussein em retirada.


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BATALHA DE PORTO ARTHUR (1904) : A VEZ DAS MINAS




A batalha de Porto Artur foi a primeira ação militar na guerra entre a Rússia e o Japão que iniciou em fevereiro de 1904 e se estendeu até o ano seguinte.


Antecedentes

A tensão entre os dois países, que acabou por causar a guerra, estava relacionada com a vitória japonesa sobre a China em 1895. Com essa vitória a China cedia ao Japão diversos territórios, mas a intervenção russa acabou por pressionar o Japão para que permitisse a independência da Coreia, desligando-a do império japonês.

A Rússia foi tomando posições nas proximidades da Coreia e, em 1898, assinou um acordo com a China para que pudesse operar uma base no Mar Amarelo, onde hoje se encontra a cidade de Lushun, ao sul do importante porto chinês de Dalian.

A base ficou conhecida como Porto Artur e os russos começaram imediatamente a construir fortalezas e a instalar artilharia de costa em volta da enseada abrigada que constituía um abrigo perfeito para navios. A instabilidade política na China, forneceu aos russos um pretexto para enviarem mais tropas para a Manchúria, de onde poderiam ameaçar diretamente a Coreia.

A tensão entre russos e japoneses continuou a aumentar. Enquanto os japoneses começavam a enviar colonos para a Coreia e a tratar o território como seu, iniciando mesmo a construção de uma ferrovia, os russos faziam o mesmo, financiando uma estrada de ferro que ligava Vladivostok a Porto Artur. Além disso, em 1902, foram realizadas negociações secretas com o governo da Coreia para que este permitisse a instalação de bases russas em seu território.

Já no ano seguinte começaram a chegar à Tóquio notícias de que colonos russos estavam se instalando ao norte da Coreia. Os Japoneses consideravam o território coreano como vital para sua expansão. Após uma longa negociação, no início de 1904 a Rússia recusou-se a abandonar suas possessões no território coreano.
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A Rússia considerava inútil negociar com um país muito menor e com uma força militar que era cerca de um terço da sua, mas, se o Exército Imperial russo era enorme, com quase dois milhões de soldados, na verdade este efetivo estava completamente pulverizado pela gigantesca vastidão do império, de Vladivostok à Varsóvia.

Couraçados russos atracados na base de Porto Artur no final de 1903

No Extremo Oriente o Império Russo conseguia reunir um exército de 135.000 homens e a esquadra russa em Porto Artur tinha sido reforçada à medida que as exigências japonesas iam aumentando. Mas o Japão tinha capacidade para juntar um exército de 850.000 homens, dos quais 150.000 podiam ser mobilizados de imediato.
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A Rússia também tinha um problema de articulação de seu poder naval. Sua frota, que possuía mais do que o triplo de navios do que a esquadra japonesa, estava distribuída em três frentes. Além da Frota do Pacífico (dividida entre Porto Artur e Vladivostok) havia ainda a Frota do Mar Báltico (a mais poderosa de todas, mas que se encontrava do outro lado do mundo) e a Frota do Mar Negro, a qual estava impossibilitada de passar os estreito de Dardanelos. Assim, o poder russo, embora superior ao japonês, encontrava-se dividido e debilitado.

Na historiografia deste conflito destaca-se a ideia de que a frota japonesa era muito mais moderna do que a russa e que essa modernidade fez com que o resultado da guerra pendesse em favor dos japoneses. No entanto, embora a frota russa contasse com vários navios mais antigos, a maioria de suas unidades navais era contemporânea aos navios japoneses e, no máximo, possuía diferença de idade de cinco anos. Quanto aos principais couraçados japoneses, eles eram, na realidade, mais antigos do que a maioria dos principais couraçados russos.
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Não foi, portanto, sem espanto que os russos souberam que em 6 de fevereiro de 1904, pouco mais de um dia após a Rússia ter interrompido as negociações, uma força naval japonesa se tinha dirigido a Inchon, onde desembarcou seus soldados e afundou um cruzador russo.
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Bloqueio de Porto Artur
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Depois de apoiar o desembarque de suas forças no norte da Coreia, a esquadra japonesa dirigiu-se para Porto Artur com o objetivo de impedir a saída dos navios russos do porto. A declaração de guerra oficial do Japão à Rússia foi emitida em 8 de Fevereiro, mas entregue em Moscou no dia 10 de Fevereiro de 1904.

Canhão pesado japonês apontado contra Porto Arthur

Logo na madrugada de 8 para 9 de fevereiro, um ataque por parte de torpedeiros japoneses danificou os couraçados Tsessarevich e Retvisan, além do cruzador blindado Pallada.

Os couraçados japoneses não se aproximaram da terra evitando a artilharia costeira russa. Ao raiar do dia 9, o comandante japonês, Almirante Togo, enviou uma força de reconhecimento comandada pelo Contra-almirante Dewa para tentar saber o resultado do ataque, mas o almirante interpretou incorretamente a confusão dentro do porto como resultado do ataque japonês da madrugada anterior e voltou para avisar Togo que era a hora ideal para atacar.

A esquadra japonesa aproximou-se de Porto Artur, mas foi detectada por um cruzador russo. Alertados os russos, o combate teve inicio às 11:00 h da manhã de 9 de fevereiro. Inicialmente os japoneses conseguiram atingir o couraçado Petropavlovsk e o seu irmão gêmeo Poltava, mas os russos reagiram, atingindo o couraçado Mikasa , navio-capitânea de Togo, e os couraçados Shikishima, Fuji e Hatsuse com impactos da artilharia costeira e dos navios ancorados no porto.
Verificando o erro de avaliação do Almirante Dewa, Togo retirou sua esquadra para local fora do alcance dos canhões russos.

No dia 11 de fevereiro os japoneses começam a lançar minas para bloquear a saída dos navios russos do porto, mas uma das minas atingiu o próprio navio que as lançava afundando-o. Com este navio perdeu-se o mapa de localização das minas. Um cruzador russo, enviado para investigar, atingiu uma das minas e também afundou.

No inicio da noite de 24 de Fevereiro os japoneses tentaram encerrar os navios russos na enseada de Porto Artur afundando alguns navios de transporte em sua entrada, mas o couraçado russo Retvisan atacou os navios japoneses e os afundou. Os russos, contudo, acreditaram que tinha destruído couraçados japoneses.

Em 12 de Abril, ao realizar uma tentativa para deixar o porto, o couraçado Petropavlovsk bateu em uma mina e afundou, ficando a esquadra de couraçados russos reduzida a seis belonaves. No afundamento do Petropavlovsk morreu o almirante Makarov, comandante da esquadra russa.
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Em maio os russos conseguem atrair alguns navios japoneses para um campo minado e os couraçados Yashima e Hatsuse atingiram minas. O Yashima afundou de imediato e o Hatsuse, perdeu-se mais tarde quando era rebocado para o porto.
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Cruzador Retvizan russo afundado em águas rasas na enseada de Porto Arthur

A guerra entre o Japão e a Rússia tinha atingido um impasse. Se por um lado os japoneses não tinham conseguido neutralizar a força russa em Porto Artur, por outro os russos não estavam preparados para a guerra e não possuíam um plano claro para impedir as ações japonesas, pelo que o resultado da primeira batalha da guerra foi completamente inconclusivo.

A perda de importantes navios em decorrência das minas e a ausência de vantagem tática ou estratégica representaram um preço elevado pago por ambos os contendores em Porto Arthur.


Couraçado russo Peresviet destruído e encalhado na enseada de Porto Arthur. Apesar do grande número de navios afundados e vidas perdidas, a batalha não conduziu a um resultado conclusivo para a Rússia ou para o Japão


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PENSAMENTO MILITAR - HISTÓRIA X MEMÓRIA



O velho dilema entre a História e a Memória. A luta do historiador científico para construir o conhecimento do fato histórico como este realmente ocorreu, ou chegar o mais perto possível da verdade, pode ser entendida com o pensamento do General Sir Ian Hamilton, oficial britânico que atuou como observador ao lados dos japoneses durante a Guerra Russo-Japonesa e comandante das forças britânicas em Gallipoli, na 1ª Guerra Mundial:

“No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas; porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes.”

sexta-feira, 20 de março de 2009

IMAGEM DO DIA - 20/3/2009



Guerra da Crimeia, 1854. Infantes da Brigada de Fuzileiros britânica realiza ataque contra posição russa além de um rio.

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PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - OTTO VON BISMARCK



* 1815, Schönhäusen-Prússia

02/08/1898, Friedrichruh- Prússia


Otto von Bismarck, o chanceler de ferro, foi o estadista mais importante da Alemanha do século XIX. Coube a ele lançar as bases do Segundo Império, ou II Reich (1871-1918), que levou os países germânicos a conhecerem, pela primeira vez em sua história, a existência de um Estado nacional único. Para consolidar a unidade alemã Bismarck desprezou os recursos do liberalismo político, preferindo a política da força.

Em 1862 Bismarck foi nomeado primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros de Guilherme I, rei da Prússia. Logo percebeu o equívoco dos conservadores alemães em deixarem a causa da unificação alemã aos liberais e aos democratas.

A aliança de todos os alemães em um só regime, vivendo num país integrado, estava desacreditada desde o fracasso da Revolução dos Poetas na assembléia nacional de Frankfurt, fechada em 1849. Bismarck reergueu aquele ideal recorrendo à política que alternava "entre o chicote e o pão-doce", lançando mão da guerra e das negociações diplomáticas, conforme a sua estratégia determinava.

Quando morreu o rei da Dinamarca, Frederico VII (1863), entrou em questão a sucessão dos ducados de Schleswig-Holstein. Bismarck articulou para levar a Áustria a uma guerra contra a Dinamarca, na qual foi vencida. Em 1865, foi organizada uma administração austro-prussiana nos dois ducados e Lauenburg foi anexado à Prússia. Bismarck recebeu o título de conde.

Aproveitando as discórdias entre Berlim e Viena Bismarck levou as negociações ao campo de batalha. Isolou a Áustria e convenceu a França e a Itália a ficarem do seu lado. Com a vitória na batalha de Sadowa (1866), a Prússia anexou diversos territórios e formou a Confederação da Alemanha do Norte. Pouco depois Bismarck se voltou contra os exércitos franceses de Napoleão III e, em janeiro de 1871, no Palácio de Versalhes, foi proclamado o Segundo Império Alemão.

Bismarck foi nomeado chanceler e recebeu o título de príncipe. Meses mais tarde a Alemanha anexou a Alsácia e Lorena - territórios que estarão em litígio entre a França e a Alemanha até a Segunda Guerra Mundial. Entre 1870 e 1890, Bismarck dominou a política internacional européia. Seu sistema se baseava na aliança Alemanha-Áustria-Rússia e no isolamento da França.

Em 1883, formou-se a tripla aliança entre a Alemanha, Áustria e Itália. Em 1887, a Alemanha assinou um pacto de amizade com a Rússia. Após um breve reinado de Frederico III, o poder ficou nas mãos de Guilherme II que, com um projeto de legislação social, desentendeu-se com o chanceler e o constrangeu à renúncia.

O chanceler de ferro recolheu-se à propriedade da família na Prússia, onde morreu aos 83 anos, em 1898, após escrever suas memórias intituladas "Pensamentos e Recordações".

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quinta-feira, 19 de março de 2009

IMAGEM DO DIA - 19/3/2009


1ª Guerra Mundial, 1914. Tropas alemãs marcham através de uma cidade destruída na Alsácia.

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AS GUERRAS PÚNICAS (264 a.C. - 146 a.C.)





Entre os séculos 3 e 2 a.C., Roma e Cartago, grandes potências da época, se enfrentaram na região do Mar Mediterrâneo. As Guerras Púnicas foram uma série de três guerras entre a República Romana e a República de Cartago, cidade-estado fenícia, no período entre 264 a.C. e 146 a.C.. Ao fim das Guerras Púnicas, Cartago foi totalmente destruída. O adjetivo "púnico" deriva do nome dado aos cartagineses pelos romanos (Punici - de Poenici, ou seja, de ascendência fenícia).

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A 1ª Guerra Púnica foi um conflito predominantemente naval ocorrido entre 264 a.C. e 241 a.C..

A 2ª Guerra Púnica notabilizou-se pela travessia dos Alpes, efetuada por Aníbal Barca, e desenrolou-se de 218 a.C. até 202 a.C.

A 3ª Guerra Púnica, ocorrida entre 149 a.C. a 146 a.C., resultou na destruição de Cartago.

Localizada no norte da África, por volta do século III a.C. Cartago dominava o comércio do Mediterrâneo. Os ricos comerciantes cartagineses possuíam diversas colônias na Sardenha, Córsega e a oeste da Sicília, ilhas ricas na produção de cereais. Também estavam estabelecidos no sul da Península Ibérica, onde exploravam minérios, e em toda costa setentrional da África.


Causas

Tanto Roma quanto Cartago disputavam a hegemonia no Mar Mediterrâneo, principal via de transporte de mercadorias. As guerras tiveram como origem a rivalidade entre Roma e Cartago, que se assumia como um centro econômico, político e militar da região do Mar Mediterrâneo ocidental.

Quando Roma anexou os portos do sul da Península Itálica, os interesses de Nápoles e Tarento - colônias gregas rivais de Cartago - tornaram-se interesses romanos. Roma, como líder dos gregos ocidentais, interviu na luta secular entre sicilianos e cartagineses.

As forças das duas potências eram bastante equilibradas, pois o poderio de ambas era sustentado por uma comunidade de cidadãos e um poderoso exército, fortalecido por alianças com aliados em caso de guerra.


A 1ª Guerra Púnica

No início das guerras, Roma dominava a península Itálica, enquanto a cidade fenícia de Cartago dominava a rota marítima para a costa ocidental africana, assim como para a Bretanha e a Noruega. Na 1ª Guerra Púnica, Roma e Cartago foram chamadas para ajudar a cidade de Messina, na ilha da Sicília, ameaçada por Hiero II, rei de Siracusa.

Os romanos, contudo, para expulsar os cartagineses da ilha, provocaram a guerra e sairam vitoriosos. Sicília, Sardenha e Córsega foram anexadas ao domínio de Roma, e os cartagineses tiveram restringida a influência ao norte da África.


A 2ª Guerra Púnica

Aníbal Barca, comandante cartaginês


Os cartagineses reagiram. A 2ª Guerra Púnica começou na Espanha, onde Cartago ampliou seu poder na tentativa de compensar a perda da Sicília. Comandadas por Aníbal Barca, as tropas cartaginesas tomaram Saguntum, cidade espanhola aliada de Roma, o que gerou nova declaração de guerra. Com 50 mil homens, 9 mil cavalos e 37 elefantes de guerra, Aníbal atravessou os Montes Pireneus e os Alpes e conquistou cidades no norte da Itália.



As tropas de Aníbal (inclusive seus elefantes de guerra) cruzam os Alpes a caminho da península italiana


Durante essa campanha Aníbal ficou cego de um olho e perdeu metade dos homens de seu exército. Mesmo assim chegou às portas de Roma, mas, a falta de reforços e o cerco de Cartago pelas forças romanas sob o comando de Cipião, o Africano, obrigaram Aníbal a voltar para defendê-la. Vencido, refugiou-se na Ásia Menor, onde se envenenou para não ser preso pelos romanos. A paz custou caro aos cartagineses: entregaram a Espanha e sua esquadra naval, comprometendo-se ainda a pagar por 50 anos pesada indenização de guerra a Roma.

Alegoria representando a Batalha de Zama




A 3ª Guerra Púnica

Em Roma o senador Catão iniciou intensa campanha contra Cartago. Todos os seus discursos terminavam com a frase: "Cartago precisa ser destruída" (delenda est Carthago).
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A 3ª Guerra Púnica teve início em 149 a.C. e foi fomentada pelo persistente sucesso comercial dos cartagineses, apesar de sua diminuída importância política. Uma pequena violação dos tratados de paz serviu de pretexto para a terceira guerra. Roma destruiu Cartago em 146 a.C. e vendeu 40 mil sobreviventes como escravos. A antiga potência fenícia foi reduzida a província romana na África.


Consequências

Com o fim das Guerras Púnicas, Roma passou a dominar todo o comércio do Mediterrâneo Ocidental e, a partir daí, iniciou suas conquistas territoriais com as quais dominou todo o Mediterrâneo e grande parte da Europa. Roma já era um império em termos de terras conquistadas. Mas as mudanças políticas que aconteceriam após essa expansão territorial acabariam por derrubar a República, iniciando o período político chamado Império.

A civilização cartaginesa desapareceu após as Guerras Púnicas. Sua cultura influenciou os povos berberes do norte da África, mas pouco se sabe sobre sua história. Nos documentos gregos e romanos que chegaram à nossa época, nos quais há um claro preconceito em relação aos cartagineses, podemos ver, nas entrelinhas, a grandiosidade desse povo.
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No que se refere a Roma, seu domínio se ampliou: Sicília, Córsega, Península Ibérica e norte da África foram tomados dos cartagineses. Além das vitórias sobre os aliados de Cartago: a Gália e a Macedônia.
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Soldados romanos em combate


quarta-feira, 18 de março de 2009

IMAGEM DO DIA - 18/3/2009


Revolta da Armada, 1894. Fortaleza da Laje, na entrada da Baía de Guanabara (RJ), após ter sido bombardeada por navios da Marinha.




DOCUMENTO - A DESNAZIFICAÇÃO DAS MEDALHAS ALEMÃS

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Com o fim da 2ª Guerra Mundial e a derrota do regime nazista, a Alemanha viu-se diante da necessidade de eliminar os símbolos e representações do triste período vivido sob o domínio de Adolph Hitler.


Com a criação da República Federal da Alemanha (RFA), as autoridades viram-se diante da necessidade de regulamentar as condecorações que haviam sido outorgadas no passado. Além disso, havia a necessidade de estabelecer um critério em relação às condecorações e distinções concedidas pelos regimes em anos anteriores, particularmente aquelas outorgadas pelo governo nazista, que constituíam um problema em particular. Essa preocupação se agravava por haver grande número de ex-militares alemães condecorados pelas autoridades do extinto III Reich.

Para solucionar o problema, optou-se pela criação de uma legislação que, de uma maneira geral, validava as condecorações outorgadas durante o II Reich e a República de Weimar.

Quanto às distinções concedidas durante o III Reich, somente foi autorizado o uso ou a exibição pública de condecorações militares e algumas civis detalhadas pela própria Lei, desde que suprimidos os emblemas nazistas.

Todas as condecorações do Partido Nazista (NSDAP), por seu caráter político, foram definitivamente proibidas.

Com relação às comendas outorgadas por países aliados da Alemanha por ocasião das duas Guerras Mundiais, foi concedida autoridade ao Presidente da RFA para autorizar ou não o seu uso.

A seguir transcrevemos um extrato da Lei acima mencionada (tradução livre):



Lei Reguladora de Títulos, Condecorações e Distintivos
27 de julho de 1957 (Boletim Oficial da Federação IS 844)




– Regras específicas relativas às condecorações e distinções outorgadas antes da entrada em vigor da Lei.

§ 6 Condecorações outorgadas anteriormente

Com as salvaguardas previstas na presente Lei, poderão ser exibidas as seguintes condecorações e distinções:

1. Condecorações e distinções criadas pelos Estados, pelo Kaiser, pelos Governos Estaduais, pelo Governo do Reich, pelo Presidente do Reich, pelos Presidentes da Federação, a Medalha comemorativa da defesa da Silésia (Águia da Silésia) e a Cruz Báltica.
Esta disposição é extensiva às condecorações deste grupo que foram outorgadas entre janeiro de 1933 e 8 de maio de 1945 e que incorporaram símbolos nacionais-socialistas, as quais poderão ser exibidas unicamente respeitando seus desenhos originais.

2. Condecorações e distinções criadas entre 1º de agosto de 1934 e 31 de agosto de 1939 por méritos relacionados com os Jogos Olímpicos de 1936, com a defesa antiaérea, com os serviços de combate a incêndios, com o serviço de escavação de fossos e trincheiras, assim como as distinções criadas nesse mesmo período por tempo de serviço ou atos relevantes de fidelidade ao Estado.
Essas condecorações somente poderão ser exibidas com a prévia supressão dos símbolos nacionais-socialistas e de acordo dom a regulamentação do Governo Federal e do Ministério Federal do Interior.

3. Condecorações e distinções criadas entre 1º de setembro de 1939 e 8 de maio de 1945 por serviços prestados durante a 2ª Guerra Mundial, incluídas as concedidas por ação em campanha ou ferimento em combate. À essas condecorações aplica-se o disposto na segunda parte da regra nº 2.

4. Condecorações e distinções outorgadas por dignatários estrangeiros ou por governos estrangeiros, quando sua concessão tenha sido validada. Essa disposição será igualmente aplicada às condecorações outorgadas por Nações aliadas durante as 1ª e 2ª Guerras Mundiais [...]
[...]

(2) Fica proibida a exibição de condecorações e distinções que não estão incluídas nos parágrafos anteriores, assim como todas aquelas que incorporem símbolos nacionais-socialistas. Fica também proibida a fabricação, oferta, venda ou qualquer tipo de distribuição deste tipo de condecoração.
[...]


§ 15 Das Sanções

(1) Será castigado com penas de multa e prisão de até três meses meses, ou com uma das duas penas aquele que:

1. Exibir sem a devida autorização condecorações ou distinções, tanto nacionais como estrangeiras [...]

2. Exibir publicamente condecoração não incluída no § 6 ou que possua símbolos nacionais-socialistas.


[...]
Bonn, 26 de julho de 1957

O Presidente Federal O Chanceler Federal O Ministro Federal do Interior
Theodor Heuss Konrad Adenauer Dr. Schröder


A seguir, algumas condecorações concedidas durante a 2a Guerra Mundial:





Na sequência, as mesmas condecorações após as modificações introduzidas pela Lei de Desnazificação da RFA:






terça-feira, 17 de março de 2009

IMAGEM DO DIA - 17/3/2009


Guerra da Borgonha, 1476. Artilharia do exército de Carlos, o Temerário, Duque da Borgonha em ação. Em primeiro plano um mestre-artilheiro, responsável pelos cálculos de pontaria e pelo preparo da munição. Em segundo plano um servente aponta um canhão com reparo que lhe conferia mobilidade. Ao fundo, outro servente maneja um canhão pesado de sítio.


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FEB PERDE SUA SEDE EM SANTA CATARINA

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Mais um golpe desferido contra a preservação da memória da FEB, dessa vez em Santa Catarina. A notícia foi publicada ontem no Diário Catarinense.


Diário Catarinense 16/03/2009

MEMÓRIA
FEB perde sua sede no Estado

Abrigado na sede catarinense da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (FEB), o acervo de peças usadas por catarinenses na Segunda Guerra Mundial vai ser “despejado”. A sala ocupada pela entidade fica num prédio do Ipesc, no Centro de Florianópolis, que será reformado. Até a última sexta-feira, os associados não sabiam para onde transferir o material. A única opção encontrada até agora é guardar o material no Batalhão do Exército do Bairro Estreito, na área continental da Capital. Nesse caso, entretanto, o acervo – uniformes, ferramentas, armas, munições, cantis, recortes de jornais da época da Segunda Guerra, condecorações e miniaturas de embarcações usadas no conflito – ficaria encaixotado, já que o espaço também vai ser reformado. Para o presidente da entidade, Dulthávio Coelho Júnior, 85 anos, é inaceitável um acervo de tanto valor ficar sem local para ser exposto e conservado.

Estávamos cientes de que teríamos de sair, mas também esperávamos ter um lugar para transferir a Associação antes de fecharem as portas, afinal, faz três anos que esperamos uma sugestão do governo estadual. Nos garantiram que teríamos outra sede – comentou a voluntária da entidade, Clélia Kreusch. A sala do prédio em questão foi cedida em 2001, pelo Instituto de Previdência do Estado de Santa Catarina (Ipesc), hoje chamado Iprev. A reforma do edifício é essencial, segundo avaliação do Deinfra, porque a construção oferece riscos à integridade física de quem o utiliza. O diretor de gestão de patrimônio da secretaria estadual de administração, Pedro Roberto Abel, disse que o governo não pode resolver o problema imediatamente porque não há imóveis disponíveis.

Na verdade, o Iprev não pode continuar cedendo o espaço gratuitamente. Estamos tentando resgatar alguns imóveis para encontrar uma solução – disse Abel.

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segunda-feira, 9 de março de 2009

IMAGEM DO DIA - 9/3/2009

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Guerra de Canudos, 1896. Após vencerem a resistência dos jagunços de Antônio Conselheiro, tropas do Exército Brasileiro ocupam o vilarejo de Canudos.
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MEDALHA DA TOMADA DE CAIENA - 1808



Em 1808, em represália à invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão, D. João VI ordenou o desembarque de forças brasileiras em Caiena, sede da administração francesa na Guiana.

Para marcar o evento, foi instituída a Medalha da Tomada de Caiena, criada por Carta Régia de 16 de agosto de 1809. Acredita-se ter sido ela a primeira medalha de campanha portuguesa.

domingo, 8 de março de 2009

IMAGEM DO DIA - 8/3/2009 - DIA INTERNACIONAL DA MULHER



Duas snipers soviéticas - C. Bykova (esq) e R. Skrypnikova - trajando uniformes camuflados, retornam após cumprirem missão de emboscada. 2a Guerra Mundial, 1943.
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PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - ANITA GARIBALDI - DIA INTERNACIONAL DA MULHER

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Comemora-se hoje, em todo o mundo, o Dia Internacional da Mulher. O Blog Carlos Daroz-História Militar presta uma homenagem às diversas mulheres que, ao longo da História, desempenharam seu papel em guerras e revoluções. Começamos com a história de Anita Garibaldi.

Ana Maria de Jesus Ribeiro da Silva, também conhecida como Anita Garibaldi, foi a combativa esposa do herói italiano Giuseppe Garibaldi.

Anita nasceu na aldeia de Morrinhos, subúrbio do município de Laguna, em Santa Catarina. Seus pais eram descendentes de imigrantes dos Açores. Depois de perder o pai, casou-se, aos 15 anos, por insistência da mãe, com Manuel Duarte Aguiar. Esse matrimônio sem filhos foi um fracasso e durou pouco.

Em 1837, durante a Guerra dos Farrapos, Giuseppe Garibaldi, a serviço da República Rio-Grandense, tomou a cidade portuária de Laguna, transformando-a na primeira capital da República Juliana. Ali, conheceu Anita - e desde então permaneceram juntos. Entusiasmada com os ideais democráticos e liberais de Garibaldi, ela aprende a lutar com espadas e usar armas de fogo, convertendo-se na guerreira que o acompanharia em todos os combates.


A grande fuga

Durante a batalha de Curitibanos, o casal se separa, inadvertidamente, e Anita é capturada pelo exército imperial. Presa, os oficiais a informam de que Garibaldi morreu. Anita, que estava grávida, pede então que a deixem procurar o corpo de seu companheiro entre os mortos. Sem encontrá-lo, e suspeitando que estivesse vivo, ela se aproveita de um descuido dos soldados, salta sobre um cavalo e foge em meio aos disparos de seus perseguidores. Poucos quilômetros depois, depara-se com o rio Canoas e, sem hesitar, lança-se nas águas. A perseguição cessa, pois os soldados acreditam que ela esteja morta. Mas Anita passa à outra margem e vaga durante quatro dias pela mata, sem comer ou beber.

Finalmente, reencontra os rebeldes e, na cidade de Vacaria, une-se novamente a Garibaldi. Poucos meses depois nasceria o primeiro filho dos quatro que tiveram.

Posteriormente, em 1841, Anita e Garibaldi seguiram para Montevidéu. A cidade estava sitiada pelas forças do argentino Juan Manuel de Rosas, que apoiava Manuel Oribe contra o ditador Fructuoso Rivera. O casal luta ao lado de Oribe. O sítio durou cerca de nove anos, ao fim dos quais Rivera foi derrotado na batalha de Arroyo Grande.


Batalha de Gianicolo

Anita e Garibaldi casaram-se em 26 de março de 1842, na paróquia de San Bernardino. Em 1847, Garibaldi enviou Anita à Itália, como sua embaixadora, a fim de preparar o terreno para o grande retorno de seu marido, que, acompanhado de um exército de mil homens, pretendia desembarcar na Itália para lutar na primeira guerra da independência italiana, contra a Áustria.


Depois da chegada de Garibaldi, eles seguem para Roma, onde se proclama a República Romana. A cidade, contudo, é atacada por tropas franco-austríacas, e Anita, grávida do quinto filho, luta ao lado de Garibaldi na batalha de Gianicolo. Obrigados a bater em retirada, o casal foge acompanhado de um exército de quase quatro mil soldados. São perseguidos, contudo, por forças francesas, napolitanas e espanholas.

Durante a fuga, quando chegam a San Marino, que também havia se libertado dos austríacos, Garibaldi e Anita não aceitam o salvo-conduto oferecido pelo embaixador norte-americano e decidem prosseguir na fuga. Anita, entretanto, contrai febre tifóide e não resiste. Falece na fazenda Guiccioli, perto de Ravenna, em 4 de agosto de 1849.

Obrigado a fugir para o exílio, que duraria dez anos, Garibaldi sequer pôde acompanhar o funeral da esposa.

Chamada de "Heroína dos Dois Mundos", Anita está enterrada, ao lado de Garibaldi, na colina de Gianicolo, em Roma, onde ambos são homenageados com estátuas equestres.

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sábado, 7 de março de 2009

GUERRA DOS OITENTA ANOS - A INDEPENDÊNCIA DA HOLANDA (1568-1648)



A Guerra dos 80 anos ou Revolta Holandesa foi a guerra de secessão na qual o território, englobando aquilo que é hoje são Países Baixos, se tornou um país independente libertando-se da Espanha. Durante esta guerra a República Holandesa tornou-se uma potência mundial por um curto período histórico com grande poder naval e beneficiou-de de significativo crescimento econômico, científico e cultural.


Antecedentes

Nem todas as províncias neerlandesas decidiram separar-se da Espanha ao mesmo tempo. Algumas, principalmente aquelas no que é hoje a Bélgica, nunca o fizeram. Carlos V, Sacro Imperador Romano, nasceu em Gante em 1500 e foi educado nos Países Baixos. Ele abdicou em 1556 em favor do seu filho Filipe II de Espanha, que estava interessado no lado espanhol do Império.

O Calvinismo tinha-se tornado influente nos Países Baixos. Em 1566, muitos calvinistas atacaram igrejas para destruir estátuas e imagens de santos católicos (em neerlandês: 'beeldenstorm'), que eles consideravam heréticas. Filipe II envia, como reação o Duque de Alba - o Duque de Ferro - com o seu exército para os Países Baixos.


Começa a guerra

Em 1568 Guilherme I de Orange (Guilherme, o taciturno), governador das províncias da Holanda, Zelândia e Utrecht, tentou afastar o altamente impopular Duque de Alba de Bruxelas. Ele não viu nisto um ato de traição para com Filipe II, e esta perspectiva é reflectida naquilo que é hoje o Hino Nacional dos Países Baixos (o Wilhelmus), no qual as últimas linhas da primeira estrofe dizem: de koning van Spanje heb ik altijd geëerd (Sempre honrei o Rei de Espanha).

Guilherme recebeu pouco apoio e teve de fugir. Os seus conspiradores, o Conde de Egmont e o Conde de Horne, permaneceram e Alba mandou decapitá-los. Alba também introduziu um imposto não aprovado (em neerlandês: tiende penning).


Guilherme, o taciturno


Uniões de Arras e Utrecht

Em 6 de janeiro de 1579, estimulados pelo novo governador espanhol Alexander Farnese, Duque de Parma, os estados do sul (situados hoje em sua maioria na Bélgica) assinaram a União de Arras expressando a sua lealdade ao rei espanhol. Nos dez anos seguintes ele restabeleceria a religião católica na maior parte desta área.

Como resposta, Guilherme uniu os estados protestantes dos Países Baixos, Zeeland, Utrecht, Gueldria e a província de Groning na União de Utrecht. Esta União levaria mais tarde (1581) à independência do reino da Espanha, formando as República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos (também conhecidas como os Estados Gerais ou por vezes como a República Holandesa)




Auxílio externo

Em 1581, os espanhóis enviaram um exército para tentar recapturar as Províncias Unidas, e obtiveram algum sucesso inicialmente. Em 10 de julho de 1584, Guilherme foi assassinado. Com a guerra ocorrendo, as Províncias Unidas pediram ajuda à França e Inglaterra, tendo oferecido a monarquia dos Países Baixos em contrapartida, o que ambas as nações recusaram.

A Inglaterra já apoiava os holandeses extra-oficialmente havia anos e decidiu intervir diretamente. Em 1585, de acordo com o Tratado de Nonsuch, Elizabeth I enviou Robert Dudley, Conde de Leicester, para prestar assistência, com aproximadamente seis mil e mil cavaleiros.

O filho de Guilherme, Maurício de Nassau, assumiu o comando dos exércitos em 1587, tendo Leicester regressado à Inglaterra. A presença dos ingleses, provistos para permanecerem até 1604, foi uma das razões que levariam a Espanha à enviar a Invencível Armada contra a Inglaterra em 1588.

Sob o comando de Maurício de Nassau, grande parte da área dos estados do sul revoltaram-se contra a Espanha ou foram capturados pelas Províncias Unidas. A Espanha não conseguiu fazer frente aos custos financeiros do exército resultantes da perda da Armada e, em 1595, com a declaração de Guerra contra a Espanha por Henrique IV de França, tornou-se financeiramente falida.


Trégua

Sob pressão financeira e militar, em 1598 Filipe cedeu os Estados do Sul dos Países Baixos ao arquiduque da Áustria Alberto e sua mulher Isabel, por intermédio do Tratado de Vervins com a França. Com isso, estava restaurado aproximadamente o território do Império da Borgonha.

Em 1604, após James I de Inglaterra se tornar rei da Inglaterra, foi estabelecida a paz com a Espanha pelo Tratado de Londres, de 1604.

No ano de 1609 iniciou um cessar-fogo, chamado posteriormente de Trégua dos 12 anos, entre as Províncias Unidas e os Estados do Sul, mediado pela França e pela Inglaterra em Haia.

Príncipe Maurício-Nassau de Orange

Novamente a guerra

Após a morte de Maurício, em 1625, e na falta de uma paz permanente, seu meio-irmão Frederick Henry retomou o conflito contra o sul. Os espanhóis enviaram em 1639 uma armada com vinte mil militares para Flandres, mas esse exército foi derrotado pelo Almirante Maarten Tromp.

Em 1648 a Guerra terminou com o Tratado de Münster, que fez parte da Paz de Westfália (1648), a qual também deu por encerrada a Guerra dos 30 anos.


Evolução da arte da guerra

A Guerra dos Oitenta Anos teve grande impacto sobre a evolução da Arte da Guerra. Maurício de Nassau logrou reunir um grupo seleto de estudiosos preocupados em criar um exército capaz de vencer os famosos e compactos terços espanhóis. Desses estudos surgiu uma infantaria organizada em unidades menores, de formação tática menos profunda e com maior capacidade de fogo.

O grande teste deste novo sistema tático veio com a Batalha de Nieuwpoort, travada em 1600. O resultado desse trabalho serviria de inspiração para o rei sueco Gustavo Adolfo.

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