"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

BATALHA NAVAL DE SETTEPOZZI (1263)

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Travada no Golfo de Argos entre a marinha veneziana e uma coalizão genovesa/bizantina, representou uma vitória decisiva da República de Veneza, e teve, como consequência, o fim da aliança entre Gênova e Bizâncio.


A Batalha de Settepozzi foi travada em algum momento entre maio e junho de 1263 na costa de Settepozzi, o nome italiano de Spetses, entre uma frota bizantino-genovesa e uma veneziana, menor. A vitória dos venezianos teve importantes consequências políticas, pois afastou os bizantinos dos genoveses e restaurou a relação do império com os venezianos.

No início de julho de 1261, o imperador niceno Miguel VIII Paleólogo (c.1259–1261) se aliou com os genoveses através do Tratado de Ninfeu. Esta aliança, cujos termos eram muito vantajosos para os genoveses, era fundamental para os nicenos e para seu plano de recuperar Constantinopla, a capital do moribundo Império Latino. Os imperadores latinos tinham o reforço do poderio naval veneziano, contra quem os genoveses já estavam em guerra), e, sem uma marinha própria para enfrentá-lo, Constantinopla não cairia, como já havia sido provado nos cercos anteriores de 1235 e 1260.

Localização da Ilha de Stepses, no Golfo de Argus, local da batalha

Porém, a cidade acabou sendo reconquistada por Aleixo Estrategópulo menos de quinze dias depois da assinatura do tratado sem nenhuma ajuda genovesa. Durante todo o ano seguinte, Veneza e Gênova nada fizeram. A primeira hesitava confrontar a frota genovesa enviada para o Egeu, muito maior, e esperava o desenrolar dos eventos no ocidente. A segunda enfrentava problemas internos, com a deposição do autocrático "capitão do povo" Marino Boccanegra e a ascensão da liderança nobre colegiada na cidade.

No verão de 1262, os venezianos ordenaram que uma frota de 37 galés se deslocasse para o Egeu, onde encontraram uma outra, genovesa, com 60 galés em Tessalônica, mas estes se recusaram a dar-lhes combate. Uma expedição pirata, porém, liderada pelos nobres de Negroponte, aliados de Veneza, invadiu o Mar de Mármara, onde foi confrontada e derrotada por um esquadrão bizantino-genovês.

Galé genovesa do século XIII



O combate naval

Enquanto isso, uma guerra irrompeu na Moreia, para onde Miguel VIII enviou uma força expedicionária (final de 1262 ou início de 1263) contra o Principado da Acaia. Apesar dos sucessos iniciais, as tentativas bizantinas de conquistar todos os domínios do Principado fracassaram depois das batalhas de Batalha de Prinitza e Macriplagi.

Imperador niceno Miguel VIII Paleólogo


Entre maio e junho de 1263, uma frota bizantino-genovesa de 38 ou 39 galés e 10 saettie leves (veleiros de um só mastro) seguindo para a fortaleza e base naval bizantina de Monenvásia, no sudoeste da Moreia, encontrou uma frota bizantina de 32 galés seguindo para o norte em direção a Negroponte.

Os detalhes do confronto são obscuros. Os "Annales Ianuenses" genoveses alegam que, quando o sinal de ataque foi dado, apenas quatorze navios genoveses avançaram, enquanto o resto permaneceu imóvel e depois fugiu. O cronista veneziano Canale, porém, relata que os navios venezianos atacaram primeiro, enquanto os genoveses tentavam encurralá-lo. A batalha terminou com uma clara vitória veneziana: a frota genovesa, metade da qual nem sequer entrou em combate, perdeu muitos homens, incluindo um almirante e duas naus capitânias, antes de desengajar e fugir. Canale afirma que houve mil baixas genovesas e apenas 420 venezianas.

Galé veneziana em ação

Seja como for, o resultado foi claramente positivo, tanto pela ação de comando dividindo da frota genovesa, como pela relutância, consistentemente demonstrada em confrontos anteriores e posteriores, dos almirantes genoveses em arriscarem seus navios, que eram fornecidos por investidores privados - geralmente ricos mercantes que dominavam a cidade. Preciosos para seus proprietários, os almirantes eram responsáveis pelos danos incorridos a eles em batalhas. 


Resultado

Embora a maior parte da frota genovesa tenha sobrevivido à batalha, a derrota teve grandes ramificações políticas, pois Miguel VIII começou a duvidar de sua aliança com Gênova, cara e pouco lucrativa, principalmente pela falta de audácia dos almirantes genoveses. Como sinal de sua insatisfação, logo depois da batalha, Miguel dispensou sessenta navios genoveses que estavam sob seu comando.

 A insatisfação mútua aumentou em 1264, quando o podestà genovês em Constantinopla foi implicado numa conspiração que visava entregar a cidade a Manfredo da Sicília e que resultou na expulsão dos genoveses da cidade. 

Miguel assinou um tratado com os venezianos em 18 de junho de 1265, mas ele não foi ratificado pelo doge. Obrigado a enfrentar a ameaça de Carlos de Anjou depois de 1266, Miguel teve que renovar sua aliança com Gênova, mas manteve simultaneamente a paz com Veneza assinando um tratado de não-agressão de cinco anos em junho de 1268.

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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

MENOS BRILHO PARA BRILHAR MAIS

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Uniformes soviéticos durante a Segunda Guerra Mundial traduziram a realidade da época.

Por Alexandr Verchínin


Às vésperas da Segunda Guerra Guerra Mundial, a União Soviética tinha o maior exército da Europa, com quase 2 milhões de soldados. Mas o país não tinha a possibilidade de mudar constantemente o uniforme de milhões de soldados.

Durante o conflito, o soldado soviético recebia uma roupa desenvolvida pelos generais imperiais ainda no início do século XX. Este uniforme não tinha o luxo daquele usado pelo Exército no século XIX, mas era conveniente e prático nas condições de combate.

De um modo geral, o uniforme russo durante a Primeira Guerra Mundial e o modelo usado por soldados soviéticos na Segunda Guerra Mundial não eram muito diferentes. Ambos eram compostos pela mesma túnica de algodão, calça e sapatos com polainas, devido à escassez de couro. No inverno, usavam também um sobretudo baseado no modelo de 1935, que, por sua vez, reproduzia o corte de casaco de 1912.

Em vez do chapéu de palha, dispunham do popular bibico, que substituiu até mesmo o famoso “budenovka”. Quando esfriava, a cabeça era protegida por um chapéu que cobria até a orelha.

Os soldados do Exército Vermelho recebiam um conjunto completo de equipamento: cinto (de couro, mas muitas vezes de lona), bolsa de cartuchos, principal e de emergência, saco para granadas, rações, pás, cantis e equipamento para fuzis. Além disso, o soldado possuía um capacete de aço. Mas a guerra trouxe suas mudanças.

O equipamento volumoso, embalado em várias sacolas, sobrecarregava os soldados, que tinham de caminhar entre 30 e 40 km por dia. Em vez de várias bolsas foi então introduzida uma única mochila de tecido impermeável.

Equipamento padrão da infantaria soviética em 1941


O sobretudo que os soldados tinham que usar também não facilitava a mobilidade. Assim, em agosto de 1941, foi introduzido um novo “estilo” de inverno: jaquetas acolchoadas, que podiam ser usadas sob o casaco e eram uma peça independente do uniforme.

Em regiões com invernos rigorosos, as jaquetas foram substituídas por casacos de pele e, em vez de sapatos e botas, foram introduzidas botas de lã.


Vestido para a batalha

Junto com milhões de homens no Exército surgiram também milhares de mulheres. O antigo Exército russo nunca tinha visto uma presença maciça de mulheres, portanto, não havia um uniforme especial para elas. Os dirigentes soviéticos tiveram de resolver esse problema muito rapidamente.

Em agosto de 1941, foi lançado um uniforme especial para as mulheres. Em vez do bibico, elas tinham que usar um quepe, e a túnica de soldado foi substituída por um vestido, inicialmente de algodão e depois de lã. 

O uniforme feminino pode ser visto em detalhes nesta fotografia da atiradora de elite Roza Shanina, tomada em 1944



Reforma da cabeça aos pés

As primeiras batalhas mostraram que o uniforme dos oficiais e generais soviéticos os tornavam um alvo fácil para os inimigos. Os emblemas de costura bonita e distintivos na ponta de quepe, introduzidos pouco antes da guerra, chamavam muita atenção.

Foi assim que, em agosto de 1941, abandonou-se o uso de emblemas e as listras brilhantes nas calças, e os emblemas dourados nas lapelas tiveram que ser substituídos por similares de cor cáqui.

O uniforme soviético dos primeiros anos da guerra se distinguia pelas cores, mas foi produzido em grandes quantidades em fábricas que não funcionavam muito bem. Em 1943, decidiu-se então fazer uma grande reforma no guarda-roupa militar.

A principal inovação foi a introdução de insígnias de ombro. Este elemento, que havia sido erradicado do Exército Vermelho, voltou. Havia dois tipos de insígnias dos oficiais do Exército: de combate e do dia-a-dia. Os primeiras eram cáqui, os segundos, eram dourados.

As insígnias de ombro foram introduzidas durante a guerra


A patente passou a ser determinada não por losangos e quadrados nas lapelas, mas pelo número de estrelas nas divisas. Os oficiais do Exército de alta categoria e os marechais tinham um símbolo especial nas divisas – o emblema dourado da URSS.

A reforma não afetou muito as patentes mais baixas, e os soldados tiveram apenas que trocar as camisas. Na nova versão, em vez da gola aberta apareceu a gola fechada com botões, e quase desapareceram os sapatos com polainas.

O Exército usava então as botas de “quirza”, um tipo de couro artificial com pano de muitas camadas tratado com um líquido especial, que o tornava resistente à água. Em comparação com os sapatos pesados, as botas de couro artificial ​​eram muito confortáveis para o exército.

As botas quirza de couro artificial eram extremamente confortáveis


Os uniformes também foram divididos entre modelos para eventos especiais, para combate e para o dia a dia. Oficiais receberam novamente a jaqueta militar (“Kittel”), roupa que era usada pelo Exército imperial. Voltaram também outros elementos do uniforme antigo do Exército, como punhos com costura de ouro e prata.

O uniforme do soldado para cerimônias oficiais tinha linhas vermelhas na gola, nos punhos e nos bolsos. Os soldados soviéticos vestiram esse uniforme de cerimônias oficiais pela primeira vez no dia 24 de junho de 1945, durante o desfile da vitória em Moscou.

Fonte: Gazeta Russa


quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

UNESP LANÇA O LIVRO "A HISTÓRIA DO BRASIL NAS DUAS GUERRAS MUNDIAIS"

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O Brasil foi a única nação da América do Sul a enviar contingentes para as duas grandes guerras. O presente livro permite ao leitor ultrapassar as linhas gerais em que são descritas as participações brasileiras nos dois grandes conflitos mundiais e observar de posição privilegiada o que ocorria na trincheira, no navio, na caserna. A obra vem preencher lacuna ainda sentida na bibliografia relativa à temática, contemplando ângulos raramente explorados do envolvimento brasileiro nas duas guerras, como a geopolítica, a economia, a espionagem, o desenvolvimento de instituições militares e o próprio cotidiano dos soldados no calor da batalha.


Ficha Técnica

Assunto: História do Brasil
Ano: 2019
Acabamento: Brochura
Páginas: 262
Edição: 1
ISBN: 9788539308200
Peso: 465g
Formato: 16 X 23


Os autores

Mary Del Priore (Org.)
Mary Del Priore é doutora em História pela Universidade de São Paulo (USP). Publicou, pela Editora Unesp, Ao sul do corpo (2009), História do esporte no Brasil (2009), História do corpo no Brasil (2011), História dos crimes e da violência no Brasil (2017) e História das mulheres no Brasil (1997), sendo vencedor dos prêmios Jabuti e Casa Grande & Senzala no mesmo ano.

Carlos Daróz (Org.)
Carlos Daróz é historiador militar, pesquisador e escritor. Doutorando em História Social (UFF), mestre em Operações Militares e em História. Autor de Um céu cinzento (2013), A Guerra do Açúcar (2015), O Brasil na Primeira Guerra Mundial (2016) e Bruxas da Noite (2018)

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NAVIO ALEMÃO DA 1ª GUERRA É LOCALIZADO NO MAR DAS FALKLANDS 105 ANOS DEPOIS DE AFUNDADO

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O naufrágio de um cruzador alemão da 1ª Guerra Mundial foi identificado nas Ilhas Malvinas, onde fora afundado pela Marinha britânica há 105 anos.


O SMS Scharnhorst foi o principal ativo da esquadra alemã na Ásia Oriental, comandada pelo vice-almirante Maximilian Graf von Spee. O navio foi afundado em 8 de dezembro de 1914 com mais de 800 homens a bordo, incluindo o próprio vice-almirante.

O líder da busca pelos destroços, Mensun Bound, disse que o momento da descoberta foi "extraordinário". "Muitas vezes, perseguimos sombras no fundo do mar, mas quando o Scharnhorst apareceu pela primeira vez no fluxo de dados, não havia dúvida de que era um navio alemão", disse Bound.

"De repente, ele saiu da escuridão com grandes armas apontando para todas as direções. Como ilhéu das Malvinas e arqueólogo marinho, uma descoberta com esse significado é um momento inesquecível e comovente na minha vida."


Buscas levaram cinco anos

As buscas pelo SMS Scharnhorst começaram há cinco anos, no 100º aniversário da Batalha das Ilhas Malvinas, mas não obtiveram sucesso de início.

As equipes de busca retomaram suas atividades neste ano usando uma embarcação submarina, o Seabed Constructor, e quatro veículos subaquáticos autônomos. O SMS Scharnhorst foi encontrado no terceiro dia, a uma profundidade de 1.610m.

Os destroços não foram afetados pela operação, e o Falkland Maritime Heritage Trust, instituição sem fins lucrativos voltada para a promoção do valor histórico e social do patrimônio marítimo das Ilhas Malvinas, está tentando manter o local formalmente protegido por lei.  O SMS Scharnhorst fazia parte do esquadrão da Ásia Oriental da Marinha Imperial alemã, que operava principalmente no oceano Pacífico até o início da 1ª Guerra Mundial, em 1914.


Da vitória à derrota em cinco semanas

O cruzador blindado desempenhou um papel fundamental na Batalha de Coronel, travada entre a Marinha Real britânica e a Marinha Imperial alemã, na costa do Chile. Foi a primeira derrota naval britânica na 1ª Guerra Mundial, com resultados devastadores. Os alemães afundaram dois dos quatro navios britânicos, com a perda de mais de 1,6 mil vidas. Nenhum marinheiro alemão morreu.

O Scharnhorst afunda durante a Batalha das Falklands

Os efeitos desta derrota foram sentidos em todo o império britânico e além. Mas sua resposta não demorou a chegar. A Marinha Real despachou navios do Mar do Norte para o Atlântico Sul e confrontou os alemães nas Ilhas Malvinas cinco semanas depois.

O esquadrão britânico perseguiu a esquadra alemã. O HMS Invincible e o HMS Inflexible causaram danos substanciais ao SMS Scharnhorst, fazendo com que ele afundasse com todas as 860 pessoas a bordo. A Marinha Real, em seguida, foi atrás dos navios alemães restantes.


Descoberta 'agridoce'

Os dois filhos do vice-almirante von Spee também morreram nesse confronto. No total, 2,2 mil marinheiros alemães morreram neste segundo embate. Para a família von Spee, a descoberta dos destroços foi "agridoce". "É reconfortante saber qual foi o local de descanso final de tantas pessoas, que agora pode ser preservado, além de lembrar do enorme desperdício de vidas", disse Wilhelm Graf von Spee.

Destroços do Schanhorst localizados no fundo do oceano

"Enquanto família, perdemos um pai e seus dois filhos em um dia. Como as milhares de outras famílias que sofreram perdas inimagináveis ​​durante a 1ª Guerra Mundial, nós nos lembramos deles e devemos garantir que seu sacrifício não foi em vão." O vice-almirante von Spee foi aclamado como um herói na Alemanha por não se render, e, em 1934, um novo cruzador recebeu seu nome.

A Batalha das Ilhas Malvinas teve um efeito duradouro na 1ª Guerra Mundial, porque, como resultado, a esquadra da Ásia Oriental, a única formação naval permanente da Alemanha, deixou de existir.

Fonte: BBC