"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



segunda-feira, 29 de março de 2021

BATALHA DE NEGATAPAM (1746)

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A batalha de Negapatam resultou inconclusiva, e foi travada entre esquadrões navais britânicos e franceses que operavam na costa sul da Índia. Após a batalha, a frota britânica navegou para o Ceilão e depois para Bengala, deixando Madras exposta ao ataque francês


O almirante La Bourdonnais foi originalmente enviado com cinco navios da linha e amplos poderes sobre a Companhia Francesa das Índias Orientais. Os representantes da empresa conseguiram retirar ambos os poderes e a frota, e La Bourdonnais foi para as Maurícias sem uma frota. 

Ele era um comandante enérgico e logo conseguiu formar um esquadrão de oito navios, dos quais apenas um, o navio de 70 canhões da linha Achille, era um navio de guerra real. Os navios restantes eram navios de guerra improvisados, montando entre 36 e 26 canhões, num total de 282 canhões. Um nono navio, o Renommee , com 28 ou 20 armas também poderia estar presente.

O esquadrão britânico chegou à Baía de Bengala em 1745, sob o comando do comodoro Curtis Barnet, um oficial habilitado, mas ele morreu em 29 de abril de 1746 e foi sucedido pelo comodoro Edward Peyton, que não era tão bem visto. Peyton tinha seis navios, mas cinco estavam mais fortemente armados do que todos os navios franceses, exceto o Achille, dando a ele um total de 270 armas.

O almirante francês Bertrand-François Mahé de La Bourdonnais

As duas frotas entraram em confronto entre 25 de junho e 6 de julho de 1746, ao largo de Fort St. David e Negapatam. La Bourdonnais queria tentar embarcar nos navios britânicos, mas o vento estava contra ele. Peyton mostrou pouca vontade de engajar os franceses e, durante a maior parte do dia, as duas frotas estavam fora do alcance das armas. Somente às quatro da tarde começaram os combates, e a maior parte da batalha foi conduzida a longo prazo. 

Os combates terminaram ao anoitecer, sem danos sérios infligidos a nenhuma das frotas. Os britânicos perderam quatorze mortos e quarenta e seis feridos, os franceses vinte e sete mortos e cinquenta e três feridos. Um navio francês, o Insulaire, ficou tão danificado que teve que deixar a frota, enquanto apenas um navio britânico, o Medway´s Prize, sofreu avarias significativas.

No rescaldo da batalha, Peyton abandonou a costa indiana e partiu para o Ceilão para realizar reparos. No início de agosto, tudo estava completo, e Peyton navegou de volta para Madras, mas no dia 6 de agosto voltou a encontrar os franceses. Desta vez, não houve combates e, depois de três dias de manobras, Peyton desapareceu novamente. Mais tarde, ele foi substituído pelo comodoro Thomas Griffin, foi preso e enviado de volta à Grã-Bretanha, mas nenhuma outra ação foi tomada contra ele.

O comodoro Edward Peyton foi removido do comando após a batalha.

A falta de uma frota britânica deixou Madras exposto ao ataque francês. Seguiu-se um curto cerco (cerco a Madras, 14-21 de setembro de 1746), antes da cidade cair para os franceses. Permaneceu em suas mãos até o final da Primeira Guerra Carnática, quando foi devolvido em troca de Louisburg, no Canadá. 



sábado, 20 de março de 2021

MISTÉRIO SOBRE ATAQUE ALEMÃO À URSS PERMANECE

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Alertas sobre investida eram muitos, mas Stálin não reagiu. Entre indícios, havia fortificações na fronteira com a URSS e até dicionários.


Por Marina Darmaros

Em 22 de junho de 1941, Hitler invade a União Soviética na chamada “Operação Barbarossa”, quebrando o pacto de não agressão tratado com Stálin. Desde então, historiadores de todo o mundo debatem a questão sobre o conhecimento do ataque pelo líder soviético.

“Apesar de existir um mito popular de que Stalin sabia a data exata do ataque, ele não é verdadeiro: entre as datas possíveis, citavam-se os mais diversos números. O 22 de junho estava entre eles, mas ninguém declarou o dia como definitivo”, disse à Gazeta Russa o historiador Aleksandr Verchínin, pesquisador-sênior do Centro de Análise de Problemas.

Segundo documentos de arquivos, Stalin já tinha sido informado pelos órgãos de segurança de que Hitler havia aprovado a Operação Barbarossa e ordenado a preparação imediata para a guerra. Mas era impossível antecipar uma data.

“É natural que, após o quinto ou sexto relatórios seguidos sobre possíveis datas para o início da guerra, Stalin tenha deixado de confiar nessas informações”, diz o pesquisador Oleg Mozôkhin, especializado nos órgãos secretos do país.

Segundo ele, Stálin imaginava que a Alemanha fosse iniciar uma guerra com a URSS somente após obter a vitória sobre a Inglaterra.


O que Stalin sabia? 

Além das disputadas datas do ataque, comunicados emitidos pelos serviços de inteligência ao líder soviético estavam diretamente ligados aos preparativos da Alemanha para a guerra contra a URSS.

Lavrénti Beria, comissário do povo para assuntos internos [equivalente ao cargo de ministro do Interior] da URSS, repassou-lhe, ainda em 1° de agosto de 1940, informações da inteligência de que os alemães estavam construindo fortificações de campanha e permanentes na fronteira com a União Soviética”, diz Mozôkhin. 

Até 1942, outras notificações dão conta da aproximação de tropas alemãs da Finlândia, além da organização de um grupo de ataque em território romeno, em colaboração com a Itália, contra o flanco esquerdo da URSS. 

Operação Barbarossa: os alemães invadem a URSS em três direções estratégicas

Se a investida do Führer ainda não parecia verossímil, em novembro de 1940 dicionários alemão-russo começaram a ser distribuídos em unidades militares na fronteira germano-soviética.

“Eles tinham o mesmo conjunto de frases que os dicionários alemão-tcheco fornecidos às unidades alemãs na véspera da ocupação da Tchecoslováquia”, diz Mozôkhin.


Promessa de Führer

O livro “What Stalin knew: The Enigma of Barbarossa” (do inglês, “O que Stalin sabia: O enigma de Barbarossa”), do ex-chefe da CIA em Berlim, David Murphy, traz duas cartas secretas entre o líder soviético e o alemão que poderiam esclarecer por que o líder soviético ignorou todos os sinais de um ataque alemão. 

De acordo com as missivas, o Führer tranquilizava Stalin com a promessa de que as tropas alemãs enviadas ao Leste Europeu tinham por objetivo protegê-los contra bombardeamentos britânicos e ocultar os preparativos para a invasão do Reino Unido, e afirmava que a Alemanha não atacaria a URSS.

Infantaria alemã passa por prisioneiros soviéticos nos primeiros dias da Operação Barbarossa

Sem se apoiar nas cartas, cuja autenticidade não é comprovada, Mozôkhin segue a linha de que Stalin depositava confiança em Hitler. Stalin entendia que, para conduzir a guerra contra a Inglaterra, Hitler precisava do pão e do petróleo que Alemanha recebia da União Soviética. A normalização das relações com o Japão, aliado da Alemanha, em 1941, também era um fator tranquilizador.” 

Enquanto novos documentos classificados como secretos não forem abertos aos pesquisadores, porém, o mistério continua.  A base dos documentos sobre o início da guerra continua a mesma: são materiais publicados ainda durante os anos soviéticos. Outras publicações foram feitas após 1991, mas os novos trabalhos e documentos de arquivo sobre a relação de Stalin com a perspectiva de uma guerra iminente não dizem quase nada de novo”, afirma Verchínin.

Fonte: Gazeta Russa


quinta-feira, 18 de março de 2021

IMAGEM DO DIA - 18/3/2021



Primórdios do paraquedismo militar no Brasil. Em cerimônia realizada no Núcleo da Divisão Aeroterrestre, é feita a entrega do brevê de paraquedista militar ao coronel Augusto Cezar Moniz de Aragão em 1953. Uma torre de saltos aparece ao fundo.



 

sábado, 13 de março de 2021

A GUERRA POLACO-UCRANIANA (1918-1919)

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A Guerra Polaco-Ucraniana (1918-1919), foi um conflito entre as forças da Segunda República Polonesa e a República Popular da Ucrânia, para ter controle sobre a Galícia após a dissolução da Áustria-Hungria.


As origens do conflito estão relacionadas com as complexas relações nacionais presentes na Galícia durante a virada do século. A relativa tolerância da Casa de Habsburgo para com as minorias da região promoveu condições ideais para o desenvolvimento dos movimentos nacionais polacos e ucranianos. 

Vários incidentes entre os dois grupos ocorreram no fim do Século XIX e início do Século XX. Por exemplo, em 1897 a administração polonesa impediu que os ucranianos participassem nas eleições parlamentares. Outro conflito, ocorrido nos anos 1901 a 1908, envolveu a Universidade de Lviv. Os alunos ucranianos exigiam uma universidade separada, enquanto alunos e professores poloneses tentavam reprimir o movimento. O ponto crucial deu-se em 1903, quando tanto poloneses quanto ucranianos realizaram conferências separadas em Lwów (os poloneses em maio e os ucranianos em agosto) e, em seguida, os dois movimentos nacionais se desenvolveram com objetivos contraditórios, desencadeando o confronto.

A composição étnica da Galicia era subjacente ao conflito entre os poloneses e ucranianos. A província austríaca consistia em um território conquistado em 1772, durante a Primeira das Partições da Polônia. Esta terra, que abrangia territórios de importância histórica para a Polônia, incluindo a antiga capital Cracóvia, era habitada por uma maioria polaca. Entretanto, a parte oriental da Galícia, que incluía o coração do território histórico da Volínia, tinha uma maioria ucraniana. Esse último era composto por aproximadamente 65% de população ucraniana e 22% de população polonesa. Das 44 divisões administrativas austríaca da Galícia oriental, Lviv era a única em que os poloneses constituiam maioria da população. A cidade era considerada uma das capitais culturais da Polônia e, para muitos polacos, incluindo os da população de Lviv, era impensável que a sua cidade não deveria estar sob controle polonês.

Ao longo dos séculos XIX e XX, os ucranianos locais tentaram convencer os austríacos a dividir a Galicia em Ocidental (polonesa) e Galícia Oriental (ucraniana). Esses esforços foram frustrados pelos poloneses locais, que temiam perder o controle de Lviv e da porção oriental da região. Os austríacos chegaram ao acordo de dividir a província, mas o início da Primeira Guerra Mundial impediu que essa grande mudança fosse implementada e, em outubro de 1916, o Imperador Carlos I da Áustria prometeu fazê-la uma vez que a guerra houvesse terminado.


Prelúdio

Devido à intervenção do arquiduque Wilhelm da Áustria, que adotou uma identidade ucraniana e considerava-se um patriota ucraniano, em outubro de 1918 dois regimentos de tropas de maioria ucraniana foram enviados a Lviv. Como o governo Austro-Húngaro havia entrado em colapso, em 18 de outubro de 1918 foi formado o Conselho Nacional Ucraniano, composto por membros do parlamento ucraniano austríaco da Galícia e da Bucovina, bem como dirigentes de partidos políticos ucranianos. O Conselho anunciou a intenção de unir as terras da Ucrânia Ocidental em um único estado. Como os poloneses estavam a tomar seus próprios passos para assumir o controle de Lviv e da Galícia Oriental, o Capitão Dmytro Vitovsky, liderou um grupo de jovens oficiais ucranianos em uma ação decisiva durante a noite entre 31 de outubro e 1º de novembro, em que as unidades militares ucranianas tomaram o controle da Lviv. A República Nacional Ucraniana foi proclamada em 1° de novembro de 1918, tendo Lviv como sua capital.

Tropas polonesas na Galícia


A proclamação da República reivindicou a soberania sobre a Galícia Oriental, incluindo a região dos Cárpatos até a cidade de Nowy Sącz no ocidente, bem como Volínia, Transcarpátia e Bucovina e foi uma surpresa completa para o polacos. Apesar da maioria da população da República Popular da Ucrânia Ocidental ser ucraniana, grande parte do território reivindicado era considerado polonês pelos polacos. Em Lviv os moradores ucranianos apoiaram com entusiasmo o anúncio, a significativa minoria judaica da cidade o aceitou e manteve neutralidade em relação à proclamação, enquanto que a maioria polonesa da cidade ficou chocada ao se encontrar em um estado proclamado ucraniano.


A Guerra

Em Lviv, as forças ucranianas sofreram oposição bem sucedida das unidades de defesa local, formadas principalmente por veteranos da Primeira Guerra Mundial, estudantes e crianças. Após duas semanas de combates dentro da cidade, uma unidade armada sob comando do coronel Michał Karaszewicz-Tokarzewski, do renascente exército polonês, rompeu o cerco ucraniano em 21 de novembro e chegou à cidade. Os ucranianos foram expulsos, entretanto, suas forças continuaram a controlar a maior parte da Galícia oriental, representando uma ameaça à Lviv até maio de 1919. Imediatamente após a captura da cidade, as forças polonesas, assim como criminosos comuns, saqueram as áreas judaicas e ucranianas da cidade. Além disso, os poloneses enviaram vários ativistas ucranianos para campos de detenção.

Em dezembro de 1918, iniciou-se combate em Volínia. Conforme as unidades polonesas tentavam conquistar a região, as forças da República Popular Ucraniana, sob comando de Symon Petlura, tentavam expandir a oeste seu território, em direção a cidade de Chełm. Após dois meses de intenso combate, o conflito foi decidido em março de 1919, por novas e bem equipadas unidades polonesas, sob comando do general Edward Rydz-Śmigły.

A ofensiva do general polonês em Volínia e na Galícia oriental teve início em 14 de maio de 1919. Foi conduzida por unidades do exército polonês auxiliadas pelo recém-chegado exército azul do general Józef Haller de Hallenburg. Esse exército era bem equipado pelos aliados ocidentais e parcialmente formado por experientes oficiais franceses, tendo como objetivo primário combater os Bolcheviques, e não as forças da República Popular da Ucrânia Ocidental. Apesar disso, os poloneses enviaram o exército de Haller contra os ucranianos. 

Os aliados enviaram vários telegramas ordenando que os poloneses abortassem a ofensiva, já que empregar o exército equipado por franceses contra os ucranianos especificamente contradizia as condições do auxílio francês. Entretanto, as ordens foram ignoradas, sob a alegação polonesa de que "todos os ucranianos são bolcheviques ou algo muito próximo disso".

O Exército Azul incluía o 1º Regimento de Tanques polonês com 120 tanques Renault FT. Com sua chegada em Lwow, os ucranianos tiveram que enfrentar a quarta maior unidade de tanques do mundo.

As linhas ucranianas foram rompidas, principalmente devido à retirada da unidade de elite Fuzileiros de Sich. Em 27 de maio as forças polonesas chegaram à linha Złota Lipa-Berezhany-Jezierna-Radziwiłłów. Seguindo as exigências da Tríplice Entente, a ofensiva polonesa foi interrompida e as tropas do general Haller adotaram posições defensivas. Em 8 de junho de 1919, as forças ucranianas, agora sob comando de Oleksander Hrekov, anteriormente general no exército russo, iniciaram uma contra-ofensiva e, após três semanas, chegaram a Hnyla Lypa e ao alto do rio Styr. A bem sucedida ofensiva foi interrompida principalmente por falta de armamento - havia apenas cerca de 5 a 10 projéteis para cada soldado ucraniano. O governo da Ucrânia Ocidental controlava os campos petrolíferos de Drohobych, com os quais pretendia comprar armas para a batalha. Porém, por motivos políticos e diplomáticos, armas e munição só poderiam ser enviadas à Ucrânia por meio da Tchecoslováquia. 

Apesar das forças ucranianas terem conseguido que os poloneses recuassem aproximadamente 120 km, elas foram incapazes de assegurar uma rota para a Tchecoslováquia. Isso significava que era impossível reabastecer as tropas com armas e munição. A resultante falta de suprimentos forçou Hrekov a finalizar sua campanha.

Józef Piłsudski assumiu o comando das forças polonesas em 27 de junho e iniciou mais uma ofensiva. Com pouca munição e em menor número, os ucranianos recuaram até a linha do rio Zbruch.


Consequências

Aproximadamente 10 mil poloneses e 15 mil ucranianianos, na maioria soldados, morreram durante a guerra. Em 17 de julho, um cessar-fogo foi assinado. Os prisioneiros de guerra ucranianos foram mantidos em campos anteriormente austríacos em Dąbie, Łańcut, Pikulice, Strzałków, e Wadowice. Em 21 de novembro de 1919, o Alto Conselho da Conferência de Paz de Paris garantiu a Galícia Oriental à Polônia por um período de 25 anos, após o qual haveria um plebiscito. Em 21 de abril de 1920, Józef Piłsudski e Symon Petliura assinaram uma aliança, na qual a Polônia prometia à República Popular da Ucrânia auxílio militar na ofensiva de Kiev contra o Exército Vermelho em troca do reconhecimento da fronteira entre os dois países no rio Zbrucz.

Após esse acordo, o governo da República Nacional da Ucrânia Ocidental se exilou em Viena, onde contou com o apoio de vários emigrantes políticos ucranianos, assim como de soldados do exército da Galícia que estavam na Boêmia. Envolveu-se em atividades diplomáticas com os governos francês e britânico, na esperança de obter condições favoráveis em Versailles. Como resultado de seus esforços, o conselho da Liga das Nações declarou, em 23 de fevereiro de 1921, que a Galícia localizava-se fora do território Polonês, que a Polônia não detinha mandato para estabelecer controle administrativo daquele país, e que estava meramente ocupando o poder militar na Galícia oriental, cujo destino seria definido pelo Conselho de Embaixadores da Liga das Nações. 

Após uma longa série de negociações, em 14 de março de 1923, foi decidido que a Galícia oriental seria incorporada à Polônia "levando em consideração que a Polônia reconhece que, devido às condições etnográficas da porção oriental da Galícia, a mesma merece integralmente sua condição autônoma." O governo da República Nacional da Ucrânia Ocidental dissolveu-se, enquanto a Polônia renegou sua promessa de autonomia à Galícia oriental. Após a Segunda Guerra Mundial, a região foi cedida à República Socialista Soviética da Ucrânia, então uma república da União Soviética.


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quarta-feira, 3 de março de 2021

AGINCOURT: O ATOLEIRO DA MORTE

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Superados em 4 para 1, ingleses contaram com uma ajudinha do clima na célebre batalha medieval

Por Natalia Yudenitsch


Lama. Esse é o elemento que acabou jogando a favor dos ingleses na Batalha de Agincourt, travada entre eles e os franceses em 25 de outubro de 1415. O combate aconteceu numa região próxima ao vilarejo de mesmo nome, ao norte da França. Ali estavam cerca de 24 mil franceses de um lado, contra menos de 6 mil ingleses, num lodaçal de 800 m por cerca de 2 km. 

Depois de ter saído vitorioso do cerco de Harfleur na Normandia, na França, realizado entre 18 de agosto e 22 de setembro do mesmo ano, o rei inglês Henrique V planejava ir diretamente para o porto de Calais, norte da França, e de lá voltar para a Inglaterra, fugindo da epidemia de disenteria que se abatia sobre a região. Mas antes precisou enfrentar com seus homens os franceses no conflito famoso em Agincourt.

A campanha já rendera dividendos políticos para o monarca inglês, então com 26 anos. Invadir a França ajudou a aumentar sua popularidade – já que ele havia prometido a seus súditos recuperar regiões perdidas aos franceses na época de Henrique II, o pai de Ricardo Coração de Leão. 

Vitorioso na campanha pela França até então, com a popularidade em alta, Henrique V deixou Harfleur em 8 de outubro de 1415 levando ração para os soldados para oito dias. 
Quando as tropas inglesas tiveram problemas para atravessar os rios, que transbordavam por causa das chuvas, começaram a ser perseguidos pelos homens de Carlos d’Albert, que substituía no campo de batalha o rei francês Carlos VI (que estava velho, enfraquecido e incapacitado para a luta). 

A perseguição durou seis dias. Os ingleses estavam esgotados depois de marchar cerca de 420 km em pouco mais de duas semanas. No dia 24 de outubro, Henrique V tomou uma decisão. Os ingleses não mais recuariam. O rei ordenou silêncio total à noite para a grande batalha do dia seguinte. Foi uma espera aflitiva, dramatizada por William Shakespeare na peça Henrique V anos depois.

Mapa mostrando a dinâmica da Batalha deAgincourt

Ficaram tão quietos que os franceses chegaram a pensar que eles haviam levantado acampamento e fugido”, diz Roberta Magnusson, professora de história medieval da Universidade de Oklahoma, nos Estados Unidos.

No amanhecer do dia 25, franceses e ingleses ficaram frente a frente, a cerca de 2 km de distância entre si. No meio, um campo recém-arado e plantado, transformado em um lamaçal pelas chuvas, que caíam forte havia duas semanas.


Batalha colossal

Henrique V colocou seus homens na tradicional formação defensiva inglesa, com cerca de 800 soldados a pé, ladeados por 5 mil arqueiros, e protegidos por grandes estacas de madeira: os cavalos inimigos recuavam instintivamente diante das madeiras pontiagudas. Detalhe curioso: como havia um surto de disenteria entre os soldados, muitos arqueiros lutavam nus da cintura para baixo para que o problema não os atrapalhasse.

Os franceses se postaram em duas linhas recheadas de soldados protegidos por armaduras e arqueiros. Os cavaleiros, entre os quais 12 nobres de sangue real, guardavam os flancos. Depois de tudo preparado, os dois lados se encararam imóveis por quase quatro horas. Ninguém queria ser o primeiro a atacar. Os ingleses por estarem em grande desvantagem numérica, e os franceses por não se animarem a se atirar no mar de lama. 

Cavaleiro francês é abatido em maio à lama

Pouco antes do meio-dia, os franceses mandaram alguns homens em busca de mantimentos no acampamento para um pequeno desjejum. Foi o momento em que os ingleses avançaram, numa provocação que levou ao esperado ataque francês.

Henrique V ordenou que as linhas de frente fossem assumidas por arqueiros portando arcos longos, manobra que se mostraria essencial mais tarde. Os franceses reagiram enviando seus cavaleiros, que pisotearam o campo. 

Mas havia lama no mínimo para cobrir o tornozelo e que, em muitas partes do terreno, chegava à altura dos joelhos e até da cintura. Existem relatos de cavalos atolados pela barriga. "Cair do cavalo em Agincourt, especialmente usando uma armadura de cerca de 35 kg, não era uma boa ideiaMuitas baixas tiveram como causa o afogamento na água lamacenta, já que os ingleses costumavam cobrir o cavaleiro caído com cadáveres, impedindo seus esforços de se levantar”, diz Magnusson.

Essas barreiras de mortos, aliás, também jogaram a favor dos ingleses, que as usavam como barricadas. Somadas à lama, dificultavam ainda mais o avanço das linhas adversárias. Para complicar, todos os franceses, incluindo o condestável d’Albert, queriam ficar na linha de frente, numa demonstração de arrogância e certeza de que venceriam em Agincourt.


Muita lama

Essa ânsia pela iniciativa na batalha se voltou contra os franceses quando a linha de frente teve de se apertar ainda mais nos parcos 800 m do campo. “Era quase impossível levantar o braço para esticar o arco ou desferir um golpe”, diz Greg Woolf, professor de história da Universidade de Cambridge, na Inglaterra.

Mesmo assim, as forças francesas conseguiram avançar posições. “Apesar de o soldado francês de armadura normalmente se destacar pela resistência e mobilidade, a combinação da lama com o peso da multidão que os esmagava tornou-os alvos fáceis para os inimigos. Logo a segunda linha de frente francesa também caiu”, complementa Woolf. 

A Batalha de Agincourt demonstrou a supremacia dos arqueiros ingleses sobre a cavalaria francesa

No lado inglês, já ocorriam os procedimentos corriqueiros de batalha: saquear os mortos e fazer dos vivos prisioneiros. Havia, contudo, um entrave: o número de capturados era maior que o de captores. E os franceses cativos tinham facilidade em se armar novamente, recolhendo as armas dos mortos, e iniciar um motim.

A reação de Henrique V foi ordenar a morte de todos os prisioneiros, liberando os homens que os guardavam para continuar a luta. Essa versão, porém, é controversa porque não se deve esquecer que os reféns representavam uma soma considerável para o pagamento de futuro resgate. 

Na descrição de Shakespeare, a ordem foi dada depois que um destacamento de cavaleiros franceses irrompeu no flanco inglês. “Não há como saber se isso não foi uma justificativa posterior dos homens que mataram os prisioneiros e temiam a ira de seu rei pela perda de dinheiro”, afirma Alexandr Vernitsky, especialista em Idade Média da Universidade de Moscou. 

De qualquer forma, os prisioneiros mais valiosos – os nobres – foram poupados. Em um ponto, entretanto, os historiadores concordam: a carga de cavalaria foi a última ação da França. 

A batalha estava definitivamente perdida. Mesmo em grande inferioridade numérica, os ingleses de Henrique V garantiram a vitória, glorificando o uso do arco longo inglês como a peça chave da batalha.

Após a guerra, Henrique V foi reconhecido como regente e herdeiro do trono francês no Tratado de Troyes, assinado em 1420, e desposou Catarina de Valois, filha de Carlos VI  O rei inglês, contudo, ão viveu para assumir o trono – morreu de disenteria aos 34 anos, dois meses antes da morte de Carlos VI. Seu filho Henrique VI, então recém-nascido, foi nomeado regente e só assumiu aos 16 anos.


Fonte de controvérsias

Os números que envolvem a Batalha de Agincourt são um dos pontos que causam discordância entre os historiadores. A tese mais aceita é que mais de 600 soldados ingleses morreram. Alguns citam a morte de 10 mil franceses, incluindo o poeta e duque Charles de Orléans. 

Alguns historiadores, como Anne Curry, autora do livro Agincourt, a New History, questionam até o tamanho da desvantagem numérica entre ingleses e franceses. Segundo ela, a proporção mais correta é 12 mil franceses contra 8 mil ingleses e o resto seria um mito criado para aumentar a fama do rei Henrique V. 

O segundo ponto de controvérsia é a aclamada eficiência do arco inglês. Reconstituições de batalhas feitas pelo computador por diversos pesquisadores mostram resultados um pouco diferentes. 

Para Peter N. Jones, autor do livro The Metallography and Relative Effectiveness of Arrowheads and Armor during the Middle Ages, as flechas eram capazes de acertar braços e pernas, mas não teriam a mesma facilidade para se encravar no peito ou na cabeça de um guerreiro com armadura. Isso não quer dizer que o arco fosse ineficiente. 

Fonte: Aventuras na História

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