"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



domingo, 22 de outubro de 2023

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - HANS-ULRICH RUDEL

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* 2/7/1916 - Konradswaldau, Alemanha

+ 18/12/1982 - Rosenheim, Alemanha 

Hans-Ulrich Rudel nasceu na Silésia, filho de um pastor. Quando criança nada indicava que seria especialmente corajoso; realmente dizia-se que sua mãe ainda segurava sua mão quando trovejava. Mas sempre esteve apto à prática de esportes, e talvez este tenha sido um fato oportuno para que pudesse desenvolver suas atividades esportivas em serviço militar.

Em 1936 ele entrou para a Luftwaffe como oficial-cadete. Após ser aprovado em seu curso de treinamento de voo e qualificado como piloto, Rudel foi voluntário para treinos futuros com bombardeiros de mergulho para apoio aéreo aproximado e não foi bem visto pelos instrutores destes treinamentos. Teve seu pedido rejeitado e, para sua humilhação, foi mandado para um curso de observação de reconhecimento aéreo.

Participou, na campanha da Polônia como observador em missões de reconhecimento de longo alcance. Rudel desejava pertencer ao que era então encarado pelos muitos jovens pilotos como o mais atraente da força aérea - voar em um Junkers Ju-87 Stuka. Continuou tendo seus pedidos de transferência para a divisão aérea de bombardeiro de mergulho Stukas sistematicamente negados até 1940, quando preencheu uma vaga em um dos cursos de voo do Ju-87. Após completá-lo, foi transferido para uma brigada de treinamento do Stuka (I/St.G.2) próxima à Stuttgart, de onde observou a campanha na França e nos Países Baixos.

No início da Operação Barbarossa, o I/St.G.2 foi para o "front " russo na Frente Oriental, onde executava missões quase vinte e quatro horas por dia. Todas as tripulações eram necessárias e Rudel foi transferido para o esquadrão cujo líder interessou-se imediatamente por ele. "O Rudel é o melhor homem do meu esquadrão" disse ele duas ou três semanas depois, "apesar de ser um sujeito louco, não viverá muito tempo".

Rudel levantou voo na sua primeira missão de bombardeio de mergulho às 3 horas da manhã do dia 23 de junho de 1941, e ainda estaria voando 18 horas depois, tendo estado fora em quatro missões diferentes. O ritmo das operações era tal que os pilotos saíam para até 8 missões em um só dia, e isso dia após dia, semana após semana.


Missões e façanhas

A maior façanha individual de Rudel foi em setembro de 1941. Duas brigadas do seu Geschwander (esquadrão, grupo aéreo) haviam se deslocado para Tyrkovo ao sul de Luga para uma ofensiva direta a Leningrado. Por volta do fim do mês, entretanto, um avião de reconhecimento avistou os encouraçados soviéticos October Revolution e Marat, além de dois cruzadores e algumas embarcações menores da Armada Soviética do Báltico, no porto de Kronstadt.

Durante toda a guerra Rudel voou o bombardeiro de mergulho Ju-87 Stuka


O Geschwander de Rudel decidiu atacar os três esquadrões, levando bombas especiais de 1.000 kg. Sorrateiramente levantaram voo na manhã do dia 23 de setembro. Rudel estava pilotando um Stuka da esquadrilha líder; e quando o ataque começou ele estava diretamente atrás do líder de esquadrão que havia dito que ele era "louco". O dia estava claro com o céu sem nuvens. Naquele estágio da guerra, os caças russos raramente levantavam voo e, como que para confirmar isso, nenhum apareceu no dia 23 de setembro.

Os Stukas se aproximaram de Kronstadt a uma altitude de 3.000 mil metros, e a 15 km do seu alvo, entraram numa tempestade de fogo antiaéreo. Alguns Stukas tentaram escapar do fogo, e, ao fazê-lo, as esquadrilhas e esquadrões se misturaram. Mas o líder do esquadrão de Rudel decididamente manteve seu rumo com Rudel colado a sua cauda. Quando Rudel viu que seu líder tinha acionado os freios aerodinâmicos de seu avião, ele fez o mesmo, e ambos os Stukas começaram seus mergulhos em ângulos cujas medidas estavam entre 70 e 80º. Descendo estridentemente em direção ao Marat, Rudel viu que seu líder estava recolhendo seus freios aerodinâmicos; portanto, como antes, ele fez o mesmo. 


Marat

Em 23 de setembro de 1941, os dois Staffeln do I/St.G 2 (Gruppe I do St.G 2) atacaram a frota soviética ancorada no porto de Kronstadt (na área de Leningrado), defendido por mais de 1.000 armas antiaéreas. Entre os navios lá ancorados, estava o encouraçado Marat, de 26.500 toneladas - um dos dois únicos navios de grande porte da esquadra vermelha. Mais tarde, Rudel se recordaria:

“Foi terrível. Havia explosões por todos os lados. O céu parecia estar repleto de cascalhos. Eu estava me sentindo muito mal e o vôo foi uma tortura. (…) O mergulho, num ângulo de 70º a 80º, tirou o meu fôlego. Eu tinha o "Marat" em minha mira, ele se aproximava cada vez mais rápido. O navio se tornava cada vez maior. Eu via as bocas de suas armas antiaéreas apontando ameaçadoramente para mim. (…)
Não havia tempo para me preocupar com o fato de que um tiro direto de Flak poderia me partir em pedaços. O "Marat" já preenchia completamente meu visor. Os marinheiros corriam pelo deck do navio, alguns carregando munições. Um dos canhões virou em minha direção e começou a disparar. Neste momento eu apertei o botão que liberava a bomba. Puxei o manche para trás com toda minha força, na tentativa de tirar o avião do mergulho, já que minha altitude era de apenas 300 metros.
A bomba de 1.000kg que tinha acabado de soltar não poderia ser lançada de uma altitude inferior a 1.000 metros sob o risco de destruir o bombardeiro. Mas eu não estava me importando com isso. Eu queria atingir o "Marat" — nada mais. Embora eu puxasse o manche como um louco, eu tinha a sensação que o avião não estava me obedecendo. Eu estava quase perdendo os sentidos. Havia uma sensação terrível em minha cabeça e estômago, quando eu escutei a voz excitada de meu artilheiro-de-ré:
— Herr Oberleutnant, o navio explodiu!
Eu me virei lentamente. Lá estava o "Marat" atrás de uma nuvem de fumaça quase impenetrável de 400 metros.”

Ao finalizar seu mais bem sucedido ataque, Rudel, descendo dos céus em um ângulo de 90º, saiu do mergulho a apenas 4 metros da superfície da água! "Somente nesse momento eu percebi que ainda estava vivo" - ele afirmou bem depois.

Em 1941 Rudel participou de um ousado ataque contra o encouraçado Marat


Com este feito poderia ter sido condecorado, ocasião que não ocorreu. Hauptmann Steen, que comandou todo o Gruppe que participou daquele ataque disse a ele:

“Eu tenho certeza de que você compreenderá que eu não posso condecorar um único homem depois desta corajosa missão na qual o Gruppe inteiro tomou parte (…) eu considero o valor da equipe como um time, o que é mais importante do que recomendá-lo para a Cruz de Cavaleiro.”


Condecorações

Em 29 de Dezembro de 1944, Hitler instituiu aquela que seria a mais alta condecoração militar por bravura entregue durante o III Reich: a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro com Folhas de Carvalho Douradas, Espadas e Diamantes ou: Ritterkreuz des Eisernen Kreuzes mit Goldenem Eichenlaub, Schwertern und Brillanten. Essa condecoração era idêntica aos Diamantes, com exceção que era feita em ouro ao invés de prata.

O único recebedor desta condecoração foi o Coronel Hans-Ulrich Rudel, que como um piloto de Stuka no Front Russo voou surpreendentes 2.530 missões, tendo destruído mais de 519 tanques, 800 veículos de todos os tipos, 150 peças de artilharia, inúmeras pontes, 70 embarcações anfíbias, um encouraçado, um cruzador, um destroier e nove aviões soviéticos, incluindo sete caças abatidos em combates.

Josef Stalin ofereceu uma recompensa de 100.000 rublos a quem conseguisse abatê-lo.


Pós-guerra

No Dia da vitória, Rudel e seu esquadrão encontravam-se na Boêmia. Voaram até Kitzingen e entregaram-se às forças americanas, evitando ser capturados pelos soviéticos.
Esteve aprisionado para interrogatórios na Inglaterra e na França. Libertado, permaneceu internado em um hospital da Baviera até 1946. Depois de receber alta, iniciou uma atividade no ramo de transportes.

Mudou-se para a Argentina em 1948 onde, com outros pilotos alemães, trabalhou para a Companhia Estatal de Aviação. Tornou-se amigo do presidente Juan Perón e prestou assessoria à Força Aérea Argentina. Alfredo Stroessner, ditador do Paraguai, Otto Skorzeny e outros ex-dirigentes nazistas exilados na América do Sul também pertenciam a seu círculo de amizades.

Alertou o criminoso de guerra Josef Mengele, que encontrava-se em Buenos Aires, de que a Alemanha Ocidental pedira sua extradição ao governo argentino. A Argentina negou tal pedido alegando que ele não vivia em seu território. Depois Rudel auxiliou Mengele a fugir para o Paraguai.

Retornou à Alemanha Ocidental em 1953 e filiou-se ao Deutsche Reichspartei, partido político de extrema-direita. Reprovou o atentado de Klaus von Stauffenberg contra a vida de Hitler. Declarou-se nacional-socialista até o fim da vida.

Auxiliou a USAF a desenvolver o caça-bombardeiro A-10 Thunderbolt II. Suas Memórias foram publicadas com o título em português Piloto de Stuka com prefácio dos ases da aviação aliados Douglas Bader e Pierre Clostermann.

Apesar de ter perdido a perna direita no final da guerra e de usar uma prótese, continuou praticando esportes. Jogava tênis e esquiava. Na Argentina, escalou os montes Aconcágua e, em três ocasiões, o Llullaillaco.

O túmulo de Hans-Ulrich Rudel, o mais condecorado piloto alemão da 2ª Guerra Mundial


Morte

Rudel faleceu em Rosenheim em 18 de dezembro de 1982, aos 66 anos de idade. A seu pedido, todas as suas condecorações foram doadas por sua viúva para um museu alemão, onde repousam até esta data, já que Rudel não queria vê-las leiloadas nos Estados Unidos.

Como Rudel, durante toda a sua vida, declarou-se um Nacional Socialista convicto, o Governo Alemão proibiu qualquer manifestação ou homenagem. A Bundesluftwaffe proibiu a presença de seus pilotos nos funerais. Apesar dessas ordens, vários pilotos fizeram-se presentes à cerimônia e, no momento em que seu ataúde baixava à sepultura, caças McDonnell-Douglas F-4 Phantom II da Luftwaffe fizeram um sobrevoo rasante sobre o cemitério, numa última saudação a uma das maiores lendas da aviação militar alemã. 

Os pilotos dos Phantom, por sinal, justificaram-se depois dizendo que "sobrevoaram o local por acaso".




terça-feira, 10 de outubro de 2023

EDITOR DO BLOG TOMA POSSE NA ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DO BRASIL

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O editor do Blog Carlos Daróz-História Militar tomou posse, no dia 9 de outubro de 2023, como acadêmico titular da Academia de História Militar Terrestre do Brasil/Rio - Academia Marechal João Batista de Mattos. 

 
A cerimônia foi realizada na sede do Clube Militar e contou com grande número de autoridades, acadêmicos e convidados, incluindo o coronel Claudio Moreira Bento, fundador da Academia e atual presidente de seu Conselho Consultivo.

Carlos Daróz assumiu como primeiro titular, a cadeira nº 19, que homenageia o Marechal Hugo Panasco Alvim, oficial de Artilharia (como eu) que, durante a Segunda Guerra Mundial, comandou o IV Grupo de Artilharia da Força Expedicionária Brasileira, atual 11º Grupo de Artilharia de Campanha.

O então tenente-coronel Hugo Panasco Alvim comandou o IV Grupo de Artilharia da Força expedicionária Brasileira durante a Campanha da Itália, 1944-1945.


Carlos Daróz teve a honra de ser recepcionado pelo Prof Israel Blajberg, atual presidente da AHIMBT/RIO. 

Na ocasião, o novo acadêmico proferiu a seguinte alocução, em homenagem ao patrono de sua Cadeira:

Senhor Gen Márcio Tadeu Bettega Bergo, mais alta autoridade militar presente; senhor Cel Cláudio Moreira Bento, fundador da Academia de História Militar Terrestre do Brasil; senhor Tenente de Artilharia e engenheiro Israel Blajberg, Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil/Rio – Academia Marechal João Baptista de Mattos; senhores membros da Academia de História Militar; autoridades; minhas senhoras; meus senhores; meus caros confrades e confreiras, 

A alegria de ser acolhido nesta casa dedicada à pesquisa e ao estudo da história militar brasileira é ainda maior, por ser recebido por um dileto amigo, artilheiro como eu, presidente da Academia, e confrade do IGHMB – Prof. Israel Blajberg. Homem dotado de invulgar inteligência, capacidade de pesquisa, fineza e elegância, autor de extensa produção intelectual no campo da História Militar. Grande é a minha honra por ser recepcionado por tão relevante personalidade da cultura nacional.

Amigo Israel, muito obrigado por constantemente prestigiar meus trabalhos e pesquisas, por anos a fio, divulgando e fortalecendo a História Militar, e, neste momento solene, saudar minha posse como acadêmico deste sodalício.

Nesta casa, reza a tradição, sempre que aos novos acadêmicos é ensejado transpor os seus umbrais, cabe-lhes exaltar a figura do patrono da cadeira que irá ocupar. Incumbe-me, pois, trazer para compor a galeria dos vultos deste cenáculo a figura do Marechal Hugo Panasco Alvim, importante oficial do Exército Brasileiro que teve destacada carreira, e que, no momento de crise assinalado pela Segunda Guerra Mundial, liderou uma das unidades de Artilharia da Força Expedicionária Brasileira no combate ao nazifascismo e na luta pela liberdade.

Impõe-se, contudo, uma breve contextualização sobre o momento histórico no qual o patrono da cadeira nº 19 da AHMTB/Rio teve seu maior destaque.
 
O Brasil ingressou na Segunda Guerra Mundial em agosto de 1942, quando o governo declarou guerra às potências do Eixo, decisão que foi influenciada por uma série de fatores, incluindo gestões diplomáticas dos Aliados e, principalmente, ataques a navios brasileiros por submarinos alemães e italianos, que causaram a morte de centenas de brasileiros e geraram uma crescente comoção popular.
Decidido o ingresso no conflito, foi organizada a Força Expedicionária Brasileira, composta pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, a qual combateu na Itália em 1944-1945. Organizada segundo o modelo norte-americano, a divisão brasileira possuía uma Artilharia Divisionária, composta por quatro grupos de artilharia de campanha, um dos quais foi liderado em combate pelo então tenente-coronel Alvim. 
 
Nascido no Rio de Janeiro em 12 de junho de 1901, Hugo Panasco Alvim ingressou na Escola Militar do Realengo no ano de 1919, e foi declarado aspirante a oficial da arma de Artilharia em janeiro de 1922. Foi sucessivamente promovido aos postos de segundo-tenente (1922), primeiro-tenente (1923) e capitão (1932). Depois de frequentar o curso de estado-maior na École de Guerre da França, entre 1935 e 1937, ascendeu ao posto de major em agosto de 1940.
Quando o Brasil ingressou na Segunda Guerra Mundial, Alvim cursava a Escola de Artilharia do Exército dos Estados Unidos da América, em Fort Sill, Oklahoma. Com a organização da Força Expedicionária Brasileira, foi promovido ao posto de tenente-coronel e designado para comandar o 1º Regimento de Artilharia Pesada Curta, unidade criada em 1943, e designada, durante a guerra, como IV Grupo da Artilharia Divisionária da FEB. Cumpre ressaltar que o IV Grupo hoje é o 11º Grupo de Artilharia de Campanha, Grupo Montese, em referência à batalha de Montese, na qual tomou parte. O Tenente-coronel Alvim esteve à testa de sua unidade durante toda a campanha com liderança e eficiência, e permaneceu no comando até janeiro de 1946.

Depois da guerra, prosseguiu com sucesso em sua carreira e foi promovido a general de brigada em 1956, comandando, sucessivamente, dois dos mais importantes estabelecimentos de ensino do nosso Exército: a Academia Militar das Agulhas Negras e a Escola de Comando e Estado-Maior. Posteriormente, comandou a 9ª Região Militar, com sede em Campo Grande.

Por ocasião da X Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores, na qual instituiu-se uma missão de pacificação no âmbito da Organização dos Estados Americanos para lidar com a guerra civil na República Dominicana, o governo brasileiro indicou o General Alvim para o comando da Força Interamericana de Paz. Sobre a missão, afirmou que era "uma grande experiência internacional, tendo em vista evitar conflitos, mesmo os de ordem interna, como é o caso de São Domingos."

Em novembro de 1964, depois de cumprir com sucesso seu comando na Força Interamericana, Alvim foi promovido ao posto máximo da hierarquia, general de exército, e nomeado chefe do Departamento-Geral do Pessoal, função que desempenhou até 1966, quando passou para a reserva, no posto de marechal. 

Após longeva carreira militar, o Marechal Alvim faleceu no dia 29 de julho de 1978, e seu legado e memória encontram-se preservados no Espaço Cultural Hugo Panasco Alvim, localizado no 11º Grupo de Artilharia de Campanha, unidade que comandou nas duras jornadas da Segunda Guerra Mundial.

Na qualidade de oficial da arma de Artilharia do Exército Brasileiro e de neto de oficial que combateu na Campanha da Itália pela Força Expedicionária Brasileira – o então Tenente Pefani Daróz –, sinto-me extremamente honrado em tornar-me o primeiro ocupante da cadeira nº 19 da Academia, dedicada ao Marechal Hugo Panasco Alvim, comandante de um dos quatro grupos de Artilharia de Campanha pertencentes à Artilharia Divisionária da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, nas difíceis jornadas de 1944-1945.

Devo, por fim, confessar, sob a mais profunda emoção, que recebo a indicação para integrar a Academia de História Militar Terrestre do Brasil como uma grande distinção alcançada em minha atividade de historiador militar, e vejo, nesta investidura, o coroamento de décadas de trabalho em prol do desenvolvimento da História Militar em nosso País.

Finalmente, na condição de descendente direto de febiano e de preservador da história e da memória da FEB, reafirmo um solene compromisso: “A FEB continua fumando, e, se depender de nós, continuará fumando por muito tempo”.

Muito obrigado.

Carlos Daróz – Cel Art 
Doutor em História UFF – Université Libre de Bruxelles


Mais uma oportunidade para contribuir com  novas pesquisas e fortalecer a História Militar em nosso país.

A seguir, algumas fotos do evento.

O colar-insígnia da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMBT)


O editor do Blog Carlos Daróz-História Militar juntamente com o coronel Claudio Moreira Bento, fundador da AHIMBT


O editor do Blog Carlos Daróz-História Militar realizando a saudação ao patrono da Cadeira nº 19, Marechal Hugo Panasco Alvim 


O editor do Blog Carlos Daróz-História Militar após sua posse na AHIMBT/RIO.


O editor do Blog Carlos Daróz-História Militar recebe do Prof. Israel Blajberg, presidente da AHIMBT/RIO, o colar-insígnia e o diploma correspondentes.


Seguimos pesquisando, sempre!

domingo, 8 de outubro de 2023

A BATALHA DE XUZHOU (1948)

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Em 6 de novembro de 1948 começou a batalha decisiva de Xuzhou, na qual os comunistas chineses derrotaram os nacionalistas. Os liderados de Mao Tsé-tung vinham do norte, pressionando o Kuomintang cada vez mais para o sul.

Por Thomas Bärthlein


Na primavera setentrional de 1949, as tropas de Mao Tsé-tung conquistaram quase todo o território continental da China. Cerca de seis meses antes, elas não tinham sequer uma cidade importante sob o seu controle. Mas logo tinham conseguido impor-se através da vitória na batalha de Huaihai, nas proximidades da cidade de Xuzhou, um entroncamento ferroviário de grande importância estratégica na China central. A batalha começou no dia 6 de novembro de 1948 e durou até 10 de janeiro de 1949.

Esta foi a primeira batalha campal desde o início da guerra civil em 1946. Até então, os comunistas haviam empregado uma tática de guerrilha no interior do país. Em Xuzhou, participaram da batalha cerca de 600 mil soldados de cada lado. No final, as tropas de Chiang Kai-shek foram derrotadas de forma aniquilante.

Só existem especulações sobre o número de mortos, feridos e desertores: os arquivos chineses continuam até hoje fechados para a pesquisa por parte dos historiadores. Em janeiro de 1949, os comunistas conquistaram Pequim e Tientsin no norte da China; em abril, cruzaram o rio Yang-tsé, em direção ao sul. O exército de Chiang Kai-shek estava derrotado.

O líder Nacionalista Chiang Kai-shek

Toda a história remontava à década de XX. Na época, Chiang Kai-shek já tinha lutado contra os comunistas. Eles controlavam grandes áreas, mas tiveram de retirar-se para as regiões afastadas do interior, promovendo a famosa "longa marcha".

Veio então a invasão japonesa. Entre 1937 e 1945, as tropas japonesas assolaram a China. Os comunistas e o Kuomintang de Chiang Kai-shek formaram uma "frente de unidade nacional" para combater os japoneses.

Para o sinólogo Thomas Kampen, o equilíbrio na China foi decisivamente abalado durante o período da ocupação japonesa: "Sem a invasão dos japoneses, Chiang Kai-shek teria podido derrotar os comunistas na década de 30. Ele teria podido investir todas as forças nessa luta e teria alcançado o seu objetivo. É preciso levar em conta, por exemplo, que a 'longa marcha' de 1934/35 começou com cem mil comunistas e terminou com dez mil – os comunistas estavam praticamente derrotados!"



Duas consequências

"O ataque japonês resultou em duas coisas: em primeiro lugar, Chiang Kai-shek não pôde mais concentrar-se na luta contra os comunistas; e em segundo lugar, os comunistas puderam fazer um longo trabalho clandestino nas regiões onde estava o exército japonês. Pois o problema para os japoneses era de que não dispunham de tanta tropa, para controlar todo o território. Eles controlavam principalmente as metrópoles e as linhas ferroviárias. E os comunistas podiam fazer a sua mobilização nas áreas rurais."

Isso valeu também na região de Xuzhou, por exemplo. Os comunistas tinham apoio nos povoados da região, pois tinham conquistado prestígio durante a luta contra os invasores japoneses. Já as tropas de Chiang Kai-shek tinham se retirado durante esse período. Thomas Kampen: "A Segunda Guerra Mundial terminou com a derrota do Japão. Mas não se pode dizer que os chineses tenham derrotado os japoneses. O motivo da derrota foi, antes, a bomba atômica etc. Ou seja: um grande problema era o fato de Chiang Kai-shek, seu partido e seu exército serem acusados de não ter combatido os japoneses com determinação. E, por essa razão, eles tinham uma péssima imagem."

Utilizando material bélico capturado, forças comunistas de Mo Tsé-tung avançam contra Xuzhou

Além disso, os soldados de Chiang Kai-shek estavam pouco motivados nessa guerra civil. Muitos não sabiam o porquê da luta contra os comunistas. O que não era de se admirar, pois muitos deles eram camponeses recrutados compulsoriamente, segundo esclarece Thomas Kampen: "Eles não ingressaram voluntariamente no exército, mas foram sequestrados e então incorporados à tropa. Por isso, muitos deles também desertaram".

"Entre os comunistas, uma das prioridades era motivar os camponeses, fazendo com que cooperassem voluntariamente. Na verdade, os comunistas não tinham o poder necessário para fazer um recrutamento compulsório."

Os camponeses – na época, 90 por cento da população chinesa – deveriam sustentar a Revolução, segundo a teoria de Mao Tsé-tung. De fato, num trabalho minucioso de anos de duração, os comunistas conseguiram convencer muitos camponeses a dar apoio às suas reivindicações de reforma agrária.

A longo prazo, a luta pelo poder foi decidida através da péssima imagem do governo e da excelente imagem dos comunistas, tanto em questões nacionais quanto em questões sociais.

O que causa admiração é que os comunistas tenham conseguido enfrentar com êxito as tropas do Kuomintang, equipadas com armamentos americanos. Nem mesmo os soviéticos ajudaram os comunistas chineses com o fornecimento de armas. Pois, tradicionalmente, Moscou mantinha um bom relacionamento com Chiang Kai-shek.

Fonte: DW


sábado, 30 de setembro de 2023

A HISTÓRIA DA INFÂMIA CASTILHISTA

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Por Ricardo Ritzel


A degola de inimigos é um capítulo macabro na história do período revolucionário rio-grandense. Macabro e cruel. Autores estimam que, entre 1893 e 1932, mais de mil combatentes, dos dois lados do conflito, foram executados desta maneira nas guerras e refregas gaúchas.

Mas o número total pode dobrar e até mesmo triplicar se contarmos os infelizes “desaparecidos” ou mortos “com discrição” longe do teatro de operações da guerra civil, como recomendava o presidente do Estado, Julio de Castilhos, para seus subordinados.

Como neste telegrama que o líder republicano enviou para o coronel Madruga, em Cacimbinhas (hoje Município de Pinheiro Machado), interceptado pela inteligência federalista.

– “Adversários não se poupa nem se dá quartel. Remeto armas e munições que pede. […] o inteiro desagravo da república ultrajada requer que, ultrapassados mesmo certos limites, com as devidas cautelas e discrição, sofram pela eliminação, o justo castigo que merecem […]. Castilhos”.

Também entram nessa infame soma os perseguidos políticos que sentiram a faca na garganta durante aquela estranha paz que o Rio Grande do Sul viveu entre uma e outra revolta armada, principalmente de 1895 a 1923. O certo é que não foi o gaúcho que inventou esse tipo de execução, que desde os tempos bíblicos é usada pela “humanidade” como forma de aterrorizar os inimigos.

Assim como é certo que, desde o século XVII, a gauchada do outro lado da fronteira usou e abusou deste recurso perverso para eliminar seus adversários. Tanto no Uruguai como na Argentina.

Alguns até se tornaram tristemente famosos por isto, como Manoel Oribe, o “Tigre de Palermo“, Juan Manuel Rosas, o “Corta Cabezas” e o general Facundo Quiroga, que tinha como lema e bandeira “sangue, terror, barbárie". Todos eles chegaram ao poder, e o exerceram, pela violência e terror. Todos com uma história de crueldade sem igual por estes lados do mundo.

Na verdade, o hábito de matar o adversário cortando a garganta está presente na cultura gaúcha, ou gaucha, desde os tempos coloniais. E foram os próprios exércitos imperiais de Portugal e Espanha que começaram a utilizá-lo com objetivo de dominar pelo medo.

Sepé Tiarajú que o diga, já que tão logo seu corpo caiu morto em Caiboaté, sua cabeça foi arrancada do corpo. E assim também na retomada das Missões, quando as milícias portuguesas usaram e abusaram desta triste prática para por as mãos, o mais rápido possível, nas terras indígenas reivindicadas por Artigas e Andrés Guasurarí para a Liga de Los Pueblos Libres.

Há também relatos de degolas praticadas durante a Revolução Farroupilha (e não foram poucos casos), mas literalmente esquecidas pela historiografia oficial, já que maculava a vida e a obra de alguns de seus principais líderes. Afinal, não fica bem para ninguém ter degolas no currículo.

E também não foram poucos os paraguaios que sentiram o fio de adagas rio-grandenses no pescoço durante a Guerra da Tríplice Aliança. Na verdade, a simples menção que havia tropas gaúchas por perto deixava em pânico a população daquele país, dividida entre o terror de Estado imposto por Solano Lopez e o tratamento dispensado pelas forças de ocupação. Consideravam a gauchada como um bando de bárbaros, tanto que chamavam a lendária cavalaria rio-grandense de “Cavalaria Loca” pelas suas arrojadas manobras em combate e também seu comportamento fora da peleja.


Revolução Federalista

Mas foi na Revolução Federalista de 1893 que a prática de degolar foi aprimorada com requintes de pavor. Tanto que até explicações “científicas”, como era costume se dizer na época, surgiram para justificar tão desumano ato.

“O gaúcho é, essencialmente, um criador de gado que tem maestria no manejo de lâminas. E, assim, vê sangue com naturalidade” diziam uns. “Na guerra de movimentos e de poucos recursos, não há condições de ter e fazer prisioneiros. Então, faca na garganta para economizar munição, tempo e alimentos”, concluíam outros.

Foi aí que surgiu também a classificação da degola, conforme a técnica que era utilizada. A primeira era chamada de crioula, corbata colorada ou castelhana: quando a faca passava, com um só corte, de uma orelha a outra do condenado. A segunda, conhecida como brasileira, ou científica, quando simplesmente faziam dois pequenos cortes exatamente sobre as carótidas do vivente, para verem a criatura se debater, alucinada, tentando segurar o próprio sangue. E, com o domínio dessas duas técnicas básicas, começaram a surgir nomes que se tornaram tristemente famosos, como dos maragatos Adão Latorre, coronel Furião, coronel Juca Tigre, Cezário Saravia e o uruguaio “El Rengo”, entre outros rebeldes menos conhecidos.

Os coronéis maragatos Adão Latorre e Manuel Rodrigues de Macedo (Fulião) também colocaram seus nomes na triste lista dos mais famosos degoladores


Aliás, não foram poucos que se alistaram nas tropas revolucionárias simplesmente para vingar um familiar ou ente querido morto desta maneira pela repressão castilhista. Talvez por isto, os pica-paus tenham uma lista bem maior de nomes inscritos na triste “arte” da gravata colorada. Afinal, ela era incentivada pelo Estado.

Foi assim com Xerengue, tenente Chachá Pereira, tenente Corbiniano, tenente-coronel João Alves, coronel João Francisco (também conhecido como a Hiena do Caty) e o mais famoso e também o maior degolador da revolta, o general cruz-altense Firmino de Paula.

Até 1893, antes mesmo de o conflito ser deflagrado, Firmino já tinha um longo histórico de violências e atrocidades contra adversários políticos na região do Planalto Médio gaúcho, como nos conta o historiador Rossano Cavalari, em seus livros já clássicos: Cruz Alta – Ninho de Pica-Paus e Os Olhos do General. Mas foi no Boi Preto, em abril de 1894, que ele foi alçado à fama de o maior degolador da revolução.

A história começa quando chefe federalista de Palmeira das Missões, Ubaldino Machado, reúne uma tropa de cerca de 400 combatentes e toma o rumo de Santo Ângelo. Nas imediações daquela cidade missioneira, travam combate com cerca de 300 legalistas e os vencem sem muito esforço, deixando mais de 40 inimigos mortos e outros tantos em uma corrida sem igual até Cruz Alta, cidade conhecida como um verdadeiro ninho de pica-paus. E lá, a Divisão do Norte, que vinha em perseguição a Gumercindo Saraiva, toma conhecimento do fato e também da localização e direção da coluna maragata de Ubaldino. Na mesma hora, o então coronel Firmino de Paula se separa do grosso da tropa e parte em busca dos rebeldes. No caminho, encontra e aprisiona um piquete de retaguarda de Ubaldino, descobrindo então, o local exato onde suas forças estão acampadas: o Boi Preto, na periferia de Palmeira.

1895 – Cavalaria do coronel João Francisco Pereira de Souza, a ‘Hiena do Caty’. Maragato que entrava vivo neste quartel, não saía vivo


Depois, degola todos os integrantes do piquete maragato e parte em direção ao acampamento rebelde. Naquela mesma noite, sem saber da iminente chegada de Firmino e sua gente e ainda acreditando no boato que não haveria mais combates e um tratado de paz seria assinado por aqueles dias, os revolucionários promovem um grande churrasco com a presença de mulheres “de vida fácil” e muito trago. Às cinco horas da madrugada, o líder pica-pau cruz-altense surpreende o acampamento de “borrachos” e ressacosos e os encurrala abaixo de tiros. No raiar do dia, e com garantias de vida, 370 maragatos se rendem e são amarrados com tiras de couro. Todos são obrigados a assim marcharem até Cruz Alta. No caminho, os prisioneiros foram sendo degolados e abandonados na beira da estrada para servirem de exemplo a outros rebeldes que ousassem passar perto daquela cidade.

As mortes não lhe perturbavam, nem os pedidos de clemência de um dos prisioneiros implorando insistentemente para ser solto. Era um primo-irmão de Firmino, Arthur Beck, que lhe serviu de enfermeiro determinada vez em Santa Maria, e que noutra vez, salvou seu filho de uma tenaz enfermidade. Firmino não lhe dirigiu o olhar, continuou imóvel, como em um êxtase macabro. Segundos depois, acelera o galope do cavalo e, ao se aproximar de seus imediatos, faz o fatídico sinal com a mão direita, cruzando-a pelo pescoço. Mais um lote de prisioneiros seria degolado. Entre eles, Arthur Beck, o seu "primo-irmão”, descreveu Rossano Cavalari.

E desta maneira, aos lotes, foram mortos os 370 prisioneiros rebeldes. Trinta perto do Boi Preto; Na Porteira, mais de cem; em Olhos D’Água, próximo a Cruz Alta, outros 140 homens; além de grupos de 10 a 20 prisioneiros que foram sendo deixados pelo caminho com a garganta cortada e cartazes o identificando-os como maragatos. E com ordens expressas de não removerem os cadáveres. Era exatamente o dia 5 de abril de 1894. Ao chegar a Cruz Alta, Firmino ainda enviou um cabotino telegrama a Julio de Castilhos, contando detalhes do fato:

Hoje, às 5 da manhã, bati em combate Ubaldino acampado em Boi Preto, morrendo 370 dos 500 maragatos, muitos deles oficiais […]. Não houve mortes entre nossa gente.  
Coronel Firmino de Paula, comandante da 5ª Brigada da Divisão do Norte.”

Não havia 500 guerrilheiros inimigos e também é difícil imaginar um combate com 370 mortos de um lado e nenhum do outro. Mesmo nas piores condições de guerra.

Firmino ainda veio a colocar seu nome em outro triste episodio da revolução de 1893. Quando Gumercindo Saraiva é atingido por dois tiros nos campos do Carovi e vem a morrer entre os chapadões da Estância Santiago, hoje Município de Bossoroca, ele foi um dos responsáveis pela exumação do corpo do mais famoso general maragato no Cemitério dos Capuchinhos, sua decapitação e o envio de sua cabeça para Porto Alegre como troféu de guerra para Julio de Castilhos.

Firmino de Paula, o general cruz-altense está diretamente ligado a nada menos que 1.070 degolas durante a Revolução Federalista de 1893-95.


E, mais triste ainda, sua Brigada caçou, maneou e amarrou pelo pescoço cerca de 800 maragatos (entre eles, muitas mulheres e crianças) que desertaram das fileiras revolucionárias logo após a morte de Saraiva. Sem muita demora, todos foram sumariamente degolados em frente a soldadesca ensandecida, também sob suas ordens expressas. Foi, então, que a fama de Firmino se espalhou pela Pampa. A má fama de degolador.

E esta horrenda prática também foi registrada na Revolução de 1923. Mas, em todo, em número bem menor que as de 1893-95. Muito por Flores da Cunha e Honório Lemes, dois dos maiores líderes daquela refrega, coibirem energicamente a degola de inimigos entre suas forças.

Não houve relatos de degolas nas revoluções de 1924, 25 e 26. E pelo menos uma degola durante a Revolução de 1930. Está aconteceu na divisa dos Estados do Paraná e São Paulo, onde forças paulistas faziam uma encarniçada e resistente defesa do território.

Conta a história que, quando combatentes gaúchos conseguiram entrar em uma das inúmeras trincheiras do inimigo, um combatente paulista se rendeu depois da morte de todos seus colegas. Logo depois, foi degolado na frente de seus companheiros de armas que, aterrorizados com a barbárie, saíram em uma fuga tresloucada.

Como era de hábito, o episódio foi “esquecido” pela historiografia oficial. Afinal, é a história da infâmia nas guerras gaúchas.


Fonte: claudemirpereira.com.br


sábado, 23 de setembro de 2023

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - VOLUNTÁRIA DA PÁTRIA MARIANA BARRETO

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A Pernambucana Mariana Amália do Rego Barreto foi enfermeira de campo dos Voluntários da Pátria durante a Guerra do Paraguai. 


* 17/1/1846 - Vitória do Santo Antão-PE

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Filha do capitão Joaquim Pedro do Rego Barreto, sobrinha do tenente-coronel Manoel Joaquim do Rego e prima do Conde da Boa Vista, Mariana Amália do Rego Barreto nasceu em Vitória do Santo Antão, Pernambuco, no dia 17 de janeiro de 1846. 

Com a criação dos Voluntários da Pátria pelo imperador Pedro II, em janeiro de 1865, a fim de mobiliar com efetivos o Exército Imperial e combater as forças paraguaias de Solano López, diversos cidadãos brasileiros se apresentaram para a guerra. Em Vitória de Santo Antão foi nomeada uma comissão para arregimentar os voluntários, composta pelo tenente-coronel Pedro Bezerro Pereira de Araújo Beltrão, major Manoel Cavalcanti de Albuquerque Sá e capitão Aristides Carneiro da Cunha Albuquerque.


Acompanhada do irmão Sidrônio Joaquim do Rego Barreto, ao anunciar na Imprensa local que iria para o campo de batalha como enfermeira, Mariana, então com 18 anos de idade, ganhou fama de heroína em sua cidade natal. Chegou a ser homenageada no teatro Santa Isabel do Recife, saudada por  grande público, além de ser recebida pelo então presidente da Província, o Marquês de Paranaguá, onde assistiu um grande espetáculo de poesias em sua homenagem. 

No dia de sua partida da cidade de Vitória, a jovem Mariana Amália, vestida com saiote amarelo bordado de verde, e tendo no braço a estrela de 1º cadete, postou-se à frente de seus conterrâneos, e pronunciou a seguinte alocução, que foi publicada no Diário de Pernambuco

“Briosa corporação da Guarda Nacional, bravos Vitorienses, vou partir para a guerra. O brado da pátria, tão ultrajada, ecoou em meu peito. As atrocidades praticadas pelo mais requintado canibalismo que o mundo já viu, transpôs-se ao natural acanhamento do meu sexo, e me apresentei Voluntária da Pátria para, no campo de batalha, debelar essas hordas de infames paraguaios que tão ousadamente profanam o solo brasileiro, manchando o brilho de suas fulgurantes estrelas do Império da Santa Cruz, nossa Cara Pátria. Adeus, Adeus vitorienses! Espero que não serei esquecida de vós, e vos peço que por essa última vez entoeis comigo: Viva a Religião Católica Romana! Viva Sua Majestade o Imperador Viva o Sr. Presidente da Província, Viva os Pernambucanos, Amantes da Pátria!”

A jovem voluntária da Pátria Mariana Barreto 

Atendeu a milhares de feridos nos campos de batalha do Paraguai entre 1865 a 1868. Mariana Sobreviveu à guerra e, após o término do conflito, foi morar em Jaboatão dos Guararapes com a família, onde fez parte do Movimento Abolicionista. Agindo com equilíbrio e moderação, Mariana Amália conseguiu convencer os senhores de engenho em Vitória de Santo Antão que dessem cartas de alforria aos seus escravos. 

O ano de sua morte é desconhecido. Em sua homenagem, a principal avenida de sua cidade natal e uma escola do município receberam o seu nome.

Fonte: História da Vitória de Santo Antão e portal Nossa Vitória


sexta-feira, 8 de setembro de 2023

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR – GENERAL HATAZŌ ADACHI

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* 17/6/1890 - Ishikawa, Japão

+ 10/9/1949 - Rabaul, Nova Bretanha


O tenente-general Hatazō Adachi pertenceu ao Exército Imperial japonês, e é conhecido por sua participação na Segunda Guerra Sino-Japonesa e na Campanha da Nova Guiné, durante a Segunda Guerra Mundial.


Demasiado pobre para pagar as escolas preparatórias militares necessárias para uma carreira na Marinha Imperial Japonesa, ainda jovem prestou o concorridíssimo concurso para a Academia de Cadetes de Tóquio e foi aprovado, o que lhe permitiu entrar na Academia Imperial do Exército japonês, onde se formou na 22ª turma, em 1910.

Adachi serviu com a 1ª Divisão de Guardas Imperiais, e depois se formou na 34ª classe da Escola de Guerra do Exército, em 1922. Ao contrário de muitos oficiais de seu tempo, Adachi evitou o envolvimento nas facções políticas que atormentaram o exército japonês nos anos 1930. Depois de servir em uma série de funções administrativas dentro do Estado-Maior do Exército Imperial japonês, Adachi foi designado para a unidade da Guarda Ferroviária do Exército Kwangtung, responsável pela segurança da South Manchuria Railway em 1933.


Guerra Sino-Japonesa

Adachi foi promovido a coronel em 1934, e nomeado comandante do 12° Regimento de Infantaria em 1936. Durante o incidente de Xanghai, em julho de 1937, Adachi ganhou a reputação de conduzir suas tropas com bastante liderança, lutando sempre onde a luta era mais intensa. Foi ferido por uma barragem de morteiro em setembro, a qual deixou sequelas permanentes em sua perna direita.

Foi promovido a general no princípio de 1938 e designado comandante da 26ª Brigada de Infantaria. Adachi tinha a reputação de ser um "soldado-general", compartilhando as condições de vida miseráveis de suas tropas e sendo receptivo a discussões abertas e francas com seus oficiais e pessoal.

Promovido a tenente-general em agosto de 1940, foi comandante da 37ª Divisão na Batalha de Shanxi do Sul. Em 1940, tornou-se chefe do Estado-Maior do Exército da Área da China do Norte, entre 1941-1942, durante o auge de suas campanhas de terra arrasada contra as forças chinesas.


Segunda Guerra Mundial

O tenente-general Adachi comandou as forças japonesas na Nova Guiné desde o ano de 1942 até ao término da Segunda Guerra Mundial. Assumiu o comando do XVIII Exército após a morte do tenente-general Tomitaro Horii, em 23 de novembro de 1942, e liderou um exército que se encontrava já em retirada. Enquanto as forças aliadas faziam intenso uso do poder aéreo e naval para isolar a grande base militar japonesa em Rabaul, as tropas nipónicas viram-se forçadas a recuar ao longo da Trilha Kokoda para Buna-Gona.

Ao contrário de seus colegas menos afortunados, isolados em pequenas guarnições na ilha, Adachi foi capaz de realizar um prolongado retraimento de das suas forças. Em janeiro de 1943 o general desocupou Buna e retornou para Sio, na Península de Huon, permanecendo por lá até ao ano seguinte. No início de 1944 o general Douglas MacArthur forcou a evacuação de Sio e da Pensínsula de Huon. Cerca de 14 mil homens foram evacuados da península, alguns dos quais tiveram que fazer uso de barcaças nas zonas costeiras, enquanto outros foram forçados a realizar longas marchas para fora da área.

O XVIII Exército acabou por se ver obrigado a regressar a Wewak, na costa norte da Nova Guiné, onde permaneceu isolado até ao fim da guerra. Adachi protagonizou duas tentativas de sair da capital de East Sepik. A mais severa delas conseguiu retirar de cerca de 31 mil homens para fora de Aitape (julho-agosto de 1944), contudo o fracasso deste importante esforço convenceu Adachi de que qualquer outra tentativa de fuga seria em vão, principalmente porque a linha da frente japonesa estava forçada a afastar-se cada vez mais longe da sua posição.

Adachi e o XVIII Exército acabaram por se render a 13 de setembro de 1945. Mas, a esta altura, apenas 13.500 homens dos 65 mil que compunham a sua força inicial, ainda se encontravam vivos, os quais sofreram terrivelmente durante o longo cerco de Wewak.

Adachi rende seu XVIII Exército ao general australiano Horace Robertson

No final da guerra, Adachi foi levado sob custódia pelo governo australiano e acusado de crimes de guerra, em conexão com maus-tratos e execução arbitrária de prisioneiros de guerra. Apesar de não estar pessoalmente envolvido em nenhuma das atrocidades mencionadas, Adachi insistiu em absorver a responsabilidade de comando pelas ações de seus subordinados durante o tribunal militar, e foi condenado à prisão perpétua.

No dia 10 de setembro de 1947, Adachi se matou em seus aposentos com uma faca, no complexo dos prisioneiros de Rabaul.


segunda-feira, 21 de agosto de 2023

LIVRO CONTA A HISTÓRIA DAS MULHERES QUE PILOTARAM AVIÕES NA 2ª GUERRA MUNDIAL

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Acaba de chegar às livrarias britânicas um lançamento com relatos históricos sobre a coragem de pilotos de aviões de combate durante a Segunda Guerra Mundial.


No entanto, o livro, escrito pela jornalista britânica Jacky Hyams, se diferencia de outros do gênero num ponto: os cinco pilotos que enchem suas páginas com depoimentos são mulheres.

Muitos se surpreendem ao saber que havia mulheres pilotos. Elas não eram muitas e não participavam de batalhas, mas pilotavam os aviões dentro da Grã Bretanha, entre fábricas, unidades de manutenção e, a partir destas, para os pilotos nas frentes de batalha.


O livro de Hyams, intitulado The Female Few: Spitfire Heroines of the Air Transport Auxiliary, é um tributo às "heroínas" que trabalhavam para o órgão que dava suporte aos transportes aéreos no país, o Air Transport Auxiliary - ou ATA.

"Um total de 1.245 pilotos e engenheiros voavam para o Air Transport Auxiliary", disse Hyams à Rádio 4 da BBC. "Destes, 15%, ou 168, eram mulheres".


Aventura

Entre elas, estava a ex-piloto Joy Lofthouse, hoje com 89 anos. Com voz firme e cheia de vida, ela também falou à Rádio 4. "Comecei em 1943", disse Joy Lofthouse. "Faltavam pilotos qualificados e eu vi um anúncio em uma revista dizendo que eles estavam oferecendo treinamento. Então, me inscrevi. Eu nem sabia dirigir carros, mas consegui ser selecionada."

Lofthouse disse que sua principal tarefa era pilotar Spitfires, mas explicou que pilotou um total de 18 modelos diferentes, a maioria monomotores. "Meu favorito era o Spitfire. Era um aviãozinho tão compacto, fácil de manobrar, suave no toque, era como se (o próprio piloto) tivesse asas e pudesse voar."


Jay Lofthouse não sabia dirigir carros

As mulheres eram pilotos civis mas, tecnicamente, voavam dentro da Royal Air Force - a Força Aérea britânica. Sua função era pegar os aviões na fábrica e levá-los às unidades de manutenção onde eram equipados com rádios e armas. Por conta disso, tinham de pilotar qualquer avião que aparecesse - mesmo os modelos que nunca haviam pilotado antes.

"Tínhamos uma pasta chamada Ferry Pilot’s Notes (notas do piloto de transporte)", contou Lofthouse. "Se você se deparava com um avião que nunca tinha pilotado antes, abria a página correspondente na pasta e ela dizia exatamente as velocidades de decolagem, de aterrissagem, de perda de sustentação - quase tudo o que você precisava saber.  Eu acho que não era muito diferente do que você entrar em carros de marcas diferentes hoje em dia. Não parecia muito difícil", disse a ex-piloto.

Apesar da modéstia de Lofthouse e das outras pilotos entrevistadas, Hyams ressalta que o trabalho que faziam não era seguro de maneira alguma.  "O tipo de voo que faziam seria considerado impensável hoje", explicou. "Na maior parte do tempo, voavam às cegas (sem instrumentos) e no terrível clima inglês, ou seja, se você entrasse em uma nuvem ruim, podia se ver em grave perigo".

Além disso, elas voavam sem rádio. De fato, de um total de 173 pilotos da ATA mortos durante a guerra, 16 eram mulheres.


Destemidas

Uma das entrevistadas por Hyams, a ex-piloto Mary Ellis, contou que uma amiga que trabalhava para a ATA morreu em serviço.  Ellis pilotava um avião levando uma engenheira como passageira quando a aeronave caiu. Ela escapou com vida, recebeu alguns dias de folga para se recuperar e logo estava de volta pilotando.


Diane Barnato-Walker embarcando em um avião para mais uma missão de transporte


Em seus depoimentos, as pilotos contaram que não havia ressentimento ou atitudes machistas por parte dos homens na época. Ao contrário. Às vezes, quando um avião aterrissava e uma mulher saía da cabine do piloto, notava-se nos homens um sentimento de admiração, elas disseram.  Até porque, em certas ocasiões, as mulheres pilotavam sozinhas aviões que normalmente eram tripulados por até cinco homens.

Mas as pilotos explicaram que quando voavam tinham de se concentrar tanto no que faziam que não sobrava tempo para sentir medo. "Éramos tão jovens, nada nos assustava naquele tempo", contou Lofthouse.  "Era tudo parte do esforço de guerra e sentia que tinha muita sorte em poder fazer algo tão recompensador.  Eu teria adorado se pudesse ter continuado a voar, pilotando aviões mais velozes e maiores, mas a guerra terminou antes de que eu pudesse fazer isso."


 Aviadoras do ATA em seus trajes de voo


Lição de Vida

Refletindo sobre o período, Lofthouse acha que a experiência fez dela e das colegas pilotos pessoas mais aventureiras. "Meu lema, mais tarde, era: melhor fracassar do que lamentar.  Você sentia que podia encarar a vida e lidar com qualquer situação, porque tinha feito coisas como essas durante a guerra."

Ela confessou, no entanto, que sentiu muita saudade quando tudo terminou. "Quando tive de deixar todos os meus amigos e toda essa empolgação para trás, me perguntei: 'O que vou fazer com o resto da minha vida’?
 
Fonte: BBC


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