"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

COMO HOMENAGEAR SEUS HERÓIS? E SUAS HEROÍNAS? AS AVIADORAS NAVAIS DOS EUA HONRAM UMA DE SUAS PIONEIRAS



Conheça as mulheres aviadoras que realizarão o primeiro voo exclusivamente feminino para honrar a vida e o legado de uma pioneira feminina na aviação naval, capitão da Marinha Rosemary Mariner, falecida nesta semana.


Como um país homenageia seus heróis?  Ou melhor, como homenageia suas heroínas?

No momento em que sepultam uma das mulheres pioneiras de sua aviação naval, os Estados Unidos da América dão um exemplo de respeito e honra.

Diante do falecimento da Capitão Rosemary Mariner, uma das primeiras aviadoras de sua Marinha, o país escalou uma equipe unicamente formada por mulheres para realizar o voo chamado Flyover (“voo sobre”), no momento exato do sepultamento com honras militares.

Uma equipe constituída unicamente por mulheres aviadoras realizará o primeiro Flyover exclusivamente feminino para honrar a vida e o legado de uma pioneira na aviação naval, a capitão da Marinha Rosemary Mariner, que foi a primeira piloto feminina da Marinha, pilotando as aeronaves A-4E/L Skyhawk e o A-7E Corsair II.

As oito mulheres, guarnecendo quatro aeronaves, conduzirão o "Voo do Homem Desaparecido" no próximo sábado, 2 de fevereiro, em Maynardville, Tennessee, como parte do funeral da capitão Rosemary Mariner, que faleceu em 24 de janeiro, após uma longa e corajosa batalha contra o câncer.

O "Vôo do Homem Desaparecido" é uma das tradições das forças armadas dos EUA e uma homenagem especial entre os aviadores que morreram servindo seu país.  A manobra caracteriza-se pela passagem baixa (voo rasante) em formação sobre o funeral, quando a aeronave líder deixa a formação e sobe verticalmente para o céu. 

F/A-18E Super Hornet, da Marinha dos EUA, a aeronave voada na homenagem

Pela primeira vez na história dos EUA, todas as aviadoras participantes da homenagem serão exclusivamente mulheres da Marinha e estarão pilotando caças F/A-18E/F Super Hornet.

O que as BRUXAS DA NOITE têm a ver com isso?  As aviadoras soviéticas abriram o caminho para que, muitos anos mais tarde, as mulheres pudessem brilhar como protagonistas da atividade aérea militar.

Essa homenagem, extremamente significativa, em um momento no qual as mulheres se afirmam profissionalmente para ocuparem seu lugar de direito, reafirma a experiência soviética da Segunda Guerra Mundial, que colocou as mulheres nos controles das aeronaves de combate na linha de frente contra os nazistas.

Conheça cada uma dessas oito aviadoras navais contemporâneas, experientes mulheres com experiência de combate, que participarão da homenagem.


Comandante Stacy “Stigs” Uttecht
Oficial comandante do Esquadrão de Caça de Ataque 32 (VFA-32)


A comandante Uttecht graduou-se no Instituto Tecnológico da Virginia no ano 2000 e conquistou seu brevê de aviadora naval dois anos mais tarde. Ela qualificou-se e voou com o F-14 Tomcat e o F/A-18F Super Hornet, contabilizando mais de 3.500 horas de voo, sendo 1.220 em combate, e mais de 400 pousos em porta-aviões.  A comandante Stacy Utrecht assumiu o VFA-32 em janeiro de 2018, tornando-se a segunda mulher a liderar uma unidade de F/-18


Comandante Leslie "Meat" Mintz
Subcomandante do Esquadrão de Caça de Ataque 213 (VFA-213) 


Formou-se na Universidade da Virgínia em 2000, com  bacharelado em Engenharia de Sistemas. Recebeu suas asas de ouro de aviadora naval em 2002 e pilota o F/A-18F Super Hornet.  Ela completou o treinamento da Escola de Armas de Caça da Marinha (Top Gun) e participou da Operação Enduring Freedom, no Iraque. A comandante Mintz acumula mais de 2.800 horas de voo.


Tenente-comandante Paige "PUFN" Blok
Esquadrão de Caça de Ataque 32 (VFA-32)


Graduou-se em 2007 na Academia Naval dos EUA, com especialização em Oceanografia. Tornou-se aviadora naval em agosto de 2009 e voou tanto o F/A-18C Hornet e o F/A-18F Super Hornet. Ela possui mestrado  em Engenharia Aeronáutica e Aeroespacial e um MBA pelo Massachusetts Institute of Technology. 


Tenente-comandante  Jennifer "Cujo" Hesling


Jennifer  Hesling formou-se na Academia Naval dos Estados Unidos em 2008 com licenciatura em Engenharia Aeroespacial. Ela conquistou suas asas de ouro em 2010 e  completou 40 missões de combate, além de tornar-se instrutora de voo no F/A-18F Super Hornet. A comandante Hesling é mãe de duas filhas gêmeas.


Tenente-comandante  Danielle "Purple" Thiriot
Esquadrão de Caça de Ataque 106 (VFA- 106)


Danielle Thiriot formou-se em 2007 na Universidade de Harvard e tornou-se aviadora naval em maio de 2010. Ela liderou mais de 25 missões de combate no F/A-18F e voou no Esquadrão de Demonstração Tática do Super Hornet, se apresentando em shows aéreos nos EUA e no Canadá. Thiriot recentemente completou um período no Pentágono, em Washington, como assistente do Chefe de Operações Navais, almirante John Richardson. Em março de 2019, trabalhará como chefe de departamento no esquadrão VFA-143, “Pukin dogs”.


Tenente Christy "Buzz" Talisse
Esquadrão de Caça de Ataque 211 (VFA- 211)


A tenente  Christy "Buzz" Talisse formou-se na Academia Naval dos Estados Unidos em 2013, com diploma em Economia. Ela completou recentemente um período a bordo do porta-aviões USS Harry S. Truman em apoio à Operação Inherent Resolve e Dynamic Force Employment, com o esquadrão  VFA-211.


Tenente Amanda "Stalin" Lee
Esquadrão de Caça de Ataque 81 (VFA- 81)


Amanda graduaou-se como marinheira no Comando de Recrutamento e Treinamento dos Grandes Lagos em 2007. Sua carreira de sucesso como Técnica de Eletrônica de Aviação levou à sua seleção no Programa de Comissionamento “de Marinheiro a Almirante” (STA-21). Lee é bacharel em Bioquímica pela Universidade Old Dominion e tornou-se aviadora em abril de 2016. Completou recentemente uma comissão a bordo do porta-aviões USS Harry S. Truman, em apoio à Operação Inherent Resolve, além de participar de numerosos exercícios com os Aliados da OTAN.


Tenente Emily "Gong" Rixey
Escola de Armas de Caças de Ataque do Atlântico


Emily Rixey formou-se na Academia Naval dos Estados Unidos em 2012, com licenciatura em Engenharia Aeroespacial. Ela pilota o F/A-18F Super Hornet e é graduada na principal escola de armas de caça da Marinha (Top Gun). Após a formatura,foi designada como instrutora de tática aérea na  Escola de Armas de Caças de Ataque do Atlântico.


Tenente Kelly "Stoner" Harris
Esquadrão de Caça de Ataque 213 (VFA- 213)


A tenente Harris é graduada em 2010 pelo Brevard College. Ela entrou na Marinha  em outubro de 2013, por meio da escola de Candidatos a Oficial, em Newport, Rhode Island, e foi designada aviadora naval em março de 2016. Em dezembro de 2017, Harris foi transferida para seu primeiro esquadrão operacional, o VFA-213, onde atuou no porta-aviões USS George H.W. Bush. Ela voou vinte e cinco missões de combate em apoio à Operação Inerente Resolver, no Iraque e na Síria. A tenente Harris possui mais de 500 horas de voo no F/A-18F e tem, em seu currículo, mais de cem pousos em porta-aviões.

A homenageada, capitão Rosemary Mariner, uma das pioneiras da aviação naval dos EUA, falecida em 24 de janeiro.  Honre e respeito prestadas por aviadoras mulheres.

Fonte: Marinha dos EUA 


HISTÓRIA MILITAR NA FRANÇA - MUSEU NACIONAL DA LEGIÃO DE HONRA

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Dando continuidade às pesquisas nos locais e monumentos que fazem referência à história militar na França, o editor do Blog Carlos Daróz – História Militar visitou o Museu Nacional da Legião de Honra e da Ordem de Cavalaria.


O museu, dedicado às condecorações e, especialmente, à Legião de Honra da França, está localizado no 7e arrondsment de Paris, ao lado do Museu d'Orsay, às margens do rio Sena. 

A Ordem Nacional da Legião de Honra (Ordre National de la Légion d'Honneur) é uma condecoração honorífica francesa que foi instituída em 20 de maio de 1802 por Napoleão Bonaparte, para recompensar os méritos de eminentes militares ou civis à nação. Ordem máxima da nação francesa, possui um limite de apenas 75 membros vivos entre os grã-cruzes da ordem. Os graus mais comuns da ordem são os de cavaleiro e oficial. O chefe de Estado, hoje o presidente da república, recebe a grã-cruz e se torna grão-mestre da ordem durante a cerimônia de posse presidencial.


A evolução da Legião de Honra através do tempo

O museu está localizado num palacete chamado Hôtel de Salm, construído em 1782 pelo arquiteto Pierre Rousseau para Frederick III, príncipe de Salm-Kyrburg. O local foi queimado em 1871 na Guerra Franco-Prussiana e depois restaurado. Desde 1804 é considerado o Palácio da Legião de Honra, mas foi somente em 1925 que o local se transformou em museu, exibindo as honrarias francesas, medalhas, condecorações, e ordens de cavaleiros de Luís XI até o presente. Inclui também medalhas e honrarias de Napoleão, além de 300 quadros. 

O editor do Blog Carlos Daroz-História Militar realizando pesquisa no museu

O museu organiza regularmente exposições de grandes porte, bem como exposições-dossiers interessantes, exibindo condecorações e medalhas de outros lugares do mundo ou que ficam, normalmente, guardadas longe dos olhos do público. Cada país tem seu espaço e o material é mostrado de forma clara e organizada.

Na sala das condecorações estrangeiras, o colar da Ordem Nacional do Mérito, a maior honraria concedida pelo governo brasileiro

Uma sala interativa no museu exibe perfis de alguns dos homens e mulheres que foram agraciados com a Legião de Honra, incluindo Charles Chaplin, que foi feito cavaleiro em 1931, oficial em 1952 e comandante em 1971.

Quadro de Georges Guynemer, o maior aviador francês da 1ª Guerra Mundial, um dos recipiendários da Legião de Honra

Na década de 1950 havia mais de 300.000 membros da Legião de Honra. Para manter o prestígio, o código da Legião foi revisto e limitou-se a adesão para 125.000 membros, com isso uma segunda ordem nacional, a Ordem Nacional do Mérito, foi criada em 1963.

Águia do 2º Regimento de Infantaria francês do Período Napoleônico

Insígnia presidencial utilizada por Charles de Gaulle



terça-feira, 29 de janeiro de 2019

MORRE A CAPITÃO ROSEMARY MARINER, UMA DAS AVIADORAS NAVAIS PIONEIRAS DOS EUA

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Faleceu, no último dia 24, a Capitão Rosemary Mariner, uma das pioneiras da Aviação Naval dos EUA.

Rosemary Bryant Mariner foi uma das seis primeiras mulheres a receber as asas de Aviadora Naval dos Estados Unidos, em 1974.  Ela foi a primeira aviadora militar feminina a assumir o comando de uma esquadrão aéreo operacional.

Mariner nasceu Rosemary Ann Merims e cresceu em San Diego, Califórnia, com um grande interesse em aeronaves e voos.  Em sua juventude, trabalhou lavando aeronaves para ganhar dinheiro para aulas e horas de voo.  Ela se formou na Universidade Purdue, em dezembro de 1972, aos 19 anos, com um diploma em Tecnologia da Aviação. Rosemary qualificou-se como engenheira de voo pela FAA (Administração federal de Aviação dos EUA) e como piloto antes de se juntar à Marinha. Enquanto esteve na Marinha, Mariner obteve um mestrado em Estratégia de Segurança Nacional pelo National War College.

Rosemary Mariner realizando um check operacional antes de decolar com um S-2 Tracker em 1988

Rosemary Bryant Mariner ingressou no Serviço Naval em 1973, depois de ter sido selecionada como uma das oito primeiras mulheres a entrar no treinamento de pilotos militares. Completou a Escola de Candidatos a Oficial em Newport, e depois seguiu para Pensacola, para treinamento de voo.  Ela formou-se aviadora naval em junho de 1974, uma das seis primeiras mulheres a receberem as asas douradas da Marinha dos Estados Unidos. As outras cinco foram Barbara Allen Rainey, Jane Skiles O'Dea, Judith Ann Neuffer, Ann Marie Fuqua e Joellen Drag. Mariner foi uma das primeiras aviadoras militares do sexo feminino a voar aviões a jato tático –  o A-4E/L Skyhawk, em 1975.  Em 1976, qualificou-se para voar o A-7E Corsair II, tornando-se a primeira mulher nos EUA a pilotar um avião de ataque leve de linha de frente.

Em 1990, Mariner tornou-se a primeira mulher militar a comandar um esquadrão de aviação operacional. Durante a Operação Tempestade no Deserto, em 1991, ela comandou o Esquadrão Tático de Guerra Eletrônica Trinta e Quatro (VAQ-34).  Mariner foi presidente da organização Women Military Aviators, entre 1991 e 1993.

Rosemary  Mariner passou para a reserva no posto de capitão no final de 1997, depois de vinte e quatro anos de serviço militar, uma veterana com dezessete pousos em porta-aviões, e contando mais de 3.500 horas de voo, em quinze aeronaves navais diferentes.


A carreira de Mariner é detalhada em vários livros, incluindo Crossed Currents: Navy Women from World War I to Tailhook, Women in the Military: An Unfinished Revolution, Tailspin: Women at War in the Wake of Tailhook, e Ground Zero: The Gender Wars in the Military.

Rosemary Mariner morreu em 24 de janeiro de 2019, aos 65 anos de idade.


domingo, 27 de janeiro de 2019

ENTREVISTA: ANTONY BEEVOR - "AS EXECUÇÕES DE PRISIONEIROS PELOS AMERICANOS É UM ASSUNTO TABU"

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O historiador militar inglês revela em seu novo livro que o exército americano praticava fuzilamentos sumários como os alemães e que a união dos Aliados não impediu que britânicos e americanos discutissem feio


Por Luiz Antônio Giron

História militar é um gênero peculiar de historiografia. O historiador que se dedica ao tema em geral vasculha um número enorme de arquivos e recolhe depoimentos que, aparentemente, não alteram muito a interpretação de fatos do passado bélico. Mas é justamente nesses detalhes que reside a distinção do historiador militar do historiador habitual. Um dado quase imperceptível por estes é capaz de mudar a visão daquele em relação ao tema que pesquisa. 

O inglês Antony Beevor, de 71 anos, é um desses vasculhadores de bancos de dados e bibliotecas capaz até mesmo de inverter a concepção de alguns episódios da Segunda Guerra Mundial. São dele os livros “Stalingrado”, “Berlim 1945: A Queda” e “A Segunda Guerra Mundial”, um dos volumes mais completos e atualizados sobre o tema. Seu novo livro, “A Batalha das Ardenas: A Cartada Final de Hitler”, de 2015, acaba de ser lançado no Brasil pela editora Planeta.

Mais uma vez, Beevor apresenta pequenos grandes detalhes inéditos. A ofensiva que envolveu Aliados e Eixo na tríplice fronteira da Bélgica, França e Luxemburgo, entre dezembro de 1944 e janeiro de 1945, passou à história como uma campanha coadjuvante da tomada de Berlim pelo Exército Vermelho. Beevor demonstra, porém, que a Batalha das Ardenas propiciou o avanço soviético, pois abalou os recursos do exército alemão e eliminou suas reservas de soldados experientes. Não apenas: o autor revela que foi a batalha mais sangrenta no front ocidental, a ponto de ter comprometido a reputação de exército ético alimentada pelos americanos. 

Conforme Beevor, o exército americano fuzilou sumariamente prisioneiros com crueldade semelhante aos inimigos nazistas – estes, sim, já conhecidos pela selvageria.  Nesta entrevista exclusiva, Beevor conta que escolheu as Ardenas como objeto de pesquisa para fazer uma revisão das ideias estabelecidas sobre o episódio. Beevor mostra que é um subversor de noções preconcebidas.


Por que o senhor escolheu a Batalha das Ardenas como o tema?
Havia muitas razões fortes para escolher a ofensiva das Ardenas, em dezembro de 1944, como assunto. Os russos sempre reivindicaram, e fizeram isso novamente no ano retrasado, que derrotaram os alemães por conta própria. Isso não é verdade. A derrota imposta aos alemães pelos americanos arruinou a retaguarda da Wehrmacht e permitiu que o Exército Vermelho logo depois atravessasse o rio Vístula e atingisse o rio Oder em duas semanas. Desnecessário dizer que Stalin tentou afirmar que ele salvou os americanos com sua ofensiva de janeiro.

A história dos combates nas condições de inverno mais severas fez com que muitas pessoas comparassem a batalha com Stalingrado, mesmo que não tenha ocorrido em uma cidade. O exército alemão desprezou os americanos, e cometeu um grande erro. Embora muitos soldados tenham fugido, um número suficiente se manteve tão bravamente que retardou os atacantes. Foi o suficiente para que o general Eisenhower trouxesse reforços em massa e invertesse a situação.

O assunto também é interessante por causa das rivalidades e do mal-estar entre os generais aliados. Por causa da surpresa e do choque do ataque, Eisenhower teve que dar o comando de dois exércitos americanos no flanco do norte ao marechal britânico Montgomery. Embora Montgomery tenha manuseado sua parte da batalha sensivelmente, ele conseguiu indignar os americanos. Seu superior em Londres, marechal Brooks disse uma vez que “nada traz o pior nas pessoas do que o alto comando”. Certamente foi aqui. Montgomery se comportou com tamanha arrogância perante os generais americanos que azedou o relacionamento da Grã-Bretanha com os Estados Unidos por um longo tempo.

Montgomery (ao centro), com seus quatro comandantes de Exército subordinados nas Ardenas: Beevor demonstra que sua arrogância prejudicou a relação entre britânicos e norte-americanos por um bom tempo.


Qual a importância da Batalha das Ardenas hoje?
A importância das Ardenas hoje se refere em parte à questão das relações anglo-americanas, mas também às relações Leste-Oeste e a compulsão do presidente Putin de criar uma lenda de que a União Soviética poderia ter derrotado a Alemanha nazista sozinha.


Que informação não publicada o senhor descobriu durante a pesquisa do livro?
Encontrei muitos dados novos, especialmente sobre as discussões furiosas entre os generais, o sofrimento dos civis e a experiência dos soldados em condições terríveis. Eu também descobri muitos detalhes sobre a execução dos prisioneiros pelos americanos. É  um assunto tabu, que os historiadores evitaram no passado. Porém, os arquivos nos EUA, Alemanha, Bélgica e Grã-Bretanha possuem uma quantidade enorme de documentos fascinantes.


Ao contrário de muitos estudos da Segunda Guerra Mundial, seu livro não se concentra em um conjunto de personagens. Na verdade, parece uma história muito impessoal, baseada em uma grande quantidade de depoimentos. Por que você escolheu essa forma de narrativa?
Meu livro tem muitos personagens e nenhum dos revisores da Grã-Bretanha, da Alemanha ou dos Estados Unidos concorda que é impessoal. O ponto do livro, como todos os meus outros trabalhos, é tentar transmitir, especialmente para uma geração mais nova, como era a realidade daquela guerra para soldados e civis.

O historiador militar Antony Beevor


As Ardenas foram o melhor momento para os soldados americanos na Europa?
Os confrontos nas Ardenas foram, junto com a luta na Floresta de Hürtgen, os piores momentos para os soldados americanos na Europa.


Quais foram os principais erros e acertos entre oponentes?
Todo o plano alemão estava condenado ao fracasso, já que parece ter sido foi inventado por Hitler quando doente de icterícia e sob a influência de drogas. Ele tinha uma visão irremediavelmente otimista daquilo que o exército alemão enfraquecido poderia alcançar. A ideia de abrir caminho até Antuérpia e tomar o principal posto de abastecimento dos Aliados era ridícula. Seus generais sabiam que a operação não tinha chances, mas eles tinham que passar por isso. O plano ocorreu após a tentativa de assassinar Hitler, em 20 de julho, e mostrava que o Partido Nazista e as SS poderiam forçar a nação alemã a lutar até que o próprio Hitler morresse. 

O erro dos Aliados foi achar que a Alemanha não poderia durar muito tempo e seria incapaz de montar um ataque com dois exércitos de tanques e um exército de infantaria, sem que eles percebessem. Seu grande erro foi ver o curso das prováveis ações alemãs pelos olhos de generais racionais, quando na verdade as decisões estavam sendo tomadas por um megalômano.


Há uma diferença sensível entre a quantidade e qualidade dos relatos de soldados americanos, britânicos, russos e alemães na Segunda Guerra Mundial?
Havia uma grande diferença entre unidades de elite e unidades comuns em todos os exércitos. Mas o que é impressionante são as semelhanças entre as unidades comuns. Um estudo britânico de 1943 mostrou que em um pelotão de cerca de 30 homens, três ou quatro enfrentariam os oponentes, um número similar evitaria o combate a todo custo, e o resto seguiria os corajosos se as coisas fossem bem ou fugiria com os outros se as coisas corressem mal.



Se fosse possível escolher apenas um livro da Segunda Guerra Mundial, qual escolheria? E por quê?
É impossível escolher apenas um livro para toda a Segunda Guerra Mundial, mas se eu escolhesse um livro da frente oriental, seria o romance de Vasili Grossman, “Vida e Destino”. É uma homenagem deliberada a Tolstoi. Esse romance é uma espécie da “Guerra e Paz” da era estalinista e daquela guerra.


O senhor já cobriu em seus livros uma boa parte das principais campanhas da frente européia na Segunda Guerra Mundial, com Stalingrado, Berlim, Dia D, Ardenas e Creta. Qual é o próximo?
O meu próximo livro é “Arnhem – A Batalha das Pontes”,  sobre a invasão aérea aliada da Holanda, em setembro de 1944. Era um plano britânico muito ruim e que falhou, fazendo os civis holandeses sofrerem até o fim da guerra com a fome infligida pelos alemães. Em algum momento também poderei abordar Kursk [a maior batalha de tanques da história, ocorrida em julho de 1943, na Rússia].


Como foi o desempenho de vendas de “Berlim 1945: A Queda” na Rússia? Lá eles não gostaram de algumas afirmações suas sobre a tomada da capital alemã, como no caso dos estupros
Eles certamente não gostaram. Sou tecnicamente sujeito a cinco anos de prisão na Rússia se voltar. Provavelmente nada aconteceria, mas não vale a pena correr o risco.

Fonte: Isto É


quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - CONTRA-ALMIRANTE JAMES NORTON

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* 9/6/1798 - Newark-upon-Trent, Inglaterra

+ 20/8/1835 - ??


James Norton foi um oficial naval britânico que participou como combatente e comandante da marinha brasileira durante a Guerra da Cisplatina.

Ingressou na marinha britânica em 1802, tomando parte nas guerras napoleônicas, sob o comando do almirante Edward Pellew. Com a independência do Brasil, D. Pedro I iniciou a formação de uma poderosa marinha, contratando os serviços do Lorde Thomas Cochrane, tendo enviado Felisberto Caldeira Brant à Grã-Bretanha para recrutar oficiais, entre eles James Norton.

Com o início da guerra Cisplatina, foi enviado ao Rio da Prata, comandando a fragata Niterói. Logo depois assumiu o comando da segunda divisão, conduzindo um bloqueio exitoso sobre o rio da Prata, que levou as finanças públicas argentinas ao limite do colapso, apressando o acordo de paz que deu fim à guerra, apesar das derrotas brasileiras em terra. Comandou a marinha do Brasil na batalha de Monte Santiago.

Fragata Niterói, no comando da qual James Norton seguiu para a campanha da Cisplatina

Terminada a guerra, foi nomeado cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro, e recebeu também a Imperial Ordem da Rosa. Em 17 de outubro de 1829 foi promovido a chefe de divisão, com o posto de contra-almirante.

Sua viúva, Eliza Bland, publicou em 1837 uma pequena obra, intitulada A noiva do Brasil (The Brazilian Bride)O entusiasmo do casal pelo novo país, segundo o historiador britânico Brian Vale, é revelado por alguns dos nomes dados aos seus filhos: Fletcher Carioca, Fredrick da Prata e Maria Brasília.

Fontes:
- NORTON, Eliza Bland Erskine. The Brazilian Bride. In: The ladies' scrap-book, 1845.
- The Naval Review, Vol. XXXIX, N° 3, 1951
- GALSKY, Nélio. Mercenários ou libertários: as motivaçoes para o engajamento do Almirante Cochrane e seu grupo nas lutas da independência do Brasil, Universidad Federal Fluminense, Niterói, 2006
- CUTOLO, Vicente Osvaldo. Nuevo diccionario biográfico argentino (1750-1930). Editorial Elche, 1968.
- CARRANZA, Angel Justiniano. Campañas Navales de la República Argentina. Buenos Aires: Talleres de Guillermo Kraft Ltda., 1962.
- ARGUINDEGUY, Pablo; RODRÍGUEZ, Horacio. Buques de la Armada Argentina 1810-1852 sus comandos y operaciones. Buenos Aires: Instituto Nacional Browniano, 1999.
- Wikipedia.



segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

JAPÃO E RÚSSIA BUSCAM FIM PARA DISPUTA DA SEGUNDA GUERRA

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Moscou e Tóquio nunca chegaram a assinar um acordo de paz, mantendo os dois países tecnicamente em conflito. Apesar de novas conversações, uma disputa por quatro ilhas no Pacífico pode atrapalhar as esperanças de trégua.


Os ministros do Exterior da Rússia, Serguei Lavrov, e do Japão, Taro Kono, se reuniram nesta segunda-feira (14/01) em busca de um plano para pôr fim a uma antiga disputa territorial entre os dois países, que, ao menos tecnicamente, seguem em conflito desde a Segunda Guerra Mundial.

As conversas envolvem quatro ilhas disputadas no Oceano Pacífico Norte, parte das chamadas ilhas Curilas, segundo Moscou, ou dos Territórios do Norte, como se refere Tóquio.

O encontro em Moscou marcou a "primeira rodada de conversações entre russos e japoneses sobre o problema de se chegar a um acordo entre os dois países", afirmou nesta segunda-feira a porta-voz do Ministério do Exterior russo, Maria Zakharova.

Os ministros do Exterior japonês, Taro Kono, e russo, Serguei Lavrov, durante reunião em Moscou

Lavrov, por outro lado, foi mais intransigente e destacou que, como ponto de partida para o diálogo, o Japão deve reconhecer as ilhas como parte do território russo – um balde de água fria nas esperanças de Tóquio de um acordo que seja favorável ao país.

"A soberania da Rússia sobre as ilhas não está sujeita à discussão. Elas fazem parte do território da Federação Russa", disse o ministro após o encontro com seu homólogo japonês.

No início da reunião, Kono havia afirmado que os dois países precisam solucionar essa disputa territorial para que possam se dedicar a outras questões, como a expansão de seus laços econômicos. Refletindo as acentuadas divergências nas conversas desta segunda-feira, a delegação japonesa anunciou que fará outro pronunciamento no final do dia.

No fim da Segunda Guerra Mundial, as quatro ilhas mais ao sul das Curilas foram ocupadas pelas forças da então União Soviética, mas são reivindicadas pelo Japão, que as chama de Territórios do Norte. Os locais são hoje administrados pela Rússia.

Em 1951, as forças aliadas e o Japão assinaram o chamado Tratado de Paz de São Francisco, estabelecendo que Tóquio deveria desistir de todas as suas reivindicações sobre as ilhas Curilas. Não assinado por Moscou, o pacto tampouco reconhece a soberania soviética sobre os territórios disputados, o que alimenta a disputa entre os dois países.

Carcaça de carro de combate japonês abandonada nas ilhas Curilas, disputadas entre o Japão e a Rússia

Por não terem assinado qualquer acordo de paz após o fim da Segunda Guerra, o Japão e a Rússia continuam tecnicamente em conflito. Em novembro do ano passado, o presidente russo, Vladimir Putin, e o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, ensaiaram uma aproximação e concordaram em acelerar as negociações para um tratado.

Após o encontro entre seus chanceleres nesta segunda-feira, os dois líderes devem se reunir no fim deste mês na capital russa para dar continuidade às conversações – embora Moscou não venha dando sinais de que vai abrir mão de sua soberania sobre as ilhas no Pacífico e, com isso, pôr fim a um conflito que já dura mais de sete décadas.

Fonte: DW


quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

ERRO CRASSO




O termo erro crasso é muito utilizado quando alguém comete um erro tido como ingênuo. Você sabia que essa expressão tem ligação com o general romano Marco Licinius Crasso? A época de Crasso, 59 a.C, foi marcada por três importantes figuras de generais que foram Júlio César, Pompeu Magnus e Crasso.

Os dois primeiros generais citados entraram para a história por terem conseguido ampliar os domínios romanos. Porém, Crasso não era um general tão bom e era mais conhecido por sua fortuna. Enquanto César conquistou a Gália (França) e Pompeu a Hispânia (Península Ibérica), Crasso deseja dominar o povo Parto. Esse povo vivia no Oriente Médio numa região que hoje em dia é ocupada pela Armênia, Irã, Iraque e outros.

O grande erro de Crasso foi que ele acreditou que somente ter mais soldados era o suficiente. Com 50 mil soldados, ele deixou de seguir as famosas táticas militares romanas (que sempre garantiram excelentes resultados) e resolveu somente atacar por atacar. Para chegar mais rapidamente ao inimigo, ele resolveu cortar caminho por um estreito que não tinha boa visibilidade.

O que Crasso nem imaginava era que nas saídas dos vale os partos esperavam os soldados, conseguindo dizimar boa parte dos 50 mil homens, inclusive o general Crasso. Esse erro cometido pelo general se tornou em muitas línguas um sinônimo de um erro estúpido.

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segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

ARQUEÓLOGOS JAPONESES DESENTERRAM NOVAS RESPOSTAS SOBRE A 2ª GUERRA MUNDIAL

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Por Priscila Piltz

KAGOSHIMA (IPC Digital) – Maho Chochi, diz que seus estudos contestam a antiga crença de que granadas de cerâmicas foram produzidas em número limitado durante a Segunda Guerra Mundial para que os soldados pudessem se matar, evitando assim a desgraça de ser capturado.

Minha pesquisa mostrou que (granadas de cerâmica) foram fabricadas em grande número, com o objetivo de usá-las como armas”, disse Chochi, pesquisador do Centro de Arquivos Históricos Reimeikan, na província de Kagoshima.

O relatório do pesquisador fascinou arqueólogos em uma convenção na província de Kagoshima. Para eles, os restos e relíquias relacionados com a guerra são um novo campo de pesquisa.

Chochi, identificou os locais onde as granadas de cerâmica foram fabricadas, quando o Japão estava enfrentando uma grave escassez de metal, perto do final da Segunda Guerra Mundial. Confirmou também que as granadas foram armazenadas para estudos posteriores, para comparar as suas estruturas e materiais cuidadosamente.

Um novo campo da arqueologia estuda informações relacionadas com a Segunda Guerra Mundial, estabelecida há 30 anos no Japão com base na proposta de Shiichi Toma, um arqueólogo da província de Okinawa, que queria lançar novos aspectos da guerra, que eram desconhecidos devido a escassez de documentação.

Embora muitos arqueólogos estivessem relutantes inicialmente em assumir tal tema, uma série de reuniões de estudo e locais de expedição foram organizados no ano passado para coincidir com o 70º aniversário do fim da Segunda Guerra.  Um relatório da província de Okinawa publicado no ano passado, descreve cerca de 1000 sítios relacionados com a guerra, local da Batalha de Okinawa, que durou meses e matou quase um quarto da população da ilha.

Em Kumamoto, o governo de Nishiki começou uma pesquisa no ano passado, de um local usado pela Marinha Imperial Japonesa, para descobrir a imagem completa da base militar pouco conhecida durante a Guerra.

Há muito se sabe que os restos de uma base militar estão na cidade”, disse Tomoharu Teshiba, que encomendou a pesquisa. A base, que abrange 36.000 metros quadrados de terra, abriga instalações subterrâneas em mais de 10 locais.

Essas instalações, incluindo uma sala de operação e uma sala onde torpedos estavam sintonizados, permaneceram intactos desde o fim da Guerra. A sala do torpedo tem paredes de concreto que revelam pilares de madeira. Tal estrutura gigantesca de guerra ainda estar intacta é raridade no Japão, segundo especialistas. Funcionários de Nishiki planejam, eventualmente, abrir as instalações para o público.

Gostaríamos que os visitantes refletissem sobre a guerra após ver os restos daqueles tempos”, disse Teshiba. “Estamos determinados a realizar um estudo aprofundado para esse fim, também”.

Fonte: Jornal Asahi