"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



segunda-feira, 30 de setembro de 2013

IMAGEM DO DIA - 30/09/2013

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Durante a Guerra da Criméia, após um prolongado cerco, tropas francesas conseguem conquistar a fortaleza Malakhov, defendida pelos russos 

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sábado, 28 de setembro de 2013

A BATALHA DE PAVIA (1525)

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A Batalha de Pavia, ocorrida na manhã de 24 de fevereiro de 1525, foi um acontecimento decisivo para a Guerra Italiana de 1521-1526. O exército Habsburgo, sob o comando nominal de Carlos de Lannoy e trabalhando em conjunto com a guarnição de Pavia, comandada por Antonio de Levya, atacou os franceses sob o comando pessoal do rei Francisco I no grande campo de Mirabello, no lado externo dos muros da cidade.

Em quatro horas de luta, o exército francês foi dividido e derrotado fragrorosamente. O gauleses tiveram vítimas numerosas, que incluíam muitos dos principais nobres de França. O próprio Rei Francisco I foi capturado pelas tropas inimigas e, levado preso ao seu oponente, Imperador Carlos V, foi forçado a assinar o humilhante Tratado de Madri, pelo qual cedia territórios significantes ao adversário.


Antecedentes

Os franceses, tendo a possessão da Lombardia deste o começo da Guerra Italiana de 1521-1526, foram forçados a abandoná-la depois de sua derrota na Batalha de Bicocca, em 1522. Determinado a recuperá-la, Francisco I ordenou a invasão da região no começo do ano seguinte, sob as ordens de Guillaume Gouffier, Senhor de Bonnivet; mas este foi derrotado pelas tropas imperiais na Batalha de Sesia e forçado a se retirar para a França.

Carlos de Lannoy lançou uma invasão da Provença, que estava sob o comando de Fernando de Ávalos, Marquês de Pescara, e de Carlos III, Duque de Bourbon, que havia recentemente traído Francisco, pois este lhe retirara os domínios, e aliara-se ao Imperador. Embora inicialmente obtivesse sucesso, a ofensiva imperial perdeu valioso tempo durante o Cerco de Marselha e foi forçada a bater em retirada para a Itália, com a chegada em Avignon de Francisco I e do grosso do exército.

Francisco I, rei da França, derrotado e capturado em Pavia

Em meados de outubro de 1524, o rei franco cruzou os Alpes e avançou sobre Milão, ele próprio no comando de um exército que somava mais de quarenta mil homens. Bourbon e Ávalos, cujas tropas ainda não haviam se recuperado da campanha em Provença, não estavam em condições para oferecer nenhuma resistência séria. O exército francês movia-se em muitas colunas, ignorando as tentativas imperiais de conter seu avanço, mas sem levar o corpo principal para o combate. A este tempo, Carlos de Lannoy, que conseguira juntar cerca de dezesseis mil homens para resistirem aos trinta e três mil das tropas francesas em Milão, decidiu que a cidade não poderia ser defendida e ordenou a retirada para Lodi em 26 de outubro. Tendo entrado em Milão e instalado Luís II de la Trémoille como seu governador, Francisco, pressionado por Bonnivet e contrariando o conselho dos seus demais velhos comandantes, que defendiam uma vigorosa perseguição as tropas de Lannoy em retirada, avançou para Pavia, onde Antônio de Leyva permanecia com uma considerável guarnição imperial

O grosso das tropas francesas chegou a Pavia nos últimos dias de outubro. A 2 de novembro, Montmorency tinha cruzado o rio Ticino e investiu contra a cidade pelo sul, completando seu cerco. Em seu interior havia um contingente de aproximadamente nove mil soldados, principalmente mercenários que Leyva só conseguiu pagar derretendo a prata das igrejas. Um período de escaramuças e bombardeios de artilharia se seguiu e, em meados de novembro, várias aberturas foram feitas no muro.

Em 21 de novembro Francisco I tentou uma incursão na cidade, através de duas dessas aberturas, mas desistiu depois de sofrer pesadas baixa. Impedido de realizar novo ataque por causa da chuva e escassez de pólvora, o francês decidiu que a fome grassasse entre os defensores da cidade.


No começo de dezembro, uma força espanhola comandada por Hugo de Moncada aportava próximo a Gênova, com a inteção de interferir num conflito entre as facções pró-Valois e pró-Habsburgo da cidade. Francisco, então, despachou sua maior tropa, ao comando do Marquês de Saluzzo, para os interceptar. Confrontados pelo maior contingente das tropas francesas, e sem poder contar com apoio naval com a chegada de uma frota francesa comandada por Andrea Doria, as tropas espanholas se renderam. Francisco assinou um acordo secreto com o Papa Clemente VII para que este não apoiasse Carlos I em troca de sua ajuda na conquista de Nápoles.

Novamente contrariando seus conselheiros militares, Francisco destacou um grande contingente de suas forças, sob comando de John Stewart, Duque de Albany, e as enviou rumo sul para ajudar ao Papa. Lannoy tratou de interceptar a expedição de Stewart perto de Fiorenzuola, mas sofreu severas baixas e viu-se forçado a voltar a Lodi por causa da intervenção dos temidos Bandos Negros – segundo muitos autores os melhores mercenários italianos do momento — de Giovanni de Médicis, que acabaram por entrar no conflito ao serviço dos franceses por iniciativa do Papa, primo da mãe de Giovanni, também da família Médicis. Ato contínuo, o Condottieri Giovanni dirigiu-se a Pavia com reservas de pólvora, reunidas pelo Duque de Ferrara. Naquele momento as posições francesas viram-se debilitadas com a partida de cerca de cinco mil grisões, mercenários, que regressaram aos seus cantões para defendê-los de iminente ataque de lansquenetes.

Em janeiro de 1525, doze mil lansquenetes chegaram, sob comando de Georg von Frundsberg, para alívio de Lannoy, que retomou a ofensiva. Ávalos capturou a posição francesa em San Angelo, cortando a comunicação entre Pavia e Milão, enquanto uma coluna à parte de lansquenetes avançava em Belgiojoso e, apesar de retê-los brevemente um ataque liderado por Médicis e por Bonnivet, ocuparam a cidade. Em 2 de fevereiro Lannoy havia chegado a poucos quilômetros de Pavia. Francisco havia levantado o acampamento com o grosso de seu exército no grande campo amuralhado de Mirabello, fora dos muros da cidade, entre a guarnição de Levya e o exército auxiliar que vinha a caminho. No correr de fevereiro as tropas de Levya continuaram hostilizando os sitiantes. Médicis foi seriamente ferido e se retirou para Piacenza para recuperar-se, forçando Francisco a trasladar grande parte de sua guarnição em Milão para suprir a falta dos Bandos Negros. Tais escaramuças tiveram efeito quase nulo no resultado final da batalha. A 21 de fevereiro os comandantes imperiais, com escassas provisões e crendo equivocadamente serem inferiores em número aos franceses, decidiram lançar um ataque ao castelo de Mirabello, tanto para fazerem boa figura e desmoralizar os franceses, como para poderem se retirar com certa segurança.


Ocupação do dispositivo

Na noite de 23 de fevereiro, as tropas imperiais de Lannoy saíram das muralhas, enquanto a artilharia imperial distraía os franceses com mais um bombardeio de suas linhas - algo que já era rotineiro durante o longo cerco - e assim ocultar o movimento de Lannoy. Enquanto isso, na madrugada do dia 24, engenheiros imperiais trabalhavam nas muralhas do acampamento francês, a fim de abrir passagens, próximo à Porta Pescarina e da aldeia de San Genesio, por onde o exército imperial pudesse atravessar rapidamente.

Fernando de Ávalos, um dos comandantes imperiais em Pavia

Antes de cinco horas da manhã, cerca de três mil arcabuzeiros, sob comando de Fernando de Ávalos tinham entrado no acampamento e avançavam rapidamente pelo Castelo de Mirabello, onde acreditavam ser o quartel-general dos franceses. Simultaneamente, a cavalaria ligeria imperial espalhou-se pelo parque, a fim de interceptar qualquer movimento francês. Enquanto isso, um destacamento da cavalaria francesa, comandado por Charles Tiercelin, encontrou-se com a cavalaria imperial, iniciando as escaramuças. Um bloco de piqueiros de mercenários suíços, comandados por Robert de la Marck, moveu-se em seu auxílio, precedendo uma bateria da artilharia espanhola que tinha sido arrastada para o interior do acampamento inimigo. Perderam os arcabuzeiros de De Vasto - que tinham, antes das seis horas e meia, emergido dos bosques próximos ao castelo e rapidamente o invadido - pois estes, num infeliz acaso, encontraram com seis mil lansquenês de Georg Frundsberg. Às sete hora uma batalha em larga escala das infantarias tinha se desenvolvido não muito longe da passagem original.


O ataque francês

Uma terceira onda de tropas - as cavalarias pesadas espanholas e imperiais, sob comando do próprio Lannoy, e a infantaria sob as ordens Ávalos - moveram-se para o interior dos bosques, justamente onde acampava o rei Francisco I. O monarca, em um primeiro momento, não percebera a magnitude do ataque imperial, mas, por volta das sete horas e vinte minutos, Ávalos avançou contra a bateria francesa de artilharia, que iniciara o fogo contra as linhas espanholas. Isto alertou Francisco, que lançou finalmente uma carga da inteira força de gendarmes contra a imensa cavalaria de Lannoy, dispersando os espanhóis às sete horas e quarenta minutos.

Cavalaria francesa ataca precipitadamente as forças espanholas


O avanço precipitado de Francisco, entretanto, não apenas colocou suas tropas na linha de fogo da artilharia - impedindo-a, portanto, de agir - como ainda afastou para longe a infantaria francesa, comandada por Richard de la Pole e por François de Lorraine, que comandava os Bandos Negros, formados por renegados piqueiros lansquenetes, que somavam entre quatro e cinco mil homens. Fernando de Ávalos, assumindo o comando das tropas espanholas depois que Lannoy tinha acompanhado os embates da cavalaria, reuniu seus homens na extremidade dos bosques e enviou mensageiros a Bourbon, Frundsberg e De Vasto, pedindo ajuda.

Frundsberg estava provisoriamente batendo a infantaria pesada suíça que lhe excedia em número; Tiercelin e Flourance não haviam conseguido se unir às suas tropas, e os franceses começaram a fugir do campo de batalha.


Desfecho

Às oito horas o grupo de piqueiros e aracabuzeiros imperiais investiram sobre a cavalaria francesa por todos os lados. Precisando de espaço para manobrar junto aos bosques, os gendarmes foram cercados e sistematicamente mortos. Suffolk e Lorraine, avançando para auxiliar o rei, foram atacados pelos lansquenetes de Frundsberg que chegavam. A infantaria francesa estava dividida e derrotada, Richard de la Pole e Lorraine foram mortos no combate. Uma luta particularmente intensa foi travada entre os lansquenetes, a serviço do seu Imperador, e os renegados dos Bandos Negros, que foram cercados pelos piqueiros de Frundsberg e completamente exterminados.

Artilharia imperial abre fogo contra as linhas francesas

O Rei dos franceses lutava sobre seu cavalo, que foi morto pelo condottieri Cesare Hercolani. Sem sua montaria e cercado por arcabuzeiros, Francisco I foi feito prisioneiro e levado sob escolta para fora do campo. Os fatos exatos da rendição de Francisco - em particular sobre quem o tenha feito prisioneiro – são controversos, havendo uma variedade de personagens como Alonso Pita da Veiga e o próprio Lannoy indicados por diversos historiadores.

Enquanto isso, Antônio de Leyva saíra com a guarnição, perseguindo os três mil suíços sob comando de Montmorency que estavam na linha do cerco. As tropas suíças - bem como os comandantes Montmorency e Flourance - tentaram fugir pelo rio, sofrendo com isso numerosas baixas. A retarguada francesa, sob comando do Duque de Alençon, não havia tomado parte da batalha e, quando este percebeu o que havia ocorrido no acampamento, retirou-se rapidamente para Milão. Às nove horas da manhã a batalha já havia terminado.


Consequências

A derrota francesa em Pavia foi decisiva. Além do rei, vários nobres, incluindo os principais comandantes Montmorency e Flourance, foram capturados; um número ainda maior - entre eles Bonnivet, Le Tremoille, La Palice, Suffolk e Lorraine - foram mortos na luta. Francisco foi levado preso à fortaleza de Pizzighettone, onde escreveu uma famosa carta à sua mãe, que ficara como regente, dizendo: “Para informar-te de como vão ocorrendo-me as desgraças, tudo está perdido, menos a honra e a vida, que estão a salvo.”

Logo depois soube que o Duque de Albany havia perdido a maior parte de seu exército por atritos e deserções, e tinha retornado à França sem jamais ter chegado em Nápoles. O remanescente das alquebradas tropas francesas, fora uma pequena guarnição que partira para guardar o Castelo Sforzesco em Milão, retirou-se pelos Alpes sob o comando de Charles IV de Alençon, alcançando Lion em março.

 

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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

ROMANCE HISTÓRICO - O PORTO DISTANTE

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Uma dica de leitura.  O romance histórico imperdível, do meu amigo escritor pernambucano Paulo Afonso Paiva - O Porto Distante.


Durante a Segunda Guerra, quase toda a Esquadra brasileira – denominada de Força Naval do Nordeste – ficou subordinada à 4ª Frota americana, com sede no Recife. A guerra na Europa acabou em 8 de maio de 1945, embora os japoneses continuassem lutando no Oriente. Aviões e materiais bélicos ianques, que estavam na Europa, eram enviados para os Estados Unidos. No dia 4 de julho daquele ano, o Cruzador Bahia, que estava estacionado próximo aos Penedos de São Pedro e São Paulo - servindo de Estação de Comunicações para a Força Aérea americana explodiu. Em quatro minutos, soçobrou. Dos trezentos e setenta e dois tripulantes, só trinta e seis (menos de dez por cento), sobreviveram.

O Inquérito apontou “erro de tripulante, manejando metralhadora antiaérea”.

Sessenta e oito anos depois, o autor, Oficial de Marinha (Retirado), descreve a vida de marinheiros do Brasil na guerra, e de posse de documentos tornados ostensivos pela Marinha Argentina, prova que o Bahia foi torpedeado pelo submarino alemão U-530. O porquê dos americanos encobrirem este crime de guerra – a maior catástrofe sofrida pela Marinha Brasileira em todos os tempos – é aqui revelado.

Para adquiri seu exemplar de O Porto Distante, entre em contato pelo e-mail:  paivap50@gmail.com 


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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A MORTE DO TENENTE SIQUEIRA CAMPOS

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Antônio de Siqueira Campos nasceu em Rio Claro-SP no ano de 1898. Formado na Escola Militar, ainda no posto de tenente participou do Movimento Tenentista e da Revolta do Forte de Copacabana, em julho de 1922. Foi um dos militares que marcharam na Avenida Atlântica, na orla marítima de Copacabana, em direção à tropa legalista e que, após intenso tiroteio em um combate totalmente desigual – 18 revoltosos contra 3.000 soldados do governo –, acabaram sendo derrotados em frente à Rua Barroso, na altura do Posto 3 de Copacabana, no episódio que passou à história como  “os dezoito do forte”.  A maioria dos revoltosos morreu, somente sobrevivendo os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes e algumas praças. 

Posteriormente, a Rua Barroso, onde ocorreu o confronto final da Revolta dos 18 do Forte, foi rebatizada com o nome de Rua Siqueira Campos, como é conhecida atualmente. Na esquina desta rua com a Avenida Atlântica, foi erigida uma enorme estátua representando o Tenente Siqueira Campos no momento em que recebeu o tiro que o derrotou no confronto.


No calçadão de Copacabana marcham os dezoito revolucionários remanescentes contra 3.000 soldados legalistas.

Siqueira Campos participou do início do chamado Movimento Tenentista, que visava romper os vícios da política brasileira da época, em que grupos elitistas se perpetuavam no poder. Após período de exílio, o Tenente Siqueira Campos participou ativamente, como um dos seus principais líderes, da famosa Coluna Miguel Costa-Prestes. Durante mais de três anos a Coluna percorreu o interior do Brasil do Sul ao Nordeste no prosseguimento da luta para derrubar a República Velha, que viria a cair em outubro de 1930 com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder.


Morte no Rio da Prata

O tenente Siqueira Campos morreu em um acidente aéreo, ao retornar do Uruguai para o Brasil em 10 de maio de 1930, antes da Revolução que levaria Vargas ao poder, quando a aeronave em que estava caiu no rio da Prata. Dizia ele: "À Pátria tudo se deve dar, sem nada exigir em troca, nem mesmo compreensão".

O também revolucionário tenentista João Alberto Lins de Barros viajava no mesmo avião com Siqueira Campos e, em sua obra Memórias de um Revolucionário (p.227-229), relatou como se deu o acidente com o Laté 28:


“(...) dentro do Laté 28, apinhavam-se cinco passageiros: o piloto, Comandante Negrin, veterano da guerra e reconhecido ás da aviação francesa. O Sr. Pranville, diretor da Latecoere para a América do Sul; o telegrafista, o Siqueira e eu. Os dois primeiros viajavam no comando do aparelho e o resto na cabine. Valentim Bouças, em tempo desistia da viagem. 

Apesar do risco que corríamos, sentimos alívio quando o avião tomou altura. Queríamos chegar aos nossos destinos de qualquer maneira, o mais rapidamente possível. Não tínhamos nem um minuto a perder e no momento, a questão de segurança pessoal afigurava-se nos secundária.

Tirei os sapatos, levantei a gola do sobretudo, sentando-me na primeira cadeira do lado esquerdo. Fazia um frio penetrante. Fatigado dos trabalhos diurnos, rapidamente adormeci.
Despertei com um golpe na cabeça. 

O avião boiava na água, agitando pelas ondas que contra ele se quebravam. Nós três – os da cabine – caíramos com as cadeiras, em confusão. Eu estava ferido na testa, na face esquerda e no nariz. Siqueira, o primeiro a recuperar os sentidos, arrastou-se para uma porta lateral, abrindo-a com algum trabalho. Aí a água entrou, alagando o compartimento em que nos encontrávamos, até atingir os nossos joelhos. Ele pulou fora, ficou sobre o teto da cabine e içou, com a minha ajuda, o telegrafista, já ao meu lado nesse momento. Logo após, eu me reunia também aos dois. Em cima daquele pequeno avião que, sacudido pelas ondas, afundava lentamente, estávamos os cinco passageiros do malfadado Laté 28, agarrando-nos uns aos outros, a fim de não sermos precipitados na água. Fomos tirando a roupa para poder nadar.

Um vento frio de inverno fazia-nos tremer. Densa e baixa, a cerração permitia-nos apenas lobrigar, na linha do horizonte, as luzes de uma cidade.

O motor do avião começou a desaparecer. Procuramos, instintivamente, equilibrarmo-nos em sua calda. Ninguém tomava a iniciativa de abandonar o aparelho. Nada menos de três quilômetros de mar banzeiro nos separava da costa. Uma dura etapa a vencer durante a noite, com aquele frio áspero, cortante.

O piloto Negrin, talvez levado pela responsabilidade de Comandante do aparelho, que submergia, avisou-nos de que era preciso lançarmo-nos à água. Era um homem da nossa idade, demonstrando parecença física com o Siqueira. Como nós três, estava apenas com as roupas debaixo. E, tomando a iniciativa, para dar exemplo, atirou-se à água. Seguiu-o o Sr. Pranvile, tipo de burguês francês, baixo, forte, um pouco calvo.

O telegrafista e eu permanecemos ainda no avião, agarrados ao leme do aparelho. Siqueira, vendo-me banhado em sangue, olhava-me com expressão singular. Apesar de atordoado, sentia que ele ainda não se jogara na água por minha causa. Doía-lhe deixar-me sozinho. Era preciso ganhar coragem e enfrentar a realidade, arremessando-me e tentando alcançar a costa. Precedeu-me, porém, na decisão, o telegrafista. Seguira os nossos movimentos e despira, como nós, a roupa de cima. Saltou na água e estoicamente, deixando um último adeus em espanhol, que era também uma confissão: ‘Eu não sei nadar, Vou morrer. Adeus companheiros!’. E começou a bater-se com as ondas ali, do nosso lado. Veio à tona três ou quatro vezes, sem pedir socorro. Depois desapareceu. (...) Mal havia recuperado a calma (talvez decorrido uns dez minutos de nado), ouvi, perto de mim, o grito angustiante do Siqueira. ‘Espera, João.’ Voltei-me ainda em tempo de o ver, a um metro de mim, ser tragado por uma onda. Desapareceu sem estender um braço para pedir auxílio. Apenas, na face, aquela expressão de energia indômita que eu conhecia tão bem nos momentos de luta, desfigurando agora por uma intensa expressão de dor. Esperei um instante, afastando-me somente depois que percebi que ele não retornaria (...) jamais poderia eu supor, naquele momento, que o vitimara um ataque de angina, conforme foi constatado, mais tarde, pela autópsia”.



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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

IMAGEM DO DIA - 07/09/2013

 Tropas da Escola Tática do Rio Pardo desfilando no dia da Pátria na década de 1920


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PALESTRA NO IGHMB

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Uma excelente oportunidade de  conhecer mais sobre a participação brasileira na 2ª Guerra Mundial em nosso Instituto.



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III ENCONTRO IMPERIAL DE VIATURAS MILITARES ANTIGAS

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terça-feira, 3 de setembro de 2013

CASTELO DE SÃO JORGE DE LISBOA

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Situado em uma das colinas mais altas de Lisboa, num local com comandamento sobre o rio Tejo, o Castelo de São Jorge, domina a paisagem ribeirinha da Baixa Pombalina.


Vestígios da antiguidade

Em meados do primeiro milênio antes de Cristo, a colina do Castelo era banhada por um afluente do Tejo, que entrava pela Praça do Comércio e se prolongava até à Praça da Figueira - Martin Moniz, onde desaguavam pequenas ribeiras. O progressivo açoreamento e atulhamento dessas linhas d’ água foi dando lugar a construções. Na época, o povoamento desenvolvia-se pelas vertentes Sul e Sudoeste da colina do Castelo, diluindo-se na zona baixa das praias do esteiro.

Os vestígios mais antigos encontrados no Castelo remontam à Idade do Ferro, ao séc. VI a.C. É provável que, nesta época, existisse um povoado fortificado na área, não se conhecendo, porém, os seus contornos exatos. As escavações arqueológicas realizadas no local revelaram um conjunto de estruturas, pavimentos e muros, e de objetos de uso quotidiano, que testemunham a antiguidade da ocupação da zona onde hoje se encontra o Castelo.

Estrabão, geógrafo do séc. I a.C., informa que Olisipo foi fortificada no séc. II a.C, durante as campanhas militares romanas na Lusitânia. Dessa fortificação não se encontraram vestígios, mas sabe-se que Olisipo era, na época, um importante porto comercial, quer pelos geógrafos da antiguidade clássica, que escreveram sobre a Península Ibérica, quer pelos vestígios arqueológicos descobertos.

Considerando o espaço do Castelo como um local privilegiado para a implantação de edifícios públicos de caráter monumental ou religioso, foram identificadas poucas estruturas da época romana, das quais destaca-se a presença de um edifício público marmoreado. Também, os objetos do dia-a-dia, nomeadamente, moedas, ânforas e lucernas são pouco abundantes. Porém, são abundantes as epigrafes que, ainda, que deslocadas do seu local original, são reveladoras da importância de Olisipo.

Planta atual do castelo de São Jorge


Sob o domínio muçulmano

A existência de um castelo propriamente dito, é documentado nas fontes e na arqueologia a partir de meados do século XI. As descrições dos geógrafos árabes salientam o forte castelo e as muralhas que defendiam a kasabah (alcáçova). Nessa altura, Al Uzbuna, como era designada pelos muçulmanos, mantinha a sua importância enquanto cidade portuária, datando desta época o castelo e muralhas que defendiam a kasabah. A cidade propriamente dita - a Medina - desenvolvia-se, desde o Castelo até ao rio, pela encosta Sul e Sudoeste.

A alcáçova, com o seu castelo, construída no topo da colina era efetivamente o centro do poder político e militar da cidade. Na alcáçova, no sítio da Praça Nova, o bairro islâmico revelado pelas escavações arqueológicas constata essa realidade, simultaneamente de residência por excelência dos governadores, nobres e altos funcionários, e de centro militar. A cerca velha ou moura, com pedaços ainda visíveis em vários pontos, terá sido, provavelmente, reconstruída e aumentada durante o período islâmico.



Período da Reconquista

Em 1147, quando D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, acampa com o seu exército na envolvente da colina do Castelo para tomá-lo aos mouros, o castelo e parte da cidade encontravam-se defendidos por uma muralha, que abraçava parte da cidade que pela colina do Castelo se desenvolvia até ao rio.

A conquista que ficou célebre nos anais da história pela morosidade do cerco devido à dificuldade em tomar o Castelo, que imponente se erguia no topo, contou com a ajuda da Segunda Cruzada que se dirigia para a Terra Santa para mais uma ofensiva contra os árabes.

A lenda, que com o tempo surgiu em torno da conquista de Lisboa, enaltece em particular, a proeza de um nobre cavaleiro de D. Afonso Henriques, Martim Moniz, que, percebendo que os mouros fechavam a porta do Castelo, a flanqueou permitindo, assim, a entrada dos cristãos no último reduto de defesa. Desde então, passou a designar-se por Porta do Moniz, aquela que permitiu a vitória a D. Afonso Henriques, e que se situa junto à Praça Nova.

A conquista cristã de 25 de Outubro de 1147 parece dar continuidade à ocupação islâmica do espaço da alcáçova, bem patente a nível político nos pactos firmados para a rendição da cidade, não se registrando quaisquer níveis de destruição que testemunhem momentos de guerra nesta área. A mesquita, a confirmar-se a sua localização tradicional, cede o lugar à igreja de Santa Cruz. O palácio do alcaide da cidade cede lugar ao paço que aloja o rei quando este se encontra em Lisboa.

Em 1256, Lisboa, torna-se capital do reino de Portugal. Desde então, até ao início do séc. XVI, o Castelo conhece o seu período áureo. Para além da residência real e do palácio dos Bispos, a alcáçova recebe casas dos nobres da Corte.

O castelo retratado por Duarte Galvão em 1505

Os vários reis do séc. XIII, XIV e XV, dedicam uma atenção especial ao Castelo, promovendo várias melhorias. Em meados do séc. XIII, D. Afonso III faz obras de reparação no palácio do governador. No séc XIV, D. Dinis, transforma a alcáçova mourisca em Paço Real da Alcáçova. D. Fernando, em 1373 - 1375, manda construir a Cerca Nova ou Cerca Fernandina, para que a cidade ficasse mais defendida, pois tinha-se expandido muito. Também, com D. Fernando, é instalada na Torre de Ulisses o tombo do reino, onde se guardava os documentos antigos do Arquivo Real.

Depois das guerras com Castela e restabelecida a paz, nos finais do séc. XIV, D. João I, manda atulhar o fosso e coloca o Castelo sobre a proteção de São Jorge, santo protetor dos guerreiros e da fé cristã.


Tempos modernos

Gradualmente, o castelo vai ganhando um cunho mais cortesão, e perdendo a sua função militar. É no Paço Real da Alcáçova que Vasco da Gama é recebido por D. Manuel depois de regressar da Índia, no limiar do séc XV para XVI. É também, neste paço que é apresentada a primeira peça de teatro português, o Auto do Vaqueiro, de Gil Vicente, por ocasião do nascimento do príncipe D. João, futuro rei D. João III.

No raiar do séc. XVI, a residência real e a corte transferem-se para a baixa da cidade, na Praça do Comércio, onde era concluído o Paço da Ribeira.

Desde então, o antigo Paço Real da Alcáçova, vai perdendo, naturalmente importância. O terremoto ocorrido no ano de 1531, acentuou-lhe o abandono, já que sofreu alguma ruína. Porém, em meados do séc. XVI, D. Sebastião, manda reedificar o Paço para aí estabelecer a sua residência, ficando para a história como o último rei a residir no antigo Paço Real.


Com a ida da corte para a zona baixa da cidade, a fisionomia da alcáçova, foi-se alterando, e gradualmente os palácios e casas nobres foram dando lugar a habitações mais populares, ainda hoje visíveis no traçado urbano da atual freguesia do Castelo.

A partir de 1580, com a dominação filipina, o castelo, retoma a sua importância militar, sendo construídos e adaptados edifícios para albergar a guarnição espanhola e para servir de prisão. A função de presídio, será uma constante até à sua reabilitação em 1938-1940.

Nos séc XVII e XVIII, mantêm-se a sua função de quartel e presídio. Ainda no séc. XVII, é construída numa das torres o Observatório Geodésico, passando a designar-se, desde então, por Torre do Observatório. A Torre do Tombo, também se manteve na alcáçova, ocupando para além de uma das torres do castelejo, algumas alas do antigo Paço Real mais próximas, nomeadamente, uma ala designada por Câmara de D. Fernando.

Com o terremoto de 1755, o Castelo, descaracterizado pelas construções que lhe foram sendo acrescentadas, sofre graves danos, desaparecendo numerosos edifícios, torres e trechos de muralha.

Os trabalhos de reconstrução então empreendidos, refletem meios e condições diferentes das existentes na área da baixa pombalina. Os vestígios arqueológicos em toda a zona da antiga alcáçova, testemunham uma notória incapacidade de retirar os escombros do terremoto, optando-se por construir sobre esses escombros novos edifícios ou não construir e deixar essas zonas baldias.

Assim, dos vários trabalhos de reedificação, foram empreendidas obras de reconstrução e adaptação para receber a instalação da Casa de Correcção da Casa Pia, que permanecerá no Castelo até ao inicio do séc. XIX. Porém, parte do antigo Paço Real da Alcáçova, do Palácio dos Condes de Santiago, do Palácio das Cozinhas ou do Hospital de São João de Deus, não serão mais reconstruídos ou só serão reconstruídos parcialmente já nos finais do séc. XX.

Uma das torres do castelo ostentando a bandeira de Portugal


O castelo na atualidade

Em 1910, com a implantação da República, o castelo é classificado como Monumento Nacional.

Em 1940, o Castelo de São Jorge assume um novo destaque em razão da comemoração centenária da Fundação da Nacionalidade e da Restauração da Independência. A intervenção realizada entre 1938-1940 pela Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, procurou imprimir-lhe a dignidade de outros tempos, em que era o centro político e militar do país, pondo a descoberto algumas das estruturas antigas do velho paço real e do castelejo que se encontravam subterradas.

O Castelejo e o Antigo Paço Real da Alcáçova que hoje existem, não são a “reconstrução fiel” do que foram outrora, mas o resultado dos aspectos mais marcantes das sucessivas épocas que lhe foram moldando a fisionomia.


Fonte: Site Oficial Castelo São Jorge

 
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