"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

A BATALHA DE MUKDEN (1905)

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No dia 10 de março de 1905 terminava em Mukden, capital da Manchúria, a maior batalha da guerra entre a Rússia e o Japão.


Por Rachel Gessat


"Os barris de vodca eram sangrados a baionetas, abertos a faca e a machado. Um bando de homens desvairados lutava para abri-los, e bebia o líquido precioso em xícaras, jarras e velhas latas de sardinha. Cossacos, muçulmanos, soldados de infantaria, dragões, militares de todos as patentes participaram dessa louca bebedeira. Envoltos na cinza e na fumaça dos depósitos em chamas, eles pareciam demônios do álcool, lutando nos escombros do inferno."

Com essas palavras, um repórter descreveu a situação na cidade de Mukden, poucos dias antes de ser tomada pelas tropas japonesas. A capital da Manchúria foi palco da principal batalha da Guerra Russo-Japonesa (1904-1905). Segundo um correspondente da revista norte-americana Times, durante as várias semanas de batalhas, o comando militar tornou-se cada vez mais brutal e selvagem.

A bravura animalesca e a astúcia individual ou de um batalhão definiam o vencedor do dia. A 3 de março de 1905, os japoneses romperam a linha de defesa russa. Quatro dias mais tarde, o comandante-geral do exército da Rússia ordenou a retirada de suas tropas, para escapar de um cerco total. A retirada virou fuga em pânico e, em 10 de março, as tropas japonesas ocuparam Mukden.

Nos combates, 70 mil japoneses e 20 mil russos morreram ou saíram feridos, vítimas de uma guerra colonial supérflua entre a potência russa e o emergente Japão. Ambos ambicionavam os territórios da Manchúria e da Coreia. A Rússia havia tomado a dianteira na corrida imperialista: arrendara a península chinesa de Liotung e conquistara o acesso ao Oceano Pacífico via Port Arthur. O Japão estava decidido a impedir, se necessário pelas armas, uma nova expansão russa no Oriente.


Avaliação equivocada

A Rússia entrou na guerra com uma avaliação completamente equivocada da situação. Um ano antes da derrota devastadora em Mukden, um alto diplomata havia dito ao general Kuropatkin: "Alexei Nikolaevitch, você conhece a situação interna da Rússia. Para deter a revolução, precisamos de uma pequena guerra vitoriosa". Uma vitória militar deveria despertar o sentimento nacionalista e desviar a atenção das crescentes tensões no império czarista. Acreditava-se que o Japão não teria condições de resistir às tropas russas.

Tropas do 55° Regimento de Podil russo se concentrando para a Batalha de Mukden


Arrogante, Moscou negou-se a fazer concessões, quando os japoneses quiseram resolver politicamente o conflito de interesses na China e na Coreia. Na madrugada de 9 de fevereiro de 1904, os japoneses atacaram de surpresa navios de guerra russos na base naval de Port Arthur (atual Lüshunkou), na Manchúria, sem declarar guerra oficialmente. Esse episódio marcou o início de uma série de derrotas arrasadoras para a Rússia, que pensava apenas numa "pequena guerra contra o nanico Japão".

Poucos semanas depois de perderem Mukden, os russos passaram por um fiasco no mar, próximo a Tsushima. A frota russa do Báltico navegara 28 mil quilômetros para contornar a África. Chegando ao estreito de Tsushima, foi totalmente dizimada pelos japoneses, nas noites de 27 e 28 de maio de 1905. Essa derrota forçou o czar Nicolau II a aceitar, em 9 de junho, as negociações de paz propostas pelo presidente norte-americano Theodore Roosevelt.

A guerra terminou com o Tratado de Portsmouth, assinado a 5 de setembro de 1905. Para a Rússia, o conflito não passou de uma dispendiosa aventura colonialista, com considerável perda de prestígio nas relações internacionais. No campo da política interna, as consequências foram fatais: a guerra, que visara a acalmar as tensões sociais, desembocou na Revolução Russa de 1905.

Fonte: DW


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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

A DEFESA DE TOBRUK (1942)

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Em 20 de junho de 1942, as tropas alemãs iniciaram o ataque decisivo ao porto líbio de Tobruk, cuja importância era estratégica para o avanço do Afrikakorps de Hitler. A batalha foi o ponto alto da carreira de Rommel.


Por Dirk Kaufmann


Às 5h20 da manhã de 20 de junho de 1942, o Afrikakorps alemão atacou a cidade portuária de Tobruk, na Líbia. Sob o comando do general Erwin Rommel, uma divisão de infantaria e duas divisões de tanques, apoiadas pela Força Aérea e pelo 20º Exército italiano, abriram fogo.

Por volta das 9 horas, os agressores atingiram o cruzamento da Via Balbia com a estrada para El Adem, chamada King's Cross pelos ingleses. A contraofensiva da 32ª Brigada de Tanques britânicos chegou tarde demais. Com a tomada do King's Cross, às 13h30, a queda de Tobruk estava praticamente selada.

Mapa do dispositivo defensivo em Tobruk


A resistência ainda continuou até o dia seguinte. Vinte e quatro horas depois do primeiro tiro, os alemães chegaram ao porto. Um correspondente de guerra narrou assim os acontecimentos: 

"São 5h10 da manhã. Começou o segundo dia da batalha por Tobruk e, a verdade, ele prenuncia o fim da operação. A noite passada foi iluminada pelos lança-chamas. Agora, aqui no porto de Tobruk, ergue-se uma enorme coluna de fumaça, uma parede que se estende de Leste a Oeste. A nuvem de fumaça sobe de um depósito de petróleo, incendiado por soldados em fuga. Ela paira como um sinal de infortúnio sobre a fortaleza".


Valor estratégico para abastecimento

Tobruk, que em tempos de paz tinha só uma população de 4 mil habitantes, situa-se na costa da Líbia, junto a uma ampla baía de águas profundas. Era, portanto, um dos melhores portos naturais da costa norte-africana, o que lhe dava um imenso valor estratégico como centro de abastecimento. Foi disputadíssima durante toda a Segunda Guerra Mundial. Utilizada primeiramente pelos italianos como base para seus ataques à Cirenaica, em janeiro de 1941 passou ao controle dos ingleses.

Rommel já havia tentado ocupar Tubruk um ano antes. Na ocasião, as tropas inglesas no norte da África, enfraquecidas por perdas sofridas na Grécia, tiveram de recuar até a fronteira do Egito, mas conseguiram defender Tobruk. Rommel fracassou devido a excessivas perdas no flanco sul e porque Tobruk era abastecida constantemente pelo mar. Além disso, foi surpreendido pela resistência de unidades neozelandesas, que se destacaram por sua bravura na defesa do porto, como lembra o historiador Barton Maughan. Depois de sitiar a cidade durante 242 dias, Rommel viu-se obrigado a interromper a campanha.

Tobruk em chamas após um bombardeio alemão.


Esse fiasco, porém, não deveria se repetir em junho de 1942. A Operação Veneza, destinada a expulsar os ingleses da África do Norte, tinha sido mais bem preparada. Subestimando o significado estratégico de Tobruk, os ingleses haviam deixado ali apenas a inexperiente segunda divisão sul-africana. Desta vez, as tropas alemãs levaram apenas um dia para conquistar a cidade. Às 6h30, o comandante da fortaleza, general Klopper, entregou-se aos nazistas, fato que a rádio oficial alemã registrou com a seguinte notícia:

"Do quartel geral do Führer, 21 de junho de 1942. O comando superior da Wehrmacht (Forças Armadas) informa: tropas alemãs e italianas, comandadas pelo general Rommel, tomaram a maior parte da cidade de Tobruk. Em consequência, um parlamentar inglês propôs a comandantes do Exército italiano a entrega da fortaleza. A cidade e o porto estão ocupados. Até agora, foram presos mais 25 militares, entre eles vários generais, e apreendido um volume inestimável de armas."

A conquista de Tobruk representou o auge da carreira de Rommel. Mas sua tentativa de avançar até o Egito fracassou. Na primeira batalha de El Alamein, o Afrikakorps foi contido e derrotado pelos ingleses. Outra consequência da batalha de Tobruk foi a nomeação do general Bernard L. Montgomery para o comando do 8º Exército dos Aliados, que também acabaria sendo promovido a marechal de campo por suas vitórias no norte da África.


Fonte: DW


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sábado, 8 de fevereiro de 2020

A INVASÃO DE CORRIENTES (1865)

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A Invasão de Corrientes foi um episódio ocorrido no início da Guerra do Paraguai, na segunda etapa da ofensiva paraguaia, após a Invasão do Mato Grosso, no início de 1865.

As forças paraguaias buscavam levar apoio aos blancos, no Uruguai, e precisavam para isso atravessar o território argentino. Em março de 1865, López pediu ao governo argentino autorização para que o exército comandado pelo general Venceslau Robles, com cerca de 30 mil homens, atravessasse a província de Corrientes. O exército do sul paraguaio tinha duas colunas: a força principal com 14 mil homens na infantaria, 6000 na cavalaria e 30 peças de artilharia. A força auxiliar, sob o tenente general Estigarribia com 7.000 homens na infantaria, 3.000 da cavalaria e 5 canhões. O presidente Bartolomeu Mitre, aliado do Brasil na intervenção no Uruguai, negou-lhe a permissão. Em resposta a esta negativa, no dia 18 de março de 1865, o Paraguai declarou guerra à Argentina.

General Estigarríbia, comandante das tropas paraguaias


Uma vez declarada a guerra, os paraguaios buscaram evitar que o Exército Argentino detivesse seu avanço, efetuando uma manobra de distração, ao mesmo tempo em que outra frente avançava pela costa do rio Uruguai. Isto foi feito através da ocupação da cidade de Correntes, numa estratégia que também permitiria controlar o curso superior do rio Paraná, deixando aberta a comunicação através da província de Corrientes.

Na sexta-feira de 13 de abril de 1865, uma esquadra paraguaia de cinco belonaves a vapor, com 2.500 homens, sob o comando de Pedro Ignacio Meza se aproximou de Correntes. Os navios passaram pela cidade em direção ao sul, depois retornaram ruma ao norte e atacaram os vapores de guerra argentinos 25 de Mayo e Gualeguay, que estavam sendo reparados no porto da cidade. No 25 de Mayo havia uma tripulação de 80 homens com uma bateria de artilharia, já o Gualeguay estava em terra, desarmado e somente com uma guarda comandada pelo subteniente Ceferino Ramírez. A tripulação de dois dos navios paraguaios atacou aos argentinos, e após uma breve luta com algumas baixas, aprisionou os navios. Em seguida, as tropas do general Robles tomaram a cidade com uma tropa de entre 3 e 4 mil homens, enquanto o governador Manuel Lagraña abandonava a cidade.

Campanha de Corrientes

À tarde do mesmo dia, enquanto uma coluna de cavalaria de 800 homens chegava por terra à cidade, Robles reuniu uma assembleia popular, aparentemente formada exclusivamente por membros do partido federal, e da oposição ao governo central que, por sua vez, nomeou um governo provisório, formado por Teodoro Gauna, Víctor Silvero e Sinforoso Cáceres. Porém na práctica este governo só referendava as ordens da comissão paraguaia de José Bergés, Miguel Haedo e Juan Bautista Urdapilleta.

Ao invadir Corrientes, López pensava obter o apoio do poderoso caudilho argentino General Justo José de Urquiza, governador das províncias de Corrientes e Entre Ríos, chefe federalista hostil a Mitre e ao governo de Buenos Aires. A invasão da Argentina por López, entretanto, teve efeito oposto.

Soldados de infantaria paraguaios

As ações de López deram aos federalistas argentinos apenas duas opções: lutar contra o invasor ou continuar neutros. Urquíza, inicialmente, prometeu lutar contra López. A atitude ambígua assumida por Urquiza, entretanto, manteve estacionadas as tropas paraguaias, que avançaram posteriormente cerca de 200 km em direção ao sul, mas terminaram por perder a ofensiva.

López deixou 12.000 homens guarnecendo a cidade, enquanto 25.000 foram enviados ao rio Paraná para invasão do Rio Grande do Sul.


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

OSCAR 2020: A HISTÓRIA QUE INSPIROU ‘1917’, O ACLAMADO FILME DE GUERRA INDICADO A DEZ ESTATUETAS

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1917, filme dirigido pelo britânico Sam Mendes sobre a Primeira Guerra Mundial, transcorre em apenas dois planos-sequência (como se fossem duas grandes cenas, com apenas uma interrupção).

E essa destreza técnica contribuiu para que a obra fosse indicada a dez categorias do Oscar, entre elas a de melhor filme e de melhor diretor. O longa de Mendes, premiado no Oscar em 2000 por Beleza Americana, trata de dois soldados britânicos que são enviados, através de um campo de batalha, para levar uma mensagem que pode salvar a vida de 1,6 mil integrantes de um regimento de Devonshire durante a batalha de Passchendaele.

Mas quão reais são os eventos históricos em que o novo filme se baseia? E por que a grande parte dos críticos já o colocou como favorito ao Oscar?


Baseado "vagamente" em fatos reais

O longa se passa em um cenário verdadeiro: a Primeira Guerra Mundial, que transcorreu de 1914 a 1918 e teve como cenário central o continente europeu, principalmente o norte da França. Mais de 17 milhões de pessoas morreram no conflito.

Segundo o diretor relatou em um podcast da revista especializada Variety, a história de 1917 se baseia no relato que seu avô, Alfred Mendes, lhe fez na infância. "Havia uma história que era um fragmento do relato de meu avô, que lutou na Primeira Guerra. Era a história de um mensageiro que tinha um recado para levar. E isso era tudo que podia contar", relembra o diretor. 

"Essa história, ou esse fragmento, permaneceu comigo e obviamente eu a ampliei e fiz mudanças enormes, mas a essência é a mesma.Alfred Mendes, que nasceu na ilha caribenha de Trinidad e Tobago, se mudou para o Reino Unido e se juntou ao Exército britânico que lutou no norte da França.

Cena real da Batalha do Passchendaele: morte e sofrimento em meio ao lamaçal

No longa, os personagens principais são o soldado Blake (Dean-Charles Chapman, de Game of Thrones), seu companheiro Schofield (George MacKay, de Capitão Fantástico), o general Erinmore (Colin Firth, de O Discurso do Rei) e o coronel MacKenzie (Benedict Cumberbatch, de Sherlock).

Mas nenhum deles existiu na realidade. Alguns apontam que Blake se inspira no avô de Sam Mendes, que escreveu um livro de memórias sobre sua participação da Primeira Guerra Mundial.

E como aponta o portal History and Hollywood, o maior combate retratado no longa pode ser a batalha de Passchendaele ou a terceira batalha de Ypres, que durou de 31 de julho a 10 de novembro de 1917.


A técnica

Como o próprio diretor afirmou ao receber um prêmio por 1917, esta é uma obra para ser vista no cinema. Isso porque uma de suas principais características é ser narrado em dois planos-sequência.

"A estratégia audaciosa de Mendes por trás das câmeras tem chamado bastante atenção. Filmando em longas tomadas com a menor quantidade de cortes possíveis na edição, o diretor cria a ilusão de um movimento contínuo em meio a soldados que avançam por batalhas e campos enlamaçados", escreve a crítica Caryn James na BBC. E acrescenta: "A técnica é deslumbrante, mas é mais do que um truque: aumenta a tensão e o imediatismo da imagem, o que permite nos conectarmos com os dois heróis".

Longa foi filmado no Reino Unido e contou com cerca de 500 figurantes

Estima-se que o filme custou mais de US$ 90 milhões (R$ 372 milhões) e conte com mais de 500 figurantes. 

"A história de meu avô não era nada romântica. Não era sobre heroísmo ou valentia, mas sim sobre um soldado que teve ou não a sorte de sobreviver à guerra", afirmou Mendes à revista especializada The Hollywood Reporter.

"E foi por isso que minha ideia sempre foi: por que não grudamos o público nessa experiência de uma maneira que parece não se romper nunca, em um filme que se parece com o tique-taque de um relógio, no qual experimentamos o que acontece em tempo real a cada segundo?"

Fonte: BBC