"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quinta-feira, 20 de outubro de 2022

EDITOR DO PORTAL PUBLICA ARTIGO EM REVISTA EQUATORIANA

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O editor do portal Carlos Daróz-História Militar publicou artigo na Revista Acadêmica de História Militar, no Equador.


A edição especial nº 8 da Revista Académica de Historia Militar, que trata das independências dos países latino-americanos, publicou o  artigo "INDEPENDENCIA O MUERTE!": EL BICENTENARIO DE LA INDEPENDENCIA DE BRASIL, no qual Carlos Daróz analisa o processo de emancipação política de Portugal e a guerra de independência que consolidou a formação do Império do Brasil.

A revista é editada pelo Centro de Estudios Históricos del Ejercito Ecuatoriano e contou com artigos de pesquisadores de diversos países, como: Equador, Brasil, Colômbia, Argentina, Peru, Venezuela e Espanha.







sábado, 15 de outubro de 2022

O MASSACRE DE SREBRENICA: "O TRIUNFO DO MAL"

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Em 1995, cerca de 8 mil homens e meninos muçulmanos foram executados por forças sob o comando do general Ratko Mladic

O massacre de muçulmanos de Srebrenica, pelo qual o ex-comandante servo-bósnio Ratko Mladic foi acusado de genocídio, é considerada a maior atrocidade cometida na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Mladic foi preso em 2011, depois de passar mais de 15 anos foragido e condenado à prisão perpétua em 2017 pelo Tribunal Penal Internacional.

Em cinco dias de assassinatos em julho de 1995, cerca de 8 mil homens e jovens muçulmanos foram sistematicamente exterminados em Srebrenica, então sob a fraca proteção de soldados holandeses das forças de paz da ONU, no que foi descrito pelo tribunal de crimes de guerra da ONU como "o triunfo do mal".

Em 1995, Srebrenica havia sido designada pela ONU como "área segura". Posteriormente ao massacre, um juiz da corte de Haia descreveu o que ocorreu na cidade como "verdadeiras cenas do inferno escritas nas páginas mais macabras da história humana".

O general Mladlic fotografado com crianças muçulmanas em Srebrenica na véspera do massacre

Milhares de civis - na maioria muçulmanos bósnios - tinham buscado refúgio em Srebrenica para escapar de outras ofensivas sérvias no nordeste da Bósnia. Eles estavam sob proteção de apenas 100 mal equipados soldados holandeses das forças de paz, que provaram não ser páreo para o Exército Sérvio que avançava pesadamente armado.

As forças sérvias bombardearam Srebrenica entre 6 e 11 de julho, antes de entrarem na cidade acompanhadas de equipes de filmagem. No dia seguinte, mulheres e crianças foram separadas dos homens e colocadas em ônibus, mostraram gravações de TV da Sérvia. Os homens e meninos foram separados "para interrogatório por suspeitas de crimes de guerra". Segundo Mladic disse às mulheres, todos seriam retirados dos ônibus para serem reunidos posteriormente em segurança.

Com pedidos de reforços negados, os holandeses das forças de paz foram forçados a testemunhar a execução dos civis enquanto as tropas sérvias agiam com o objetivo de "limpeza étnica". Nos dias anteriores ao ataque, 30 mil muçulmanos que fugiam do avanço do Exército Sérvio lotavam a cidade. Depois do massacre, não havia restado nenhum muçulmano.

Milhares de homens e meninos com idades de 10 a 77 anos foram cercados e assassinados. Aqueles que tentaram se esconder em suas casas foram, de acordo com as evidências apresentadas no julgamento do general sérvio Radislav Krstic, em Haia em 2000, "caçados como cães e massacrados".

"Presenteamos a Srebrenica sérvia ao povo sérvio. Chegou o momento de vingar os 'turcos' (nome depreciativo para os muçulmanos bósnios)", disse Mladic em Srebrenica, em palavras registradas então pelos repórteres de rádio e televisão.

Mais de 60 caminhões com os refugiados saíram de Srebrenica para locais de execução onde eles foram vendados, tiveram as mãos atadas e foram mortos por disparos de rifles automáticos. Algumas das execuções foram feitas à noite sob a luz de refletores. Posteriormente, escavadoras industriais empurraram os corpos para valas comuns.

Alguns foram enterrados vivos, disse em 1996 ao tribunal de Haia o policial francês Jean-Rene Ruez, que coletou evidências de muçulmanos bósnios. Segundo ele, há provas de que as forças sérvias mataram e torturaram os refugiados à vontade. Muitos cometeram suicídio para evitar que seus narizes, lábios e orelhas fossem cortados fora. Também há relatos de adultos que foram forçados a matar seus filhos ou assistir aos soldados porem fim à vida de crianças.

Sepulturas das vítimas do massacre no memorial de Srebrenica construído após a guerra
 
Mais tarde, foi revelado que Mladic foi capaz de atuar sem ser coibido por ter emitido ultimatos à força de proteção da ONU. Sugeriu-se que o alto comando da ONU havia prometido suspender os bombardeios contra o Exército Sérvio em troca da libertação de 370 soldados da ONU mantidos prisioneiros, com Mladic considerando isso um sinal verde para atacar Srebrenica.

O comandante dos soldados holandeses da ONU, coronel Thomas Karremans, disse ao tribunal de Haia em 1996 que ele primeiramente pediu ataques aéreos da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), quando os soldados de Mladic começaram sua ofensiva em 6 de julho, mas que esse pedido não foi acatado até 11 de julho, data na qual Srebrenica ficou sob controle sérvio.

Karremans disse que um longo bloqueio sérvio anterior ao ataque deixou o batalhão holandês quase sem alimentos e combustível, mas que pedidos para novos suprimentos não foram respondidos. Em 1999, a ONU admitiu seu erro em esperar que 100 soldados holandeses detivessem o Exército Servio-bósnio.

Em 22 de novembro de 2017, Ratko Mladic foi condenado pelo Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia à prisão perpétua por crimes de guerra. Entre as acusações estavam sua participação no massacre de Srebrenica e no cerco de Sarajevo.

Fonte: BBC, CNN, EFE


quinta-feira, 13 de outubro de 2022

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - SARGENTO-MOR CARLOS ENRIQUE BUTLER



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Soldados de ascendência hispânica serviram como voluntários, tanto na União quanto nos exércitos confederados, durante a Guerra Civil Americana. 


* ??/??/1837 - Matanzas, Cuba

+ ??/??/1894 - Fort Meade, EUA


O sargento-mor norte-americano Carlos Enrique Butler foi um deles. Depois de se alistar em julho de 1862, ele participou de todas as grandes batalhas na Virgínia. Após isso, foi acometido por uma disenteria antes de Gettysburg, em meados de 1863. Mais tarde, Butler tornou-se padre e serviu sua "segunda missão" na fé pelo resto de sua vida.

Nascido em 1837 em Matanzas, Cuba, filho de Charles P. e Dona Francisca Arrendondo, Butler frequentou o Seminário Teológico Kenyon College em Ohio, antes da guerra. Segundo seu pai, Carlos estava "ansioso para servir a seu país de adoção" e alistou-se em julho de 1862 na cidade de New York.

Ele foi nomeado sargento do 145º Regimento de Infantaria de New York, uma unidade pertencente ao 12º Corpo do Exército do Potomac, que desempenhou papel significativo na Batalha de Chancellorsville. Durante a marcha para Gettysburg, o sargento-mor Butler foi afligido pela disenteria e transferido para o Corpo de Reserva de Veteranos. Infelizmente, sua papelada foi extraviada e, como resultado, ele foi preso erroneamente como desertor, e encarcerado por vários meses.

Por fim, os registros foram corrigidos e Carlos recebeu dispensa e uma pensão. Ordenado como padre episcopal em 1868, serviu em dioceses da Pensilvânia, Nova York, Ohio, Colorado, Kansas, Cidade do México e Flórida, antes de sua morte em Fort Meade, em 1894.

Companheiro de clero o descreveu como "vivendo um ideal elevado e tentando elevar outros, suportando, sem se queixar, provações e dificuldades muito reais".



terça-feira, 11 de outubro de 2022

A BATALHA DE FLEURUS (1622)

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Há quatrocentos anos, os espanhóis venciam um exército de mercenários protestantes na sangrenta Guerra dos Trinta Anos 


Em Fleurus, durante a Guerra dos Trinta Anos, o exército mercenário protestante do Conde Palatino, sob o comando do general mercenário Peter Ernst II von Mansfeld e seu tenente-general e comandante de cavalaria, o Duque Christian von Brunswick, de apenas 22 anos, foi interceptado pelo Exército do Palatinado espanhol, liderado por Gonzalo Fernández de Cordoba y Cardona (bisneto do Gran Capitan Gonzalo de Cordoba). 

Em julho de 1622, o Exército da Flandres, sob Ambrosio Spinola, havia iniciado o cerco de Bergen-op-Zoom. O exército mercenário de 12.000 homens recebeu a missão de invadir o sul da Holanda e aliviar o cerco da cidade. Depois que as tropas de Mansfeld atravessaram o rio Sambre, em 29 de agosto, os 8.000 homens liderados por Córdoba os confrontaram perto da cidade de Fleurus (Fleuru, no condado de Namur). Se o exército mercenário pudesse romper a linha católica, as tropas de Spinola corriam o risco de serem atacadas pela retaguarda.

Peter Ernst II von Mansfeld, Conde Palatino, comandante do exército de mercenários

Mansfeld comandou a infantaria no centro e o Duque Christian a cavalaria na ala direita. Córdoba, cuja cavalaria era fraca, ordenou a Baltasar de Santander que organizasse a infantaria em quatro grandes quadrados defensivos. Brunswick esperava romper a formação espanhola com um ataque frontal completo. 

A primeira carga foi repelida pela cavalaria do coronel Gauchier, mas Brunswick ordenou uma segunda carga. A primeira linha foi empurrada para trás novamente, mas a segunda linha conseguiu derrotar a cavalaria valã.  Brunswick, então, concentrou-se contra a infantaria espanhola, mas não conseguiu resistir ao ataque, pois os homens do famoso Tercio de Napoli, sob o comando do mestre de campo Francisco de Ibarra, mantiveram-se firmes enquanto os mosqueteiros camuflados na floresta começaram a disparar contra a cavalaria protestante. 

Mapa mostrando a primeira fase da Batalha de Fleurus (1622)


Durante uma quarta e última carga desesperada, Brunswick foi gravemente ferido por um tiro no braço esquerdo, que, mais tarde, foi amputado. Após cinco horas de combate, Mansfeld ordenou uma retirada. A cavalaria protestante fugiu, deixando a infantaria alemã à sua própria sorte, e muitos dos homens foram mortos ou capturados. Gauchier também capturou a artilharia de 11 canhões do inimigo e sua bagagem.

Derrotado na batalha, Brunswick teve seu braço esquerdo amputado por um tiro de mosquete

Os protestantes sofreram 5.000 baixas (mortos, feridos ou capturados), o Exército do Palatinado muito menos, cerca de 1.200.  Entre os mortos estavam vários nobres espanhóis, incluindo mestre de campo de Ibarra, atingido por um tiro de mosquete, bem como dois coronéis de Mansfeld: o Duque Frederick de Saxe-Weimar e o Conde Heinrich von Ortenburg.

A Batalha de Fleurus foi comemorada como uma grande vitória pelos espanhóis. Fernández de Cordoba y Cardona foi feito Marquês de Maratea pelo Rei Felipe IV. No entanto, Cordoba não havia conseguido impedir que 3.000 cavaleiros protestantes chegassem a Breda. Os esquadrões de Mansfeld se reuniram ao exército de Maurício de Nassau, Príncipe de Orange, e participaram do levantamento do cerco de Bergen-op-Zoom, no dia 2 de outubro.