"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



segunda-feira, 24 de março de 2014

GUERRA MÉXICO – EUA (1845-1848)

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Quando o México se tornou independente, em 1821, além de seu território atual compunham o país os atuais estados do sudoeste americano: do Texas, no leste, até a Califórnia, na costa do Pacífico. Tensões com os EUA, cada vez mais expansionistas, logo degeneraram em conflito.

Em 1821 as primeiras 300 famílias americanas buscando novas terras para cultivar estabeleceram-se nas planícies desocupadas do Texas. No fim da década, havia mais de 30 mil colonos dos EUA, três vezes mais que os americanos nativos. O governo mexicano considerou a presença dos colonos uma ameaça, e, em 1830, suas tropas ocuparam cidades texanas e passaram a vigiar as fronteiras, impondo pesados tributos sobre as mercadorias importadas. Os soldados foram retirados em 1832, mas, quando o líder texano Stephen Austin foi à Cidade do México no ano seguinte reivindicar que o governo tornasse o Texas uma província autônoma, ele foi detido e mantido preso por 18 meses.


Guerra com o Texas

As tropas mexicanas retornaram e a tensão aumentou até que, em setembro de 1835, elas tentaram desarmar um grupo de texanos na cidade de Gonzales. Os texanos rebelaram-se e, recorrendo a ataques-surpresa, no fim do ano haviam expulsado do território todos os soldados mexicanos. Mas o governo do México já preparava uma resposta, reunindo um exército comandado pelo presidente general Sant’Anna para reconquistar o Texas. O exército atravessou o rio Grande em fevereiro de 1836 e avançou para San Antonio. Um dos primeiros choques ocorreu no Álamo.

General Antonio Lopez de Sant´Anna, presidente do México

Com a chegada do exército mexicano, as perspectivas de um Texas independente pareciam sombrias, mas uma convenção foi convocada para redigir uma declaração de independência. Ela foi assinada em 3 de março, enquanto os defensores do Álamo ainda resistiam. As perspectivas pareceram ainda piores em 27 de março, quando, depois de obterem vitória em Coleto, os mexicanos massacraram 300 texanos em Goliad. Todas as vítimas haviam se rendido e entregado as armas, esperando ser tratados como prisioneiros de guerra.

Em seguida, Sant´Anna espalhou suas forças para cobrir tanto território quanto possível, enquanto Sam Houston, que comandava o pequeno exército texano, empreendeu uma retirada estratégica. Quando os texanos passaram à ofensiva, depararam-se com parte do exército mexicano comandado pelo próprio general Sant´Anna, perto do rio San Jacinto (atual cidade de Houston). Em um terrível combate, ocorrido em 21 de abril, os texanos surpreenderam o muito mais numeroso exército mexicano, obtendo a vitória depois de apenas 18 minutos de luta. Mais de 600 mexicanos perderam a vida, muitos deles afogados nos pântanos junto ao rio quando tentavam fugir.

Sam Houston, fundador e presidente da República do Texas

Sant´Anna foi capturado na operação de limpeza do terreno no dia seguinte. Em maio ele assinou dois documentos, conhecidos como Tratados de Velasco, assinalando o fim da guerra. No entanto, mesmo com o general Sant´Anna afastado da presidência, o governo mexicano recusou-se a reconhecer o Texas como um território independente.



A República do Texas

Muitos texanos, entre os quais o novo presidente Sam Houston, esperavam integrar-se aos Estados Unidos. Contudo, a ideia foi rejeitada pelos estados contrários à escravidão, temerosos de que o escravista Texas alterasse o equilíbrio na União entre os estados livres e os estados escravocratas. Durante os nove anos seguintes, o Texas permaneceu um Estado independente – a República do Texas - , ainda que sua fronteira com o México estivesse sujeita a controvérsias. Mas a nova república era pobre; grandes somas eram necessárias para manter os Texas Rangers e expulsar os bandos de soldados mexicanos que pilhavam a região. Pedidos para que o Texas ingressasse na União aumentaram tanto no território como nos estados sulistas dos EUA.



Guerra entre o México e os EUA

Em 1845 o Congresso dos EUA votou pela admissão do Texas na União. James Polk havia vencido a recente eleição presidencial porque defendia a entrada do Texas e também a aquisição da Califórnia. Ele enviou uma delegação à Cidade do México para negociar um acordo fronteiriço e a compra do Novo México e da Califórnia por US$ 30 milhões. Mas os mexicanos trataram com desdém a delegação dos EUA, o que levou Polk a enviar tropas para a disputada foz do rio Grande, no golfo do México. Os mexicanos contra-atacaram e a guerra eclodiu em abril de 1846.
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Tropas norte-americanas marchando para Monterrey

No oeste, o general Stephen Kearny e 1.600 soldados, entre os quais um grupo de voluntários do Missouri liderado por Alexander Doniphan, capturou facilmente Santa Fé, no Novo México. Kearny avançou em seguida para a Califórnia e verificou que a região já havia sido ocupada por um grupo de homens armados sob o comando do explorador John Frémont. Enquanto isso, Doniphan e seus homens seguiram de Santa Fé para o sul com o objetivo de ocupar El Paso e, em seguida, atravessar a fronteira para capturar Chihuauha, no norte do México.

No Texas, o comandante americano, general Zachary Taylor, derrotou com facilidade os mexicanos em Palo Alto e Resaca de La Palma e cruzou o rio Grande, capturando Matamoros e avançando pelo interior para se encontrar com a força de Doniphan e tomar Monterrey depois de um sítio de cinco dias em setembro.

General Zachary Taylor

A essa altura, Sant´Anna voltou do exílio em Cuba, onde estivera desde que deixou a presidência em 1844, para reassumir a liderança de seu país. Após reorganizar o exército, em fevereiro de 1847 chegou perto de derrotar Taylor em Buena Vista, perto de Monterrey.

Para romper o impasse, o presidente Polk ordenou que o general Winfield Scott levasse por mar um exército de 12 mil homens para capturar o porto mexicano de Veracruz, na costa do Caribe. A cidade rendeu-se em março depois de um bombardeio de três dias e as tropas americanas avançaram em seguida pelo interior para capturar a Cidade do México. Sant´Anna sofreu três sérias derrotas antes de pedir um armistício, em agosto. Depois de duas semanas de negociações infrutíferas, os soldados americanos retomaram a luta, entrando na Cidade do México em setembro e nela permanecendo até que os termos de paz fossem aceitos.

Operações militares dos EUA durante a guerra


Despojos da guerra

Em boa medida, os EUA venceram porque o México foi incapaz de apresentar uma frente unida. A presidência havia mudado de mãos diversas vezes durante a guerra e algumas províncias recusaram-se a lutar.

Pelo Tratado de Guadalupe-Hidalgo, assinado em fevereiro de 1848, o México reconheceu a independência do Texas e seu ingresso na União. Concordou também em vender aos EUA, por US$ 15 milhões, os territórios que hoje correspondem aos estados do Novo México, Arizona, metade do Colorado, Utah, Nevada e Califórnia. A fronteira foi fixada ao longo do rio Grande e do rio Gila, prolongando-se depois para o oeste até o Pacífico.

Artilharia norte-americana em ação na Batalha de Palo Alto

A guerra contra os EUA deixou o México com um debilitado governo central. O país estava dominado por caudilhos regionais. Sant´Anna retornou como presidente em 1853, mas ele e os conservadores foram derrubados na revolução de 1855.

Em 1853, em troca de mais US$ 10 milhões, o empobrecido governo Sant´Anna concordou com outro ajuste das fronteiras no sul do Novo México e no Arizona. A área adquirida forneceria terreno adequado para a US Southern Pacific Railroad chegar até o Pacífico. Por essa época, a descoberta de ouro na Califórnia em 1848 havia transformado um estado até então rural e pobre em uma das regiões mais ricas do continente.


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