"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

1954: COMEÇA A GUERRA DE INDEPENDÊNCIA DA ARGÉLIA

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No dia 31 de outubro de 1954, começou a guerra pela independência na Argélia. A luta contra as tropas de ocupação da França durou sete anos e causou a morte de mais de 260 mil pessoas.

Por Peter Philip

Os primeiros disparos foram ouvidos na noite de 31 de outubro para 1º de novembro de 1954. Jovens argelinos, integrantes da até então desconhecida FLN (Frente de Libertação Nacional), iniciavam assim a luta para acabar com o domínio francês, que começara através da invasão do norte da África em 5 de julho de 1830, consolidando-se nos 17 anos seguintes. Num panfleto, os rebeldes conclamavam à criação de um Estado independente na Argélia, cujo sistema social deveria ser uma mescla de social-democracia e islamismo e que garantisse também direitos iguais a todos os cidadãos.

Sempre existira insatisfação popular quanto ao domínio francês na Argélia, pois uma minoria europeia imperava sobre a maioria do povo argelino, constituído de árabes e berberes. No decorrer dos anos, os franceses começaram a tratar a colônia norte-africana como se fosse uma parte do território da França e os argelinos, como estrangeiros no próprio país. Foram feitas inúmeras tentativas de impor a igualdade de direitos entre europeus e muçulmanos, mas sempre sem êxito duradouro.

Por exemplo, no ano de 1947. A Assembleia Nacional, em Paris, aprovou um estatuto para a Argélia, no qual a colônia foi definida como "um grupo de províncias com caráter urbano, autonomia financeira e uma organização especial". O que isto significava ficou claro na constituição do Parlamento argelino: divididos em dois grupos numericamente iguais, os 120 deputados representavam, de um lado, os 370 mil colonizadores europeus e os 60 mil argelinos assimilados e, do outro, a grande maioria de cerca de 1,3 milhão de árabes e berberes.


Concessões

Mas foram introduzidas também algumas concessões aos muçulmanos argelinos: eles podiam viajar à França em busca de trabalho e, lá, podiam professar livremente a sua religião. Além disto, foi permitido oficialmente o ensino do idioma árabe na Argélia.

O líder argelino Ahmed Ben Bella


O documento não conseguia ocultar que teria prosseguimento a discriminação da população da Argélia e isto ficava ainda mais claro no dia a dia argelino. A insatisfação crescia. Tanto mais quanto maior o número de países árabes a se livrarem do jugo dos europeus e a conquistarem sua independência nacional.

A resistência começou a aparecer paulatina e cautelosamente. Um primeiro sinal de alarme para os franceses ocorreu em 1950, com um assalto ao correio central de Oran, comandado por Ahmed Ben Bella. O líder rebelde argelino tinha servido no Exército francês durante a Segunda Guerra Mundial, como muitos dos seus compatriotas, tendo sido altamente condecorado pelas suas ações nos campos de batalha da Itália. Ben Bella transformou-se na figura símbolo da luta argelina de libertação e foi, posteriormente, o primeiro chefe de governo da Argélia independente.

Inicialmente, porém, a repressão francesa da rebelião ficava a cada dia mais cruel. Depois dos primeiros disparos de 31 de outubro de 1954, milhares de argelinos foram presos. A maioria deles nada tinha a ver com a FLN e sua luta. Os franceses continuaram cometendo os mesmos erros: as tentativas de concessões aos argelinos sempre foram muito modestas e vieram tarde demais.


Ódio

Mas todas as manifestações antifrancesas eram punidas com extremo rigor. Com isto, o ódio dos argelinos tornou-se sempre mais profundo, chegando ao auge quando o Exército francês na Argélia foi reforçado com 500 mil homens. Isto – e a pressão da FLN sobre muçulmanos hesitantes – consolidou a frente da rebelião.

Soldados franceses com aprisionam um argelino 


A situação ficou ainda mais tensa quando a Tunísia e o Marrocos conquistaram a independência, mas a França continuava enviando os líderes argelinos para a prisão. Houve massacres dos dois lados e, muitas vezes, a iniciativa partia dos próprios colonizadores franceses, apelidados de pieds noirs ("pés negros"), que temiam que o governo parisiense acabasse abrindo mão da Argélia. Os colonizadores rebelaram-se duas vezes, mas acabaram não podendo impedir que ocorresse aquilo que temiam.

Na França, a rebelião argelina acabou levando Charles de Gaulle de volta ao poder: em 1958, ele decretou maiores direitos para os cidadãos muçulmanos da Argélia e, um ano depois, já falava do direito da Argélia à autodeterminação. O resto foi uma questão de tempo: a França iniciou as negociações com a FLN em 1961, depois que seus líderes foram libertados das prisões.

Na primavera europeia de 1962, foi acertado um plebiscito, realizado a 1º de julho. Seis milhões de argelinos votaram a favor da independência e apenas 16 mil foram contrários a ela. Em seguida, os políticos argelinos assumiram o poder em Argel e a maioria dos europeus deixou o país.

Fonte: DW


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

PPSh-41: SÍMBOLO DA VITÓRIA SOVIÉTICA NA 2ª GUERRA MUNDIAL

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O típico monumento ao soldado soviético apresenta capacete SSh-40, capa e uma sólida submetralhadora com um disco pesado no carregador e peculiar invólucro de janelas ovais ao redor do cano. A PPSh-41, ou pistola-metralhadora Shpagin modelo 1941, teve 6 milhões de exemplares fabricados durante a Segunda Guerra Mundial, tornando-se um dos símbolos mais reconhecíveis desse terrível episódio histórico.


A PPSh foi o herdeira da custosa submetralhadora Degtyarev PPD-34/40. Dela recebeu a aparência e o pesado carregador em formato de tambor para 71 munições, copiado da submetralhadora finlandesa Suomi, após a Guerra de Inverno nos anos 1939 e 1940. Pelas suas características, o correto funcionamento da arma dependia do uso individualizado dos carregadores em cada uma das submetralhadoras.

Ao contrário de sua antecessora, a PPSh era também muito mais simples e barata. Seus elementos estruturais fresados (parafusos) foram substituídos por partes prensadas, e seu corpo foi reduzido praticamente ao cano e ao ferrolho, que eram bem resistentes. Isso fez dela uma verdadeira máquina de combate, já que a industrialização no tempo de guerra exigia economia de materiais e tecnologia simples, porém confiável.

Outra particularidade dessa arma era a poderosa munição 7,62 × 25, a mesma da pistola Tokarev TT. O conjunto imprimia ao projétil uma alta velocidade e a taxa de tiro era incrível – de 900 a 1000 disparos por minuto.

O peso elevado, apontado muitas vezes como uma desvantagem, era, contudo, bom para o atirador. A PPSh se comportava com mais estabilidade durante as rajadas do que outras submetralhadoras, como a alemã MP-40. O freio de boca localizado na extremidade do cano proporcionava ainda um menor recuo ao refletir o fluxo dos gases para os lados.


Vassoura de trincheira

Todos esses elementos faziam da PPSh uma arma eficaz e temível, capaz de proporcionar alto poder de disparo até mesmo a 200 metros de distância. A alemã MP-40, por exemplo, era considerada eficaz em distâncias não superiores a 150 metros. Além disso, a PPSh podia massacrar o inimigo com a voracidade de um grupo de homens armados. O carregador com 71 munições era responsável pelo fluxo constante de fogo concentrado.

Soldado soviético armado com uma PPSh-41 capturando um alemão em Berlim

Em pouco tempo, a PPSh ganhou o apelido de “vassoura de trincheira”, mostrando-se extremamente eficaz em combates a curta distância em ambientes fechados, como trincheiras e áreas urbanas. Não é por acaso que os grupos de ataque que combatiam em zonas urbanas geralmente portavam essas submetralhadoras.

Mas a PPSh não foi reconhecida como a melhor submetralhadora da Segunda Guerra Mundial. Os especialistas concordam que o melhor modelo foi outra arma soviética – a PPS, uma simples submetralhadora, concebida por Aleksêi Surdeie, que teve cerca de meio milhão de exemplares produzidos.

Diz o ditado que “o ótimo é inimigo do bom”. A PPS somente entrou em serviço operacional em 1943, participando da libertação do cerco de Leningrado. Sua distribuição a outras unidades do fronte se tornou complicada (no momento da libertação havia sido produzidas apenas 46.000), e o Exército Soviético necessitava, desde os primeiros dias da guerra, de enormes quantidades.

A submetralhadora que preencheu a lacuna foi justamente a PPSh-41, que, portanto, mereceu seu lugar nos inúmeros monumentos aos soldados soviéticos.


Ficha Técnica



Tipo: Submetralhadora
Calibre: 7.62mm
Cadência de tiro: 900 disparos p/min
Alcance útil: 100m
Peso da arma: 3.64Kg
Velocidade do projetil: 450 m/s
Carregador: 35/71 cartuchos
Munição: 7,62 x 25 Tokarev

Fonte: defendingrussia

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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

IMAGEM DO DIA - 7/2/2018

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Highlanders escoceses carregando em combate durante a Batalha de Pestonpans, no contexto da Rebelião Jacobita de 1745



terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

UM POLICIAL BRASILEIRO QUE TOMBOU NA GRANDE GUERRA

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Por Fernando M. Vasconcelos

No dia 5 de outubro a Banda de Clarins "Edmundo Wright" do Regimento de Polícia Montada "9 de julho" comemorou seu 122º aniversário. E, como esse ano marca o centenário da entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial, trago aos senhores um texto alusivo ao Coronel Edmundo Wright, criador e patrono do centenário conjunto musical do Regimento.

Ao longo da história do Regimento encontramos vários personagens que engrandeceram, não somente a Cavalaria Paulista, mas toda a Polícia Militar do Estado de São Paulo, herdeira da Força Pública de São Paulo. Uma das mais emblemáticas é a figura do coronel Edmundo Wright, oficial do Exército Brasileiro comissionado no Regimento de Cavalaria da Força Pública na ultima década do século XIX, lembrando que nesse período os oficiais Intermediários e Superiores eram todos oriundos do EB. Isso só viria a mudar em 1906 com a vinda da Missão Militar Francesa.

Nascido em Santos, no ano de 1867, filho do inglês Joseph Richard Wright e da brasileira Guilhermina Vieira de Carvalho Wright, chegou à Força Pública de São Paulo em 28 de maio de 1894. Após frequentar por dois anos a Escola Militar do Rio Grande do Sul, e ser enviado ao 4º Batalhão de Infantaria da Força, que estava em Operação de Guerra na Vila de Caraguatatuba, devido a Revolta da Armada, ainda naquele ano foi transferido para o Corpo de Cavalaria Policial, logo após sua promoção de alferes a major. E nele serviu até o posto de tenente-coronel, exercendo as funções de Fiscal, Subcomandante e Comandante. 

O coronel Edmundo Wright, com o uniforme de comandante do Regimento de Cavalaria da Força Pública de São Paulo

Durante o seu comando, no ano de 1895, o tenente-coronel Edmundo Wright teve a ideia de reunir os clarins de ordens do Regimento e criar uma banda a cavalo. Na tarde de 5 de outubro daquele ano, em uma solenidade às 16h com a presença do Secretário de Justiça, Dr. Mello Peixoto, do comandante geral da Força Pública, coronel Silva Telles e demais oficiais da Instituição, foi inaugurado o conjunto com 29 homens a cavalo, inicialmente chamado de Corpo de Fanfarra, o que posteriormente foi modificado para Banda de Clarins, existente até hoje. E é a única do gênero no Brasil, por ser um conjunto musical que executa musicas a cavalo nas três andaduras: ao passo, ao trote e ao galope.

Em um período conturbado, teve a oportunidade de participar da Revolução Federalista, Revolta da Armada e de várias operações de controle e restabelecimento da ordem pública, como foi o caso da “Questão dos Protocolos”, em 1896, na qual a comunidade Italiana promoveu uma revolta que se espalhou por toda a capital paulista entre os dias 22 e 28 de agosto. Nesse confronto houve a morte de militares do Regimento, causadas por emboscadas dos italianos, e a baixa, devido a um grave ferimento causado por um disparo de arma de fogo, do próprio Edmundo Wright, que no episódio comandava o Regimento.

Após se aposentar, no ano de 1896, Edmundo Wright herdou os negócios da família, uma vez que seu pai era banqueiro e dono de vários empreendimentos no estado. Exerceu também as funções de comandante de unidades reserva da Guarda Nacional e a de Comissário do Estado de São Paulo em Londres, Turim, e, por último, Madri, na Espanha, onde tratava diretamente com o Governo local o comércio entre aqueles países e o Estado de São Paulo.

No ano de 1914 eclodiu a Primeira Grande Guerra, e Edmundo Wright, devido a sua ascendência Inglesa, por parte de pai, se alistou no Exército Britânico, onde foi incorporado, no posto de capitão, ao 6º Batalhão do Regimento da Rainha (The Queen's Royal West Surrey Regiment). Em 1916 foi enviado para o front francês onde participou da Batalha do Somme. Por volta das 4h30min do dia 3 de julho, Edmundo Wright  foi morto, aos 49 anos de idade, por ocasião de um ataque alemão. Seu corpo foi sepultado no Cemitério Britânico no Somme, França.


Com a eclosão da 1ª Guerra Mundial, Edmundo Wright abdicou de sua condição de reservista da Força Pública e alistou-se no Exército Britânico, onde recebeu o posto de capitão.  Durante a ofensiva do Somme, em 1916, perdeu a vida, quando contava 49 anos de idade.

Edmundo foi casado com Maria Luísa Paes de Barros Wright com quem teve os seguintes filhos: Elisa Oliveira de Barros Wright e Carlos Paes de Barros Wright. 

Edmundo Wright foi um exemplo de militar que serviu ao seu país, demonstrando o espírito de abnegação e sacrifício em um período conturbado em que o Brasil mais precisava de pessoas fortes com retidão de conduta para controlar o país e manter a união nacional, pois a Republica ainda engatinhava e passava por um momento de grande instabilidade política e social. 

Mesmo depois de aposentado, alistou-se em um exército estrangeiro para servir e defender aquilo em que acreditava, em uma sociedade que fosse livre, igualitária e justa. Pelos seus valores pessoais, caráter, coragem, bravura, fidelidade aos seus ideais é um homem que merece um lugar de honra na história.

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domingo, 4 de fevereiro de 2018

A DIVIDIDA ESTRUTURA DE COMANDO DA COMPANHIA DAS ÍNDIAS OCIDENTAIS

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Por se tratar de uma companhia comercial paramilitar, com objetivos de colonização e geração de lucros, a Companhia das Índias Ocidentais (WIC) possuía uma cadeia de comando bastante diferente da praticada pelos portugueses. Era dirigida pelo Conselho dos XIX, composto por dezenove diretores, representantes das Câmaras de Amsterdã, Zelândia, Mosa, Holanda do Norte, Groningen e Frísia e um designado pelos Estados Gerais.

Para administrar a Nova Holanda, a WIC estabeleceu o cargo de governador, geralmente ocupado pelo militar com maior posto, e instituiu o Colégio de Conselheiros Políticos, constituído por conselheiros civis nomeados pela Companhia para administrar a nova colônia. Durante o período das invasões holandesas no Brasil, o número de integrantes desse colegiado variou entre três e cinco membros. Apesar de dispor dessa administração colonial, o Conselho dos XIX preocupava-se com possíveis ímpetos de independência ou rebelião entre os comandantes militares da Companhia e, por essa razão, atribuía maiores poderes ao Conselho Político do que ao próprio governador, dividindo hierarquicamente suas forças no Brasil e subordinando o poder militar ao poder político. Essa disposição pode ser exemplificada pela cadeia de comando da WIC por ocasião da invasão a Pernambuco, em 1630. O almirante Lonck, autoridade militar de maior posto, foi nomeado para o governo, mas foi organizado o Conselho Político composto por Johan de Bruyne, Philips Serooskerken e Horatio Calendrini, que limitava sua autoridade do governador e tinha a prerrogativa de aprovar ou não seus atos. Mais tarde, com o retorno do almirante Lonck para a Holanda, assumiu o cargo de governador o coronel Waerdenburch, que, pouco tempo depois, foi também nomeado como membro do Conselho Político. No decurso dos meses de 1630, o Conselho Político recebeu mais dois integrantes: os comissários Johannes van Walbeeck e Servatius Carpentier. Apesar de sua condição de conselheiro, a autoridade de Waerdenburch permaneceu afeta aos assuntos militares e, na prática, os conselheiros civis é quem governavam efetivamente a colônia.


Almirante Hendrick Lonck, comandante da invasão a Pernambuco.

O Coronel Waendemburch sucedeu o Almirante Lonck no governo da Nova Holanda.
 
Com tamanha divisão entre os poderes político e militar, a relação entre os comandantes militares e os conselheiros civis da WIC não poderia ser das mais amistosas, sendo frequentes os atritos entre os dois segmentos. Uma dessas tensões ocorreu em 1633, quando o coronel Waerdenburch, já de retorno à Holanda, ficou furioso ao tomar conhecimento de uma carta escrita pelos conselheiros Mathias van Ceulen e Johann Gijsselingh para a Câmara da Zelândia, reclamando do baixo desempenho das tropas do coronel contra os portugueses na conquista de Pernambuco.


Sede da Companhia das Índias Ocidentais em Amsterdã.

 

No intuito de manter o controle civil sobre as operações militares, um dos conselheiros passou a acompanhar as tropas da WIC nas principais expedições e operações de sítio, para que os comandantes militares não tentassem realizar nenhuma ação sem o prévio consentimento do Conselho Político. Outro conselheiro ficou encarregado de providenciar o abastecimento e o suprimento das tropas. Dessa forma, o Conselho Político exercia o controle sobre as operações e sobre a logística das forças militares da WIC.

Conheça essa e outras histórias lendo
"A guerra do açúcar: as invasões holandesas no Brasil"

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