"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

O DESENVOLVIMENTO DA BLITZKRIEG NO PERÍODO ENTREGUERRAS

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No início da 1ª Guerra Mundial, a ideia vigente era baseada nos conceitos prussianos de ataque frontal e decisivo contra o inimigo. Ambos os contendores procuraram tal ação, no entanto o aparecimento de novas tecnologias no campo de batalha, como a metralhadora e a artilharia de alma raiada, provocaram uma situação de estagnação, a partir do fim de 1914, devido à impossibilidade de se progredir no terreno e alcançar as posições inimigas para desalojá-las.

Esse fato provocou o estabelecimento de frentes defensivas quase imutáveis no terreno, onde qualquer tentativa de desaferramento, ataque ou conquista de territórios resultava ineficiente e com elevado grau de letalidade. As pesadas baixas deslocaram o pensamento estratégico para a concepção da guerra de desgaste. Ao fim do primeiro ano da guerra, podia-se constatar a ausência de dois importantes princípios da guerra no campo de batalha: a surpresa e a mobilidade.

A "guerra de trincheiras" representou o impasse na Frente Ocidental.  Novas tecnologias iriam vencer o imobilismo

A solução para esse impasse mórbido, pois acarretava alto índice de mortes por causas alheias ao combate em si, incluindo doenças originadas nas precárias condições de higiene nas trincheiras, foi vislumbrada inicialmente pelos alemães com o uso de gases venenosos em 1915, mas os resultados não foram contundentes e, também, estavam à mercê das condições climáticas. Outras duas soluções surgidas iniciaram a extrema mudança futura na estratégia militar. Com maior importância e poder decisivo no campo de batalha o carro de combate e, com menor valor durante a 1ª Guerra e gradual aumento de importância posterior à guerra, o avião.

Esquadrão de caças alemão durante a 1ª Guerra Mundial

A 1ª Guerra Mundial também foi o primeiro conflito a ter ações aéreas significativas. A aviação militar desenvolveu-se em ritmo intenso durante a guerra, mas ainda estava em seus primórdios em 1918. O destaque era para os pilotos de caça, cuja missão principal era obter superioridade aérea local. Essa condição permitiu que os pilotos dos primeiros aviões conduzissem suas funções básicas de reconhecimento e ajuste de fogo de artilharia. Mesmo a Alemanha, que estabeleceu um estado-maior específico para a aviação em 1916 e desenvolveu um conceito maduro de poder aéreo, reconheceu a necessidade tanto do reconhecimento e da superioridade aérea local quanto dos bombardeios de longo alcance.

O carro de combate, por sua vez, apesar de seu desenvolvimento ainda primitivo, conseguiu influir decisivamente no resultado final da batalha. Podia avançar sob o fogo das metralhadoras e tinha relativa proteção contra as granadas da artilharia. Foi usado pela primeira vez, de forma reduzida, com apenas 46 carros, em setembro de 1916 na aldeia de Fleur-Courcelette na campanha do Somme. No decorrer do ano de 1917, os carros continuaram sendo usados em pequeno número, como apoio à infantaria e com êxito variável. Nesse mesmo ano, em junho, os britânicos criaram o primeiro Corpo de Tanques da história, tendo como comandante o General Hugh Elles e como planejador de operações o então Maj J. F. C. Fuller. Esse embrião começou a mudar o panorama, ao se pensar como uma arma independente e com poder de choque e surpresa.

J.F.C. Fuller, um dos criadores do Corpo de Tanques britânico

A prova de fogo veio em 20 de novembro de 1917, quando o Corpo de Tanques fez um ataque em massa com 476 carros, na batalha de Cambrai, com enorme sucesso, no entanto uma decisão equivocada do estado-maior britânico mudou o plano inicial de Fuller, fazendo com que se perdesse a conquista inicial. Mas a prova de fogo valeu, ficava comprovado o potencial decisivo dos tanques se usados planejadamente.

Com o fim do conflito, os planos de desenvolvimento dos carros se estagnaram entre os ingleses e franceses, que defendiam o conceito de defesa. No entanto os alemães aprenderam com a derrota e passaram a dar elevado valor a esses dois vetores – o carro e o avião – iniciando os estudos que originaram a “blitzkrieg”, avassalador conceito responsável pelas esmagadoras vitórias nos anos iniciais da Segunda guerra Mundial.

Carros de combate Vickers Mk.I britânicos em manobras durante a década de 1930

Esse novo conceito baseado nessas novas armas, era de velocidade, ação de choque e potência de fogo. Suplantou e extinguiu a cavalaria a cavalo e foi o alvorecer da nova cavalaria dos blindados. Criou a aviação e abriu possibilidades, desde o lançamento de tropas, passando pelos bombardeios e culminando com as missões de caça.

O leque de opções agora era bem maior, diretamente proporcional ao poder de letalidade dos combates futuros.



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sexta-feira, 20 de junho de 2025

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - GENERAL MASAHARU HOMMA

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* 27/11/1887 – Sado, Japão

+ 03/05/1946 – Los Baños, Filipinas


O tenente-general Masaharu Homma foi o comandante das tropas que invadiram e ocuparam as Filipinas durante a 2ª Guerra Mundial, responsável pela "Marcha da Morte" contra prisioneiros norte-americanos e filipinos em 1942, pela qual seria executado como criminoso de guerra ao final do conflito.

Homma era conhecido como um militar moderado, não-fanático, escritor amador apelidado de "general poeta", com profundo respeito pela civilização ocidental, tendo morado na Inglaterra e estudado em Oxford, no começo do século

. Após a queda de Nanquim, China, na guerra Sino-Japonesa, declarou publicamente que “ao menos que a paz seja conseguida imediatamente, haverá um desastre”. Durante as batalhas, ele pintava e compunha poesias.


Crime de guerra

No começo da guerra no Pacífico, Homma comandou com sucesso o 14º Exército japonês na invasão das Filipinas, em dezembro de 1941, pouco depois do ataque japonês a Pearl Harbor.  Apesar das vitórias conquistadas por suas tropas, seu comportamento com relação aos civis filipinos, ordenando a seus soldados que evitassem o saque e o estupro da população civil, e que os tratassem como amigos e não inimigos, respeitando seus costumes e religião, causaram desagrado a seus superiores e um princípio de rebelião entre oficias subordinados mais fanáticos. Acabou causando sua destituição e remoção para o Japão, após a vitória de Corregidor, pelo que o comando central do Exército Japonês considerava falta de agressividade na guerra, que custou ao Japão uma inesperada demora em derrotar as forças norte-americanas nas Filipinas.

 Prisioneiros americanos durante a "Marcha da Morte", que seria responsável pela condenação de Homma após a guerra

Entretanto, seu comportamento leniente em relação à população não foi imitado no tocante aos militares inimigos prisioneiros de guerra. Após a vitória das forças japonesas sob seu comando, na Batalha de Bataan, a mais dura das batalhas pela conquista das Filipinas, Homma ordenou que os prisioneiros americanos e filipinos fossem levados a pé, da península de Bataan até o campo de prisioneiros O'Donnell, em uma marcha de mais de 150 km sem água e comida, sob forte calor, atacados pela malária e sem descanso. 75 mil prisioneiros participaram da marcha, que causou a morte de cerca de 650 americanos e de 10 mil filipinos, a qual ficou conhecida nos anais militares como " a marcha da morte". 


Este fato lhe custaria a vida ao final da guerra.
 


Julgamento e execução

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Após a rendição japonesa em 1945, Homma, que se encontrava desligado do Exército e na obscuridade em Tóquio, desde o episódio das Filipinas, foi preso e levado de volta ao país por ordem do general Douglas MacArthur e submetido a corte marcial perante a Comissão Aliada de Crimes de Guerra.


 Homma com seus oficiais nas Filipinas

Sua responsabilidade direta na "marcha da morte" não ficou absolutamente clara, já que ele havia emitido ordens para o transporte de prisioneiros ainda durante as batalhas pela conquista de Corregidor, onde norte-americanos e filipinos ainda lutavam e nas quais ele estava focado, e ela foi levada cabo por seus oficiais, sem que ele tomasse conhecimento dos detalhes da operação, assim como das atrocidades cometidas pelos japoneses aos prisioneiros após a chegada ao campo de destino.

O tenente-general Masaharu Homma conversa com sua esposa, Fujiko Homma, durante um breve recesso em seu julgamento por crimes de guerra em Manila, Filipinas, em 7 de fevereiro de 1946. Pouco depois, a Sra. Homma depôs em defesa do marido.

Ainda assim, foi considerado culpado e condenado à morte por crimes de guerra pela Comissão,em um veredicto criticado por juristas, que consideraram seu julgamento irregular e carregado de fatores emocionais. A mulher de Homma pediu clemência ao general MacArthur, mas teve seu pedido negado.

Masaharu Homma foi executado por um pelotão de fuzilamento no dia 3 de abril de 1946 em Los Baños, nas cercanias de Manila, a cidade que havia conquistado quatro anos antes.


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sábado, 16 de novembro de 2024

O MOTIM DE MOROTAI (1945)

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O "Motim de Morotai" foi um incidente ocorrido em Abril de 1945, que envolveu membros da 1ª Força Aerotática da Real Força Aérea Australiana (RAAF) na ilha de Morotai, nas Índias Orientais Holandesas. 

Oito pilotos, incluindo o maior ás australiano Clive Caldwell, apresentaram a sua demissão como meio de protesto ao que eles entendiam ser uma desvalorização dos esquadrões de caça da RAAF, aos quais eram atribuídas missões contra as forças japonesas que haviam sido contornadas pelos Aliados. 

A investigação governamental que se seguiu inocentou os "amotinados", tendo sido dispensados do serviço três militares de alta patente, incluindo o Comandante Harry Cobby.

Harry Cobby (à esquerda) e Caldwell em Morotai, em Janeiro de 1945


George Odgers resumiu a causa do incidente na história oficial da RAAF na Segunda Guerra Mundial como sendo "a convicção de um grupo de jovens líderes que viam as suas forças serem envolvidas em operações que não eram militarmente justificáveis - uma convicção partilhada amplamente por muitos militares e políticos australianos."


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segunda-feira, 9 de setembro de 2024

ORDEM DA VITÓRIA - A MEDALHA MILITAR MAIS CARA DO MUNDO

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Além de ser mais distinta e cara de todas as ordens já concedidas a alguém na Rússia, é também uma das mais raras do mundo – foram feitas apenas 22 cópias.


Por Gueórgui Manáev


A Ordem da Vitória é oficialmente a medalha militar mais cara do mundo. Para se ter ideia, se pudesse ser colocada em leilão, o preço inicial seria superior a 20 milhões de dólares. O último cavaleiro agraciado com essa Ordem, Miguel 1º da Romênia, morreu em 2017. No entanto, o destino de sua medalha é incerto - oficialmente, o objeto está armazenado na propriedade de Miguel 1º em Versoix, na Suíça. Mas há boatos de que teria sido vendida nos anos 1980 por cerca de 4 milhões de dólares.

A Ordem da Vitória foi concedida apenas a generais e marechais por suas ações no planejamento e administração militar que deram origem a uma “operação bem-sucedida no âmbito de uma ou várias frentes, resultando em uma mudança radical da situação em favor do Exército Vermelho”, reza o estatuto da Ordem. Mas por que e quando a URSS precisou de uma honra tão especial para seus militares? 


Nem um passo para trás!

A decisão de criar a Ordem da Vitória foi tomada após o primeiro grande sucesso do Exército Vermelho na Segunda Guerra Mundial – mais especificamente, a Batalha de Stalingrado, que durou de julho de 1942 a fevereiro de 1943.

O ano de 1942 como um todo foi uma época bastante difícil para os soviéticos na Grande Guerra Patriótica (período em que a Rússia esteve na Segunda Guerra Mundial). O Exército Vermelho sofreu perdas drásticas com o ataque dos nazistas no sul da Rússia, e os soldados estavam aterrorizados com seu destino iminente. Para fortalecer a disciplina no Exército por meio do medo, Josef Stálin, como Comissário de Defesa do Povo, emitiu o decreto nº 227, de 28 de julho de 1942, apelidado de “Nem um passo para trás!” na propaganda de massa soviética.

O decreto estabelecia batalhões penais que deveriam ser enviados para as seções mais perigosas do campo de guerra. Esses batalhões eram compostos por soldados que já haviam tentado desertar. Mas Stálin também entendeu que, para elevar os espíritos de seus comandantes de guerra, era inviável recorrer apenas ao medo. Os comandantes eram ambiciosos, então, deveriam ser criadas novas distinções e estímulos positivos.

Nos anos de 1942 e 1943, Stálin iniciou a criação de várias ordens destinadas a comandantes militares, nomeadas em homenagem a grandes expoentes militares da Rússia: Aleksandr Suvorov, Mikhail Kutuzov, Fiódor Uchakov e Pável Nakhimov.

A Ordem da Vitória deveria ser a mais importante de todas elas. Em julho de 1943, enquanto a Batalha de Kursk estava em curso, os primeiros projetos da Ordem da Vitória foram apresentados a Stálin.


Torre como marca da vitória

Stálin, porém, não gostou dos esboços. Em outubro de 1943, em vez dos perfis de Lênin e Stálin no anverso (frente) do medalhão, Stálin ordenou que a torre Spasskaya (a torre do relógio) do Kremlin de Moscou fosse retratada na condecoração. Foi assim que, em 5 de novembro de 1943, Stálin aprovou a versão final da medalha – e gostou tanto da “amostra de teste” que até a manteve. Três dias depois, a Ordem foi oficialmente estabelecida, enquanto iniciava a produção das referentes insígnias.

O design da Ordem foi criado pelo artista Aleksandr Kuznetsov (1894-1975), que também desenvolveu outra medalha militar de alto escalão, a Ordem da Guerra Patriótica. A insígnia deveria ser feita com diamantes e rubis, por isso a criação foi confiada aos especialistas da fábrica de Joias e Relógios de Moscou.

Inicialmente foi feito o plano de criar 30 cópias da Ordem. Cada uma delas exigia 180 diamantes, 50 diamantes de lapidação rosa e 300 gramas de platina. No total, os criadores receberam 5.400 diamantes, 1.500 diamantes de lapidação rosa e 9 quilos de platina. No entanto, rubis artificiais foram eventualmente utilizados para os medalhões da Ordem, porque todos os naturais tinham tonalidades diferentes entre si, o que faria as condecorações parecerem maculadas.

Todas as ordens foram feitas à mão. No total foram produzidos 22 exemplares, mas três deles nunca foram concedidos. De acordo com um exame pericial conduzido em 2010 pelos Museus do Kremlin de Moscou, os medalhões continham diamantes da Ordem, mas também joias usadas ​​pelos membros da família Romanov. Após a queda do Império Russo, essas condecorações e joias foram retiradas do tesouro dos tsares, desmontadas, e as pedras acabaram nos cofres soviéticos.


Os medalhões da Ordem e onde estão agora

Todas as Ordens da Vitória é feita de platina, e a inscrição “ПОБЕДА” (“Vitória”), de ouro. A medalha tem 174 diamantes (16 quilates no total) e 5 rubis artificiais de 5 quilates, 25 quilates em cada uma delas. Os detalhes – a muralha do Kremlin, o Mausoléu, os ramos de carvalho e louro –, incrustados com pequenos diamantes, são feitos de platina dourada. Somente os feches, o parafuso e a porca são de prata. A Ordem pesa 78 gramas no total. Uma característica única dos medalhões da Ordem é que não têm números de série – a condecoração foi inicialmente projetada para ser uma das mais raras existentes. Existem outras ordens que existem em menos cópias, mas não são sequer rivais da Ordem da Vitória em termos de valor.

A Ordem foi concedida pela primeira vez em 10 de abril de 1944 – aos marechais Gueórgui Jukov (1896-1974) e Aleksandr Vassiliévski (1895-1977), e ao comandante-chefe Iossef Stalin. Todos os três foram premiados em homenagem à libertação da margem direita da Ucrânia. Mais tarde, em 1945, os mesmos três comandantes foram homenageados com a mesma condecoração pela segunda vez.

Marechal Gueórgui Jukov, Herói da União Soviética, primeiro a receber a Ordem da Vitória.


No total, a Ordem foi concedida 20 vezes a 17 pessoas, três delas (mencionadas acima) receberam duas vezes, e houve uma revogação póstuma. O general Ivan Tcheriyakhovski (1907-1945) deveria receber a Ordem em 23 de fevereiro de 1945, mas morreu em 18 de fevereiro e, portanto, não chegou a concretizar o feito.

A medalha também foi concedida a cinco estrangeiros. O marechal de campo britânico Bernard Montgomery e o presidente norte-americano Dwight Eisenhower foram agraciados em 5 de junho de 1945, “pelos extraordinários sucessos na condução de operações militares de grande alcance que resultaram na vitória das Nações Unidas sobre a Alemanha de Hitler”.

Marechal de campo britânico Bernard L. Montgomery (com a medalha da Ordem da Vitória) e Josef Stálin


O rei Miguel 1º da Romênia recebeu a medalha em 6 de julho de 1954, por sua decisão de prender colaboradores nazistas no governo romeno, em 23 de agosto de 1944, quando a vitória decisiva sobre os nazistas ainda não havia sido alcançada.

Já o marechal da Polônia Michał Rola-Żymierski, foi condecorado em 9 de agosto de 1945, por conduzir operações contra os nazistas – o mesmo que o marechal da Iugoslávia, Josip Broz Tito, que foi galardoado em 9 de setembro de 1945.

Rei Miguel 1º da Romênia com a Ordem da Vitória


O Secretário-Geral do Comitê Central do Partido Comunista da URSS Leonid Brejnev, que recebeu a Ordem em 1978, foi postumamente destituído dela em 1989, porque se considerou que tal concessão ia contra o estatuto – o líder soviético não havia conduzido operações militares decisivas na Segunda Guerra Mundial. O decreto para revogação da Ordem foi assinado por Mikhail Gorbatchov.

O Secretário-Geral do Partido Comunista Leonid Brejnev, aqui fotografado com a Ordem da Vitória, teve sua condecoração cassada postumamente por Mikhail Gorbatchov, em 1989.


Os Museus do Kremlin de Moscou possuem a maior coleção de medalhões da Ordem da Vitória: oito delas. Uma delas, que antes pertenceu ao marechal Semion Timochenko (1895-1970), e outro, que nunca foi premiada, estão armazenados no Museu do Fundo Estatal de Metais e Pedras Preciosas da Federação Russa (Gokhran). Outro medalhão da Ordem não premiado permanece guardado no Hermitage. Já o paradeiro do terceiro medalhão da Ordem nunca dado é um mistério. Além disso, não se sabe a localização exata do medalhão concedido a Michal Rola-Żymierski.



Fonte: Russia Beyond


quinta-feira, 25 de julho de 2024

O EXÉRCITO NAZISTA CLANDESTINO

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Historiador descobre que 2.000 oficiais criaram um grupo de defesa depois da guerra. O coronel Schnez montou o exército à sombra do Governo, mas quando o chanceler Adenauer soube, consentiu.


Por Klaus Wuegrefe

A Alemanha acaba de descobrir um surpreendente capítulo inédito de sua história recente. Depois da II Guerra Mundial, antigos oficiais da Wehrmacht, as forças armadas da Alemanha nazista, e da Waffen-SS, o braço armado das SS, formaram um exército secreto para proteger o país de um suposto ataque da União Soviética. O projeto, descoberto casualmente, poderia ter provocado um grande escândalo naquela época. Durante quase seis décadas, os documentos que mostram sua existência permaneceram ocultos nos arquivos do Serviço de Inteligência da Alemanha (BND).

Cerca de 2.000 veteranos nazistas decidiram formar um exército em 1949 escondidos do Governo federal e dos Aliados. O objetivo dos oficiais era defender a recém-criada República Federal da Alemanha da agressão do Leste nas primeiras etapas de uma guerra fria e, na frente nacional, mobilizar-se contra os comunistas em caso de uma guerra civil.

O chanceler alemão Konrad Adenauer não ficou sabendo da existência de uma conspiração às escondidas até 1951, mas não tomou medidas claras contra esta organização ilegal. De acordo com a documentação encontrada, em caso de uma mobilização, o exército contaria com 40.000 soldados. O principal organizador era Albert Schnez, que havia servido como coronel na II Guerra Mundial. No final dos anos cinquenta formou parte da equipe entorno do ministro de Defesa Strauss e posteriormente foi chefe do Estado-Maior no mandato de Willy Brandt. 

As declarações de Schnez citadas nos documentos sugerem que o projeto de criação de um exército clandestino também foi apoiado por Hans Speidel que se tornaria o comandante supremo da OTAN do Exército Aliado na Europa Central em 1957 e por Adolf Heusinger, primeiro inspetor geral do Bundeswehr (Exército federal).

Albert Schnez aqui fotografado em 1968, no posto de marechal.


O historiador Agilolf Kesselring encontrou os documentos que pertenciam à Organização Gehlen, o Serviço de Inteligência anterior, enquanto investigava para o BND. Kesselring tem especial interesse pela própria história militar de sua família. Seu avô foi marechal de campo durante a II Guerra Mundial e comandante no Terceiro Reich, com Schnez como subordinado. Em seu estudo, Kesselring desculpa com frequência Schnez. Nada menciona sobre seus vínculos com a extrema direita e descreve seus trabalhos de espionagem sobre supostos esquerdistas como “controles de segurança”.

O projeto começou durante a pós-guerra na Suabia, uma região que rodeia Stuttgart, onde Schnez comercializava madeira, têxteis e artigos para o lugar ao mesmo tempo que organizava reuniões noturnas para veteranos da 25ª Divisão de Infantaria, onde ele havia servido. Mas seus debates sempre giravam ao redor da mesma pergunta: o que devemos fazer se os russos e seus aliados da Europa do Leste nos invadirem?

Para dar resposta a essa ameaça potencial, Schnez pensou em fundar um exército. E ainda que não tenha respeitado as ordens dos Alidos – as organizações militares ou “de tipo militar” estavam proibidas -, rapidamente se tornou algo muito popular. Seu exército começou a tomar forma em 1950. A rede de Schnez arrecadou doações de empresários e de antigos oficiais de ideias afins, entrou em contato com grupos de veteranos de outras divisões e fez acordo com empresas de transporte para a entrega de veículos.

Anton Grasser, antigo general de Infantaria, se ocupou do armamento. Começou sua carreira no Ministério do Interior supervisionando a coordenação da polícia alemã. Queria utilizar seus ativos para equipes das tropas em caso de conflito. Não há nenhum sinal de que o então ministro do Interior, Robert Lehr, estivesse informado destes planos.

Schnez queria criar um exército com unidades formadas por antigos oficiais pertencentes a corpos de elite da Wehrmacht, que poderia mobilizar-se com rapidez em caso de um ataque. De acordo com os documentos desclassificados, a lista incluía empresários, representantes de vendas, um comerciante, um advogado de direito penal, um instrutor técnico e inclusive um prefeito. É de supor que todos eles eram anticomunistas e, em alguns casos, estavam motivados por um desejo de aventura. Um exemplo: o tenente geral aposentado Hermann Hölter “não se sentia feliz trabalhando somente em um escritório”.

Ficava por determinar onde poderiam se realocar em caso de emergência. Schnez negociou com algumas grupos suíços, que mostraram “sua desconfiança”. Mais tarde planejou um possível translado para a Espanha, que utilizaria como base para combater ao lado dos norte-americanos.

O chanceler Konrad Adenauer, o segundo à direita, inspeciona uma unidade do Bundsweehr em 1956


Em sua busca por financiamento, Schnez solicitou a ajuda dos serviços secretos da Alemanha Ocidental no verão de 1951. Durante uma reunião realizada em 24 de julho de 1951, Schnez ofereceu os serviços de seu exército clandestino a Gehlen – chefe do serviço de inteligência - para “uso militar” ou “simplesmente como uma força potencial”, fora do Governo alemão no exílio ou dos aliados ocidentais.

Uma anotação nos documentos da Organização Gehlen afirma que Gehlen e Schnez “mantiveram durante muito tempo relações de caráter amistoso”. O texto também indica que os serviços secretos já conheciam a existência de um exército clandestino.

É provável que o entusiasmo de Gehlen pela oferta de Schnez tivesse sido maior se fosse feito um ano antes, quando estourava a guerra da Coreia. Naquele momento, Bona e Washington haviam considerado a possibilidade de, “em caso de acontecer uma catástrofe, reunir os membros das antigas divisões alemãs de elite, armá-los e depois inscrevê-los nas forças aliadas”.

Um ano depois, a situação tinha mudado, e Adenauer havia desanimado dessa ideia. Ao contrário, pressionou para que a Alemanha Ocidental se integrasse profundamente ao Ocidente e estimulou assim mesmo o estabelecimento do Bundeswehr. O grupo ilegal de Schnez possuía a capacidade de colocar em perigo essa política, já que, se sua existência fosse de domínio público, poderia ter gerado um escândalo internacional. Ainda assim, Adenauer decidiu não tomar medidas contra a organização de Schnez.

O pessoal de Gehlen entrava em contato frequentemente com Schnez. Além disso, ambos chegaram a um acordo para compartilhar dados secretos procedentes do serviço de inteligência. Schnez se gabava de ter uma unidade de inteligência “particularmente bem organizada”. A partir desse momento, a Organização Gehlen se transformou no destinatário de informes sobre antigos soldados alemães que imprevisivelmente haviam se comportado de forma “indigna” como prisioneiros de guerra dos russos, insinuando que haviam desertado para apoiar a União Soviética. Em outros casos informava sobre “pessoas suspeitas de serem comunistas em Stuttgart”.

Com tudo, Schnez nunca conseguiu se beneficiar do dinheiro que recebia. Gehlen somente lhe entregava pequenas quantidades que se esgotaram no outono de 1953. Dois anos depois, os primeiros 101 voluntários se alistaram no Bundeswehr. Assim, com o rearmamento da Alemanha Ocidental, o exército de Schnez passou a ser desnecessário.

Schnez faleceu em 2007 sem ter revelado publicamente nenhuma informação sobre os acontecimentos. O que se conhece é graças aos documentos nos arquivos classificados do BND por baixo do título enganoso de “Seguros”. Alguém tinha a esperança de que nunca ninguém encontrasse um motivo para se interessar por eles.

Fonte: El País


domingo, 14 de julho de 2024

SURGE A BOMBA ATÔMICA

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Quando a notícia de que a primeira bomba atômica fora testada com sucesso chegou a Potsdam, onde as lideranças aliadas reuniam-se em conferência, o americano Henry Stimson, secretário da guerra do governo Truman, exultou. Na noite de 16 de julho, escreveu em seu diário: "Agora, com nossa nova arma, não precisaremos da assistência dos russos para conquistar o Japão." Estava certo. Com somente dois desses fatais artefatos nucleares - os mais poderosos armamentos já vistos no mundo -, os nipônicos baixaram as armas, rendendo-se quase de imediato, sem a necessidade da intervenção do Exército Vermelho de Josef Stalin. Mas de onde veio essa arma que abreviou a resistência nipônica e deixou os americanos em posição tão segura no jogo militar-diplomático?

As origens da bomba atômica remontam a antes mesmo do início dos combates. Cientistas de diversos países já perseguiam o conceito de energia nuclear em meados da década passada. A Alemanha ganhou um trunfo quando invadiu a Noruega, em 1940, e apoderou-se da única planta para a fabricação da água pesada, fundamental para o processo nuclear. Alguns cientistas germânicos, porém, fugindo da perseguição nazista, estabeleceram-se na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Os britânicos, por sua vez, possuíam estoques de água pesada, mas viram que não contavam com materiais suficientes para criar uma bomba. Assim, concordaram em dividir sua experiência com os EUA. Desta forma, em 1942, instalou-se o ultra-secreto Projeto Manhattan, também com a colaboração do Canadá, destinado a criar a "arma vencedora".

Leslie Groves (a esquerda) e o Robert Oppenheimer, líderes do Projeto Manhattan

Esta causaria um impacto gigantesco apenas por dividir a menor das partículas da matéria: o átomo. Quando atingido por um nêutron, o núcleo do átomo de urânio-235 - como foi o caso da bomba Fat Man - se parte e libera um fluxo de energia de enormes proporções, além de mais nêutrons. Por sua vez, estes bombardeiam outros núcleos atômicos, dando origem a uma reação em cadeia que gera tamanha quantidade de energia em tão pouco tempo que acaba por provocar uma colossal explosão. Uma quantidade específica de urânio-235, conhecida como "massa crítica", é necessária para engatilhar a reação; dentro da bomba, o urânio é mantido separado em duas partes, reunidas apenas no momento da detonação para formar a "massa crítica" e gerar a explosão.


Uso desnecessário?

De acordo com o coronel Leslie Groves, chefe do Projeto Manhattan em Washington, a empreitada custou mais de 2 bilhões de dólares e envolveu uma força de trabalho de cerca de 600.000 pessoas. A título de comparação, a Grande Pirâmide, segundo o relato de Heródoto, requereu 100.000 homens trabalhando durante 20 anos, enquanto a construção da Muralha da China teria envolvido cerca de um milhão de trabalhadores.


Foi emblemático que essa monumental operação tenha culminado no revide ao ataque que arrastou os EUA para a guerra: Pearl Harbor, no fim de 1941. Desde então, os japoneses tornaram-se alvo do mais profundo ódio dos americanos - com a ajuda, como foi comum na guerra inteira, de uma raivosa campanha de propaganda. A construção da imagem malévola dos nipônicos funcionou tão bem que os EUA tiveram de prender os imigrantes daquele país em campos de detenção, uma medida que constrangeu o governo mas foi amplamente aceita entre a população.

Assim que a primeira bomba explodiu em Hiroxima, o coronel telefonou para o doutor Robert Oppenheimer, chefe do laboratório de Los Alamos, no Novo México, onde a bomba fora desenvolvida e construída, para congratular os responsáveis pelo momento histórico. "Estou muito orgulhoso de você e de toda sua equipe", afirmou. Nem todos concordam com Groves, porém. Nos bastidores, o almirante William Leary, Comandante da Marinha dos Estados Unidos, argumentou que o uso da devastadora arma no Japão foi moralmente equivocado e militarmente desnecessário, uma vez que o bombardeio convencional já minava as forças japonesas, ainda mais combalidas pela falta de petróleo no país. Outros, contudo, como o general George Marshall, Comandante do Exército, apoiaram Truman em sua decisão. Para ele, o lançamento da bomba atômica faz o Japão render-se rapidamente e evitou a morte de milhares de soldados americanos, baixas que seriam inevitáveis em caso de invasão.

Talvez ainda mais importante, de acordo com fontes em Washington: a capitulação rápida do Império impediu os soviéticos de alcançar Tóquio, permitindo assim que os Estados Unidos fossem a única força a ocupar o Japão, região estratégica para seus interesses no Pacífico - esta sim, talvez a verdadeira (e também pouco justificável) razão para a devastação de Hiroxima e Nagasaki. De qualquer forma, os americanos não carregam só o peso de ter dizimado duas cidades inteiras – a partir de agora, levam nas costas também a responsabilidade pela detenção da tecnologia mais letal já imaginada pelo homem.

Fotografias aéreas do centro de Nagasaki, antes e depois do ataque atômico

Cientistas afirmam que o poder de destruição da bomba atômica é tão monstruoso que seria potencialmente capaz de simplesmente destruir a Terra, reduzindo a pó o planeta e varrendo a humanidade do Universo – bastaria produzir artefatos em número suficiente para isso. O pesadelo da guerra podia ter acabado, mas os tempos de paz prometiam ser cheios de incerteza e tensão.

Fonte: Veja online

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quarta-feira, 10 de julho de 2024

O PRIMEIRO ATAQUE AÉREO SURPRESA SOVIÉTICO CONTRA BERLIM

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Bombardeiros atingiram o centro e a periferia de Berlim e vingaram ataques contra Moscou.

Por Aleksandr Korolkov


Às 21h de 7 de agosto de 1941, no 47º dia de combates contra a Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, 15 bombardeiros soviéticos DB-3 e Il-4 levantaram voo da base aérea do arquipélago de Moonsund, no mar Báltico, em direção à capital alemã, Berlim. Eles tinham que superar 1.765 km sobre o território inimigo e enfrentar uma defesa antiaérea bem organizada, contra a qual suas únicas armas eram a surpresa e a altitude.

O Exército Vermelho, tendo recuado por mais de um mês, na época defendia com grande dificuldade Smolensk, na Rússia, e Kiev, na Ucrânia. A Luftwaffe (força aérea alemã) bombardeava Moscou desde 21 de julho, e seu comandante, Hermann Goering, sabendo das grandes perdas sofridas pela aviação soviética e da passividade dos ingleses, fez a famosa declaração de que "nenhuma bomba cairá sobre a capital do Reich". Sob essas circunstâncias, as explosões das bombas em Berlim provaram ao inimigo e ao mundo que a retirada da aviação soviética da equação da guerra havia sido prematura.

Os aviões britânicos pararam de visitar o céu de Berlim regularmente em janeiro de 1941, depois que seus comandantes perceberam que o Terceiro Reich reagrupava a aviação para atacar o leste europeu. A cidade vivia uma vida pacífica e rotineira, em que apenas soldados e empresas de defesa se lembravam de batalhas que ocorriam em algum lugar distante. Assim, o ataque dos bombardeiros soviéticos permitiu que os moradores da capital do Reich sentissem as mesmas emoções que tomaram conta dos moscovitas durante o primeiro bombardeio alemão na cidade, na madrugada de 21 para 22 de julho.

O ataque soviético foi precedido por uma complexa jornada de sete horas desde a ilha de Saaremaa, na Estônia


Para que voassem até Berlim e voltassem em sua altitude máxima, os DB-3 foram despojados de sua blindagem e tiveram que decolar rapidamente de pistas curtas, construídas para caças. Na madrugada de 8 de agosto, o silêncio foi quebrado pelas palavras do responsável pelo sistema de rádio soviético, Vasili Krotenko, que disse a bordo de uma das aeronaves: "Meu lugar é Berlim! A tarefa foi cumprida. Estamos voltando à base!".

O ataque soviético foi precedido por uma complexa jornada de sete horas desde a ilha de Saaremaa, na Estônia, até Szczecin, na Polônia, e depois Berlim. Para escaparem da defesa antiaérea nazista, foi necessário voar a uma altitude de 7.000 metros, na qual a temperatura fora do avião chegava a 40 graus negativos. Devido à ausência de oxigênio, os pilotos tiveram que trabalhar com máscaras o tempo todo. O combustível estava no limite para se esgotar e não havia chances para erro. Se a tripulação se desviasse da rota, corria o risco de não poder retornar à base.

Os alemães foram pegos de surpresa pelos bombardeiros da URSS, e testemunhas chegaram a afirmar que as forças de defesa antiaérea nazistas encontraram as aeronaves, mas achando que fossem alemãs, sugeriram que se dirigissem à base aérea mais próxima.
Berlim foi bombardeada por apenas cinco das 15 aeronaves que partiram na missão: a atividade da defesa antiaérea alemã e a falta de combustível obrigaram os remanescentes a atacar a periferia da cidade, mas o recado foi dado pelas tripulações soviéticas.

Os ataques causaram incêndios e pânico na cidade. Até mesmo de uma grande altitude, os DB-3 soviéticos puderam escolher os alvos em uma grande e bem iluminada cidade. O blecaute começou somente um minuto após o início da invasão.

O escritor e correspondente militar N.G. Mikhailovski, que testemunhou esses acontecimentos, descreveu o ocorrido a bordo de um dos aviões: "As fábricas da Siemens-Schuckert eram o nosso alvo, mas os pilotos sonhavam em chegar ao Reichstag ou à Chancelaria do Reich. Ivan Rudakov congelou-se imóvel na metralhadora. As mãos de Preobrajenski estavam congelando no manche. Mas isso não importava. O mais importante é que cheguemos ao alvo. Nosso sonho era chegar, a qualquer custo. E nós chegamos! A grande cidade estava bem visível a uma altura de sete quilômetros. Tomada por milhares de luzes, ela se estendia como uma aranha. Não nos esperavam. De fato, Goebbels foi afoito em declarar a destruição da aviação soviética... A voz do navegador: ‘Nós estamos sobre o alvo!’. O avião se balançou e elevou-se de leve. Na cabine surgiu o cheiro familiar do funcionamento das chaves que ligam as bombas. Pesadas bombas caem... ‘Isso é por Moscou, por Leningrado!’, escutamos a voz rouca de Khokhlov", relatou.

Berlim após o bombardeio dos aviões soviéticos


Apesar de terem sido lançados folhetos junto com as bombas, o comando alemão tentou esconder o fato de que aeronaves soviéticas haviam cruzado o céu de sua capital. As estações de rádio alemãs noticiaram o ocorrido como uma tentativa frustrada de 150 aviões britânicos de chegar a Berlim. De acordo com a imprensa alemã, apenas algumas aeronaves conseguiram e seis delas foram abatidas, provocando os incêndios. Na realidade, os pilotos soviéticos só perderam uma aeronave na missão. A invenção da propaganda alemã logo foi desmentida por uma mensagem da BBC, que disse que na noite de 7 para 8 agosto aviões britânicos não voaram sobre o céu de Berlim.

Em 8 de agosto, o serviço de informações soviético, Sovinformburo, declarou ao país inteiro que os bombardeios ocorridos em Moscou nos dias 22 e 24 de julho, que mataram centenas de moradores, haviam sido vingados.

Os membros da tripulação da aeronave sob o comando do Coronel Preobrajenski foram agraciados com o título de Heróis da União Soviética. Stalin assinou um decreto determinando que "nas ações no centro político do inimigo, para cada bombardeio, cada pessoa da tripulação receberá um prêmio em dinheiro no valor de 2.000 rublos". Isso era muito dinheiro na época, mais de quatro vezes a recompensa usual para um bombardeio bem-sucedido.

Os bombardeios seguintes das tripulações soviéticas não tiveram a mesma sorte. O elemento surpresa pode ser usado somente uma vez.

"Em 9 de agosto houve um novo ataque à capital nazista. Ele era consideravelmente mais difícil do que o anterior. Embora o clima tenha melhorado, nós voávamos em rajadas contínuas de artilharia antiaérea. Entre Szczecin e Berlim, os ataques vindos do chão pararam de repente, e no céu noturno surgiram caças inimigos. Dois aviões alemães com luzes brilhantes voaram quase que em cima de nós. As mãos de Rudakov coçavam para abrir fogo, o alvo era muito tentador e estava tão próximo. Mas era arriscado revelar-se. Dez minutos mais tarde, o nosso avião mergulhou de novo num mar de artilharia antiaérea. O nosso navegador disse: ‘Cinco minutos para o alvo’", relembra Mikhailovski sobre a segunda missão de ataque a Berlim.

Partindo das ilhas próximas a Leningrado (hoje São Petersburgo), até 5 de setembro os pilotos realizaram nove missões envolvendo 86 aeronaves, lançando 21 toneladas de bombas e perdendo 18 aviões devido ao fogo antiaéreo e avarias.

Os voos levavam as forças físicas e mentais a um limite máximo de tensão. Às vezes, já perto da base aérea, as mãos dos pilotos não podiam mais lidar com o manche, os olhos se fechavam pela fadiga. Não podendo voar as últimas centenas de metros até a pista de pouso, os aviões às vezes caíam. Foi assim que morreu a tripulação do tenente N. Dashkovski.

Os voos soviéticos se interromperam depois do início das batalhas pela ilha de Moonsund, em 7 de setembro de 1941, mas na ofensiva seguinte da Alemanha, em julho de 1942, os moradores da capital do Reich novamente viram aviões com estrelas vermelhas em suas asas.

Fonte: Gazeta Russa


quinta-feira, 30 de maio de 2024

IMAGEM EM DESTAQUE - 30/5/2024

 

Pessoal do Esquadrão Nº 100 da Royal Air Force fotografado diante de um de seus bombardeiros Avro Lincoln. O Esquadrão atuou na campanha de bombardeio estratégico contra a Alemanha durante a 2ª Guerra Mundial. 



segunda-feira, 29 de abril de 2024

29/4/2024 - IMAGEM DO DIA

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Nas proximidades da Linha Gótica, na Itália em 1944, artilheiros pertencentes ao VIII Exército britânico guarnecem um canhão antiaéreo Bofors 40mm, defendendo uma ponte sobre um dos inúmeros cursos d´água existentes na região.




sábado, 6 de abril de 2024

EDITOR DO BLOG TOMA POSSE COMO CONSELHEIRO DA BIBLIOTECA DO EXÉRCITO


Em reconhecimento à sua trajetória profissional e acadêmica, o editor do Blog Carlos Daróz-História Militar foi empossado como Conselheiro da Biblioteca do Exército.


Em 1982, do alto dos meus doze anos de idade, li o primeiro de muitos livros editados pela Biblioteca do Exército (BIBLIEx). Tratava-se do livro "Quebra Canela", de autoria de Raul da Cruz Lima Junior, no qual relatava sua experiência como comandante de companhia do 9º Batalhão de Engenharia da Força Expedicionária Brasileira, na Segunda Guerra Mundial.

Hoje, passados 42 anos, não por coincidência no exato momento em que a Biblioteca publica uma nova edição da obra, tomei posse como Conselheiro no Conselho Editorial da BIBLIEx. Com muita honra, passei a integrar um grupo de expoentes do conhecimento e do saber em nosso país, militares e civis, que avaliam e decidem sobre as coleções de obras a serem publicadas.






Em seguida à posse, participei da 486ª Reunião do Conselho Editorial, já contribuindo para a escolha de futuros títulos que serão editados pela BIBLIEx. Muito agradecido pelo reconhecimento dessa importante instituição, fundada em 4 de janeiro de 1882 por iniciativa do então ministro da Guerra Franklin Dória, e que contribui decisivamente para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento da cultura militar brasileira.

Seguida à posse, participei da 486ª Reunião do Conselho Editorial, já contribuindo para a escolha de futuros títulos que serão editados pela BIBLIEx.

Muito agradecido pelo reconhecimento dessa importante instituição, fundada em 4 de janeiro de 1882 por iniciativa do então ministro da Guerra Franklin Dória, e que contribui decisivamente para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento da cultura militar brasileira.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

TRÊS GRANDES (E DESCONHECIDOS) FEITOS DO T-34 E SUAS GUARNIÇÕES

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O T-34 foi um dos melhores tanques da Segunda Guerra Mundial, não apenas por suas características técnicas. Também foi importante a coragem demonstrada por seus tripulantes, que muitas vezes permitiam a esses tanques soviéticos fazer coisas impensáveis, como enfrentar sozinho – e vencer – uma divisão alemã inteira.


Por Boris Egorov


Incursão frenética na retaguarda do inimigo

Em 17 de outubro de 1941, a 21ª Brigada Soviética de Tanques surgiu nos arredores de Kalinin (Tver), ocupada pela Wehrmacht. Os tanques foram ordenados a fazer uma incursão na retaguarda do inimigo, cercar a cidade e alcançar suas próprias tropas.

Durante o ataque, um tanque T-34 comandado pelo sargento Stepan Gorobets foi separado do grupo principal. Devido a uma falha de rádio, a tripulação do tanque não tinha ideia de que sua brigada havia sido imobilizada por um ataque aéreo, e Gorobets seguia em direção às posições inimigas completamente sozinho.

Sargento Stepan Gorobets

Depois que o T-34 de Gorobets destruiu uma coluna de motocicletas ao longo do caminho, viu-se repentinamente na frente de um aeródromo alemão. Perplexos pela audácia do tanque soviético solitário, os alemães acompanharam o T-34 destruir dois aviões Junkers Ju 87 e suprimentos de combustível, e depois se dirigir a Kalinin.

Ali, o comandante se deu conta que estava sozinho e não receberia apoio de outros tanques. Para chegar a suas próprias linhas, Gorobets dirigiu o tanque sob fogo intenso pelo centro da cidade, cheio de alemães, esmagando uma arma de artilharia e batendo contra um tanque inimigo no caminho.

Finalmente, o T-34 em chamas, cheio de buracos feitos por projéteis inimigos, com uma arma quebrada, alcançou as posições dos soldados soviéticos, que receberam a tripulação como heróis.


Uma fuga inesperada

Durante o rigoroso inverno de 1942, um T-34 dirigido pelo capitão Gavril Polovtchenia ficou atolado em um rio perto da cidade de Andreapol. A tripulação esperava reforços quando os alemães chegaram e cercaram o tanque.

Polovtchenia ordenou que a tripulação não fizesse barulho, embora fosse difícil com tanto frio em um T-34 completamente congelado. Ainda que os alemães não tenham conseguido abrir a escotilha, decidiram que o tanque havia sido abandonado e o tiraram da água.

T-34 passando sobre um Pzkpfw II durante um combate aproximado

Em 15 de janeiro, os alemães enviaram o T-34 de Polovtchenia para Andreapol, enquanto a tripulação permanecia em silêncio. Às 5 horas da manhã seguinte, o tanque soviético tentou escapar. Saiu à toda pelas ruas da cidade, atirando e esmagando o inimigo, desorganizado e em estado de choque. Mais de 20 soldados, 30 veículos e caminhões militares, além de 10 armas de artilharia foram destruídas enquanto o tanque se dirigia para as posições soviéticas. Além disso, os alemães ficaram chocados e não conseguiram resistir ao avanço das tropas soviéticas, que facilmente libertaram Andreapol no mesmo dia. 


Lutando duas semanas em um pântano

Em dezembro de 1943, o Exército soviético estava libertando o nordeste do país. Durante uma operação, um T-34 liderado pelo tenente Stepan Tkatchenko ficou preso em um pântano semicongelado não muito longe de Pskov.

Toda a tripulação ficou gravemente ferida ou morreu, e apenas o operador de rádio Víktor Tchernichenko permaneceu ileso. Durante a noite, ele se juntou a outro motorista de tanque, Aleksêi Sokolov, que chegou ao tanque às escondidas vindo de posições das tropas soviéticas. Mas suas tentativas de libertar o tanque foram inúteis.

T-34 operando em um pântano congelado

Tchernichenko e Sokolov decidiram não deixar o T-34 e, por 13 dias, resistiram aos ferozes ataques da infantaria alemã. Contavam somente com algumas latas de carne, um pouco de açúcar, biscoitos, e água que vazava no tanque do pântano.

Completamente congelados, famintos e sem sono, os dois soldados soviéticos se defenderam da contínua avalanche de ataques alemães até que, em 30 de dezembro, as tropas soviéticas atravessaram as linhas inimigas até o solitário T-34.

Ferido, Sokolov morreu no dia seguinte ao resgate.  Tchernichenko conseguiu sobreviver à batalha, mas, infelizmente, teve ambas as pernas amputadas.

Fonte: Russia Beyond