"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

LÍBIA FOI ALVO DE PRIMEIRO BOMBARDEIO AÉREO DA HISTÓRIA



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Por Alan Johnston

A Itália recentemente disse estar pronta para se juntar às operações de ataques aéreos da Otan contra alvos na Líbia – um anúncio que trouxe à tona uma sensação de repetição da história. Foi na Líbia, há exatamente um século, que um jovem piloto italiano realizou o primeiro ataque aéreo já feito. Durante combates em novembro de 1911, entre a Itália e forças leais ao Império Otomano turco, o tenente Giulio Gavotti escreveu em uma carta a seu pai: "Hoje decidi tentar lançar bombas a partir do avião. É a primeira vez que nós iremos tentar isso. Se formos bem-sucedidos, ficarei satisfeito em ser a primeira pessoa a fazê-lo."

Pouco depois, o tenente Gavotti se pendurava do lado de fora de sua frágil aeronave e arremessava uma bomba contra tropas em um oásis no deserto abaixo.


Guerra aérea

E assim a guerra chegou aos ares, com a primeira bomba sendo lançada sobre um deserto na Líbia.  As cartas foram usadas para ilustrar uma edição do programa radiofônico do Serviço Mundial da BBC, Witness - que se vale de testemunhos pessoais para reconstituir eventos-chave na história mundial. 

O tenente Giulio Gavotti, autor do primeiro bombardeio aéreo da história


A BBC obteve cópias das cartas que o tenente escreveu na Líbia. Na época, a Itália era ainda um país novo, que havia sido unificado havia menos de 50 anos. O país estava ávido por conquistas e enxergou em partes do Império Otomano em declínio regiões prontas para serem tomadas – entre elas, territórios na Líbia. Com a eclosão da guerra, o tenente Gavotti recebeu ordens de colocar vários aviões de carga a bordo de um navio e partir para o Norte da África.


Missão secreta

Ele imaginava que teria apenas de realizar missões de reconhecimento por lá, mas depois percebeu que mais seria exigido dele. "“Hoje, duas caixas de bombas chegaram’’, ele escreveu em uma carta a seu pai, enviada de Nápoles: 

"A expectativa é que nós as lancemos a partir de nossos aviões."

"É muito estranho que nada disso nos tenha sido dito antes e que não tenhamos recebido nenhuma instrução. Portanto, estamos trazendo as bombas a bordo com a maior precaução.’’

"Será muito interessante experimentá-las nos turcos."

Ao trazer aeronaves para a frente de batalha, os italianos estavam fazendo algo que não tinha sido feito antes. Isso foi apenas oito anos após os Irmãos Wright, dos Estados Unidos, considerados por muitos os pais da aviação, terem realizado um pioneiro voo curto. Voar ainda estava em sua infância. "Assim que o tempo estiver bom, eu irei para o acampamento e levarei meu avião", escreveu Gavotti.

Gavotti nos controles de um avião



Bomba no bolso

"Perto do assento, eu mantinha uma pequena caixa de couro preenchida com estofamento. Eu coloquei as bombas ali dentro com muito cuidado. Elas eram bombas pequenas, que pesavam um quilo e meio cada uma. Eu as coloquei na caixa e outra no bolso de minha jaqueta.’’

Gavotti decolou e partiu para Ain Zara, que atualmente é apenas uma cidade ao leste de Trípoli, na época era descrita como sendo um pequeno oásis.  Lá, a expectativa era de que ele encontrasse combatentes árabes e tropas turcas que haviam se aliado na luta contra a invasão italiana.  Em sua carta, que foi disponibilizada para a BBC por seu neto, Paolo de Vecchi, o tenente escreve: "Depois de um tempo, eu percebi a forma escura do oásis. Com uma mão, segurei o volante, com a outra, tirei uma das bombas e a coloquei no meu colo."

"Estou pronto. O oásis fica a cerca de um quilômetro de distância. Vejo as tendas árabes muito bem. Carrego a bomba com a mão direita, retiro a etiqueta de segurança e jogo a bomba para fora, evitando a asa."

"Posso vê-la caindo por alguns segundos e em seguida ela desaparece. Depois de um pouco de tempo, posso ver uma pequena nuvem escura no meio do acampamento. "
"Eu atingi o alvo!"

"Lancei outras duas bombas com menos sucesso. Ainda tenho uma que eu decidi lançar mais tarde sobre um oásis próximo a Trípoli.’’

Jornal paulista noticiando o ataque na Líbia


"Retornei realmente satisfeito com o resultado. Fui direto me reportar para o general Caneva. Todo mundo está satisfeito."

De volta à Itália, a imprensa ufanista relatou o feito com grande estardalhaço.  Com sua pequena bomba, o tenente Gavotti pode ter imposto poucas baixas, se é que impôs alguma, em sua incursão solitária contra um oásis empoeirado líbio. Mas ele havia mostrado pela primeira vez que era possível realizar ataques a partir de uma aeronave.

Mais tarde, bombardeios começariam a entrar na história pelo alto número de civis que mataram - como Guernica, Dresden e Hiroshima –, causando estragos que o jovem piloto italiano mal poderia ter imaginado.

Fonte: BBC


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domingo, 17 de janeiro de 2021

HERÓIS DE QUATRO PATAS

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Durante as celebrações dos 70 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial, após um desfile com várias unidades e equipamentos militares, chegou a vez dos... cães.


Por Olga Belenitskaia


Durante a Grande Guerra Patriótica, como é conhecida a Segunda Guerra Mundial na Rússia, não foram só as pessoas que deram provas de bravura. Cerca de 60 mil cachorros de diferentes raças, inclusive vira-latas, integravam o Exército soviético.

Os cães auxiliavam os homens em todas as frentes – farejavam minas, retiravam feridos dos escombros ou do campo de batalha. Às vezes, eram também usados em ações camicases – cães com explosivos lançavam-se debaixo de tanques. Nos anos da guerra, mais de 300 tanques alemães, ou seja, duas divisões, foram explodidos por cães.

Um dos episódios mais marcantes aconteceu no outono de 1941. Durante combates na região de Moscou, um grupo de tanques fascistas em ataque à fronteira soviética bateu em retirada ao ver que uma matilha de cães corria em sua direção.

Também com a ajuda de cachorros foram desativadas minas em mais de trezentas grandes cidades. No currículo do collie apelidado de Dik, por exemplo, consta: “Recrutado em Leningrado e destinado ao trabalho de desativação de minas. Durante a guerra, descobriu mais de 12 mil minas, participou da desativação de minas em Stalingrado, Lissitchansk, Praga etc.”

Cachorros ajudaram a desativar minas em mais de trezentas grandes 


Mas a principal façanha de Dik aconteceu em Pávlovsk, onde ele descobriu, uma hora antes do momento programado para detonação, um caixote de pólvora de duas toneladas e meia, com um cronômetro, escondido no alicerce de um palácio. Depois da vitória, apesar do vários ferimentos, Dik mais de uma vez participou de exposições de cães. O cão veterano chegou à velhice e foi enterrado com honras militares. 


Enfermeiros de plantão

No inverno, em macas sobre trenós, e no verão, em pequenas carroças, os cachorros transportavam pessoas para a linha de frente e traziam feridos de lá. Cada dupla de cães substituía de três a quatro enfermeiros, retirando mais de 600 mil homens do campo de batalha.

Quando os enfermeiros não conseguiam chegar até um ferido, por causa do intenso fogo cruzado, os cães arrastavam-se de barriga até ele, levando a caixa de primeiros socorros. Esperavam até que o combatente fizesse o curativo e só depois passavam ao seguinte. Caso o ferido estivesse desacordado, o cachorro lambia o seu rosto até que ele voltasse a si.

Além disso, durante a guerra, cães mensageiros entregaram mais de vinte mil informes e estenderam mais de 8 mil quilômetros de fios telefônicos por locais onde os soldados não tinham acesso.


Pastor dos pastores

Embora muitos cachorros tenham realizado verdadeiras façanhas em épocas de guerra, o único que recebeu uma medalha “Pelos serviços prestados” foi um pastor chamado Djulbars. No último ano da Segunda Guerra, esse cão localizou 7.468 minas e 150 obuses, assim como participou da desativação de bombas em palácios da região do rio Dunai, castelos de Praga e catedrais de Viena.

O dono de Djulbars era Dina Volkats, que posteriormente se tornou esposa do comandante Aleksandr Mazover, grande especialista em cães. Ainda antes da guerra, Dina atuava como adestradora de cães oficiais na cidade natal de Kharkov.

Em 1941, a jovem de 18 anos foi mandada à Escola Central de Adestramentos de Cães Militares. Depois de receber o título militar de aspirante a oficial, Volkats começou a trabalhar. Escolheu um cão e mostrou-o ao chefe de seção. Djulbars era tão sem graça, que o chefe apenas ironizou: “Não conseguiu achar nada pior? Permita-me saber em que critério se baseou a sua escolha?”. “No olho”, respondeu Dina seriamente.

No final da guerra, Djulbars foi ferido e não pôde participar da Parada da Vitória. O marechal Konstantin Rokossovski informou isso a Stalin, que ordenou levarem o cachorro à Praça Vermelha enrolado em sua própria túnica militar. Aleksandr Mazover levou o pastor no colo e recebeu permissão para não marchar a passo firme nem prestar continência, afinal, ele estava cuidando de um combatente muito valioso.

Fonte: Gazeta Russa



terça-feira, 5 de janeiro de 2021

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - ANTOINE DE BOURBON, REI CONSORTE DE NAVARRA

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Antoine de Bourbon, duque de Vendôme, rei de Navarra (1518-1562) foi um nobre francês que desempenhou um papel menor nas Guerras Habsburgo-Valois, antes de ser morto no cerco a Rouen, durante a Primeira Guerra Religiosa.


* 22/4/1518 - La Fère, França

+ 17/11/1562 - Les Andelys, França



Bourbon tornou-se governador da Picardia após a morte de seu pai em 1537. No mesmo ano, ele participou da invasão de Savóia por Montmorency, na qual Turim e Pinerolo foram capturados, durante a Terceira Guerra dos Habsburgo-Valois.

No início da Quarta Guerra dos Habsburgo-Valois (1542-44), comandou um dos três exércitos franceses que operavam nas fronteiras do nordeste. Ele capturou Saint-Omer e Béthune, mas contratempos em outros lugares significaram que essas campanhas francesas iniciais terminaram em fracasso. No final de 1543, os franceses realizaram outra invasão do Luxemburgo, desencadeando uma resposta direta do imperador Carlos V. Carlos iniciou um cerco aos Landrecies, mas interrompeu quando Francisco I chegou à área com o principal exército real francês. Bourbon participou desta campanha.

Em 1548, casou-se com Jeanne d'Albret, a herdeira do reino de Navarra, e em 1555 tornou-se rei titular de Navarra, embora a maior parte de seu reino estivesse em mãos espanholas.

Antoine tornou-se protestante em meados da década de 1550, e seu filho Henrique foi criado nessa religião (mais tarde se tornando Henrique IV da França). Antoine esteve envolvido em algumas dos primeiros planos dos huguenotes no período anterior à eclosão da Primeira Guerra Religiosa (1562-1563). Em fins de 1560, Navarra e seu irmão Condé foram convocados para retornar à corte em Orleans. Condé foi condenado à morte e Navarra foi apenas vigiado, mas ambos foram salvos pela morte por Francisco II, em 5 de dezembro de 1560.

A França dividida pelas Guerras Religiosas

Francisco foi sucedido por Carlos IX, de dez anos de idade. Normalmente, Navarra seria seu regente, mas pouco antes da morte de Francisco, ele havia renunciado seus direitos em favor de Catarina de Médicis, a rainha-mãe. Ele foi nomeado tenente-geral da França e tornou-se uma figura-chave em seu governo. No final de 1561, Navarra havia retornado ao catolicismo, possivelmente depois que representantes espanhóis sugeriram que ele poderia ser compensado financeiramente se o fizesse.

Após isso, comandou o exército real no início da Primeira Guerra religiosa (os protestantes foram comandados por seu irmão Luís I de Bourbon, príncipe de Condé). Antoine foi mortalmente ferido durante o cerco a Rouen (agosto-outubro de 1562), um importante centro huguenote. Seu jovem filho Henrique tornou-se um líder-chave da causa huguenote, a princípio como uma figura central devido à sua idade, mas depois como um comandante ativo e muito capaz, e, eventualmente, como rei.