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Tal tese poderia revolucionar a história: físicos alemães a serviço de Hitler teriam fabricado e testado com sucesso uma bomba atômica antes mesmo dos americanos. É o que argumenta Rainer Karlsch em seu livro "A bomba de Hitler". Mídia e especialistas questionam sua veracidade.
Se comprovada, a tese do historiador alemão Rainer Karlsch poderia mudar a história do século 20: Hitler teria desenvolvido e testado armas atômicas pouco antes do fim da Segunda Guerra Mundial. Mas especialistas questionam se as informações do livro A Bomba de Hitler, lançado em Berlim, não passam de uma tese.
Tanto historiadores quanto físicos se recusam a aceitar a tese de Karlsch. Mesmo que muitos deles reconheçam em sua obra dados interessantes e até então desconhecidos, faltariam provas à maioria deles.
A mídia tampouco se deixou levar pelos argumentos de Karlsch, insinuando que a "sensação" prometida abuse do contexto histórico do aniversário de 60 anos do final da guerra. Seus títulos foram categóricos: "Não existiu uma bomba atômica alemã", escreveu o Berliner Zeitung; "Falta a prova final", acusou o Süddeutsche Zeitung.
Karlsch garante: "Cientistas alemães conseguiram liberar energia nuclear na primavera de 1944, nove meses antes dos americanos". Pesquisadores de Hilter teriam criado uma "minibomba atômica", que teria sido inclusive testada com sucesso em março de 1945 no Estado alemão da Turíngia, próximo ao campo de concentração de Buchenwald, custando a vida de cerca de 500 prisioneiros.
Mas a bomba de Hitler não teria a potência das de Hiroshima ou Nagasaki. Por isso, o autor preferiu falar em "granadas atômicas, que não se podeM menosprezar".
Rainer Karlsch no lançamento de seu polêmico livro
Crítica admite méritos
Mas para Dieter Hoffmann, pesquisador de História da Ciência do Instituto Max Planck de Berlim, Karlsch não é um mero charlatão. "Ele contribui com elementos importantes para a ciência e, devido à sua tenacidade, foi o primeiro a ter acesso aos arquivos russos", disse.
No entanto, Hoffmann questiona a tese central do livro. "A fissão do urânio foi descoberta na Alemanha. Agora, que a primeira bomba atômica tenha sido detonada lá nos anos 40, me parece pouco digno de crédito."
Segundo ele, outro mérito de Karlsch teria sido a atenção dada a outros grupos de pesquisa que se empenharam no desenvolvimento de armas militares. Até hoje, pesquisadores ocupados em investigar a pesquisa nuclear no período nazista se concentraram nos trabalhos do grupo de cientistas ligados ao físico Werner Heisenberg, que dizia que Hitler estava muito longe de possuir a bomba.
Karlsch argumenta que esta tarefa talvez estivesse a cargo de um grupo menor e menos conhecido. "O grupo em torno de Kurt Diebner parece ter estado mais próximo do que até então se acreditava", admite Hoffmann.
Reator em Berlim é novidade
Gerhard Fußmann, físico da Universidade Humboldt de Berlim, tampouco se deixou convencer. "Nada se sabe sobre a constituição da bomba testada pelos nazistas na Turíngia. Só existem depoimentos de leigos e especulações baseadas em documentos históricos", alerta.
Ele, porém, admite que o livro surpreende em diversos pontos. "Para mim, é novidade que existia um reator nuclear ao sul de Berlim", acrescenta. Análises do solo comprovam que lá foi realizada fissão de urânio, o que, segundo ele, mostra que os nazistas possuíam mais material e conhecimento técnico do que se acreditava até então.
As análises indicam que eles conseguiram produzir urânio 235 enriquecido a 10%, ao menos em pequenas quantidades", disse Fussmann. Mas, para fabricar uma bomba como a de Hiroshima, por exemplo, é necessário um enriquecimento a 80%.
Além do mais, os russos, que confiscaram os relatórios da pesquisa nazista sobre armas atômicas em 1945, ficaram curiosos a respeito dos resultados obtidos, mas de forma alguma prescindiam dos mesmos. "E lá havia mais de 10 mil páginas de material de espionagem só sobre a pesquisa nuclear americana", argumenta Fussmann. Ao que parece, a história da Guerra Fria não deverá ser modificada.
Fonte: DW
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