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Por Jamicel Silva
Em 22 de junho de 1941, ao iniciar a Operação Barbarossa, Adolf Hitler rompia o pacto de não-agressão com a União Soviética e invadia aquele território que, no passado, mostrou-se inóspito a conquistas militares. Durante toda a campanha, que durou até dezembro daquele ano, aspectos geográficos influenciaram decisivamente na definição daquela fase da guerra, que impactou nos resultados finais do conflito, em 1945.
O início da operação foi descrito por Churchill (1874 – 1965) da seguinte maneira:
A hora havia soado. Às 4h desse mesmo 22 de junho de 1941, Ribbentrop entregou uma declaração formal de guerra ao embaixador russo em Berlim. Ao raiar do dia,Schulenberg apresentou-se a Molotov no Kremlin. Este ouviu em silêncio a declaração lida pelo embaixador alemão, e em seguida comentou: “É a guerra. Vossos aviões acabaram de bombardear umas dez aldeias desprotegidas. O senhor acha que nós merecíamos isso?” (CHURCHILL, 2005, p. 530).
A partir daí, o que se observou foi uma massa de veículos militares e tropas deslocando-se rumo ao Leste, em três frentes de ataque: Leningrado, no norte; Moscou, no centro, e no sul rumo aos campos de petróleo no território da atual Ucrânia, já que as reservas dessa fonte de energia na África foram relegadas a segundo plano, mesmo com as vitórias de Rommel naquele teatro, decisão influenciada pela convicção de Hitler da necessidade de derrota do bolchevismo russo (FILHO, 2015).
O avanço alemão foi realizado em três direções, cada qual apoiada por um grupo de exércitos. No início a operação foi bem sucedida, mas, com a chegada de rigoroso inverno, a situação mudou completamente.
A observação do território soviético no local da campanha alemã permite compreender que as grandes extensões de planícies foram propícias ao avanço rápido das divisões mecanizadas, que permitiu o sucesso inicial da Operação Barbarossa. Em decorrência das campanhas da Polônia e França, com a Inglaterra encurralada, após a retirada de Dunquerque, Hitler acreditou que o avanço na Rússia seria breve.
A convicção de Hitler começou a ser colocada em xeque com a chegada do rigoroso inverno russo e, como em outras campanhas do passado, fatores climáticos influenciaram no resultado das ações militares. Como se sabe, Napoleão também foi derrotado nesse mesmo território, durante avanço, com o clima influenciando diretamente no desgaste das tropas da Grande Armèe, alcunha pela qual ficou conhecido o exército francês da época.
Hitler, mesmo ciente das dificuldades dos exércitos alemães, em decorrência do clima rigoroso, que debilitou a capacidade operacional, não permitiu a rendição dos generais e insistia que a resistência durasse até o limite das forças. Com o passar dos combates, a situação das tropas só piorava e a influência do clima se fazia sentir. Aliado ao clima, o relevo e vegetação potencializavam a derrocada das tropas, com o congelamento do solo que dificultava os deslocamentos, causava congelamento de membros, criava escassez de água e alimentos, além de tornar os equipamentos militares inoperantes, como, por exemplo, divisões blindadas que tiveram veículos militares destruídos pelo congelamento de componentes.
Hitler negligenciou os ensinamentos da História Militar e, como ocorreu com Napoleão, fracassou em sua tentativa de conquistar a Rússia.
A análise da Operação Barbarossa demonstra a importância de se levar em conta aspectos geográficos no estudo da História Militar, pois é um dos fatores decisivos no resultado de campanhas militares, como ficou demonstrado com a influência do inverno na sorte das tropas alemãs, na Segunda Guerra Mundial, já que essa foi considerada a primeira derrota de Hitler. A partir dela, os exércitos soviéticos avançaram rumo à Alemanha, com a abertura de um novo front no Leste, que deu tranquilidade aos outros Aliados para atuarem em regiões a oeste e sul da Europa, além da África e Ásia, com destino ao centro do Reich.
Aliadas à importância dos aspectos geográficos, as estratégias e táticas militares também são essenciais para o entendimento do sucesso de operações, pois são levados em conta o terreno, clima e o relevo no planejamento dos comandantes militares. No caso da Operação Barbarossa, a estratégia dos generais soviéticos de recuo das tropas com o intuito de esperar o inverno foi decisivo, pois com tropas mais adaptadas e melhor equipadas a esse clima, o enfrentamento do inimigo foi facilitado como se vê no rápido contra-ataque realizado com a expulsão das tropas nazistas daquele território.
Referências
- CHURCHILL, Winston S. Memórias da Segunda Guerra Mundial. 3.ed. v.1. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 2005, 534 p.
- FILHO, Cyro Rezende. Rommel: a raposa do deserto. São Paulo: Contexto, 2015, 206 p.
Fonte: Werra
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