A Guerra Franco-Turca, também chamada de Campanha da Cilícia da Guerra da Independência Turca, foi uma série de conflitos conflitos militares entre as Forças Coloniais Francesas, aliadas à Legião Armênia Francesa, e as Forças Nacionais Turcas, no rescaldo da Primeira Guerra Mundial.
O interesse francês na região veio após o Acordo Sykes-Picot (1916) e do retorno dos refugiados armênios a seus lares. Junto com as outras potências aliadas, os franceses abandonaram o interesse pela população armênia para apoiar a Turquia como um estado-tampão do expansionismo Bolchevique.
Acordos e tratados
Após o Armistício de Mudros, o Exército Francês deslocou-se para Çukurova, conforme previsto em segredo pelo Acordo Sykes-Picot, que dava à França o controle da Síria Otomana e do sul da Anatólia, incluindo os principais locais estratégicos da fértil planície de Çukurova, os portos de Mersin e İskenderun (Alexandreta) e as minas de cobre de Ergani.
Por outro lado, as terras férteis da Mesopotâmia e o vilaiete de Mossul (onde se suspeitava que existissem campos petrolíferos) eram prioridades para os britânicos. Segundo o acordo, os britânicos cuidariam das cidades de Antep, Marash e Urfa, até que os franceses chegassem às regiões da Anatólia meridional alocadas a eles no acordo.
Mapa mostrando os efeitos do Acordo Sykes-Picot, que redefiniu as fronteiras do Oriente Médio e deram origem a um conflito latente até os dias atuais.
A Legião Armênia francesa, sob o comando do General britânico Edmund Allenby, consistia de voluntários armênios que ajudaram os Aliados quando os Otomanos começaram a levar a cabo o genocídio da população armênia. Os Armênios lutaram na Palestina e na Síria, e também na Cilícia após o Armistício de Mudros.
Desembarques franceses no Mar Negro
Após o armistício de Mudros, a primeira providência dos militares franceses foi controlar as minas de carvão Otomanas, estrategicamente importantes, sobre as quais a capital francesa detinha participações significativas. O objetivo era tomar o controle dessa fonte de energia e atender às necessidades militares francesas. Também pretendiam impedir a distribuição de carvão na Anatólia, que poderia ser usada em atividades de apoio à insurgência.
Em 18 de Março de 1919, duas canhoneiras francesas trouxeram tropas para os portos de Zonguldaque e Karadeniz Ereğli, no Mar Negro, para dominar a região de mineração de carvão Otomana. Em face da resistência que enfrentaram durante um ano na região, as tropas francesas começaram a retirar-se de Karadeniz Ereğli em 8 de Junho de 1920. Os franceses, contudo, persistiram na ocupação de Zonguldaque, o que aconteceu em 18 de junho de 1920.
Operações em Constantinopla e na Trácia
As principais operações na Trácia visaram apoiar os objetivos estratégicos dos aliados. Uma brigada Francesa entrou em Constantinopla em 12 de Novembro de 1918. Em 8 de Fevereiro de 1919, o General francês Franchet d'Espèrey - comandante em chefe das forças de ocupação aliadas no Império Otomano - chegou a Constantinopla para coordenar o governo de ocupação.
Milícias turcas na Anatólia em 1919
A cidade de Bursa - uma antiga capital Otomana de importância central no noroeste da Anatólia - também foi ocupada por forças francesas por um breve período antes da grande ofensiva de verão do Exército Grego em 1920, quando a cidade caiu para os gregos.
A Campanha Cilícia
O primeiro desembarque ocorreu em 17 de novembro de 1918 em Mersin, com cerca de 15.000 homens, principalmente voluntários da Legião Armênia francesa, acompanhados por 150 oficiais Franceses. Os primeiros objetivos dessa força expedicionária eram ocupar portos e desmantelar a administração Otomana. Em 19 de novembro, Tarso foi ocupada para proteger o ambiente e preparar o estabelecimento do quartel general em Adana.
Depois da ocupação da Cilícia em fins de 1918, as tropas francesas ocuparam as províncias Otomanas de Antep, Marash e Urfa, no sul da Anatólia, no final de 1919, recebendo o controle das tropas britânicas, conforme combinado.
Nas regiões que ocupavam, os franceses encontraram resistência imediata dos turcos, especialmente porque se associaram aos objetivos Armênios. Os soldados franceses eram estrangeiros na região e usavam milícias armênias para adquirir informações, enquanto os cidadãos turcos tinham estado em cooperação com tribos árabes nesta área. Comparado com a ameaça grega, os franceses pareciam menos perigosos para Mustafa Kemal Pasha, que sugeriu que, se a ameaça grega pudesse ser superada, os franceses não resistiriam, especialmente porque queriam se estabelecer na Síria.
Voluntários armênios a serviço do Exército Francês
A resistência das forças turcas foi uma grande surpresa para os franceses. Estes culparam os britânicos por seu fracasso em conter o poder das forças de resistência locais. O objetivo estratégico de abrir uma frente sulista ao mover os armênios contra as forças nacionais turcas foi um fracasso, após a derrota das forças gregas no oeste.
Em 11 de fevereiro de 1920, após 22 dias da Batalha de Marash, as tropas de ocupação francesas, seguidas por membros da comunidade armênia local, viram-se forçadas a evacuar Marash em razão da resistência e ataques dos revolucionários turcos. A perda da cidade foi acompanhada por massacres em larga escala da população armênia, com milhares de vítimas. O membro da legião armênia francesa Sarkis Torossian registrou, em seu diário, que as forças francesas deram armas e munição aos Kemalistas para permitir que o Exército Francês se retirasse da Cilícia.
Forças de milícia de Marash contribuíram ainda mais para o esforço de guerra, participando na recaptura de outros centros na região, forçando as forças francesas a recuar gradualmente, cidade por cidade.
O fim das Hostilidades - retirada e migrações
O Tratado de Paz da Cilícia entre a França e o Movimento Nacional Turco foi assinado em 9 de março de 1921. Ele pretendia acabar com a guerra Franco-Turca, mas não logrou êxito, sendo substituído, em outubro de 1921, pelo Tratado de Ancara, assinado por representantes dos franceses e turcos, assinado em 20 de outubro de 1921, e finalizado com o Armistício de Mudanya.
Medalha francesa concedida aos militares que participaram da Campanha da Cilícia
As forças francesas retiraram-se da zona de ocupação nos primeiros dias de 1922, cerca de dez meses antes do Armistício de Mudanya. A partir de 3 de janeiro, as tropas francesas evacuaram Mersin e Dörtyol. Dois dias mais tarde, deixaram Adana, Ceyhan e Tarso. A evacuação foi concluída em 7 de janeiro, com as últimas tropas deixando Osmaniye.
Miliciano turco
Nos estágios iniciais da Guerra Greco-Turca, tropas francesas e gregas cruzaram o Rio Meriç e ocuparam a cidade de Uzunköprü, no leste da Trácia, e a rota ferroviária de lá para a estação de Hadimkoy, perto de Çatalca, nos arredores de Constantinopla. Em setembro de 1922, no final daquela guerra, durante a retirada grega depois do avanço dos revolucionários turcos, as forças francesas retiraram-se de suas posições perto dos Dardanelos, mas os britânicos pareciam preparados para se manterem firmes.
O governo britânico emitiu um pedido de apoio militar de suas colônias, mas este foi recusado, e os franceses, que deixaram os britânicos nos estreitos, sinalizaram que os Aliados não estavam dispostos a intervir em auxílio da Grécia. As tropas gregas e francesas retiraram-se para além do Rio Meriç.
Resultado da guerra
Juntamente com as outras potências aliadas, os franceses abandonaram o interesse pela população Armênia para apoiar a Turquia como um estado-tampão do expansionismo Bolchevique. A França teve melhores relações com os cidadãos turcos durante a Guerra da Independência Turca, principalmente por ter rompido a solidariedade com a Tríplice Entente e assinado um acordo separado com o Movimento Nacional Turco. As relações positivas Franco-Turcas foram mantidas. A política francesa de apoio ao movimento de independência da Turquia recuou durante a Conferência de Lausanne sobre a abolição das Capitulações do Império Otomano.
Objeções francesas durante as discussões sobre a abolição foram percebidas como contrárias à plena independência e soberania da Turquia. A atitude positiva desenvolvida com o Tratado de Ancara permaneceu amigável, ainda que limitada. As dívidas Otomanas foram perdoadas pela República da Turquia, em consonância com o Tratado de Lausanne.
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