"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

HISTÓRIA MILITAR NA FRANÇA - A COLUNA DE VENDÔME

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Em nossas andanças por Paris, sempre de bike, visitamos a linda Place de Vendôme, na qual está a Coluna de Vendôme, símbolo da glória de Napoleão.

A Coluna de Vendôme, ou Coluna de Austerlitz, é um monumento situado na Praça de Vendôme, no 1.º arrondissement de Paris.  Foi erigida por ordem de Napoleão Bonaparte em 1806 para celebrar a sua vitória na batalha de Austerlitz, com uma estátua de si mesmo em traje de imperador romano na parte superior da dita coluna, que deveria chamar-se "Colonne de la Grande Armée" em homenagem aos seus soldados. O acesso à praça dá-se a partir das estações de metrô de Madeleine, Tuileries e Opéra.


O Monumento

Construída em pedra, a coluna é envelopada até à parte superior numa fita contínua de placas de bronze com baixos-relevos, que representam cenas da campanha austríaca. O bronze teria sido adquirido da fundição dos mil e duzentos canhões capturados em Austerlitz. A Coluna de Vendôme, nome pelo qual ficou sempre conhecida, foi inspirada no modelo da coluna de Trajano de Roma, mas um terço mais alta do que a romana, com 44,3 metros de altura e 3,60 metros de diâmetro. 

Está coroada por uma estátua de Napoleão I vestido de general romano, esculpida por Auguste Dumont, cujo sobrinho, Napoleão III, mandou construir. O seu fuste, com 98 tambores de pedra, está forrado com uma folha de bronze que teria saído da fundição dos supostos mil de duzentos canhões tomados pelos franceses aos inimigos russos e austríacos na Batalha de Austerlitz. 

Estátua de Napoleão, no topo da coluna, trajado como imperador romano.

A coluna é ornamentada com molduras helicoidais finas ao longo de 280 metros que envolvem o fuste no qual foram utilizadas 450 placas de bronze, com baixos-relevos que a compõem representando cenários de guerra da campanha austríaca. Diversos artistas participaram no seu desenho e decoração. Entre os mais significativos figuram: Jean-Joseph Foucou, autor de seis baixos-relevos, Louis Boizot, Bosio, Lorenzo Bartolini, Claude Ramey, Corbet e Ruxthiel.

Relevos helicoidais retratando as fases da Batalha de Austerlitz

A base da coluna de Vendôme foi construída em granito pórfiro de Córsega (Algajola), na qual está grafada a seguinte inscrição:

“NEAPOLIO IMP AVGMONVMENTVM BELLI GERMANICI ANNO MDCCCV TRIMESTRI SPATIO DVCTV SVO PROFLIGATI EX AERE CAPTO GLORIAE EXERCITVS MAXIMI DICAVIT"


História

A praça de Vendôme, requerida por Luís XIV e projetada por Jules Hardouin Mansart, possuía no centro uma estátua equestre do Rei Sol. A praça fora denominada Praça Luís, o Grande, mas, em 1792, os revolucionários destruíram a estátua, símbolo do poder real.

Em 1800, um decreto determinou a construção de uma coluna, no centro de cada departamento, e dedicada aos bravos homens de cada um deles. Em Paris, a 20 de março, Bonaparte, Primeiro Cônsul, decidiu construir uma coluna nacional na Praça da Concórdia, dedicada à Nação e uma coluna departamental na Praça de Vendôme.  A coluna nacional nunca fora construída, e na então projetada Place des Piques (ou Vendôme), apenas em 14 de julho de 1800 é que foi colocada a primeira pedra por Luciano Bonaparte, irmão de Napoleão e ministro do Interior, mas não foi concluída a sua construção. A ideia foi restabelecida em 1803 pelo Primeiro Cônsul, que confirmou a construção de uma coluna na praça Vendôme como aquela erigida em Roma, em honra de Trajano, ornamentada com 108 símbolos dos departamentos dispostos em espiral e encimada por uma estátua de Carlos Magno. 

A Coluna de Vendôme faz referência à vitória francesa em Austerlitz

A princípio dedicada à glória do povo francês, em breve a coluna tornar-se-ia a glória de Napoleão. Mas a construção foi demorada e estendeu-se até 1805, tendo em conta a fundição dos 1200 canhões capturados dos inimigos austríacos e russos (num total de 180 toneladas) para que o projeto, relançado por Vivant Denon, procedesse. A coluna foi concluída em 1810 em homenagem aos vitoriosos soldados franceses, e denominada coluna do Grande Armée. Uma estátua de Napoleão Bonaparte em traje de imperador romano foi acrescentada na parte superior da coluna, esculpida por Antoine-Denis Chaudet.

Em 1814 a estátua foi tomada pelas tropas aliadas que ocuparam Paris e substituída por uma bandeira branca, decorada com lírios, durante a Restauração. Em 1818, a estátua foi fundida e o bronze foi utilizado para a criação da estátua equestre de Henrique IV na Pont Neuf.

Durante a Monarquia de Julho, uma nova estátua do imperador, apelidado de "o Pequeno Cabo", obra de Charles Émile Seurre, (o atual Invalides), foi colocada no topo da coluna, no dia 21 de junho de 1833, na presença de Luís Filipe I, preocupado em restaurar um pouca da glória do Império. A estátua media 3,50 metros de altura. 


O editor do Blog junto à Coluna de Vendôme

Napoleão III ponderou sobre o perigo em que a estátua incorria na parte superior da coluna, tendo portanto, sido removida e substituída por uma cópia da primeira estátua nas vestes de imperador romano de Chaudet, realizada pelo escultor Auguste Dumont. A única diferença residiria no facto de a estátua de Chaudet representar o imperador segurando com a mão esquerda o globo da vitória e a sua espada na mão direita, enquanto que a estátua de Dumont representa Napoleão segurando com a sua mão esquerda a espada e o globo da vitória na sua mão direita.

O episódio mais marcante ocorreu na época da insurreição da Comuna de Paris. O pintor Gustave Courbet que, após a Guerra Franco-Prussiana, na sequência de uma petição ao governo da Defesa Nacional em 14 de setembro de 1870, pediu a demolição da coluna, ou que deseja tomar a iniciativa, encarregando a administração do Museu de Artilharia, e fazendo transportar o material para o Hôtel des Monnaies. Sua intenção era reconstruir o Invalides. Porém a insurreição da Comuna de Paris ganhou força e outros propósitos. 

A coluna derrubada durante a Comuna de Paris

De acordo com o historiador Betrand Tilier, "a comuna de Paris considerou que a Coluna de Vendôme era um monumento bárbaro, símbolo da força bruta e da falsa glória, uma afirmação do militarismo, a negação do direito internacional, um permanente insulto dos vencedores aos vencidos, um perpétuo ataque a um dos três grandes princípios da República Francesa, a fraternidade, e decretaria: A coluna de Vendôme seria demolida".

Courbet, arrastado pela tempestade não pôde reverter a decisão e, um pouco contra a sua vontade, tornou-se historicamente responsável pela destruição da coluna. A 16 de maio de 1871, a coluna foi demolida frente de uma multidão. Após a queda da Comuna, as placas de bronze foram recuperadas e a coluna reconstruída tal como a vemos atualmente.  Courbet foi condenado a pagar os custos da reconstrução, mas morreu antes do vencimento da primeira parcela.

A coluna com iluminação noturna 

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domingo, 24 de dezembro de 2017

SARGENTO DAS FORÇAS ESPECIAIS SE TORNA A PRIMEIRA MULHER BRITÂNICA A MATAR TERRORISTAS EM COMBATE

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Uma sargento feminina das forças especiais tornou-se a primeira soldado britânica a matar terroristas durante uma operação militar.

Uma sargento feminina das forças especiais tornou-se a primeira soldado britânica a matar terroristas durante uma operação militar. A mulher, que está servindo com o Regimento Especial de Reconhecimento (Special Reconnaissance Regiment - SRR), neutralizou pelo menos três alvos com sua submetralhadora.

Ela fazia parte de uma equipe que havia conseguido entrar em contato com uma informante do Estado islâmico (ISIS), que afirmou ter sido forçada a se casar com um proeminente comandante do ISIS.  A informante se ofereceu para fornecer informações sobre o grupo em troca de ser ajudada a escapar com seu filho. A equipe dos soldados das forças especiais britânicas incluía alguns soldados do Serviço Aéreo Especial (Special Air Service – SAS), um oficial do MI6 e membros da SRR. Eles se encontraram com o informante perto de uma pequena cidade na fronteira entre a Síria e o Iraque. A equipe se retirou para o ponto de encontro após a reunião - mas foi emboscada quando passava por uma área construída, da qual os terroristas do ISIS haviam fugido recentemente.

A sargento abriu fogo contra um grupo de terroristas do ISIS quando ela e seus camaradas foram emboscados na fronteira da Síria com o Iraque

O grupo desembarcou de seu veículo e respondeu ao fogo com fuzis automáticos e lançadores de granadas. A heroica soldado conseguiu matar pelo menos três terroristas com sua metralhadora, enquanto vários terroristas tentavam atingir o veículo de onde a sargento estava protegendo seus colegas.

A sargento feminina do SRR estava armada com uma submetralhadora Heckler & Koch MP5K e matou vários terroristas a tiros. "Toda vez que surgia um terrorista, ela os atingia, informando aos companheiros o que estava acontecendo na retaguarda", disse uma fonte ao jornal The Sun.

Militar feminina pertencente ao SRR, a única unidade de forças especiais britânica a possuir mulheres em seu efetivo


Quando a equipe voltou para a base, seus colegas a estavam, mas ela só queria minimizar o evento e simplesmente disse que estava fazendo seu trabalho.

O incidente ocorreu em setembro, mas somente foi revelado agora, no final de dezembro.
Atualmente, o SRR é a única unidade de forças especiais que permite que mulheres em suas fileiras. O regimento atuou no Afeganistão, no Iraque e na Irlanda do Norte.

Fonte: The Sun

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

FIM DE UM MISTÉRIO DE MAIS DE UM SÉCULO - LOCALIZADO SUBMARINO AUSTRALIANO AFUNDADO NA 1ª GUERRA MUNDIAL

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Submarino da 1ª Guerra Mundial foi encontrado 103 anos depois. Ele era o maior mistério naval australiano

Após longos 103 anos de dúvidas, o mais antigo mistério naval da história australiana, foi resolvido com a descoberta de destroços do seu primeiro submarino, mais de um século depois do seu desaparecimento ao largo da costa da Papua Nova Guiné, segundo nota do governo australiano. O HMAS AE1, era o primeiro de dois submarinos da “classe E”, construídos para a Real Marinha Australiana e desapareceu em 14 de novembro de 1914, com 35 tripulantes a bordo de uma tripulação mista entre australianos, britânicos e neozelandeses.

O HMAS AE1 ao largo de Rabaul, antes de afundar em 1914

Os destroços, estão a cerca de 300 metros de profundidade na zona do desaparecimento, e foram encontrados pela 13ª expedição lançada para encontrá-lo, com a ajuda do Fugro Equator, um navio que também foi utilizado pela Austrália nas buscas infrutíferas pelo Boeing 777 da Malaysia Airlines, desaparecido em 08 de março de 2014, com 239 pessoas a bordo, após ter descolado de Kuala Lumpur rumo a Pequim. 

É com grande alívio e satisfação que recebemos esta notícia, pois "ao fim de 103 anos, o mais antigo mistério naval da Austrália foi resolvido", disse a ministra da Defesa australiana, Marise Payne, em declarações aos jornalistas. "Trata-se de uma das descobertas mais significativas da história marítima da Austrália. A perda do AE1 em 1914 foi uma tragédia para a nossa nação", realçou, indicando que a espera pela descoberta dos destroços, permita compreender as causas do acidente. 

Imagens do submarino HMAS AE1 localizado no fundo do mar

O submarino foi comissionado em fevereiro de 1914 em Portsmouth, no sul da Grã-Bretanha, e chegou a Sydney em maio do mesmo ano. Marise Payne informou ainda que o governo já fez contato com as autoridades de Papua-Nova Guiné para garantir a conservação do local e assim poder organizar cerimônias em memória dos desaparecidos. 

A perda do AE1 foi a primeira de um submersível aliado durante a 1ª Guerra Mundial e o seu desaparecimento figurava como o mistério naval mais antigo da história Australiana.

Fonte: The Sun
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terça-feira, 19 de dezembro de 2017

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR – GENERAL IWANE MATSUI

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* 27/7/1878 - Nagoya, Japão

+ 23/12/1948 - Tóquio, Japão


O General Iwane Matsui comandou as forças expedicionárias enviadas para a China durante a Guerra Sino-Japonesa. Foi executado por sentença do Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente no pós-guerra por seu papel no Massacre de Nanquim.


Iwane Matsui nasceu na província de Aichi. Participou na Guerra Russo-Japonesa e se formou na Academia Militar em 1906. Foi comandante do 29º Regimento de 1919 a 1921. Em seguida foi designado para a Força Expedicionária de Vladivostok, onde permaneceu até 1922. Entre 1922 e 1924 foi chefe da Agência de Serviços Especiais de Harbin, na Manchúria e, posteriormente, assumiu o comando do 35º Regimento, posto que ocupou até 1925.

Apís uma breve passagem pelo Departamento de Pessoal do exército, em 1929 recebeu o comando da 11ª Divisão, na qual permaneceu até 1931. Após isso foi incluído na delegação japonesa, em Genebra, na Conferência Mundial do Desarmamento, um esforço por parte da Liga das Nações para promover o desarmamento mundial.

Em 1933, Matsui ascendeu ao generalato e foi membro do Conselho Supremo de Guerra até 1935, quando foi nomeado Comandante-em-chefe do Exército do Distrito de Formosa.

Matsui reformou-se em 1935, mas, em 1937, retornou de sua aposentadoria para comandar a Força Expedicionária de Xangai, que seguiu para tomar a cidade durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa. Este comando foi indicado pessoalmente pelo imperador japonês Hirohito. Ao assumur o comando, de acordo com Fumimaro Konoe, Matsui disse que a única forma de subjugar Chiang Kai-shek era conquistar Nanquim.

Em 23 de agosto, o general Matsui e sua força chegaram ao campo de batalha de Xangai, onde ele recebeu o 10º Exército para o reforço. Em 7 de novembro, Matsui assumiu o comando de todas as forças japonesas na área de Xangai, que foi chamado Exército Expedicionário da China Central. Depois de vencer a batalha de Xangai, Matsui pediu permissão para avançar contra Nanking. Em 1° de dezembro recebeu uma resposta positiva e, embora o comando da Força Expedicionária fosse passado para o príncipe Asaka Yasuhiko, Matsui continuou a ser o comandante-em-chefe na China Central. Ao compartilhar o comando da Força Expedicionária com um parente do Imperador, surgiriam dúvidas sobre Matsui ter a total responsabilidade pelo Massacre de Nanquim que se produziu quando da tomada da cidade.

O General Iwane Matsui comando um desfile em Nanquim. Sua omissão perante o massacre ocorrido na cidade resultaria em sua condenação e execução


No dia 10 de dezembro começou a batalha de Nanquim, que terminou três dias depois. O assassinato e estupro de civis chineses começou imediatamente, mas foi temporariamente interrompido no dia 17, quando o general e príncipe Asaka Yasuhiko marchou para Nanking.

Matsui não estava presente durante o massacre em Nanquim, visto que adoecera, e anotou em seu diário que o estupro e a pilhagem prejudicacam a reputação do Exército Imperial japonês, o que revelou o seu conhecimento do massacre em desenvolvimento. Além disso, em um discurso durante o funeral de um número de policiais mortos em ação, em 7 de fevereiro de 1938, mencionou que "alguns atos abomináveis que ocorreram nos últimos cinquenta dias não serão repetidos".

Tanto o General Matsui como o Príncipe Asaka Yasuhiko foram chamados de volta, em 1938.  Matsui reformou-se definitivamente e fixou-se em Atami, na província de Shizuoka, onde, junto com vários membros de sua comunidade, ajudou a construir uma estátua de Kannon, a deusa da Ásia representa a misericórdia. Em 29 de abril de 1940 foi condecorado por sua participação na guerra.


Julgamento 

Após a Rendição do Japão na 2ª Guerra Mundial, Matsui foi julgado pelo Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente, pela sua omissão durante o massacre de Nanquim. Matsui expressou sua vergonha perante o massacre, mas indiretamente culpou o príncipe Asaka Yasuhiko e Tenente-General Yanagawa Heisuke, comandante do 10º Exército, pelos assassinatos, por não coibirem os homens sob seu comando direto. Matsui afirmou que alguns oficiais riram quando manifestou indignação pelo ocorrido, e que, por encontrar-se enfermo, não poderia intervir.

Em 1948, o Tribunal considerou que Matsui não estava o enfermo suficientemente para não ter tentado impedir a matança, e que ele tinha ciência do que aconteceu em Nanquim. O Tribunal considerou-o culpado de crimes de guerra e ele foi enforcado em dezembro, na Prisão de Sugamo, na mesma cerimônia em que foi enforcado o ex-primeiro-ministro Hideki Tojo.

Seu nome foi incluído no Livro das Almas do Santuário Yasukuni, que é tão venerado indiretamente, o que provocou protestos em todo o mundo, especialmente na China.

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quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

HISTÓRIA MILITAR NA FRANÇA - MEMORIAL NACIONAL DA GUERRA DA ARGÉLIA E DA LUTA NO MARROCOS E NA TUNÍSIA

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Quase aos pés da icônica Torre Eiffel está instalado outro monumento com referências à História Militar francesa, homenageando os mortos durante as guerras de descolonização no norte da África.

O Memorial Nacional da Guerra da Argélia e da Luta no Marrocos e na Tunísia é um monumento de guerra erguido na Quai Branly, no 7º Distrito de Paris, para rememorar os conflitos de independência que ocorreram na África do Norte francófona entre 1952 e 1962, nos departamentos franceses da Argélia e departamentos franceses do Saara, retrospectivamente chamados de guerra da Argélia (1954-1962) e aqueles situados no protetorado francês deo Marrocos e no protetorado francês da Tunísia, denominada "lutas da Tunísia e do Marrocos" (1952-1956 e, em seguida, 1961 para a crise de Bizerte).

Soldados franceses na Argélia

O monumento homenageia a memória dos 23 mil soldados mortos pela França - franceses e soldados coloniais Harkis -, bem como vítimas civis. Foi inaugurado em 5 de dezembro de 2002 pelo Presidente Jacques Chirac, na presença de Michèle Alliot-Marie, Ministro da Defesa, e Hamlaoui Mekachera, Secretário de Estado para Assuntos dos Veteranos. Em 2003, devido à inauguração deste monumento, a data de 5 de dezembro foi escolhida para instituir o "dia nacional de homenagem aos mortos pela França durante a guerra da Argélia e as lutas no Marrocos e na Tunísia”.


Descrição

O memorial foi erigido por Gérard Collin-Thiébaut e consiste em três monitores eletrônicos verticais configurados em três colunas de 5,85 metros de altura, exibindo, em cada uma delas, as cores da bandeira francesa e informações sobre as pessoas e eventos rememorados:
- Na primeira coluna, percorrem continuamente os nomes e sobrenomes dos 23 mil soldados que morreram pela França no norte da África.
- Na segunda coluna, passam mensagens que recordam o período da guerra na Argélia e a memória de todos os que desapareceram após o cessar-fogo. Em 26 de março de 2010, o governo francês decidiu inscrever nessa coluna os nomes das vítimas civis da manifestação da rue d'Isly, em Argel, ocorridas em 26 de março de 1962.
- Na terceira coluna, através do uso de um terminal interativo localizado no pé do monumento, os visitantes podem ver o nome de um soldado específico, pesquisando entre a lista de nomes na lista.

Aspecto das colunas do memorial. Pode-se ver a  base da Torre Eiffel no canto esquerdo da imagem.

No chão está gravado: "Em memória dos combatentes que morreram pela França durante a guerra da Argélia e a luta no Marrocos e na Tunísia, e a de todos os membros das forças auxiliares, mortos após o cessar-fogo na Argélia, muitos dos quais não foram identificados.

Inscrições existentes no piso do memorial

Placa indicativa

Há também uma placa que diz: "A Nação associa as pessoas desaparecidas e as populações civis vítimas de massacres ou extorsões cometidas durante a guerra da Argélia e após 19 de março de 1962, em violação dos acordos de Evian, bem como as vítimas civis dos combates no Marrocos e na Tunísia, ao tributo pago aos combatentes mortos pela França no norte da África".

O editor do Blog Carlos Daroz-História Militar diante do memorial



Referências
- Decreto nº 2003-925, de 26 set. 2003 – Institui o dia 5 de dezembro como "dia nacional de homenagem aos mortos pela França durante a guerra da Argélia e as lutas no Marrocos e na Tunísia”.

- MERCHET, Jean-Dominique. Guerre d'Algérie: un jour qui ne fait pas date. Libération, 18 set. 2003.


domingo, 10 de dezembro de 2017

QUANDO A MEDICINA MILITAR RUSSA ENTROU EM CAMPO

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Durante séculos, a medicina militar da Rússia permaneceu defasada em relação à dos países da Europa Ocidental. Mas as reformas implementadas por James Wylie e Nikolai Pirogov no final do século XVIII e início do XIX elevou os cuidados médicos russos em campo a um dos mais evoluídos do mundo.

Por Aleksandr Verchínin


A medicina militar chegou tarde na Rússia. No século XVII, quando os exércitos das monarquias europeias já contavam com cirurgiões militares e medicamentos à disposição, os arqueiros russos ainda tratavam seus próprios ferimentos, aplicando ervas curativas e enfaixando as feridas uns dos outros. Na época, a guerra já estava tão evoluída que o número de vítimas em campo de batalha só crescia.

A qualidade do tratamento médico militar na Rússia mudou radicalmente sob liderança do czar Pedro I, o Grande. Quando a Rússia enviou um destacamento do exército para conquistar a fortaleza turca de Azov, em 1695, seguiram navios com suprimentos médicos, e médicos e farmacêuticos acompanharam as tropas de Moscou.

Antes do final do século XVIII, na época em que o país se envolvia em uma guerra após outra em locais variados, os chefes militares entenderam que o conhecimento dos médicos militares era um recurso inestimável.

Depois de cada campanha, os médicos descreviam e registravam as suas experiências, e atlas médicos especiais eram elaborados, detalhando as considerações médicas das salas para operação.

Por volta do século XIX, a medicina militar russa se consolidou entre as mais eficientes da Europa. Durante as guerras napoleônicas, em 1812, os médicos militares do país trabalhavam como um ‘sistema coeso’, com um alto nível de organização na evacuação de feridos do campo de batalha para hospitais da campanha, onde passavam por operações e podiam se recuperar.

Hospital Militar de Moscou, c.1800


Esse mecanismo complexo foi criado pelo escocês James Wylie, que se mudou para a Rússia no final do século XVIII e passou a trabalhar para o czar. Wylie assumiu como objetivo pessoal a garantia de que recrutas e oficiais recebessem tratamento médico para feridas em vez de serem entregues à morte nos campos de batalha.

Por meio de esforços combinados, o número de perdas fora de combate – em tempos de paz – no Exército russo caiu para 10%, em meados do século XIX. Esta, que é uma enorme queda para os padrões de hoje, foi uma conquista ainda maior em uma época que um a cada quatro soldados europeus morria de doenças.

Uma das mentes mais brilhantes da escola russa de medicina militar foi Nikolai Pirogov, que tinha 37 anos quando em sua primeira experiência real em um campo de batalha. Trabalhando do seu escritório, desenvolveu novos métodos para tratamento de feridas e reduziu o número de amputações. Pirogov usou inicialmente cadáveres congelados para simular feridas, um aparente sacrilégio, mas que lhe permitiu criar um novo atlas anatômico – que logo se tornaria indispensável para os cirurgiões militares tanto na Rússia, como no Ocidente.

O cirurgião Nikolai Pirogov


No final da década de 1840, Pirogov finalmente testou seu trabalho em campo, conduzindo mais de 10.000 operações nas forças no Cáucaso, na maioria das vezes usando éter como anestésico. Mas o melhor momento do cirurgião foi na Guerra da Crimeia. Em 1855, durante o cerco britânico e francês de Sebastopol, Pirogov criou um serviço de saúde na cidade.

Cuidando de feridos pela primeira vez com faixas embebidas em amido, como gesso, levaram a uma queda acentuada nas amputações. Pirogov também foi pioneiro no moderno sistema de triagem para classificação de lesões conforme a gravidade. Em virtude dessa prática, algumas vítimas eram operadas diretamente no campo, enquanto outras eram transportadas para tratamento em postos de retaguarda.

Fonte: Gazeta Russa

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

HISTÓRIA MILITAR NA FRANÇA – O MONUMENTO DA GRANDE GUERRA, A ESTÁTUA DO MARECHAL JOFFRE E A HOMENAGEM AO AVIADOR BRASILEIRO MORTO EM CHANTILLY

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O Blog Carlos Daroz-História Militar visitou o município de Chantilly-Gouvieux, localizado no departamento de Oise, na região Hauts-de-France. 

Situada no coração da Floresta de mesmo nome, Chantilly possui, de acordo com o último censo de 2014, 10.861 habitantes. Chantilly é conhecida por seu castelo, que abriga as coleções do museu Condé, e pelo seu mundialmente famoso creme de chantilly. Também é reconhecida internacionalmente por suas atividades equestres: além de seu hipódromo, em que são realizadas duas corridas de cavalos, o Prêmio Jockey Club e o Prix de Diane, a cidade e seus arredores constituem o maior centro de treinamento de cavalos de corrida do mundo. 

O belíssimo castelo de Chantilly


Como em muitas localidades no interior da França, em Chantilly a memória da Grande Guerra é bastante vívida, pois a cidade foi envolvida pelas operações militares e muitos de seus filhos morreram no front, lutando contra os alemães.

Logo no início da ofensiva de 1914 pelo território francês, em 3 de setembro o Exército Alemão entrou na cidade, mas não se instalou ali e partiu no dia seguinte. Apesar de uma breve ocupação do castelo, nenhum dano particular ocorreu à cidade, diferente do que ocorreu nas localidades vizinhas de Creil e Senlis, que foram bombardeadas e parcialmente incendiadas. Após a partida dos alemães, as tropas franceses retomaram Chantilly no dia 9 de setembro.

Cartão postal francês mostrando o Marechal Joffre e os comandantes Aliados durante a conferência de Chantilly, realizada no final de 1915

Depois da Batalha da Marne, o Marechal Joseph Joffre, comandante do Exército Francês, instalou seu Grande Quartel-General (GHQ) em Chantilly, devido à relativa proximidade e facilidade de ligação com Paris por via férrea. A sede do GHQ instalou-se no Hotel Grand Condé em 29 de novembro de 1914, com 450 oficiais e 800 soldados e funcionários de apoio. Joffre ocupou alojamento na Villa Poiret, a cem metros de distância do hotel. Durante a conferência de Chantilly, realizada entre 6 e 8 de dezembro de 1915, o comandante francês reuniu os líderes dos exércitos aliados para definir os planos militares e coordenar a ofensiva Aliada para o ano de 1916.  O GHQ deixou a cidade em dezembro de 1916 para se instalar em Beauvais. 

Chantilly também sediou um hospital militar, distribuído pelo Hotel Lovenjoul e pelo Pavilhão Egler.  Uma das três oficinas de camuflagem pertencentes ao 1º Regimento de Engenharia instalou-se na cidade em 1917, em cabanas especialmente construídas no pequeno gramado perto do hipódromo.  Cerca de 1.200 mulheres, bem como 200 prisioneiros de guerra alemães e 200 trabalhadores civis contratados, trabalharam na confecção e pintura de redes de camuflagem para proteção da artilharia e das viaturas de transporte logístico.

No período entre as duas guerras, a cidade se expandiu em 1928, com o aditamento do distrito desmembrado Bois Saint-Denis da comuna de Gouvieux. 

O editor do Blog diante da estátua do Marechal Joffre

A estátua do Marechal Joffre

Para homenagear o GHQ e seu comandante, um monumento ao Marechal Joffre foi inaugurado, em 1930, na sua presença, na avenida que hoje leva seu nome.  

Outro monumento, adjacente à estátua de Joffre, foi erguido posteriormente, para reverenciar os filhos da terra mortos nas duas guerras mundiais defendendo a França.  Um rápido exame do monumento permite compreender porque em boa parte do país a memória acerca da Primeira Guerra Mundial é bem mais forte do que a da Segunda.  O número de cantilianos (nascidos em Chantilly) mortos no primeiro conflito (180) é 7,5 vezes maior do que as baixas fatais ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial (24).  Tal efeito também pode ser percebido no Brasil, em sentido contrário, com a memória da Primeira Guerra Mundial sendo praticamente apagada pela da Segunda, ainda que o país tenha sido o único da América do Sul a enviar contingentes para os dois conflitos mundiais.

No monumento aos mortos das duas guerras mundiais em Chantilly

Ao lado do monumento destaca-se uma lápide contendo os nomes de dois aviadores mortos em 28 de janeiro de 1918, quando seu avião foi abatido em combate sobre a cidade: o francês Charles d’Albert de Luynes e o brasileiro Luciano de Mello Vieira.  O piloto Luciano Antônio de Mello Vieira era tenente da Divisão Salmson da Legião Estrangeira e voluntariou-se para lutar na guerra em 30 de maio de 1917. Teve vida breve no conflito: morreu aos 21 anos, na queda de seu avião.

Lápide com o nome dos aviadores mortos em Chantilly em 28 de janeiro de 1918, dentre os quais o brasileiro Luciano Antônio de Mello Vieira

Finalizando as referências sobre a Grande Guerra, encontramos na estação ferroviária da cidade uma placa de bronze homenageando os treze funcionários da Ferrovia do Norte mortos no conflito na região de Chantilly.

Placa na estação de Chantilly com o nome dos treze ferroviários mortos na região durante a Grande Guerra

Pela beleza da cidade e de seu castelo e pela riqueza histórica, valeu a pena a visita à Chantilly-Gouivieux.