"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quinta-feira, 28 de maio de 2020

MORRE, AOS 105 ANOS, A ENFERMEIRA DA FEB CARLOTA MELLO

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Faleceu hoje em Belo Horizonte, aos 105 anos de idade, uma heroína do Brasil, a enfermeira da FEB Carlota Mello.

 
Carlota Mello era natural de Salinas, Norte de Minas, e foi uma das 73 mulheres que  serviram  na Europa durante a Segunda Guerra Mundial integrando a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Como enfermeira, foi um exemplo para todos os profissionais de enfermagem. Única mulher entre oito filhos, Carlota desde cedo queria um destino diferente de suas primas. Segundo ela, “não  desejava, de jeito nenhum, me casar e  ter uma penca de filhos.  Por isso,  decidi vir para Belo Horizonte, morar com meu irmão mais velho e fazer o curso de normalista, uma das únicas funções que uma mulher poderia assumir naquela época”. 

Quando se formou, não satisfeita com a vida de professora, resolveu fazer o curso de Enfermagem de Emergência, em 1942, na Cruz Vermelha. Inquieta, viu uma propaganda do Exército Brasileiro convocando interessados em fazer curso de socorrista para atuar na Europa. “Não pensei duas vezes e resolvi me inscrever. Confesso que fiquei apavorada com o módulo prático. Tínhamos que correr comum tronco nos ombros, rastejar na lama, fazer tudo que  um  soldado  faz.  Das 16 moças que foram para esse curso no Rio de Janeiro, apenas quatro foram aprovadas para ir à guerra”, disse.  

Em 1944, Carlota Mello fez o curso de Enfermagem de Emergência do Exército, ministrado  pela  Diretoria  de Saúde na 4ª Região Militar, sendo nomeada Enfermeira de 3ª Classe e, no mesmo ano, foi convocada para atuar no Teatro  de  Operações da Itália, incorporando-se  à  equipe  brasileira no 45º Hospital Geral norte-americano, em Nápoles, na Itália. Diante das colegas norte-americanas, todas oficiais, acharam por bem dar o posto de 2ª tenente às Enfermeiras brasileiras. 

A tenente Carlota na 2ª Guerra Mundial

Lá, a Enfermeira permaneceu por 11 meses, em condições bem diferentes das encontradas no Brasil. “Cheguei à Europa numa época em que a neve cobria os joelhos e o frio fazia doerem os ossos. Morei em uma barraca de lona, sem colchões, e comia apenas derivados de trigo e  frutas.  A  carne era de cavalo.  No início achei estranho, mas depois me acostumei”, contou em entrevista. 

O hospital em que  trabalhava era totalmente de barracas de tábuas e cobertura  de  lona  no  centro,  uma  verdadeira estufa, conforme lembrou Carlota Mello. "E tudo era norte-americano: nossos uniformes de trabalho, chefes, alimentação e nossa convivência. Eu trabalhava em uma enfermaria com doentes brasileiros que contavam com o atendimento  de  mais duas Enfermeiras norte-americanas, dois técnicos, além de doutores norte-americanos  e brasileiros. Os 64 leitos lá instalados ficavam permanentemente ocupados", lembrou.

No 45º,  o  serviço  era  contínuo:  cuidava-se  de  soldados  sem  perna,  braço, olho  e,  muitas  vezes,  sem  memória, segundo  a  enfermeira. Aplicava-se penicilina, fazia-se curativos, tirava-se gesso, dava-se comida na boca, aferia-se a pressão arterial,  media-se  temperatura, dava-se  comprimido para dor, entre outros  cuidados,  que até superavam as atribuições  específicas  da  Enfermagem. "Escrevíamos cartas para mães, esposas, namoradas e, assim, esquecíamos  as apreensões  de  um  possível  bombardeio, de  uma  mina  implantada  em  qualquer lugar - uma chegou a explodir bem próximo ao alojamento onde estava -, das saudades, angústias, tristezas e incertezas do amanhã." 

Carlota Mello sendo homenageada em seu 105º aniversário

Em um  dos  constantes  bombardeios que presenciou, Carlota Mello arriscou a própria  vida  para  salvar  a  dos  soldados hospitalizados. Quando todos saíram correndo para se  proteger,  ela correu para carregar um caixote contendo ampolas de penicilina,  usadas  nos  64  pacientes  sob os cuidados  das  brasileiras.  “Consegui chegar rápido, juntei todas as minhas forças e o levei até o local seguro. Ao chegar lá, para  minha  surpresa,  fui  aplaudida  e  os soldados  me  levantaram  no  ar.  Me  senti como  se  fosse  um  jogador  de  futebol  em fim de campeonato”, brincou.

Com  o  fim  da  Segunda Guerra,  em  maio  de  1945,  a  tenente Carlota  demorou  mais  dois  meses  para retornar  ao  Brasil.  “Algumas  regiões  da Europa  foram  rapidamente  evacuadas,mas não foi o caso de Nápoles. A batalha tinha acabado no campo, mas os hospitais continuavam a receber feridos”, contou.

Mesmo com tantas batalhas, ao chegar ao Brasil, a sensação da enfermeira foi de dever cumprido.  "Sinto-me gratificada pelos serviços que prestei ao meu país, pelos quais me foram outorgados o Diploma da Medalha de Campanha, o Diploma da Medalha de Guerra, o Diploma da Cruz Vermelha, o Diploma da Inconfidência e Diploma  de  Honra  ao Mérito."

Que nossa heroína descanse em paz. A cobra continuará fumando.

Fonte: adaptado da Revista do COREN-MG

 

domingo, 24 de maio de 2020

8 PERGUNTAS PARA ENTENDER A GUERRA CIVIL NA SÍRIA

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Um levante pacífico contra o presidente da Síria que teve início há oito anos transformou-se em uma guerra civil que já deixou mais de 400 mil mortos, devastou cidades e envolveu outros países.


O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) calcula que mais de 5 milhões já deixaram o país – o maior êxodo da história recente. 

Em 13 de abril de 2018, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que o país havia iniciado na madrugada anterior uma série de ataques aéreos na Síria em coordenação com a França e o Reino Unido. A operação foi uma resposta às evidências de um ataque químico na cidade síria de Douma, na semana passada. EUA e aliados denunciam que o ataque foi protagonizado pelo regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, que por sua vez nega tal participação. Segundo o Pentágono, foram atingidos um centro de pesquisas científicas em Damasco, que seria ligado à produção armas químicas e biológicas, um local de armazenamento de armas químicas a oeste de Homs e outro armazém que também funcionava como importante posto de comando, na mesma região.

Entenda, a seguir, os últimos acontecimentos, a origem do conflito e suas consequências até agora.


1. Como a guerra começou?

Mesmo antes do conflito começar, muitos sírios reclamavam dos altos índices de desemprego, corrupção e falta de liberdade política sob o presidente Bashar al-Assad, que sucedeu seu pai, Hafez, após sua morte, em 2000.

Em março de 2011, protestos pró-democracia eclodiram na cidade de Deraa, ao sul do país, inspirados pelos levantes da Primavera Árabe em países vizinhos. Quando as forças de segurança sírias abriram fogo contra os ativistas - matando vários deles -, as tensões se elevaram e mais gente saiu às ruas. Os manifestantes pediam a saída de Assad. A resposta do governo foi sufocar as divergências, o que reforçou a determinação dos manifestantes. No fim de julho de 2011, centenas de milhares saíram às ruas em todo o país exigindo a saída de Assad.

Apoiadores da oposição pegaram em armas, primeiro para defender a si mesmos e depois para expulsar forças de segurança das áreas onde viviam. Assad prometeu acabar com o que chamou de "terrorismo apoiado por estrangeiros". Seguiu-se uma rápida escalada de violência, e o país mergulhou em uma guerra civil. Grupos rebeldes se reuniram em centenas de brigadas para combater as forças oficiais e retomar o controle das cidades e vilarejos. 

Em 2012, os enfrentamentos chegaram à capital, Damasco, e à segunda cidade do país, Aleppo. O conflito já havia, então, se transformado em mais que uma batalha entre aqueles que apoiavam Assad e os que se opunham a ele - adquiriu contornos de guerra sectária entre a maioria sunita do país e xiitas alauítas, o braço do Islamismo a que pertence o presidente. Isto arrastou as potências regionais e internacionais para o conflito, conferindo-lhe outra dimensão.


2. Quantas pessoas já morreram?

O Observatório Sírio de Direitos Humanos, uma ONG britânica que monitora o conflito com base em uma rede de fontes locais, registrou 353.900 mortes até março de 2018, incluindo 106 mil civis. Os dados não incluem 56.900 pessoas que estão desaparecidas e consideradas mortas. O grupo também estima que 100 mil mortes não foram documentadas. O enviado da ONU para a Síria, Steffan de Mistura, estimou que a guerra já matou 400 mil pessoas. Já o Centro Sírio para Pesquisa de Políticas, outro grupo de estudos, calcula que o conflito já tenha causado a morte de mais de 470 mil pessoas.

Enquanto isso, o Centro de Documentação de Violações, que recorre a ativistas na Síria, registrou o que avalia ser violações às leis de direitos humanos internacionais, inclusive ataques contra civis. Foram documentadas 185.980 mortes relacionadas ao conflito, entre elas as de 119.200 civis, até fevereiro de 2018.



3. Quem está lutando contra quem?

A rebelião armada evoluiu significativamente desde suas origens. Há um número de membros da oposição moderada secular lutando contra as forças de Assad. O Exército curdo, um dos grupos que os Estados Unidos estão apoiando no norte da Síria, faz parte da oposição.

Mas há também uma grande quantidade de radicais e jihadistas - partidários da "guerra santa" islâmica. Entre eles estão o autointitulado Estado Islâmico (EI) e a Frente Nusra, afiliada à al-Qaeda. Os combatentes do EI - cujas táticas brutais chocaram o mundo - criaram uma "guerra dentro da guerra", enfrentando tanto os rebeldes da oposição moderada síria quanto os jihadistas da Frente Nusra.

Os rebeldes moderados têm requisitado armas antiaéreas ao Ocidente para responder ao poderio do governo sírio. Mas Washington e seus aliados têm procurado controlar o fluxo de armas por medo de que acabem indo parar nas mãos de grupos jihadistas.


4. Qual é o envolvimento das potências internacionais?

Os principais apoiadores do governo são a Rússia e o Irã, enquanto os Estados Unidos, a Turquia e a Arábia Saudita apoiam os rebeldes. Na era Obama, os Estados Unidos culpavam Assad pela maior parte das atrocidades cometidas no conflito e exigiam que ele deixasse o poder como pré-condição para a paz.

Trump, por sua vez, dizia que derrubar o presidente sírio não era uma prioridade, mas sim derrotar o Estado Islâmico - e que Assad era um aliado nessa batalha. Após o aparente ataque químico ocorrido em abril, porém, seu discurso mudou. Os Estados Unidos, Reino Unido, França e outros países ocidentais forneceram variados graus de apoio para o que consideram ser rebeldes "moderados".

Uma coalizão global liderada por eles também realiza ataques contra militantes do Estado Islâmico na Síria desde 2014 e ajudou uma aliança entre milícias árabes e curdas chamada Forças Democráticas Sírias (FDS) a assumir o controle de territórios antes dominados por jihadistas.

Já a Rússia apoia a permanência de Assad no poder, o que é crucial para defender os interesses de Moscou no país. O país já tinha bases militares na Síria e lançou uma campanha militar aérea em apoio a Assad em 2015 que foi crucial para virar o andamento da guerra a favor do governo. Os militares russos dizem que os ataques têm como alvo "terroristas", mas ativistas afirmam que regularmente morrem rebeldes e civis. A intervenção russa possibilitou vitórias significativas das forças de Assad. A maior delas foi a retomada da cidade de Aleppo, um dos principais redutos dos grupos de oposição, em dezembro de 2016.

Bashar al-Assad e Vladimir Putin: apoio da Rússia

O Irã, de maioria xiita, é o aliado mais próximo de Bashar al-Assad. A Síria é o principal ponto de trânsito de armamentos que Teerã envia para o movimento Hezbollah no Líbano - a milícia também enviou milhares de combatentes para apoiar as forças sírias. Estima-se que os iranianos já tenham desembolsado bilhões de dólares para fortalecer as forças sírias, provendo assessores militares, armas, crédito e petróleo.

A Turquia apoia há tempos os rebeldes, mas concentrou esforços em usá-los para conter a milícia curda que domina a FDS, acusando-a de ser uma extensão de um grupo rebelde curdo banido do território turco. A Arábia Saudita foi um elemento-chave para conter a influência iraniana e também armou e financiou os rebeldes.

Ao mesmo tempo, Israel tem se preocupado muito com o envio de armas iranianas para o Hezbollah na Síria e tem realizado ataques aéreos para interromper isso.


5. Qual é o impacto da guerra?

Além de causar centenas de milhares de mortes, a guerra incapacitou 1,5 milhões de pessoas, entre ela 86 mil que perderam membros do corpo. Ao menos 6,1 milhões de sírios tiveram de deixar suas casas para buscar abrigo em alguma outra parte do país, enquanto outros 5,6 milhões se refugiaram no exterior.

Líbano, Jordânia e Turquia, onde 92% destes sírios refugiados vivem hoje, têm enfrentado dificuldades para lidar com um dos maiores êxodos da história recente. A ONU estima que 13,1 milhões de pessoas necessitarão de algum tipo de ajuda humanitária na Síria em 2018. Os dois lados do conflito pioraram essa situação ao se recusar a permitir o acesso de agências com fins humanitários a quem precisa de auxílio. Quase 3 milhões de pessoas vivem em áreas alvos de cerco e de difícil acesso. Os sírios também têm acesso limitado a serviços de saúde.

A organização Médicos por Direitos Humanos registrou 492 ataques a 330 instalações médicas até dezembro de 2017, o que resultou em 847 profissionais de saúde mortos. Grande parte do patrimônio cultural da Síria também foi destruído. Todos os seis locais considerados pela Unesco como patrimônio da humanidade sofreram danos significativos. Bairros inteiros foram arrasados em todo o país.


6. Como o país está dividido?

O governo reassumiu o controle das maiores cidades sírias, mas grandes partes do país ainda estão sob o comando de grupos rebeldes e da FDS. O principal reduto de oposição é a província de Idlib, no nordeste do país, onde vivem mais de 2,6 milhões de pessoas. Apesar de designada como uma zona onde não deveria haver hostilidades, Idlib é alvo de uma ofensiva do governo, que diz estar combatendo jihadistas ligados à Al-Qaeda.
Ataques por terra também estão em curso em Ghouta Oriental. Seus 393 mil residentes estão sob o cerco do governo desde 2013 e enfrentam intensos bombardeios, assim como uma grave falta de comida e de suprimentos médicos.


Enquanto isso, a FDS controla a maioria do território a leste do rio Eufrates, incluindo a cidade de Raqqa. Até 2017, esta era a capital do "califado" que o Estado Islâmico disse ter instaurado, mas, agora, o grupo controla apenas alguns bolsões na Síria.


7. Por que a guerra está durando tanto?

Um fator chave é a intervenção de potências regionais e internacionais. Seu apoio militar, financeiro e político tanto para o governo quanto para a oposição tem contribuído diretamente para a continuidade e intensificação dos enfrentamentos, e transformado a Síria em campo para uma guerra indireta.

A intervenção externa também é responsabilizada por fomentar o sectarismo no que costumava ser um Estado até então secular (imparcial em relação às questões religiosas). As divisões entre a maioria sunita e a minoria alauita no poder alimentou atrocidades de ambas as partes, não apenas causando a perda de vidas, mas a destruição de comunidades, afastando a esperança de uma solução pacífica.

A escalada de terror causada por grupos jihadistas como o EI - que aproveitou a fragilidade do país para tomar o controle de vastas partes de território no norte e leste - acrescentou outra dimensão ao conflito. Não há qualquer sinal de que o conflito chegará ao fim em breve, mas todos os lados envolvidos concordam que uma solução política é necessária.

Tropas do Exército Sírio em ação

O Conselho de Segurança da ONU pediu a implementação de um governo de transição "formado com base em consentimento mútuo". Mas nove rodadas de conversas de paz mediadas pela ONU desde 2014 obtiveram poucos progressos. Assad parece cada vez menos disposto a negociar com a oposição. Rebeldes ainda insistem que ele renuncie como parte de qualquer acordo.


8. Por que EUA, França e Reino Unido se uniram em novo ataque a alvos de Assad?

Os ataques realizados por Estados Unidos, França e Reino Unido contra a Síria foram uma resposta às evidências de uso de armas químicas pelo governo do presidente sírio, Bashar al-Assad. Os sintomas observados nas vítimas na cidade de Douma, um reduto rebelde na periferia da capital da Síria, Damasco, indicam possível uso de agentes neurotóxicos como o cloro e o gás sarin, que teriam provocado a morte de, pelo menos, 40 pessoas. Imagens chocantes de adultos e crianças sofrendo sintomas do que parecia ser um ataque químico correram o mundo.

"Ordenei as forças armadas dos Estados Unidos a lançar ataques precisos em alvos associados com instalações de armas químicas do ditador sírio Bashar al-Assad", disse Trump, na ocasião, em pronunciamento na Casa Branca.

Armas químicas são proibidas por acordos internacionais. Seu uso motivou o ataque de americanos e aliados contra três alvos - instalações químicas, segundo o Pentágono - em Damasco e em Homs. A Síria e a Rússia disseram que a acusação é uma farsa e negaram o uso de tais agentes.

Não é a primeira vez que Assad é acusado de usar armas químicas. Em 2017, 86 pessoas – 27 delas crianças – foram mortas em um incidente com uso de armas químicas em Khan Sheikhoun, na província de Idlib, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos. Tanto a Organização Mundial da Saúde quanto a instituição de caridade médica Médicos Sem Fronteiras disseram na época que as vítimas apresentavam sintomas consistentes de exposição a agentes que afetam o sistema nervoso.

Fonte: BBC



quarta-feira, 20 de maio de 2020

OFICIAL BRASILEIRO RECEBE O PRÊMIO OUTSTANDING ACADEMY EDUCATOR NA USAFA

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Existem situações que nos enchem de orgulho de sermos brasileiros. 

Em meio à tragédia da pandemia de Covid-19, recebemos a grata notícia de que nosso amigo e ex-aluno do curso de pós-graduação em História Militar da Universidade do Sul de Santa Catarina, Major-Aviador Julio Cesar Noschang Junior, recebeu o Prêmio Outstanding Academy Educator, da Academia da Força Aérea dos EUA (USAFA), com sede em Colorado Springs, EUA.

Oficial da Força Aérea Brasileira (FAB), o Major Noschang recebeu a premiação, concedida pela USAFA ao professor que mais se destaca em cada Departamento. Em tempos de Covid, a cerimônia foi realizada on-line.

Major-Aviador Noschang, vencedor do prêmio Outstanding Academy Educator da USAFA

O militar brasileiro, que atua como Oficial de Ligação para os programas de intercâmbios de cadetes entre Brasil e EUA, é professor do Departamento de Línguas Estrangeiras da USAFA, onde concorreu ao prêmio junto com cerca de 40 professores, entre militares e civis. Na USAFA desde junho de 2018, o Major Noschang ministra aulas de Português, Política, História e Cultura do Brasil. O término da missão está previsto para maio de 2021.

O fato de haver sido, em toda a história da USAFA, a primeira vez que um estrangeiro recebe esse prêmio, somente valoriza o trabalho desenvolvido pelo Major Noschang naquela instituição.  A seleção do Prêmio Outstanding Academy Educator é baseada tanto nas avaliações que os cadetes fazem dos instrutores quanto na análise de desempenho funcional pela chefia do departamento. Depois disso, uma banca avaliadora analisa as aulas dos professores e outros fatores, como desenvoltura, interação, capacidade de transmitir o conhecimento e postura profissional.

Vencedores do prêmio  Outstanding Academy Educator em cada Departamento da USAFA em 2020

Antes de ir pra USAFA, o Major Noschang atuou como instrutor de voo na Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga-SP, no período de 2010 a 2012 e de 2016 a 2018, tendo trabalhado no Corpo de Cadetes da Aeronáutica. É piloto de Asas Rotativas, possui mais de 2.500 horas de voo em diferentes aeronaves, incluindo T-25, T-27, H-50, UH-1H e UH-60L. Mais recentemente, foi Comandante do 2º Esquadrão de Instrução Aérea da AFA.

Ao amigo Noschang, as nossas congratulações. Profissionais da sua envergadura representam muito bem o nosso país no exterior. 

Muito orgulho de tê-lo como ex-aluno e amigo.


Parabéns! Ad Astra!


Fontes:  CComSocAer, USAFA, Maj Noschang

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O HEROÍSMO E OS VALORES OBSCUROS DE ESPARTA, A MÁQUINA DE GUERRA DA GRÉCIA ANTIGA

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O fato de associarmos o termo "espartano" a alguém que seja austero, sóbrio, firme, severo, sem frescuras não vem do acaso. Vem da história.

Por Emma Aston

Esses adjetivos estão relacionados a uma espécie de modelo ideal dos antigos espartanos, os habitantes de Esparta, no sul da Grécia Antiga, na península do Peloponeso. Eles eram guerreiros por excelência, criados desde a infância para suportar terríveis sofrimentos e dificuldades.

A personalidade espartana é perfeitamente resumida nos contos sobre a Batalha das Termópilas, em 480 a.C. Diante da marcha dos persas com o objetivo de invadir a Grécia, o rei de Esparta Leônidas colocou 300 espartanos para enfrentar a ofensiva na estreita passagem das Termópilas. Leônidas morreu depois que os arqueiros persas cumpriram a ordem de "escurecer o céu com flechas".

Embora não tenham conseguido deter os persas, os espartanos lutaram bravamente e deram suas vidas atrasando o progresso dos inimigos por uma semana inteira — ganhando assim um tempo precioso para seus companheiros gregos.


Disciplina e frases marcantes

Essa batalha representa muito do que é admirado nos espartanos: sua lealdade a uma causa maior que eles mesmos; sua devoção à liberdade e à preservação de sua terra natal.

E eles faziam isso exibindo um tipo de humor sombrio — familiar para nós hoje quando os heróis dos filmes, em momentos de ameaça, lançam frases icônicas como "Hasta la vista, baby" em O Exterminador do Futuro 2Quando os persas exigiram que os espartanos deixassem suas armas, por exemplo, a famosa resposta de Leônidas foi: "Μολων λαβε" ou, em português, "Venha pegá-las!". E quando as flechas mortais dos arqueiros persas cobriram a luz do Sol, Leônidas brincou dizendo: "Excelente, agora lutaremos na sombra!".

Representação da Batalha das Termópilas por Jacques-Louis David (1748-1825); episódio alçou modelo ideal dos espartanos como grandes guerreiros

Também é admirável a persistência dos espartanos a fim de ter uma forma física robusta, dureza e resistência. Atualmente, esse povo dá nome a um tipo particularmente duro de pista de obstáculos, que desafia as pessoas a alcançarem seu melhor desempenho atlético e físico.

Além disso, diferentemente de outras partes da Grécia, há relatos de que as mulheres espartanas recebiam educação e se exercitavam, sendo também duronas e fortes.

Hoplita espartano, c.500 a.C.


Como os valores espartanos seriam encarados na contemporaneidade?

É preciso, porém, considerar alguns aspectos antes de aceitarmos os espartanos como um ícone perfeito de nossos valores modernos.

Por exemplo, eles podem ser apropriados por extremistas. Na Alemanha da década de 1930, os espartanos foram uma inspiração militar e estética. Eles chegaram também a ser uma referência para o que seria a ancestralidade mestra da raça ariana, essencialmente legitimando o antissemitismo e outras formas de xenofobia.

Outra questão é se hoje realmente queremos reviver o modelo espartano de masculinidade. A emoção era reprovada; o indivíduo não era nada, o Estado era tudo.

À medida que percebemos hoje a importância de as pessoas se expressarem, em vez de reprimir suas emoções, talvez o ideal espartano de masculinidade comece a se distanciar de algo que queremos.

Batalhas e tipos de Esparta inspiram diversas produções culturais da modernidade - mas o quanto nós seríamos capazes de realmente incorporar o modelo deste povo antigo?


Não é por acaso que os espartanos inspiraram o sistema de educação pública britânica dos séculos XIX e XX, em que os ideais de disciplina, resistência e austeridade eram primordiais.

Até a dureza das mulheres espartanas é suspeita. Fontes antigas nos dizem que seus corpos eram treinados não para seu benefício individual, mas sob o ideal da gestação de crianças fortes. E, quando estas cresciam, as mães precisavam ver com resignação seus filhos morrerem em batalhas. Segundo registros do autor Plutarco, as espartanas diziam a seus maridos na véspera da guerra: "Volte com seu escudo ou em seu escudo." A ideia por trás disso é a de que os espartanos mortos eram levados para casa sobre seus escudos; apenas um covarde largaria essa proteção e fugiria.

Evocar Esparta hoje é frequentemente uma maneira de tentar recuperar valores que para alguns estão perdidos ou prestes a desaparecer, como os de resiliência e abnegação.
No entanto, historiadores há muito desafiam a veracidade do antigo estereótipo dos espartanos.

Por décadas, esses pesquisadores vêm tentando apresentar outra versão de Esparta, com uma cultura mais rica, por exemplo - com arte, música e preceitos muito mais complexos do que o que tradicionalmente lhes foi atribuído.

No entanto, não há sinais de que estamos verdadeiramente abrindo mão do modelo ideal espartano. Somos apegados demais a este estereótipo para cedermos em favor de uma realidade mais matizada.

Fonte: BBC