Com a
mesma garra com que combateu na Segunda Guerra Mundial, o Major-Brigadeiro do
Ar José Rebelo Meira de Vasconcelos travava há cinco dias uma intensa luta no
Hospital Central da Aeronáutica. Na manhã deste sábado (30/3), às 8h25, a
batalha cessou aos 90 anos. A Força Aérea Brasileira perdeu, assim, um de seus
maiores ícones. Herói de guerra, militar dedicado, deixou um legado inestimável
para a FAB, para a aviação de caça e para o Brasil.
A
trajetória do Major- Brigadeiro Meira iniciou-se em 1943, quando se formou na
Escola de Aeronáutica no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Como Aspirante,
seguiu para o Nordeste, mas logo em seguida foi convocado para servir no 1º
Grupo de Aviação de Caça (1º GAVCA).
O Grupo
foi enviado para a 2ª Grande Guerra Mundial. No conflito, o Brigadeiro Meira
tornou-se um herói. Cumpriu nada menos que 93 missões no front europeu, como
piloto de caça da Esquadrilha Verde. Sua primeira missão ocorreu em 11 de
novembro de 1944 e a última em 2 de maio de 1945, considerada a derradeira
missão do Grupo de Caça nos céus da Itália. Em 18 de junho de 1945, o militar
partiu de Pisa, na Itália, para os EUA a fim de efetuar o translado de novos
aviões P-47 para o Brasil. Em sua carreira militar voou 6.000 horas entre as
aviações de caça e de transporte.
Ao
regressar ao Brasil, foi formar novos pilotos de caça no Grupo de Aviação de
Caça, na Base Aérea de Santa Cruz. Por causa de sua grande experiência, foi
convocado para transmitir a doutrina aplicada na Guerra aos oficiais, como
instrutor da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica, em São
Paulo. Comandou ainda a Escola de Bombardeio Médio.
Os
vínculos e as amizades constituídas durante a Guerra tornaram-se perenes e
renderam situações inusitadas. Durante o conflito mundial o então Tenente Meira
era comandado pelo Major Nero Moura, que mais tarde assumiria o cargo de
Ministro da Aeronáutica. Quando o Brigadeiro Meira, casado havia pouco tempo,
chegou em Recife, foi convocado pelo Ministro Nero Moura de forma enfática:
“Esteja em meu Gabinete, aqui no Rio de Janeiro, amanhã às 15 horas”. Ainda que
tentasse argumentar, a confirmação do Ministro teve igual ênfase: “Esteja em
meu Gabinete amanhã às 15 horas”. Foi designado então Oficial de Gabinete e
Ajudante de Ordens do Ministro da Aeronáutica. Em um cenário distinto do vivido
na campanha da Itália, os amigos voltavam a conviver.
Na
sequência de sua carreira, o Brigadeiro Meira ocupou vários cargos de destaque.
Foi Membro da Comissão Aeronáutica em Washington, EUA; Comandante e Oficial de
Operações do 2º Grupo de Transporte; Chefe da Seção de Logística e de Operações
do Comando de Transporte Aéreo; Instrutor da Escola de Comando e Estado Maior
da Aeronáutica; Subchefe do Gabinete do Ministro da Aeronáutica; Chefe da Seção
de Planejamento do Estado Maior da Aeronáutica; Membro do Corpo Permanente da
Escola Superior de Guerra.
Reformado
em outubro de 1966 no Posto de Major Brigadeiro do Ar, o Brigadeiro Meira
continuou desenvolvendo suas atividades na vida civil. Entre os cargos que
ocupou estão o de Superintendente Administrativo da Sondotécnica Engenharia de
Solos S.A; Diretor Administrativo da Sondoplan Planejamento, Pesquisa e Análise
S.A; Superintendente de Coordenação Operacional da VASP; Presidente da Cia
Brasil Central Linha Aérea Regional; Assessor de Operações, Diretor
Administrativo e Vice Presidente Executivo da Brinks S.A.
De
temperamento afável, o Brigadeiro-Meira deixa um legado de profissionalismo e
será sempre lembrado pela serenidade. Serenidade como a que exibia no
Birutinha, bar do Clube de Ultraleves que fica no Clube de Aeronáutica da Barra
da Tjuca. Ouvia atentamente as histórias de seus companheiros, mas quando na
roda de amigos o assunto era o Grupo de Aviação de Caça, ali estava ele para
contar com riqueza de detalhes as agruras, as dificuldades e as vitoriosas
missões da FAB na Segunda Guerra Mundial. Relatos que só mesmo um herói de
guerra poderia fazer.
Fonte:
Agência Força Aérea