Causou enorme
espanto e sentimento de impotência entre os sul-americanos o deslocamento da
Royal Navy, a Marinha Real Britânica, em direção às frias águas do Atlântico
Sul durante a Guerra das Malvinas, no ano de 1982. Reproduziu-se, naquela
ocasião, o que fora um grande tormento um século e meio antes para as então
jovens nações sul-americanas logo depois do Movimento da Independência - a
"diplomacia das canhoneiras". A todos veio à memória que aquele tipo
de operação punitiva permeou por várias vezes as relações das potências
europeias com os povos sul-americanos durante o século XIX.
Ingleses no
Rio da Prata
Para os
argentinos, a ameaça de uma intervenção naval britânica não trazia nada de
inusitado. Na verdade, a Guerra das Malvinas, ocorrida em 1982, foi o quarto
enfrentamento entre os súditos de Sua Majestade e os habitantes do Prata desde
os tempos colônias. Nesta rememoração, selecionamos dois desses confrontos: o
primeiro deles ocorrido entre 1806 e 1807, conhecido como as Invasões Inglesas,
e o segundo, aquele que se deu com a ocupação das ilhas Malvinas, em 1833.
Descontando-se
as constantes ações de corsários ingleses na bacia do Prata, a primeira e mais
séria demonstração de interesse britânico em se apossar de Buenos Aires ocorreu
quando Sir Home Popham, atrás de "lucro e glória", como ele mesmo
escreveu, organizou em 1806 uma expedição naval com fins da sua conquista, sem
que para tanto tivesse recebido qualquer autorização oficial para isso.
Ele fora
informado por um negociante norte-americano que a cidade de Buenos Aires, muito
mal defendida, possuía uma considerável reserva em dinheiro avaliada em US$ 27
milhões, o que imediatamente fez crescer-lhe a cobiça.
Sir Home Popham, o invasor de Buenos Aires
Visualizou, por
igual, a possibilidade de furar o protecionismo mercantil do decadente império
espanhol, esperando fazer com que as mercadorias vindas de Londres penetrassem
em definitivo no interior do continente Sul-Americano. Quem ocupasse a
embocadura do Rio da Prata faria cair todo o cone sul em suas mãos.
Sir Home
Popham, primeiro invasor de Buenos Aires
Tomando Buenos
Aires, Popham desejava ter acesso direto a um desconhecido e exótico mercado.
Contudo, os mercadores ingleses se frustraram mais tarde com o fato de que o hinterland
do Cone Sul, formado pelas províncias de Entre-Rios, Corrientes e do Paraguai,
era praticamente despovoado, estando longe das expectativas de formar um
público consumidor relevante. Mas isso foi mais tarde.
O almirante
inglês organizou então um comboio naval que transportaria 1,6 mil soldados e
que teria como ponto de partida a recém-conquistada Cidade do Cabo, na África
Austral, ocupada pelos britânicos em 25 de julho de 1805, e também a Ilha de
Santa Helena, no Atlântico.
Num primeiro
momento, a força expedicionária inglesa não teve dificuldades em tomar a
capital do então Vice-Reino do Prata em 25 de junho de 1806, tendo em vista que
a principal autoridade espanhola, o vice-rei Sobremonte, retirou-se para
Córdoba sem resistir, levando consigo 9 mil onças de ouro do seu patrimônio.
Para surpresa
dos britânicos, os portenhos não demoraram em reagir. Uma aliança entre
comerciantes espanhóis, burocracia estatal-militar e estancieiros crioulos,
representados, respectivamente, por Alzaga, Liniers e Pueyrredón, retomaram a
cidade com certa facilidade.
Fonte:
Terra
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