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* 23/01/1927 - Erie, EUA
+ 9/03/1997 - West Palm Beach, EUA
O resultado da II Olimpíada de História da AFA,
realizada no último mês de julho, descortinou um personagem pouco conhecido da
história da aviação, o do coronel John Boyd, nome adotado pela equipe vencedora. Com a colaboração do amigo Cel Cláudio
Calaza, professor de História Militar da AFA, vamos conhecer um pouco mais
sobre a vida do coronel John Boyd.
John Richard Boyd
(1927 – 1997) foi um oficial da United
States Air Force que, além de habilidoso piloto de caça, se tornou um
importante teórico da arte da guerra ao revolucionar as condutas do combate
aéreo. Ele concebeu o sistema OODA loop,
um ciclo decisório de pilotagem que consiste em observar, orientar, decidir e
agir. Com certeza, podemos afirmar que John Boyd foi o grande teórico do
combate aéreo da segunda metade do século XX, assim como Oswald Boelcke foi para os primórdios da
aviação de caça durante a Primeira
Guerra Mundial.
Ele começou sua
carreira militar em 1944, ingressando no Corpo Aéreo do Exército dos EUA. Até
1947, serviu no Japão ocupado como instrutor de natação. Depois de se formar em
economia na Universidade de Iowa, ingressou na USAF para ser aviador. Chegou ao final da Guerra da Coreia como
piloto de F-86 Sabre, no qual só
conseguiu avariar um MiG-15 em
combate. Mesmo assim, em pouco tempo, tornou-se o melhor no seu esquadrão,
aprendendo a razão da vantagem do F-86
sobre o MiG-15.
No final da guerra, os
pilotos americanos dominavam os céus da Coreia: a “kill rate” nos últimos meses da guerra chegou a 14:1 a favor do F-86 e, no final, 792 MiGs foram abatidos, para 78 jatos F-86 Sabres. A tática dos pilotos
americanos na Coreia era basicamente a do P-38
na Segunda Guerra, ou seja, eles mergulhavam sobre as formações de caças
inimigas e evitavam entrar em “dogfight”
em separado com os MiGs.
F-86 Sabre contraMIG-15
na Coreia. Esse duelo foi fundamental para que Boyd desenvolvesse suas teorias
para a aviação de caça.
Ainda como tenente, John
Boyd, debruçou-se sobre a questão do combate do F-86 Sabre contra o MiG-15. Ele
reconheceu que o “canopy” em bolha do
Sabre dava uma melhor consciência
situacional aos pilotos americanos e os controles totalmente hidráulicos lhes
permitiam uma transição de manobras ofensivas para defensivas mais rápidas que
os dos pilotos soviéticos. Uma capacidade de observação melhor, aliada à maior agilidade,
foi a chave para o sucesso dos pilotos de caça americanos durante a Guerra da
Coreia.
No esquadrão, Boyd
recebeu o apelido de “Forty-Second Boyd”,
porque desafiava outros pilotos em combates aéreos de 40 segundos, oferecendo
US$ 40 caso fosse derrotado. Em combate aéreo simulado, Boyd nunca era vencido.
Ele começava os combates dando vantagem aos seus oponentes, que iniciavam em
sua posição 6h. Começado o combate, Boyd conseguia “frear” seu avião no ar,
aplicando a manobra que ele batizou de “flat-platingthebird”,
obrigando o oponente a ultrapassá-lo (overshoot),
finalizando o desafiante com uma rajada certeira e com “guns, guns, guns” no rádio.
Depois da Guerra da
Coreia, por grande sua habilidade, Boyd foi indicado instrutor da Fighter Weapons School (FWS). Lá formou
centenas de pilotos da USAF, dos Marines, da US Navy e aviadores estrangeiros. Em fevereiro de 1956, na revista
da FWS, publicou um dos seus mais raros escritos: “A ProposedPlan for Fighter Vs. Fighter Training”. Depois escreveu
sobre diferentes manobras táticas e como manter o nariz do avião sobre o alvo
usando os pedais num “dogfight”. No
começo de 1960, Boyd concluiu o estudo de 150 páginas chamado “Aerial Attack Study”, que tornou-se o
manual oficial de tática da USAF no
mesmo ano.
Os estudos do capitão Boyd
revolucionaram as táticas básicas de combate aéreo, compilando todas as
manobras num único manual. Somando-se às descrições técnicas das evoluções
aéreas, explicou seu significado tático para os pilotos novatos. Em uma década,
o “Aerial Attack Study” tornou-se o
manual de forças aéreas de quase todas as forças aéreas do mundo, transformando
para sempre o modo como combate aéreo seria travado. Para Boyd, não era mais a
velocidade, nem a potência, que habilitavam um piloto a manobrar melhor que o
adversário. Era o nível de energia!
Com 34 anos de idade começou seus estudos no Georgia Institute of Technology, no outono de 1960. Nos anos
seguintes, tornou-se um dos mais importantes militares da área de projetos e
operações de caça da USAF. Quando
deixou o serviço ativo, como coronel, tornou-se consultor da USAF no Pentágono, sendo o grande
responsável pelo desenvolvimento das novas gerações de caças como o F-111, F-16 e F-18. Por conta de
sua participação no desenvolvimento tecnológico aeronáutico, foi um dos
expoentes do movimento de reforma das Forças Armadas
americanas nas décadas de 1970 e 1980.
O Ciclo OODA (Observar, Orientar, Decidir e Agir) foi um conceito introduzido
por Boyd e originalmente aplicado aos processos de operações de combate, muitas
vezes ao nível estratégico
O coronel Boyd nunca
publicou um livro. Suas obras escritas são manuais e um artigo que contém a
parcela teórica de seu conhecimento e um trabalho da Air University, de conteúdo estritamente militar. Toda sua teoria
de guerra aérea está contida em diversas apresentações de slides, que eram
feitas para tomadores de decisão do Pentágono e para oficiais do Alto Comando da
USAF. Dentre as centenas de
apresentações feitas por Boyd, pode-se dizer que a mais importante foi
realizada para Dick Cheney, o então Secretário de Defesa dos EUA. Essa
apresentação ocorreu justamente no momento de preparação dos EUA para a
Operação Tempestade no Deserto, dando início à Guerra do Golfo de 1991, na qual
ocorreu aquela que é considerada a última guerra aérea de nossa história. Na
ocasião, Boyd expôs sua teoria estratégica, e especialmente a aplicação do
ciclo OODA, amplamente aplicado pelos pilotos da USAF durante a operação.
Apesar de sua destacada
participação na concepção da estratégia militar americana, as menções claras à
influência do coronel John Boyd são raras. Grande parte do reconhecimento de
seu trabalho é feito somente no que diz respeito à teoria de guerra de
movimento aéreo, ou aos modernos caças que este ajudou a desenvolver.
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