* 24/05/1810 – Tamboril, CE
+ 06/07/1866 – a bordo do vapor Eponina
No último dia 24 de maio, comemorou-se em todo o Brasil o bicentenário do Brigadeiro Antônio de Sampaio, o patrono da arma de Infantaria do Exército Brasileiro e um dos maiores soldados brasileiros do período Imperial.
A homenagem do Blog História Militar ao Brigadeiro Sampaio e aos infantes de todo o Brasil.
Antônio de Sampaio nasceu em 24 de maio de 1810 no pequeno povoado do Tamboril, localizada na então Capitania do Ceará-Grande. Era filho de Antônio Ferreira de Sampaio, ferreiro, e de D. Antônia de Souza Araújo Chaves. O local de nascimento, paupérrimo e encravado em pleno sertão, deixava supor que somente um prodigioso esforço pessoal poderia fazer com que o jovem Antônio saísse daquele recanto distante para atingir o posto de Brigadeiro do Exército Imperial brasileiro.
Em 1830, ao completar 20 anos, fugindo de pistoleiros contratados para matá-lo pelo pai de uma jovem pela qual tinha se apaixonado, Sampaio deixa o Tamboril e assenta praça como voluntário no 22º Batalhão de Caçadores de 1ª linha do Exército, com sede no Forte - hoje cidade de Fortaleza. Em menos de dois anos, recebia seu batismo de fogo no violento combate de Icó, travado para debelar rebelião que se opunha à abdicação de D. Pedro I. O general e historiador Paulo de Queiroz Duarte relata a bravura de Sampaio em seu batismo de fogo:
O combate nas ruas e casario de Icó assumiu feição desesperadora, tendo a duração de seis horas; nessa ação uma força comandada pelo furriel Antônio de Sampaio teve saliente ação, conduzida com determinação por seu comandante e se empenhou na luta corpo-a-corpo contra numerosos adversários.
O combate de Icó foi um marco na vida de Sampaio. Com apenas 22 anos de idade, experimentou o sabor da batalha e, praticamente, não parou de combater até o final de sua vida, dando início a uma carreira de lutas que iria extrapolar as fronteiras nacionais.
Durante a Cabanagem, na Província do Pará, Sampaio participou da expedição que, em 1835, atacou e tomou Turiaçu. Depois, na Província do Maranhão, lutou com denodo na repressão à Balaiada: de 1839 a 1841, tomou parte em 40 combates, tendo exercido o comando em 36 deles. Mercê de sua competência, dedicação e bravura, Sampaio ascendeu rapidamente na hierarquia militar. Em 1844, já capitão, foi destacado para o exército do Barão de Caxias, em operações contra os farroupilhas da Província do Rio Grande do Sul. Combateu sempre na linha de frente e ali permaneceu até a paz do Poncho Verde. Em seguida, tomou parte na pacificação da Revolução Praieira, em 1848, na Província de Pernambuco. Em ordem do dia, Sampaio foi citado “pela inteligência, zelo e circunspecção com que desempenhou suas funções”.
Em 1850, Sampaio retornou ao sul do País e, dois anos depois, atuou na decisiva e gloriosa jornada de Monte Caseros, que restituiu a justiça e a liberdade ao povo argentino, jogando no exílio o ditador Rosas. Em 1861, era promovido a coronel e passava a comandar a 5ª Brigada, pertencente ao Exército do Sul.
Sampaio inspecionando a instrução da tropa durante a Guerra da Tríplice-Aliança
Nessa época, a guerra civil entre blancos e colorados grassava no Estado Oriental do Uruguai trazendo tensão à fronteira meridional do Brasil. Com o fracasso da ação diplomática junto ao governo blanco de Aguirre, o Império do Brasil foi levado a outro confronto. O Brigadeiro João Propício Mena Barreto, designado comandante-em-chefe do Exército do Sul, dispunha de divisões comandadas pelos Brigadeiros Manoel Luís Osório e José Luís Mena Barreto. Em 1865, a brigada comandada pelo Coronel Sampaio, integrante dessa última divisão, exerceu papel de destaque na vitória brasileira em Paissandu. Após esse combate, Sampaio e sua brigada tomaram parte no cerco e na capitulação de Montevidéu. A brilhante atuação na Campanha do Uruguai rendeu-lhe, naquele mesmo ano, as dragonas de Brigadeiro.
Mas seria na Guerra da Tríplice-Aliança contra a República do Paraguai que a glória cobriria definitivamente a figura do estóico sertanejo do Tamboril e o consagraria como grande soldado do Império.
Em 1866, Sampaio rumou para o Paraguai. À frente da 3ª Divisão - a Divisão Encouraçada - o Brigadeiro Sampaio lutou nas operações de transposição do Rio Paraná, conduzidas pelo legendário Marechal Osorio, e nas batalhas da Confluência e do Estero Bellaco. Na marcha para Tuiuti, coube-lhe o comando da vanguarda, oportunidade na qual o 26º Batalhão de Infantaria, integrante de sua divisão, foi duramente castigado pelo fogo paraguaio. Na véspera da batalha, coordenou o perigoso e bem-sucedido reconhecimento na Linha Negra, de onde provieram preciosas informações de combate e grande número de prisioneiros.
Tuiuti: foi a maior batalha campal já travada na América do Sul. A Divisão Encouraçada detém várias vagas de assalto inimigas, mas, em certo momento, esquadrões paraguaios valem-se de uma brecha aberta na frente argentina e investem contra ela. A despeito da extrema dificuldade imposta pelo terreno pantanoso, os infantes da Encouraçada resistem ao violento embate sem ceder um palmo. Sampaio, no entanto, é ferido duas vezes, um dos quais com gravidade.
Osório, confiante na combatividade da Divisão Encouraçada, envia um de seus ajudantes-de-ordens ao encontro do Brigadeiro, a fim de encorajá-lo a resistir a qualquer custo. Sampaio, coberto de poeira e sangue, fala ao oficial: “
Capitão, diga ao Marechal Osório que estou cumprindo meu dever, mas, como já perdi muito sangue, seria conveniente que me mandasse substituir”. No momento em que o ajudante-de-ordens se retirava, Sampaio sofre mais um ferimento, mas, antes de perder os sentidos, ainda se dirige ao oficial: “
Diga ao marechal que este é o terceiro!”
Antes de terminar o dia, a posição de Tuiuti estava assegurada e os paraguaios repelidos. A tenacidade e a valentia de Sampaio e de sua Encouraçada fizeram com que fracassasse o bem planejado ataque de Solano Lopez.
Evacuado do campo de batalha, Antônio de Sampaio faleceu no dia 6 de julho de 1866, a bordo do transporte de guerra “Eponina”, pouco antes deste atracar em Buenos Aires.
Seu corpo foi sepultado na capital argentina dois dias mais tarde. Seus restos mortais foram repatriados em 1869, para o Rio de Janeiro, sendo depositados na Igreja do Bom Jesus da Coluna, no Asilo dos Inválidos da Pátria, onde permaneceram até 14 de novembro de 1871, quando foram novamente trasladados para sua terra natal - o Ceará.
Atualmente os restos mortais do Brigadeiro Sampaio repousam no Panteão Brigadeiro Sampaio, erguido na parte frontal da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, sede do Quartel-General da 10ª Região Militar.
Sampaio só foi consagrado Patrono da Arma de Infantaria do Exército em 1962, mas o 1º Regimento de Infantaria (atual 1º Batalhão de Infantaria Motorizado-Escola)– unidade originária do Terço Velho de Mem de Sá e “cuja fama se perde distante, no silêncio dos tempos passados” –, ostenta com orgulho, desde 1940, o nome do bravo líder.
Panteão do Brigadeiro Sampaio em Fortaleza-CE
Na 2ª Guerra Mundial, quando a Medalha Sangue do Brasil foi instituída para condecorar os feridos em ação, a saga de Sampaio também foi lembrada. Na comenda, três estrelas esmaltadas em vermelho representam os três ferimentos recebidos pelo brigadeiro durante a Batalha de Tuiuti.
Estandarte do Regimento Sampaio
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