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Durante a 1ª Guerra Mundial os britânicos organizaram a Real Divisão Naval, grande-unidade de fuzileiros navais que tomou parte da campanha de Galipolli e atuou no Front Ocidental
A Real Divisão Naval foi uma unidade naval que lutou em terra como infantaria. Participou da campanha de Gallipoli e, mais tarde, atuou na França, na Frente Ocidental. Um grupo de neozelandeses serviu na Divisão, incluindo Bernard Freyberg, que ganhou a Victoria Cross.
Sua origem remonta a alguns anos antes da guerra, quando foi desenvolvido o conceito de uma brigada de fuzileiros navais, destinada a realizar a guarda de uma base naval avançada ou proteger qualquer base temporária. Todas as providências necessárias para a organização da nova força foram tomadas, ainda antes de 1914.
Cartaz de recrutamento da Real Divisão Naval
Pouco antes do início da guerra, a Marinha Real esperava moblizar de 20 a 30 mil reservistas. Contudo, não havia postos para todos nas embarcações da esquadra e, assim, foi decidido que alguns desses homens poderiam ser utilizados para formar mais duas brigadas, para complementar a Real Divisão Naval.
Com a eclosão da guerra, as brigadas de fuzileiros navais foram devidamente formadas e aprestadas para o serviço. Em 16 e 17 de agosto, Winston Churchill, Primeiro-Lorde do Almirantado, emitiu duas minutas dispondo sobre a composição das brigadas. Cada batalhão era composto por um misto de integrantes da Real Reserva da Esquadra (RFR), da Reserva da Marinha Real (RNR) e da Reserva de Voluntários da Marinha Real (RNVR). Mais tarde, os cargos de oficiais e graduados foram detalhados, estipulando suas origens.
Dentro de duas semanas as brigadas navais foram concentrados em Walmer e Betteshanger, contando cada batalhão com a força de 937 homens. Aos batalhões foram dados nomes de personalidades navais, ao invés do sistema de números básicos utilizados pelo Exército:
1ª Brigada Naval
Batalhão Drake
Batalhão Hawke
Batalhão Benbow
Batalhão Colingwood
2ª Brigada Naval
Batalhão Nelson
Batalhão Howe
Batalhão Hood
Batalhão Anson
As brigadas eram, no entanto, apenas a base de uma divisão. Para completá-la, era necessário adicionar outras unidades de apoio, oficiais médicos, engenheiros, pessoal administrativo, comunicações, artilharia e logística. A estruturação desses elementos foi prejudicada pelo fato de a unidade estar subordinada a um comitê do Almirantado e, em 1 de outubro, a responsabilidade pela divisão foi transferida para o Gabinete de Fuzileiros Navais.
Enquanto isso, a situação no continente europeu estava se tornando crítica e, em 26 de agosto, a Brigada de Fuzileiros Navais foi despachada para Östend, para reforçar a guarnição desse porto. Como nenhum ataque foi desencadeado contra a posição, a brigada retornou à Inglaterra em 1 de setembro, onde passou por novo programa de treinamento e os homens mais velhos foram substituídos por novos recrutas.
O recrutamento e o treinamento das brigadas navais continuou com uma complexa variedade de pessoal. Os homens geralmente bem instruídos a partir do pré-guerra da RNVR foram complementadas por um grande número de homens excedentes do Exército, em grande parte mineiros dos condados do norte. Os homens da RNR eram marinheiros experientes e os da RFR, principalmente foguistas, possuíam disciplina e experiência em navios. Embora aparentemente bastante díspares, os forguistas e os mineiros norte do país eram homens duros e formavam a espinha dorsal da divisão. Entre os oficiais que se juntaram nesse momento destacam-se os neozelandeses Bernard Freyberg, mais tarde ganhador da Victoria Cross, e seu irmão Oscar; Arthur Asquith, filho do primeiro-ministro britânico; outro neozelandês, Clyde Evans, e o poeta Rupert Brooke.
Tenente-comandante neozelandês Bernard Freyberg. Mais tarde receberia a Victoria Cross por atos de bravura e, durante a 2ª Guerra Mundial, como general, comandaria a defesa de Creta
Durante o mês de setembro, a ameaça para os portos do Canal era evidente, e com ela a percepção de que a perda desses portos significaria que a Força Expedicionária Britânica, desdobrada na França, não poderia mais ser apoiada. Ambos os contendores, em seguida, deram início ao que ficou conhecido como "a corrida para a costa". Como a maior parte do Exército Britânico estava posicionada mais ao sul das Ilhas Britânicas, era necessário formar uma nova força para defender esses portos. A Brigada de Fuzileiros Navais era uma opção óbvia e Winston Churchill, então, ofereceu as duas novas brigadas navais, embora ainda estivessem no processo de formação.
Os Royal Marines chegaram em Dunquerque em 21 de setembro, acompanhados por uma força de carros blindados do Real Serviço Aeronaval (RNAS). Em poucos dias ficou claro que a ameaça principal pairava sobre o porto de Antuérpia, e este tornou-se o principal foco de atenção. Nas primeiras horas de 6 de outubro, as duas brigadas navais chegaram à Antuérpia, menos de seis semanas após a sua criação. A operação em Antuérpia era essencialmente uma ação retardadora, que, até 10 de outubro, estava concluída. No entanto, em razão de dificuldades de comunicação e mal-entendidos nas ordens emitidas, na retirada que se seguiu, o comando da 1ª Brigada e três batalhões (Collingwood, Benbow e Hawke) marcharam através da fronteira com a Holanda, neutra, e tiveram que permanecer internados no país até o final da guerra.
Fuzileiros do Batalhão Howe em Antuérpia
De volta à Inglaterra, a Divisão foi reformada. Um novo aquartelamento começou a ser construído em Blandford e um novo e adequado regime de treinamento instituído. Novos recrutas substituiram os batalhões perdidos e os elementos da divisão desaparecidas foram estabelecidos. Uma dessas unidades foi Parte disso foi o grupamento logístico divisionário emprestado pela Força Expedicionária Neozelandesa, comandado pelo tenente-coronel Edward Chaytor. No final de janeiro 1915 a maior parte do novo quartel estava concluída e, com exceção de três batalhões, ainda em formação inicial, a Divisão foi ali concentrada. No entanto, em 1º de fevereiro dois dos batalhões de fuzileiros embarcaram para um destino desconhecido, sendo seguidos, um mês depois, pelo restante da Divisão, permanecendo na Inglaterra apenas os três batalhões em treinamento.
O destino era Galipolli. Dois dias antes do desembarque Rupert Brooke morreu e foi enterrado por seus colegas oficiais, incluindo Arthur Asquith e Bernard Freyberg, em terra naquela noite. Durante a luta em Galipolli a divisão foi concentrada para ser empregada tão logo chegassem os três batalhões que ficaram para trás, o que ocorreu no final de maio, apenas a tempo para as batalhas de junho. As perdas em Galipolli foram pesadas e, como consequência, os batalhões Collingwood e Benbow foram dissolvidos e seus sobreviventes enviada para outros batalhões. Para agravar as perdas em ação, 300 foguistas da RFR foram retirados da divisão para apoiar os desembarques no mar. Após a conclusão da retirada de Galipolli, a Divisão permaneceu no Mediterrâneo Oriental, enquanto aguardava novas ordens.
Insígnia de gola dos Royal Marines
Em maio de 1916 a Divisão chegou à França, mas havia não homens suficientes para formar os 12 batalhões necessários. Foram requisitados pela Divisão quatro batalhões do Exército, a fim de compor uma brigada. Ao mesmo tempo, a Divisão passou ao controle do Ministério da Guerra e foi renomeada como 63ª Divisão da Marinha Real. As duas brigadas navais passaram a ser numeradas como 188ª (1ª e 2ª de fuzileiros e Batalhões Anson e Howe) e 189ª (Batalhões Hood, Drake, Nelson e Hawke), enquanto os batalhões do Exército formaram a 190ª Brigada. Apoiando a infantaria estavam todos os outros elementos de uma divisão, dos transportes à metralhadoras, da artilharia a engenheiros.
Oficiais da Divisão Naval junto a um carro blindado do Real Serviço Aeronaval
A Divisão lutou com distinção na França, período no qual cinco Victoria Cross foram concedidas a seus integrantes. A reorganização final da Divisão ocorreu em janeiro de 1918, quando a força de brigadas de infantaria foi reduzida para três batalhões. Como resultado, os Batalhões Howe e Nelson foram dissolvidos e um dos batalhões do Exército foi transferido.
Na noite de 10 de Novembro de 1918, a Divisão se preparava para desencadear um ataque no dia seguinte, com duas brigada, em Givry. Quando o armistício entrou em vigor em 11:00h, as duas brigadas navais já estavam posicionadas lado a lado em linha para o ataque, que acabou não ocorrendo. Pouco tempo depois, mas não tão rapidamente como foi formada, a Real Divisão Naval passou para a história.