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O Forte de Santo Antônio dos Pauxis de Óbidos localiza-se à margem esquerda do rio Amazonas, dominando o
estreito de Óbidos, no estado do Pará.
A importância da posição
estratégica de Óbidos, trecho onde o rio Amazonas possui sua menor largura foi
determinado desde a expedição do Capitão-mor Pedro Teixeira (1637-1639), visto
que, uma vez dominada, poderia impedir a entrada de navios inimigos no rio:
"O maior estreito,
onde este rio recolhe [as] suas águas, é de pouco mais de um quarto de légua, na altura de 2º 40', lugar que,
sem dúvida, destinou a Divina Providência, estreitando ali este dilatado mar
doce, para que ali se construísse uma fortaleza para impedir a passagem a
qualquer armada inimiga, por maiores forças que traga, entrando pela principal
boca deste grande rio, porquanto, entrando pelo rio Negro, ali deveria ser posta a
defesa."[i]
O estreito de Óbidos, trecho de menor largura do rio Amazonas. Pedro Teixeira já identificara sua importância estratégica
O Forte dos Pauxis
Erguido por determinação do
Governador e Capitão-general do Estado
do Maranhão, Antônio de Albuquerque
Coelho de Carvalho, foi um dos quatro fortes (os outros foram o Forte do Paru
de Almeirim, o Forte de São José da
Barra do Rio Negro, e o Forte dos
Tapajós de Santarém) erguidos pelo maranhense Capitão Francisco
da Mota Falcão, às próprias custas,
nos locais que lhe fossem indicados, em troca de receber o governo vitalício de
uma delas. Por motivo de falecimento
deste empreiteiro, as obras foram concluídas por seu filho Manoel da Mota Sequeira em 1698, em taipa de pilão, artilhado com quatro peças de
pequeno calibre e guarnecido por um destacamento. Foi denominado como Presídio
dos Pauxis, nome da tribo indígena que habitava a área, descida pelos
frades franciscanos da Piedade juntamente com indígenas do rio Trombetas para a sua construção, e para esse fim ali
agora aldeados.
Recebeu a denominação de Forte
de Óbidos quando a aldeia dos
Pauxis foi elevada à categoria de vila com o nome de Óbidos, em 25 de março de 1758.
Além de defesa estratégica, essa estrutura funcinou como um Registro, atendendo
à fiscalização para cobrança dos dízimos da Coroa Real, das embarcações que
percorriam o grande rio, de ou para a Capitania
de Mato Grosso e Capitania de São José do Rio Negro.
Já em 1749, sob o comando do Capitão Balthazar Luiz Carneiro, necessitava de
reparos mais sérios:
"(...) suposto tenha
só a cortina da parte do mar arruinada e que só desta reedificação careça, e de
emboço e reboco; contudo esta Fortaleza se acha edificada sobre uma alta
ribanceira, a qual o tempo tem demolido, de sorte que dificilmente pode passar
qualquer homem entre a beirada da dita ribanceira e a Fortaleza, e achando-se
assim esta no princípio de cair nas primeiras invernadas, parece que seria mais
acerto fazer-se a dita Fortaleza de novo, por se não pôr no perigo de perder-se
o dispêndio, recuando-a para dentro, o que fosse necessário."[ii]
Na falta de recursos do Governo, o
Capitão Ricardo Antônio da Silva
Leitão, comandante da praça, procedeu-lhe reparos, louvados pelo governador e
Capitão-general do Estado do Grão-Pará
e Maranhão, Francisco Xavier de
Mendonça Furtado (1751-1759) àquele
oficial por Ofício de 9 de março de 1753.
Naquele momento, o forte contava apenas com três canhões, sete balas de artilharia, 2 arrobas e 18 libras de pólvora,
20 libras
de chumbo, 46 libras de balas de mosquetaria, cinco baionetas, reduzindo-se o efetivo ao
capitão comandante, um tenente, um sargento ajudante e seis praças.
Canhões do Forte de Óbidos apontados para o rio Amazonas
Em 1758, a aldeia dos Pauxis foi elevada à
categoria de vila com o nome de Óbidos. A fortificação encontrava-se em mau
estado de conservação, por notícias anteriores do Mestre de Campo José Miguel Aires, e posteriores, de Henrique José de Vasconcelos.
Anos mais tarde, o efetivo estava
reduzido a um soldado e a um sargento, sendo que, à falta de soldados, a esposa
deste já havia dado guarda mais de uma vez.[iii]
Em 1784 a
fortificação constituía-se em um pequeno quadrado de muralhas, os ângulos reentrantes
e dois meio-baluartes.
O forte imperial
Apesar de recomendações para a sua
reconstrução durante o período colonial (1749-1784), desabada a cortina pelo
lado do rio, apenas no Segundo Império é que a praça foi recuperada, com a
elevação da vila a cidade, em 2
de outubro de 1854. Nesse ano, o governo imperial
iniciou a reconstrução, sob a orientação do Major de Engenharia Marcos Pereira de Salles, na forma de
um reduto semicircular com parapeitos à barbeta, artilhado com dez peças de
diferentes calibres, entre as quais quatro canhões Armstrong.
No Relatório do Ministério da
Guerra de 1858, o Brigadeiro Jerônimo Francisco Coelho informava terem se despendido nas
obras, até à data, 72 000$000 réis, sendo necessário gastar ainda mais:
·
12:000$000 réis em
obras de arremate;
·
68:000$000 réis para
erguer uma bateria complementar, ao lume d'água;
·
21:000$000 réis para
novas baterias, no sopé da serra
da Escama, a cavaleiro, e de uma Capela;
·
88:000$000 para a fortificação da margem oposta
do estreito de Óbidos
Em 1860, a fortificação foi
visitada em passagem pelo Tenente-Coronel Hilário Maximiniano Antunes Gurjão,
herói da batalha
de Itororó, que acompanhava o então presidente da Província.
Canhões coloniais com seus projéteis preservados diante do Forte de Óbidos
O incidente com os navios a vapor
peruanos "Morona" e "Pastazza" (1862), que desobedecendo
ordens de Belém, forçaram a sua passagem em frente a Óbidos, recebendo o
primeiro apenas um tiro inofensivo no costado, demonstrou a fragilidade da
fortificação, bem como a necessidade dessas obras complementares de defesa,
para as quais o Ministro da Guerra, Ângelo
Moniz da Silva Ferraz, chamava a atenção em 1866.
O padre Francisco Bernardino de Souza,
referindo-se ao discurso de um deputado amazonense, cita:
"Construiu-se há
pouco tempo um fortim na raiz da serra; esse fortim parece mais um brinquedo de
criança do que um complemento de fortificação; monta três peças sem ter o
necessário espaço para o seu recuo, nem para conter as respectivas guarnições."[iv]
Em 1868, sendo titular da pasta da Guerra João Lustosa da Cunha Paranaguá, foram
procedidas obras como: a construção de uma plataforma corrida em cantaria de Lisboa, arrecadação (armazém) de
armamento e quartel, ficando fechada por duas cortinas, uma a Leste e outra a
Oeste, e protegida pela margem do rio. Montaram esses reparos a 13:000$000 réis.
Pequenos reparos foram procedidos em 1875,
e em 1889, quando se encontrava
classificada como fortificação de 2ª Ordem.[v]
O forte na República
O forte sofreu novas intervenções
de reparos em 1909 e 1911.
No auge da Questão do Acre (1902-1903) foi guarnecido com um
contingente de ocupação. De 1902 a 1911 uma nova estrutura foi levantada, na
serra da Escama, para complemento da sua defesa (Forte Gurjão). À época da 1ª Guerra Mundial, este conjunto
defensivo estava guarnecido pelo 4º
Batalhão de Artilharia (1915),
tendo caído nas mãos dos revolucionários tenentistas de 1924, no Amazonas. A partir de 1930, ambos os fortes foram
desarmados, permanecendo o quartel guarnecido por um destacamento da 8ª Região Militar.
Canhão Vickers-Armstrong de 152,4mm rodeado pela floresta no Forte Gurjão
Durante a 2ª Guerra Mundial, foi ocupado
sucessivamente por uma bateria de Artilharia e por uma Companhia de Infantaria.
Com o fim do conflito, o forte ficou guarnecido por um pequeno contingente
militar, tendo ali funcionado uma estação de rádio do Exército Brasileiro, de grande
utilidade para a população. Em 1967 tudo foi retirado, tendo a Prefeitura
de Óbidos se esforçado para manter o acervo material que restou.[vi]
A partir de 2012, o Forte de Óbidos teve iniciadas obras de
restauração, no contexto do Programa de
Aceleração do Crescimento das Cidades Históricas, patrocinado pelo Ministério
da Cultura. As obras ainda estão em andamento. Atualmente
o Forte de Óbidos está
aberto ao público no centro histórico da cidade, bem como as ruínas do Forte
Gurjão.
Fonte: adaptado da Wikipedia
[i] ACUÑA, Cristóvão d'. Novo descobrimento
do grande rio das Amazonas. 1641. RIHGB.
Rio de Janeiro: Tomo XXVIII, Vol. XXX, Parte I, 2º Trim/1865. p. 187.
[ii] Relatório do Capitão de Ordenanças José
Miguel Ayres acerca do estado das fortificações mantidas ao longo do Amazonas datado de 4 de janeiro de 1749
[iii] D. frei João de São José. Viagem e Visita do Sertão em o Bispado do Grão Pará
em 1762 e 1763.
[iv] SOUZA, Pe. Francisco Bernardino
de (Relator). Comissão do Madeira (3ª parte). 1874. apud: op. cit., p. 66
[v] GARRIDO, Carlos Miguez.
Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval,
1940, p.19-20.
[vi] OLIVEIRA, José Lopes de (Cel.).
"Fortificações da Amazônia". in: ROCQUE, Carlos (org.). Grande Enciclopédia da Amazônia (6
v.). Belém do Pará, Amazônia Editora
Ltda, 1968, p.745.