O Exército russo reformado por Pedro I no início do século XVIII tornou-se um dos mais fortes do mundo. Entre as forças armadas da Europa, não só se destacava pela resistência e formação dos soldados, como também como pela farda original e prática.
Por Aleksandr Verchínin
Pedro I, o Grande, vestiu o seu Exército seguindo um modelo específico. Os dois regimentos pessoais de infantaria – Preobrajenski e Semenovski – surgiram inicialmente como formações para os jogos de guerra do tsar. Com o passar do tempo, ganharam o estatuto de unidades militares plenas, com armas e uniformes.
Os soldados de Preobrajenski vestiam caftans verdes, jaquetas vermelhas, calças na altura do joelho, meias brancas e sapatos que podiam ser substituídos por botas de cano alto. O chapéu de feltro também era verde. Já o casaco do uniforme dos soldados do regimento de Semenovski tinha outra cor: o caftan era de tecido azul.
Uniforme de oficial do Regimento Semenovski
Em 1720, o padrão para ambos os regimentos passou a ser o uniforme verde-escuro. Apenas alguns elementos – como o colarinho e os punhos – se diferenciavam, sendo vermelhos no regimento de Preobrajenski, e azul claro no de Semenovski.
O corte da vestimenta militar escolhida por Pedro I como modelo não se distinguia particularmente do difundido na Europa na época. Ao vestir os seus guardas ao estilo europeu, o czar quis vestir todo o novo Exército russo com as mesmas cores. Mas isso acabou se tornando um problema.
A indústria têxtil russa não conseguia produzir a quantidade necessária de determinadas cores. Durante todo o reinado de Pedro, as tropas mantiveram uma séria discrepância nos uniformes. Os soldados podiam usar uniformes de qualquer cor que estivesse mais à mão. Não era raro ver regimentos inteiros vestidos com tecido cinzento de produção familiar camponesa.
Símbolo da resistência
O exército de Pedro I, vestido e armado às pressas, acabou enfrentando um dos inimigos mais fortes da Europa naquela época – a Suécia. Em 1700, o rei sueco havia derrotado o antigo Exército russo em Narva, e apenas os guardas de Pedro I mostraram resistência na batalha.
Granadeiro do Regimento Preobrajenski em 1700
Os guardas de Preobrajenski e Semenovski rechaçaram todos os ataques suecos, apesar das grandes perdas sofridas. Para assinalar o valor dos regimentos da sua guarda, Pedro I acrescentou distintivos ao uniforme: emblemas com a data “1700”, em forma de meia-lua e feitos de prata ou ouro, dependendo da graduação do oficial.
Assim, os regimentos de Preobrajenski e Semenovski tinham os únicos soldados do Exército russo que usavam meias vermelhas e não brancas, como prova de sua bravura por terem resistido de pé em Narva.
Cada regimento do Exército russo tinha um grupo de granadeiros composto pelos soldados mais valentes e fortes. Embora tivessem a tarefa de apenas lançar granadas – daí a palavra “granadeiro” –, acabaram assumindo as mesmas funções dos soldados comuns. Só as especificidades dos seus uniformes foram mantidas.
A característica mais distintiva era o chapéu especial em forma de cúpula e sem abas, pois elas atrapalhavam no lançamento das granadas. Na parte frontal do chapéu era colocada uma placa com o brasão russo gravado – a águia bicéfala.
Bigode e lenço
Por decisão de Pedro I, todos os soldados usavam bigode e cabelo cortado acima dos ombros. O “lenço”, uma imensa faixa de fios entrelaçados que se lançava sobre os ombros e era fixada na cintura, era característica marcante do uniforme. Na qualidade de adorno, essa faixa podia ser tecida com fios de ouro ou prata.
Às vezes, esse lenço era mais resistente do que uma corda. Em 1799, durante a Batalha da Ponte do Diabo, nas montanhas da Suíça, pedaços de madeira amarrados uns aos outros com os lenços dos oficiais foram usados pelos russos como ponte.
Oficial e soldado do exército de Pedro I. Os bigodes eram obrigatórios
A cor verde do uniforme militar determinada por Pedro I se manteve por mais de um século. Nessa época, a cavalaria vestia uniformes azuis, e a artilharia, vermelhos.
O conforto vence
O caftan foi gradualmente se transformando até que, em meados do século, adquiriu contornos parecidos com os do atual fraque, com abas em vez de cauda. A jaqueta foi encurtada, e o chapéu armado de três pontas passou para bicorne.
Com o tempo, também foi introduzida uma farda especial para os generais. Nesses casos, a vestimenta foi ficando cada vez mais rica, destacando-se pelos bordados de prata ou ouro nas laterais, na gola e nos punhos.
Soldados do exército Potemkin
Durante o reinado de Catarina II, o uniforme militar russo foi parcialmente alterado por iniciativa do favorito da imperatriz, o kniaz (príncipe) Grigôri Potemkin. Os soldados ganharam um confortável casaco mais curto e sobretudo de tecido grosso. Essa farda foi disseminada pelo Exército e ganhou popularidade devido à sua praticidade.
Fonte: Gazeta Russa