"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sexta-feira, 30 de agosto de 2019

HISTÓRIA MILITAR DA FRANÇA - HÁ 75 ANOS, PARIS SE INSURGIA E SE LIBERTAVA DO REGIME NAZISTA

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Paris comemora os 75 anos da liberação da cidade dos nazistas, uma conquista eternizada pelas palavras do general Charles de Gaulle, em 25 de agosto de 1944: “Paris ultrajada. Paris quebrada. Paris martirizada. Mas Paris liberada!” No total, as tropas alemãs ficaram 1.500 dias na capital francesa.


No último domingo (25), a cidade realizou uma série de eventos comemorativos para marcar a data. Uma celebração aconteceu na torre Eiffel, em homenagem aos seis bombeiros que subiram o monumento, sob fogo inimigo, para substituir o estandarte nazista pela bandeira francesa.

Ao meio-dia, uma gigantesca bandeira foi desenrolada no primeiro andar da torre, na presença de turistas, bombeiros e políticos. Jeanne-Marie Badoche, filha do capitão Lucien Sarniguet, que foi obrigado a retirar a bandeira francesa em 1940 e retornou ao local quatro anos depois para recolocá-la, estava presente e emocionada com a celebração.

Cartaz elaborado pela Prefeitura de paris homenageando os 75 anos do levante contra a ocupação alemã

Outra cerimônia acontece na Porte d’Orléans, no sul da cidade, pela qual o general Leclerc e suas tropas entraram em Paris depois da liberação. “As pessoas ficaram doidas! O clima estava extraordinário. Muitas garotas não voltaram para casa naquela noite”, recorda-se René Gonin, que tinha 24 anos na época.


Parisienses se revoltaram

A liberação de Paris ocorreu quase quatro três meses depois do Desembarque aliado na Normandia, ocorrido em 6 de junho de 1944. No dia 15 de agosto, os aliados atracam também pelo sul, na Provença, mas a chegada à capital ainda parecia distante. Os parisienses então organizam uma revolta popular, a começar pelo comando da polícia.

No amanhecer de 19 de agosto, 3 mil policiais franceses à paisana tomaram a caserna da île de la Cité, no centro de Paris, onde os bombeiros já estavam rebelados e haviam erguido a bandeira tricolor quatro dias antes. É o início da insurreição de Paris, em meio a uma greve geral lançada na cidade no mesmo momento.

Após ser atacada, uma viatura alemã ardendo em chamas em pleno Quartier Latin, defronte à catedral de Notre Dame


A insurreição prossegue: barricadas erguidas pela população parisiense em plena Rua Rivoli, muito perto do Museu do Louvre

Seis dias de combates contra as forças alemãs transformaram a capital num campo de batalha, mas segundo os historiadores, os 20 mil soldados nazistas, mal equipados, pouco resistiram à empreitada. Apenas 167 policiais franceses perderam a vida, apesar da ordem de Adolf Hitler ao general Von Choltitz de reduzir Paris a ruínas – missão que ele decidiu, de última hora, desobedecer.

A vitória se consolidou com a chegada das primeiras tropas aliadas nas ruas da capital, em 24 de agosto. Dois dias depois, o general De Gaulle desfilaria, triunfante, na avenida Champs Elysées, aplaudido pela multidão.  

O general alemão Dietrich von Choltiz, governador militar de Paris, aqui fotografado após sua rendição: mesmo diante de grande risco pessoal, optou por desobedecer as ordens de Hitler, salvando a cidade da completa destruição. 
 

Mulheres parisienses celebram a libertação da cidade, na manhã de 26 de agosto de 1944. Muitas delas participaram dos combates de rua


Novo museu leva a quartel-general clandestino no sul de Paris

Para recordar esse momento crucial da história, Paris inaugurou neste domingo um novo museu, que relembra os quatro anos de ocupação nazista e a semana de insurreição que levou à libertação. "Começa com uma França abatida e termina com uma França que se põe de pé", resume Sylvie Zaidman, diretora do novo museu localizado no sul de Paris, em substituição a um espaço aberto anteriormente (1994 a 2018), que nunca superou os 14 mil visitantes anuais.

"Antes, os avós podiam contar o que aconteceu. Mas há cada vez menos testemunhas. É por isso que o museu toma seu lugar, conta a história", afirmou Zaidman, que defende uma rota "muito clara e pedagógica, para que todos possam entrar na história".

Em um espaço de 2.500 m², 300 objetos, fotografias, cartas e pedaços de filmes de época oferecem ao visitante uma cronologia de como os parisienses viviam o governo colaboracionista de Philippe Pétain, e como celebraram o triunfo do general de Gaulle.

Museu da Liberação de Paris possibilita descer até o quartel-general da resistência parisiense, no sul da capital francesa

O ponto alto da visita, que só poderá ser descoberto em grupo e com inscrição prévia, é a descida por uma escadaria estreita que leva a 20 metros de profundidade: ali se encontrava o quartel-general clandestino de Henri Rol-Tanguy, líder da Resistência.

O operário comunista, que se tornou comandante das Forças Francesas do Interior (FFI) na região parisiense, esperou ansiosamente a chegada dos aliados, com sua esposa e uma dúzia de simpatizantes.

Alguns dos equipamentos do abrigo também são preservados de onde ele coordenou a insurreição de Paris, como um armário enferrujado e um sistema de pedalar para gerar eletricidade.

Fonte: RFI


PPG HUMANIDADES EM CIÊNCIAS MILITARES PROMOVE CONFERÊNCIA SOBRE OPERAÇÕES DE PAZ

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O Programa de Pós-Graduação em Humanidades em Ciências Militares do Centro de Estudos de Pessoal / Forte Duque de Caxias promoverá, no próximo dia 5 de setembro, a conferência Estudos para a Paz e as Bases Conceituais para as Operações de Paz.

O CEP/FDC localiza-se na Praça Almirante Júlio de Noronha s/nº, Leme, Rio de Janeiro-RJ.



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quarta-feira, 28 de agosto de 2019

III FESTIVAL DE CINEMA DE HISTÓRIA MILITAR - MILITUM 2019

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As sessões do Festival ocorrerão no Centro de Estudos e Pesquisas de História Militar do Exército (CEPHiMEx), de 18 a 20 de setembro, e a cerimônia de premiação acontecerá no Salão Histórico do 1º Distrito Naval, em 23 de setembro.

Em sua terceira edição, no ano de 2019, o MILITUM - Festival de Cinema de História Militar recebeu a inscrição de 27 filmes, sendo 13 documentários, 10 ficções e 04 animações, provenientes de 9 estados do Brasil (DF, GO, MA, PA, PE, PR, RJ, RN e SP), abrangendo as cinco regiões nacionais e mais uma parceria internacional com Uganda, totalizando mais de 15 horas de material audiovisual. Destacamos que duas obras declararam terem sido produzidas especificamente para participarem do Festival Militum, reforçando nossa proposta de fazer produzir a memória nacional na cinematografia.

Os filmes, produzidos entre 2006 e 2019, trouxeram como tema a Segunda Guerra Mundial e a Força Expedicionária Brasileira, a atuação da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, o Colégio Militar do Rio de Janeiro, a história do Tucano T-27 construído pela Embraer e os faróis de navegação históricos operados pela Marinha do Brasil.

Desse valioso material, a Comissão Organizadora selecionou 10 obras para serem exibidas ao público durante os três dias do Festival, concorrendo às premiações concedidas pelo Júri Popular e pelo Júri Oficial, que entregará aos melhores filmes das diversas categorias o troféu Apollo.

O Festival Militum foi idealizado e é dirigido pelo cineasta Daniel Mata Roque. O evento é organizado pela Pátria Filmes, em parceria com a Academia de História Militar Terrestre do Brasil - Seção Rio de Janeiro e a Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira - Direção Central. O Festival conta ainda com o apoio da Sociedade Amigos da Marinha - Rio de Janeiro, do Centro de Estudos e Pesquisas de História Militar do Exército/Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército, do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, do Portal FEB e do CH Grupo.




 
Confira o programa detalhado e outras informações no site


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IMAGEM DO DIA - 28/8/2019

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O vitorioso general bizantino Belisário em batalha durante as Guerras Góticas (535-554)

terça-feira, 20 de agosto de 2019

III ENCONTRO DE HISTÓRIA MILITAR DO MUSEU MILITAR DO CMS

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Alô galera da Região Sul,

Estão abertas as inscrições (para ouvintes e submissões de trabalhos) do III Encontro de História Militar - II Colóquio de Pesquisas do GEHM/MMCMS, que acontecerá no Auditório do Comando Militar do Sul, nos dias 29, 30 e 31 de outubro de 2019.

O III EHM ocorre em continuidade aos outros dois eventos realizados no MMCMS (em 2015 e 2017), os quais possibilitaram significativo impulso à visibilidade da História Militar enquanto campo de estudos na região Sul do País.

Essa edição terá 4 (quatro) eixos principais de discussão, quais sejam: História Militar e Instituições Militares; História Militar e Relações Internacionais; História Militar e Direito; e História Militar e Arte.

Além de conferências e comunicações coordenadas, o evento contará com mesas-redondas do GEHM-MMCMS.

Para maiores informações consulte a página do Evento disponível no endereço ehmmuseu.wixsite.com/gehm-mmcms

Participe! As inscrições são limitadas!

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IMAGEM DO DIA - 20/8/2019

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O Cerco de Málaga (1487) foi uma ação durante a reconquista da Espanha, na qual os reis católicos conquistaram a cidade de Málaga dos muçulmanos.  O rei Fernando castigou quase todos os habitantes por sua resistência teimosa com a escravidão, enquanto renegados foram queimados vivos ou perfurados com lanças. A imagem mostra a execução dos renegados após a queda da cidade.



sexta-feira, 16 de agosto de 2019

O DIA EM QUE TROPAS DAS EX-COLÔNIAS NA ÁFRICA AJUDARAM A LIBERTAR A FRANÇA DO NAZISMO

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15 de agosto de 1944: o dia em que tropas das ex-colônias na África liberaram a França do nazismo

Por Adriana Moysés

A França comemorou ontem (15) os 75 anos do desembarque de tropas aliadas na região da Provença (sul), também conhecida como “Operação Dragão”, uma etapa determinante para a liberação do país da ocupação nazista no fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Dos 235.000 combatentes franceses que chegaram às praias na costa do Mediterrâneo, 90% eram soldados africanos provenientes das ex-colônias do norte da África e da África subsaariana.

O reconhecimento da importância dos atiradores senegaleses, marroquinos, argelinos e tunisianos para a liberação da França da ocupação alemã demorou várias décadas. Alguns especialistas, como o historiador Pascal Blanchard, da Sorbonne, estimam que até hoje a França não presta uma homenagem justa a esses homens, à altura do que eles fizeram pela liberdade dos franceses.

Até os anos 2000, os dirigentes franceses ocultaram o papel dos soldados africanos e de ex-colônias do Índico e do Pacífico na vitória dos aliados contra o Exército de Hitler. Blanchard, especialista no império colonial francês, observa que sempre que o Estado fazia referência ao desembarque de tropas aliadas nas comemorações oficiais, as imagens exibidas eram da Normandia, em junho de 1944, que envolveu uma maioria de soldados brancos – americanos, canadenses e britânicos. “Poucos africanos integraram divisões que liberaram Paris, enquanto nas praias da Provença as tropas eram negras”, disse em entrevista à RFI.

Atirador marroquino com uniforme de combate
 
Era preciso mostrar que a França se liberou por si mesma, com soldados brancos”, afirmou o historiador. Essa postura de encobrir a participação crucial dos ex-colonos na Segunda Guerra só mudou a partir de 2004. O então presidente Jacques Chirac declarou, pela primeira vez, durante as comemorações do 60° Desembarque da Provença, que os soldados das ex-colônias tiveram “uma atuação magnífica nos combates para nossa liberação”. Na cerimônia realizada em Toulon, Chirac reconheceu que eles “pagaram um preço alto pela vitória”. Superado esse “esquecimento”, os presidentes Nicolas Sarkozy e François Hollande passaram a convidar líderes africanos para a ocasião. No caso de Emmanuel Macron, quase houve um retrocesso.

Inicialmente, o Palácio do Eliseu não havia previsto uma celebração especial neste 75° aniversário. Mas em julho, Blanchard e outras 22 personalidades, incluindo escritores, jornalistas e historiadores, publicaram um artigo no jornal Le Monde criticando o descaso do governo com esse fato histórico. Após a publicação, Macron admitiu que houve um descuido e se comprometeu a organizar e participar pessoalmente da cerimônia. Blanchard apreciou a reatividade do chefe de Estado.


Cerimônia no sul

O presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, e da Guiné, Alpha Condé, participaram do 75° aniversário celebrado nesta quinta, nos arredores de Saint-Raphael (sul), ao lado de Macron. Sarkozy também estava entre os convidados. A comemoração aconteceu na necrópole de Boulouris, onde estão sepultados os corpos de 464 combatentes.

O escritor senegalês David Diop fez um discurso em homenagem aos atiradores senegaleses, lembrando que muitos deles foram massacrados pelos nazistas de maneira ainda mais violenta por serem negros. “Todos deram prova de coragem e de bravura fora do comum, pagando caro pela vitória que ajudaram a conquistar”, declarou Macron. O presidente da Guiné assinalou que os soldados africanos dividiram com os franceses o sangue e o suor dos últimos combates da Segunda Guerra Mundial. “O Desembarque da Provença faz parte de uma memória coletiva compartilhada pelos povos francês e africano para salvar a liberdade”, concluiu.

Os presidentes da Guiné, França e Costa do Marfim participam da homenagem aos soldados que participaram do Desembarque da Provença, em cerimônia realizada em Boulouris.


Convidado para a cerimônia, Jacky Klingère, filho de um militar argelino, contou à reportagem da RFI que seu pai desembarcou na localidade de Saint-Maxime, depois de chegar ao litoral da França a bordo de um cargueiro com americanos. “Ele anotou diariamente o que fazia num pequeno caderno que guardo até hoje. Meu pai subiu do Mediterrâneo até Colmar (leste), ao lado de outros combatentes.

Para o cineasta e historiador Éric Deroo, mais importante do que a França demonstrar arrependimento por ter passado décadas sem reconhecer o papel dos soldados africanos na vitória sobre o nazismo, é realizar um trabalho de fundo na sociedade.

Temos uma história em comum com as ex-colônias. A questão não é permanecer numa rivalidade pela memória. O que pode ajudar a fortalecer essa identidade comum é fazer filmes, teses de pesquisa e criar museus para informar os jovens e as futuras gerações sobre a participação das tropas africanas para a liberação da França”, disse Deroo à rádio France Info.


A ofensiva militar

Dois meses depois do desembarque aliado na Normandia, iniciado em 6 de junho de 1944, a “Operação Dragão” teve o objetivo de enfrentar as tropas alemãs entrincheiradas em Toulon e desbloquear o acesso aos portos franceses do Mediterrâneo. A estratégia era ocupar uma área entre as cidades de Bormes e Saint-Raphael, para escapar do fogo inimigo, e sem seguida reconquistar Marselha e Toulon.

A ofensiva militar dos aliados ocorreu em duas etapas. Em uma primeira campanha aérea, 5 mil soldados paraquedistas foram lançados ao longo de uma rodovia com o objetivo de isolar os alemães. Na sequência, uma frota de 220 navios americanos e britânicos, vindos do norte da África, da Córsega e do sul da Itália, desembarcou dezenas de milhares de soldados nas praias do Var. 

Soldados nativos de zonas tribais do Marrocos, que integravam um regimento de infantaria das forças aliadas, desfilam após a reconquista do porto de Marselha, em agosto de 1944.

Ao todo, 350.000 combatentes aliados foram mobilizados para enfrentar os 250 mil homens do exército inimigo espalhados na região. Mas os alemães ofereceram pouca resistência e se renderam, sob as ordens de Hitler. No dia 21 de agosto, com a ajuda dos africanos, as cidades de Aix-en-Provence, Arles e Avignon foram reconquistadas. Tropas francesas e americanas liberaram em seguida Toulon, Marselha, Cannes e Nice. Em 14 dias, o sul da França estava livre dos nazistas.

Fonte: RFI Brasil

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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

O INTERCÂMBIO CULTURAL ENTRE OS SOLDADOS NA GUERRA DA CRIMEIA

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Inimigos no campo de batalha, oficiais russos e seus adversários não perdiam oportunidade de se comunicar durante os momentos de trégua.

Por Yuri Ossokin


A guerra da Crimeia, que ocorreu há 160 anos, no início de setembro de 1854, foi o primeiro conflito em que a Rússia foi confrontada pela Inglaterra, que lutou em uma coligação com a França e a Turquia. No nível político, os países eram inimigos, mas para os indivíduos que lutaram no conflito a guerra não era razão para esquecer as boas maneiras e a cortesia. Os oficiais russos falavam inglês e francês, o que permitia a comunicação civilizada fora de combate entre aqueles que no dia seguinte voltavam a ser inimigos irreconciliáveis.

O cerco de Sebastopol foi, além de um combate do Exército russo contra a coligação franco-inglesa, um encontro de culturas diferentes. Sendo inimigos no campo de batalha, os russos e seus adversários não perdiam oportunidade de se comunicar nos acampamentos militares, durante os momentos de trégua. O jornalismo de guerra, o gorro balaclava, o sobretudo raglan e o casaco cardigan surgiram durante o cerco de Sebastopol.


“É a vontade de Deus” 

Após o bombardeamento de Odessa pela esquadra franco-inglesa, a fragata britânica Tigre, cuja missão era bloquear a cidade, encalhou em um nevoeiro espesso na entrada do porto. A tripulação de 225 oficiais e marujos foi aprisionada e alojada em Odessa. Mais tarde, por ordem do imperador russo Nicolai I, a tripulação foi mandada para casa. Em Odessa, os prisioneiros viviam em excelentes condições,  sob a constante atenção da população local. Tudo isto foi descrito em suas cartas para familiares e amigos. Um marinheiro relatou: “Um dia, sob a bandeira de trégua, veio ter conosco um oficial russo de idade. Fez uma saudação para um grupo de soldados ingleses e partilhou com eles o rapé. Depois de beber rum com os nossos, disse a um oficial britânico: ‘Os russos gostam muito de ingleses e, se pudessem, nunca entrariam em guerra convosco. Pelo visto, é a vontade de Deus’”. 

Soldados russos na Crimeia


Enquanto os oficiais se comportavam como cavalheiros, sobre os soldados não se podia dizer o mesmo. Para os simples soldados russos, ao contrário dos oficiais de educação europeia, os ingleses e franceses eram intrusos, encarados como ocupantes que deviam ser expulsos a todo custo. “Testemunhei um caso repugnante: um jovem oficial inglês deu a um ferido russo um gole de brandy de seu cantil; mal lhe virou as costas para ir embora, levou um tiro fatal do soldado impassível”, recordou em uma carta Timothi Gowing, atirador real.

Mas os soldados dos aliados tampouco eram exemplos de civilização. Chacotas e torturas eram bastante frequentes, e nisso se empenhavam sobretudo os franceses, endurecidos pela guerra contra os selvagens na  Argélia. Caffir, criado do capitão Clifford, contava com uma sinceridade aterrorizante que para ele o  maior prazer era passear pelo campo depois da batalha, contemplando corpos mutilados de soldados inimigos, que lhe lembravam “maçãs no quintal”. Uma vez, voltou carregado de sabres e capacetes russos, murmurando: “Ai que bom! Tantos mortos! Braços e pernas por todo lado. São inimigos de meu senhor”.


Heranças da guerra 

A guerra da Crimeia deixou influências nas línguas dos países beligerantes e na área de vestuário. Em inglês, até hoje existe o termo “balaclava”, que designa um gorro de malha com orifícios para olhos e nariz. Reza a lenda que este termo foi introduzido pelos soldados britânicos que não tinham vestimentas adequadas no inverno de 1854–1855 e passavam muito frio nos arredores da cidade de Balaclava, na Crimeia. Outro exemplo conhecido é um sobretudo com mangas de corte especial chamado de raglan, que costumava ser usado por Fitzroy Somerset, primeiro barão Raglan, comandante das forças britânicas, que tentava ocultar deste modo a falta do braço direito, perdido ainda na juventude durante a batalha de Waterloo. Mais uma peça de roupa – uma blusa de malha com botões e sem gola – foi batizada de cardigan, em memória de James Brudenell, sétimo conde de Cardigan, que gostava de vestir a blusa por baixo da farda durante o inverno. Os habitantes da Europa tinham bastante frio na Crimeia.

Soldados britânicos em um acampamento na Crimeia


Segundo uma lenda popular, foi durante a guerra da Crimeia que surgiram os “papirossi”: tanto os aliados como os russos adotaram um hábito turco de fazer uma espécie de cigarro enchendo de tabaco cartuchos de papel para pólvora.


Tratado de paz

No final de 1855, os participantes do conflito começaram a perceber que não valia a pena continuar lutando. Perdas enormes (apenas nos arredores de Sebastopol, os aliados perderam cerca de 90 mil soldados, sem contar com os que morreram de doenças) viravam as sociedades francesa e inglesa contra a guerra, e a Rússia também estava em uma situação difícil. Na sequência de conversações, foi assinado o Tratado de Paz de Paris, em 18 de março de 1856. Todos os grandes Estados tiveram que chegar a um compromisso, porque o balanço de forças na Europa não mudou após a guerra, nem foram resolvidas as questões que provocaram o conflito. Lamentavelmente, passados 60 anos, em 1914 os mesmos problemas voltaram a provocar um conflito armado, que ficou conhecido como Primeira Guerra Mundial. 

Fonte: Gazeta Russa


quarta-feira, 7 de agosto de 2019

MORRE UM DOS ÚLTIMOS VETERANOS DO LENDÁRIO REGIMENTO NORMANDIE-NIEMEN

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Yuri Maksayev, um dos últimos veteranos russos do regimento de Normandie-Niemen, faleceu. Ele participou da libertação de Smolensky, da Bielorrússia e da Lituânia da ocupação alemã.


O ex-integrante do legendário Regimento Normandia-Niemen, atuou como mecânico de aeronaves, faleceu no dia 3 de agosto, segundo anúncio feito pela Embaixada da França na Rússia.

Nascido em 9 de janeiro de 1926, tinha apenas 17 anos de idade quando ingressou na escola de aviação militar. Tão logo se formou, juntou-se às fileiras da famosa unidade, símbolo da cooperação franco-soviética contra o inimigo nazista, realizando a manutenção dos motores dos caças Yak-3 .

Yak-3 do Regimento Normandie-Nemen em ação


No rescaldo do conflito, durante o qual ele participou da libertação de Smolensk, Bielorrússia e Lituânia, Maksayev serviu como engenheiro no 18º Regimento de Aviação de Guardas, antes de ingressar, em 1951, na aviação civil soviética.

Como a embaixada apontou, sempre foi muito importante contribuir para aproximar os dois países "reunindo-se regularmente com os alunos das escolas da Normandie-Niemen e participando da pesquisa realizada por membros de associações e Museus da Normandie-Niemen em toda a Rússia."

Yuri Maksayev na época da guerra

 Ele havia viajado para a França em 2015 para participar da inauguração do espaço "Normandie-Niemen" no Air and Space Museum, em Le Bourget, e, em 2017, para participar das comemorações do 75 anos da criação do famoso regimento. Detentor de altas honrarias francesas e soviéticas, como o título de cavaleiro da Legião de Honra, ele deu seu último suspiro aos 93 anos de idade.

Fonte: Russia Beyond

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

CONFERÊNCIA "A GUERRA AÉREA NO VALE DO PARAÍBA EM 1932"

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Por ocasião do 1º Simpósio de História Militar do Vale do Paraíba, que será realizado em Lorena-SP entre 6 e 9 de agosto, o editor do Blog Carlos Daróz-História Militar apresentará a conferência A guerra aérea no Vale do Paraíba em 1932.


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IMAGEM DO DIA - 2/8/2019

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 Fuzileiros do Regimento de Infantaria de Colburg prussiano durante instrução de tiro no verão de 1811.