"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



segunda-feira, 9 de setembro de 2024

ORDEM DA VITÓRIA - A MEDALHA MILITAR MAIS CARA DO MUNDO

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Além de ser mais distinta e cara de todas as ordens já concedidas a alguém na Rússia, é também uma das mais raras do mundo – foram feitas apenas 22 cópias.


Por Gueórgui Manáev


A Ordem da Vitória é oficialmente a medalha militar mais cara do mundo. Para se ter ideia, se pudesse ser colocada em leilão, o preço inicial seria superior a 20 milhões de dólares. O último cavaleiro agraciado com essa Ordem, Miguel 1º da Romênia, morreu em 2017. No entanto, o destino de sua medalha é incerto - oficialmente, o objeto está armazenado na propriedade de Miguel 1º em Versoix, na Suíça. Mas há boatos de que teria sido vendida nos anos 1980 por cerca de 4 milhões de dólares.

A Ordem da Vitória foi concedida apenas a generais e marechais por suas ações no planejamento e administração militar que deram origem a uma “operação bem-sucedida no âmbito de uma ou várias frentes, resultando em uma mudança radical da situação em favor do Exército Vermelho”, reza o estatuto da Ordem. Mas por que e quando a URSS precisou de uma honra tão especial para seus militares? 


Nem um passo para trás!

A decisão de criar a Ordem da Vitória foi tomada após o primeiro grande sucesso do Exército Vermelho na Segunda Guerra Mundial – mais especificamente, a Batalha de Stalingrado, que durou de julho de 1942 a fevereiro de 1943.

O ano de 1942 como um todo foi uma época bastante difícil para os soviéticos na Grande Guerra Patriótica (período em que a Rússia esteve na Segunda Guerra Mundial). O Exército Vermelho sofreu perdas drásticas com o ataque dos nazistas no sul da Rússia, e os soldados estavam aterrorizados com seu destino iminente. Para fortalecer a disciplina no Exército por meio do medo, Josef Stálin, como Comissário de Defesa do Povo, emitiu o decreto nº 227, de 28 de julho de 1942, apelidado de “Nem um passo para trás!” na propaganda de massa soviética.

O decreto estabelecia batalhões penais que deveriam ser enviados para as seções mais perigosas do campo de guerra. Esses batalhões eram compostos por soldados que já haviam tentado desertar. Mas Stálin também entendeu que, para elevar os espíritos de seus comandantes de guerra, era inviável recorrer apenas ao medo. Os comandantes eram ambiciosos, então, deveriam ser criadas novas distinções e estímulos positivos.

Nos anos de 1942 e 1943, Stálin iniciou a criação de várias ordens destinadas a comandantes militares, nomeadas em homenagem a grandes expoentes militares da Rússia: Aleksandr Suvorov, Mikhail Kutuzov, Fiódor Uchakov e Pável Nakhimov.

A Ordem da Vitória deveria ser a mais importante de todas elas. Em julho de 1943, enquanto a Batalha de Kursk estava em curso, os primeiros projetos da Ordem da Vitória foram apresentados a Stálin.


Torre como marca da vitória

Stálin, porém, não gostou dos esboços. Em outubro de 1943, em vez dos perfis de Lênin e Stálin no anverso (frente) do medalhão, Stálin ordenou que a torre Spasskaya (a torre do relógio) do Kremlin de Moscou fosse retratada na condecoração. Foi assim que, em 5 de novembro de 1943, Stálin aprovou a versão final da medalha – e gostou tanto da “amostra de teste” que até a manteve. Três dias depois, a Ordem foi oficialmente estabelecida, enquanto iniciava a produção das referentes insígnias.

O design da Ordem foi criado pelo artista Aleksandr Kuznetsov (1894-1975), que também desenvolveu outra medalha militar de alto escalão, a Ordem da Guerra Patriótica. A insígnia deveria ser feita com diamantes e rubis, por isso a criação foi confiada aos especialistas da fábrica de Joias e Relógios de Moscou.

Inicialmente foi feito o plano de criar 30 cópias da Ordem. Cada uma delas exigia 180 diamantes, 50 diamantes de lapidação rosa e 300 gramas de platina. No total, os criadores receberam 5.400 diamantes, 1.500 diamantes de lapidação rosa e 9 quilos de platina. No entanto, rubis artificiais foram eventualmente utilizados para os medalhões da Ordem, porque todos os naturais tinham tonalidades diferentes entre si, o que faria as condecorações parecerem maculadas.

Todas as ordens foram feitas à mão. No total foram produzidos 22 exemplares, mas três deles nunca foram concedidos. De acordo com um exame pericial conduzido em 2010 pelos Museus do Kremlin de Moscou, os medalhões continham diamantes da Ordem, mas também joias usadas ​​pelos membros da família Romanov. Após a queda do Império Russo, essas condecorações e joias foram retiradas do tesouro dos tsares, desmontadas, e as pedras acabaram nos cofres soviéticos.


Os medalhões da Ordem e onde estão agora

Todas as Ordens da Vitória é feita de platina, e a inscrição “ПОБЕДА” (“Vitória”), de ouro. A medalha tem 174 diamantes (16 quilates no total) e 5 rubis artificiais de 5 quilates, 25 quilates em cada uma delas. Os detalhes – a muralha do Kremlin, o Mausoléu, os ramos de carvalho e louro –, incrustados com pequenos diamantes, são feitos de platina dourada. Somente os feches, o parafuso e a porca são de prata. A Ordem pesa 78 gramas no total. Uma característica única dos medalhões da Ordem é que não têm números de série – a condecoração foi inicialmente projetada para ser uma das mais raras existentes. Existem outras ordens que existem em menos cópias, mas não são sequer rivais da Ordem da Vitória em termos de valor.

A Ordem foi concedida pela primeira vez em 10 de abril de 1944 – aos marechais Gueórgui Jukov (1896-1974) e Aleksandr Vassiliévski (1895-1977), e ao comandante-chefe Iossef Stalin. Todos os três foram premiados em homenagem à libertação da margem direita da Ucrânia. Mais tarde, em 1945, os mesmos três comandantes foram homenageados com a mesma condecoração pela segunda vez.

Marechal Gueórgui Jukov, Herói da União Soviética, primeiro a receber a Ordem da Vitória.


No total, a Ordem foi concedida 20 vezes a 17 pessoas, três delas (mencionadas acima) receberam duas vezes, e houve uma revogação póstuma. O general Ivan Tcheriyakhovski (1907-1945) deveria receber a Ordem em 23 de fevereiro de 1945, mas morreu em 18 de fevereiro e, portanto, não chegou a concretizar o feito.

A medalha também foi concedida a cinco estrangeiros. O marechal de campo britânico Bernard Montgomery e o presidente norte-americano Dwight Eisenhower foram agraciados em 5 de junho de 1945, “pelos extraordinários sucessos na condução de operações militares de grande alcance que resultaram na vitória das Nações Unidas sobre a Alemanha de Hitler”.

Marechal de campo britânico Bernard L. Montgomery (com a medalha da Ordem da Vitória) e Josef Stálin


O rei Miguel 1º da Romênia recebeu a medalha em 6 de julho de 1954, por sua decisão de prender colaboradores nazistas no governo romeno, em 23 de agosto de 1944, quando a vitória decisiva sobre os nazistas ainda não havia sido alcançada.

Já o marechal da Polônia Michał Rola-Żymierski, foi condecorado em 9 de agosto de 1945, por conduzir operações contra os nazistas – o mesmo que o marechal da Iugoslávia, Josip Broz Tito, que foi galardoado em 9 de setembro de 1945.

Rei Miguel 1º da Romênia com a Ordem da Vitória


O Secretário-Geral do Comitê Central do Partido Comunista da URSS Leonid Brejnev, que recebeu a Ordem em 1978, foi postumamente destituído dela em 1989, porque se considerou que tal concessão ia contra o estatuto – o líder soviético não havia conduzido operações militares decisivas na Segunda Guerra Mundial. O decreto para revogação da Ordem foi assinado por Mikhail Gorbatchov.

O Secretário-Geral do Partido Comunista Leonid Brejnev, aqui fotografado com a Ordem da Vitória, teve sua condecoração cassada postumamente por Mikhail Gorbatchov, em 1989.


Os Museus do Kremlin de Moscou possuem a maior coleção de medalhões da Ordem da Vitória: oito delas. Uma delas, que antes pertenceu ao marechal Semion Timochenko (1895-1970), e outro, que nunca foi premiada, estão armazenados no Museu do Fundo Estatal de Metais e Pedras Preciosas da Federação Russa (Gokhran). Outro medalhão da Ordem não premiado permanece guardado no Hermitage. Já o paradeiro do terceiro medalhão da Ordem nunca dado é um mistério. Além disso, não se sabe a localização exata do medalhão concedido a Michal Rola-Żymierski.



Fonte: Russia Beyond


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