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Em julho de 1918 a Marinha Real britânica desencadeou ou ousado reide contra a base de Zepellins em Tondern, Dinamarca, o primeiro ataque com porta-aviões da história militar.
Em 1918, a Marinha Real britânica colocou em serviço um novo avião especialmente concebido para operar com o HMS Furious: o Camel naval 2F.1. Este era uma variante navalizada do altamente manobrável Sopwith Camel, o icônico caça britânico da Primeira Guerra Mundial. Para colocar em perspectiva, o Camel tinha especificações de desempenho comparáveis a um automóvel atual, atingindo uma velocidade de 113 milhas por hora e um alcance máximo de 300 quilômetros.
O 2F.1 navalizado tinha asas mais curtas, uma cauda dobrável para facilitar o armazenamento no convés e ganchos para que os guindastes montados no navio pudessem facilmente retirá-lo da água depois do pouso e do abandono pelo piloto. O trem de pouso foi projetado para ser descartado, para permitir aterrissagens na água mais seguras.
O 2F.1 era equipado com um novo motor Bentley BR1 e teve substituída uma das duas metralhadoras Vickers sincronizadas com a hélice por uma metralhadora Lewis, mais adequada para atacar Zeppelins de baixo para cima. Além disso, podia levar bombas de oitenta a cem libras, aproximadamente equivalentes em peso a uma única granada de artilharia pesada.
Três Camel 2F.1 enfileirados no convoo do HMS Furious
O HMS Furious também conduzia os aviões Sopwith 1 ½ Strutter, mas estes eram reservados para as missões de observação, altamente necessárias. O Furious agora transportava caças capazes e sete pilotos experientes treinados para operá-los. A questão era onde seriam utilizados? Como a base de Zeppelins em Tondern, na costa da Dinamarca, era a única dentro do alcance, ela se apresentava como um alvo compensador e adequado.
A base de Zeppelins em Tondern, com seus três grandes hangares
A primeira tentativa de ataque, no entanto, realizada no final de junho de 1918, falhou devido aos fortes ventos impossibilitaram o lançamento das aeronaves. O HMS Furious e suas escoltas foram obrigados a abortar a missão para não serem descobertos.
O Furious partiu novamente três semanas depois, no dia 17 de julho, acompanhado por um esquadrão de cruzadores e encouraçados, bem como um grupo de destroieres de escolta. O plano da Operação F7 era navegar com a força até 12 milhas da costa alemã. Dessa posição os Camels decolariam em duas levas, utilizariam o farol dinamarquês de Lyngvig como auxílio de navegação, voariam pela costa em direção aos hangares dos Zeppelins em Tondern, que seriam atacados com cada aeronave lançando duas bombas Cooper de cinquenta libras. No entanto, se eles encontrarem os Zeppelins em voo durante a missão, deveriam atacá-los, mesmo que isso significasse alijar as bombas e o combustível necessário para voltar para casa. Os militares britânicos estavam dispostos a fazer grandes sacrifícios para destruir os dirigíveis alemães.
Mapa mostrando o deslocamento dos Camel por ocasião do reide contra Tondern
Novamente, o HMS Furious deparou-se com ventos fortes quando chegou ao ponto de lançamento em 18 de julho, mas estes se acalmaram no início da manhã do dia 19. Às 3 horas da manhã o porta-aviões começou a lançar os caças 2F.1, uma operação que levou vinte minutos. Imediatamente, o Camel pilotado pelo capitão T. K. Thyne apresentou problemas no motor e teve que fazer um pouso de emergência no mar. Ele abandonou o Camel e foi resgatado, mas o avião foi acidentalmente atropelado pelo destroier enviado para buscá-lo.
A primeira onda de três Camels levou uma hora e meia de voo para percorrer as oitenta milhas que separavam o navio de Tondern e localizar a base aérea. Dos três hangares da base, os dois menores, denominados "Toni" e "Tobias", poderiam acomodar um único Zeppelin, mas ambos estavam vazios naquela manhã. No entanto, havia dois Zeppelins – o L54 e o L60 - dentro da instalação maior, o enorme hangar de 740 por 130 pés chamado de "Toska".
O capitão W. F. Dickson liderou o ataque, mas suas bombas não atingiram o alvo. Seus alas foram mais bem sucedidos, as pequenas bombas perfuraram o telhado do mega-hangar “Toska” e incendiaram sua estrutura.
O imenso hangar "Toska" em chamas após o ataque. A guarnição alemã, no entanto, conseguiu salvá-lo da destruição total
A segunda onda de Camels chegou dez minutos depois e foi capaz de localizar facilmente a base pela coluna de fumaça com "mil pés de altura" proveniente do hangar queimado. Enquanto se posicionavam sobre o alvo para lançarem suas bombas, foram recebidos por um ineficaz fogo de fuzis, disparados pelas tripulações dos Zeppelins. O comandante alemão de Zeppelin, Horst Treusch von Buttlar, lembrou mais tarde dos pilotos britânicos acenando para eles enquanto atravessavam incólumes o fogo das armas de pequeno calibre. Os aviadores alemães conseguiram salvar os hangares removendo as bombas que estavam armazenadas dentro deles antes que os incêndios pudessem atingi-las, perdendo, nesse processo, apenas quatro homens feridos. No entanto, ambos os caros e complexos dirigíveis se incendiaram até seus esqueletos.
Os pilotos britânicos agora precisavam voltar à frota, mas estavam sem combustível e só podiam estimar a posição do HMS Furious. Somente o Capitão B. A. Smart conseguiu encontrá-lo e ter seu avião devidamente recuperado. O capitão S. Dawson, com pouco combustível, foi forçado a pousar no mar, sendo resgatado pelo destroier HMS Violent. O Camel do capitão W. A. Yeulett desapareceu no mar e seus restos mortais e os destroços de seu avião foram recuperados da água dias mais tarde.
Dois Zeppelins como este - o L54 e o L60 - foram destruídos no reide de Tondern
Os restos calcinados do L54 e do l60 no interior do hangar "Toska"
Outros três pilotos lidaram com o seu problema de combustível aterrissando na Dinamarca, país neutro, onde foram internados sob circunstâncias bastante confortáveis. Todos os três escaparam de seus captores embarcados em navios escandinavos e voltaram para o serviço na Marinha Real em algumas semanas.
O reide improvável foi saudado como um grande sucesso pelas imprensas inglesa e americana, incluindo com um artigo publicado no New York Times. Os pilotos receberam condecorações e o HMS Furious recebeu a visita do rei George. Na verdade, os Camel haviam infligido uma quantidade surpreendente de danos, apesar de sua limitadíssima capacidade de transporte de bombas. Mesmo que os hangares alemães tenham sobrevivido com poucos danos, a base em Tondern foi abandonada. Sua localização perto da costa foi considerada muito vulnerável. Hoje, um museu conta a história da base.
Fontes:
- LAYMAN, R. L. Furious and the Tondern Raid. Warship International. Vol. X, n. 4. pp. 374–385, 1973.
- TILL, Geoffrey. Air Power and the Royal Navy, 1914–1945: A Historical Survey. London: Macdonald and Jane's, 1979.
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