"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



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quinta-feira, 5 de novembro de 2020

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR: VERA GEDROITS, A PRINCESA QUE TRANSFORMOU A MEDICINA DE GUERRA

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Vera Gedroits sabia que corria contra o tempo. E tinha de escapar. O conflito armado na frente de batalha havia recrudescido e chegava cada vez mais perto.


Por Chris Baraniuk

Só quando o relógio marcava 2h, o enfrentamento começava a dar os primeiros sinais de arrefecimento. Enquanto isso, o trem onde estava, todo apagado para evitar ser avistado pelos inimigos, cortava a paisagem na calada da noite. O veículo - um hospital móvel - não seria um alvo importante de qualquer maneira. Mas agora que estava em movimento, as bombas começavam a cair em sua direção.

Gedroits olhou em volta para alguns dos pacientes a bordo. Ao todo, havia cerca de 900 pessoas, muitas delas urrando de dor em macas fixadas nas paredes devido a seus graves ferimentos. Infecções, feridas abertas... Gedroits não tinha tempo nem para respirar. Durante as horas seguintes, ela e sua equipe realizaram cirurgias e trataram aqueles que podiam ser tratados, enquanto o trem se afastava da frente de batalha. Cerca de 12 horas depois, o veículo finalmente tomou uma distância segura.

Duas semanas depois, em 10 de março de 1905, a batalha terminou com a derrota do Exército russo.


Voluntária na Cruz Vermelha

Este seria um ponto de virada na vida de Vera Ignatievna Gedroits, descendente da realeza lituana, cirurgiã talentosa e excêntrica. Conhecida justificadamente como princesa Gedroits, era uma figura extraordinária. Apesar disso, continua em grande parte desconhecida no Ocidente.

Como pioneira da medicina no campo de batalha, Gedroits fez contribuições que, segundo especialistas, poderiam ter salvo milhares de vidas durante a 1ª Guerra Mundial se tivessem sido mais compreendidas na época.

"Quando ouvi sua história pela primeira vez, ainda me lembro do que pensei: 'Por que ainda não fizeram um filme sobre isso?'", diz Melanie Stapleton, professora-assistente de medicina da Universidade de Calgary, no Canadá.

Mas quem era exatamente Vera Gedroits e por que não é tão lembrada?

Mesmo uma das principais informações sobre Gedroits - o ano do seu nascimento - tem sido motivo de dúvida. Muitos artigos dizem que ela nasceu em 1876, mas ela parece ter corrigido isso em seus documentos pessoais. Na verdade, Gedroits nasceu seis anos antes, em 1870, em Kiev, atual Ucrânia.

Não há muitos detalhes em inglês disponíveis sobre sua infância, mas sabe-se que ela vinha de uma família rica e estudou em casa antes de terminar a escola em São Petersburgo. Quando tinha 16 anos, foi presa por participar de atividades revolucionárias organizadas por uma facção de esquerda.

Gedroits voltou, então, para casa, mas logo fugiu para Lausanne, na Suíça. Foi lá que estudou medicina. Gedroits teria sido uma das milhares de mulheres que estudaram medicina naquele país no final do século XIX e início do século XX. À época, a Suíça era uma exceção à regra: suas universidades aceitavam estudantes de medicina do sexo feminino.


Começo da carreira

Em 1901, Gedroits retornou à Rússia, onde mais tarde passaria pelos exames de admissão e oficialmente ganharia o título de médica. Sua carreira na área não começou no campo de batalha, mas em uma propriedade industrial. Foi nomeada cirurgiã na fábrica de cimentos de Maltsov, no distrito de Zhizdrinsky, no oeste da Rússia.

De acordo com um artigo em russo sobre sua carreira, seu trabalho ali foi transformador. Ela planejou montar uma estrutura hospitalar adequada e, em pouco tempo, instalara equipamentos de fisioterapia e uma máquina de raios-X - algo absolutamente inovador para a época. Para se ter uma ideia, os raios-X haviam sido descobertos em 1895, menos de uma década antes. Em seu primeiro ano, 103 pacientes de casos cirúrgicos foram tratados em seu hospital; apenas dois morreram.

Os operários recebiam tarefas fisicamente exaustivas. Havia muito trabalho pesado e, em uma seção que fazia vidro, a matéria-prima era moldada por meio do sopro. Em seus relatos, Gedroits observou que esse tipo de trabalho enfraquecia gradualmente os músculos abdominais. Foi por isso que ela acabou operando tantos pacientes com hérnias, supunha.

Ser uma especialista nessa área do corpo era incomum na época - e isso acabou beneficiando-a no futuro de maneiras que ela própria não poderia imaginar. Somente dois anos depois, a Guerra Russo-japonesa começaria. Gedroits se ofereceu como voluntária para a Cruz Vermelha.

Vera Gedroits destacou-se por sua atuação na Guerra Russo-Japonesa, conflito extremamente mortífero. Na imagem, feridos russos sendo atendidos em um posto de socorro

O conflito foi muito sangrento e degradante. É frequentemente descrito como uma espécie de prévia da 1ª Guerra Mundial, que começaria cerca de uma década depois. Ambos tinham trincheiras, muitos impasses e numerosas "vitórias" de batalha em que ambos os lados perderam milhares de homens.

Em última análise, cerca de 100 mil pessoas foram mortas na guerra russo-japonesa ao fim da qual a Rússia foi efetivamente derrotada - uma surpresa considerando que o Japão era um país muito menor e cheio de problemas econômicos.


Dificuldades no front

Existem poucas fontes em inglês que detalham as atividades de Gedroits durante a guerra. No entanto, em 1997, o médico militar britânico John Bennett escreveu um artigo em uma revista científica no qual fez resumo traduzido do próprio registro dela sobre o conflito.

O artigo de Bennett parece nunca ter sido publicado, mas um rascunho foi enviado para Yuri Kolker, um ex-produtor de filmes russos no Serviço Mundial da BBC, que gentilmente compartilhou a carta com a reportagem da BBC Future.

Em 26 de setembro, Gedroits estava montando um hospital de campanha em um pequeno vilarejo perto da cidade de Mukden, hoje conhecida como Shenyang, na China. Este seria um local estratégico para as forças russas nos meses seguintes.  O trem de Gedroits era o coração de seu destacamento no local, mas o próprio hospital não estava confinado aos vagões. Ele havia se expandido pelos arredores do trem, em fileiras de barracas. Cabanas de camponeses também foram tomadas e convertidas em um centro cirúrgico, assim como alguns armazéns.

Para a sala de operações, as paredes do interior eram cobertas de argila e depois caiadas de branco. Lençóis esterilizados também foram usados para cobrir o local e torná-lo o mais higiênico possível.

No primeiro mês ali, Gedroits e sua equipe se viram tratando uma imensa variedade de lesões graves. Muitas envolviam ferimentos de balas e fragmentos de granadas. Havia mais de 700 casos de tais lesões nos membros, 143 no peito e 61 no abdômen, por exemplo.

Gedroits relatou o caso de um homem que foi hospitalizado com fragmentos de granada alojados em sua cabeça. A lesão causou a perda de controle do lado esquerdo do seu corpo. Gedroits fez uma incisão na cabeça do paciente, abriu as feridas com uma pinça e retirou três grandes pedaços de estilhaços.

Um punhado de outros pequenos estilhaços também foi removido. Após a operação, o paciente pediu um cigarro. "Aqui - tente com a mão esquerda", disse Gedroits. Para a satisfação dela, ele foi capaz de segurá-lo.


Aprendendo com os ferimentos

A médica fez anotações extensas sobre os ferimentos que tratou. Também escreveu sobre os tipos de armas que os causaram. Por exemplo, ela descobriu que fragmentos de granadas e bombas explosivas deixavam uma marca amarela na pele.

Relatório médico contendo os ensinamentos adquiridos no conflito, publicado por Vera Gedroits

Com o passar dos meses, o clima esfriou. Um dos maiores desafios que Gedroits e seus colegas enfrentavam em seu trem hospitalar era justamente as baixas temperaturas, que afetavam gravemente os pacientes hospitalizados nas tendas e os soldados feridos que voltavam do front. Alguns chegaram a sofrer queimaduras por frio.

Mas, em janeiro daquele ano, um vagão que funcionava como centro cirúrgico foi adicionado ao trem - um importante complemento nas instalações. No mês seguinte, o hospital móvel foi enviado ao longo da estrada de ferro de Mukden para as minas perto de Fushan, onde se encontravam muitos homens feridos.

Nas primeiras quatro semanas, Gedroits realizou nada menos que 56 operações. Pacientes convalescentes foram colocados em vagões adicionais, aquecidos, onde podiam se recuperar com maior conforto do que as tendas ao ar livre.

Mas foi nessa época que o controle do Exército russo sobre a região começou a se afrouxar. Os japoneses realizaram um ataque inteligente durante a famosa Batalha de Mukden. Em 22 de fevereiro, Gedroits e seu trem foram obrigados a recuar. Foi neste dia que ocorreu a ousada fuga que abre esta reportagem.

Em suas anotações, Gedroits descreveu principalmente a dificuldade apresentada pelas lesões abdominais. Médicos militares estavam bastante familiarizados com este problema na época, diz o cirurgião aposentado e historiador britânico Michael Crumplin. Em muitos casos, os cirurgiões optavam por não intervir - em vez disso, os soldados com ferimentos abdominais seriam simplesmente monitorados na esperança de que sua condição melhorasse. Muitas vezes, o paciente morria.

Mas, contrariando o que era praxe na época, Gedroits interveio em alguns casos, realizando laparotomias - incisões exploratórias do abdômen - para ver se conseguia interromper o sangramento ou drenar o excesso de líquidos, por exemplo.

De acordo com Bennett, Gedroits descreveu as vantagens de fazer esse procedimento em suas anotações nos anos seguintes. Neles, destaca a necessidade de que os exames sobre os abdomens feridos deveriam ser concluídos o mais rápido possível.

Crumplin explica que, como os músculos da parede abdominal são muito apertados, a anestesia deve ser usada para relaxá-los durante as operações. É possível conter hemorragias e fezes que vazem do intestino, mas o risco de infecção continua alto. Há também grandes vasos sanguíneos suprindo o intestino; qualquer corte mal feito pode ser fatal. E muitos órgãos vitais - como o pâncreas - estão próximos, aumentando os riscos de morte se a operação não der certo. Além disso, não há certeza de que o intestino se recupere uma vez operado.

"Todo o intestino para de funcionar, a barriga se distende, você vomita e morre de desidratação", diz Crumplin. "As cirurgias na região abdominal trazem consigo enormes desafios".

Gedroits parecia ter conhecimento de tudo isso, mas permaneceu indiferente, aprimorando o atendimento.  Seu trabalho chegou a ser mencionado em um relatório britânico sobre o serviço médico russo durante a Guerra Russo-Japonesa, mas há poucos detalhes sobre ele. A falta de documentação sobre as atividades da Gedroits significa, nas palavras de Steven Heys, chefe da escola de medicina da Universidade de Aberdeen, no Reino Unido, que "perdemos uma enorme oportunidade".

Gedroits descobriu que levar o trem-hospital o mais próximo possível do front de batalha era crucial - como analisar alguns ferimentos dentro de prazos específicos. Três horas ou menos para feridas abdominais, por exemplo. Ela fez, inclusive, anotações sobre o melhor tipo de bandagem para usar em determinado estágio do tratamento.

Se outros tivessem prestado atenção a essas percepções, as baixas durante a 1ª Guerra Mundial poderiam ter sido reduzidas, acrescenta Heys: "Afinal, seus registros se tornaram públicos em 1905, dez anos antes do início da guerra".

Findo o conflito, a vida de Gedroits não ficou menos atribulada. Ela retornou ao posto que tinha na fábrica, expandindo o hospital que administrava ali. Alguns anos depois, passou a trabalhar para a família real russa.

Como cirurgiã no hospital do palácio Tsarskoye Selo, chegou a ensinar até a imperatriz Alexandra e suas filhas Tatiana e Olga as técnicas básicas de cirurgia. Em uma foto, a própria imperatriz é vista entregando instrumentos a Gedroits enquanto ela realiza uma operação.

Gedroits, auxiliada pela Imperatriz Alexandra e pelas Grã-duquesas Olga e Tatiana, opera um paciente

Mas Gedroits não era bajuladora real. Conta-se que ela teria empurrado o confidente da imperatriz, Grigori Rasputin, quando ele se recusou a sair de seu caminho. Em 1917, a revolução ameaçava a existência da família real russa. Gedroits voltou, então, a trabalhar como cirurgiã no campo de batalha na 1ª Guerra Mundial. Acabou ferida e foi morar em Kiev, na Ucrânia. Ali, Gedroits foi contratada para ensinar cirurgia pediátrica e, posteriormente, nomeada professora.

Mas a medicina não era sua única paixão. Ela se tornou poeta, publicando vários livros. Em Kiev, sua excentricidade era notada pelos moradores locais. Gedroits era conhecida por suas roupas masculinas, sua voz profunda e seu relacionamento íntimo com mulheres. Muitos dizem que ela era lésbica.

Em 2007, um artigo na revista científica Clinical and Investigative Medicine lamentou o fato de que o mundo parece ter se esquecido de Gedroits. Ela é um exemplo clássico de como o conhecimento e a experiência em benefício dos outros podem se perder. Em parte por causa das circunstâncias, mas também, talvez, porque a sociedade prefira prestar atenção a certos tipos de pessoas em detrimento de outras.

"Estamos celebrando muita gente hoje em dia, mas nos esquecemos dessa mulher incrivelmente bem-sucedida e muito interessante", diz Wilson. As probabilidades estavam contra ela, acrescenta Stapleton. "Ela era aliada da família real, mulher, contrariava as normas sociais - publicava (seus livros) em russo. Qualquer uma dessas coisas seria usada contra ela", explica ela. "Tudo isso combinado impediu que ela ganhasse o reconhecimento que deveria".

Vera Gedroits morreu em 1932 e foi enterrada em Kiev. Segundo relatos, seu túmulo teria sido cuidado por muitos anos por um arcebispo que ela havia tratado quando jovem. Quando ele morreu, escolheu ser enterrado ao lado dela.

Parece uma pena que a fascinante história de vida de Gedroits não seja conhecida mais amplamente. O primeiro pensamento de Stapleton, ao descobrir a história extraordinária de Gedroits, ainda parece perfeitamente adequado: a vida dela não valeria um filme?

Fonte: BBC


terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

A BATALHA DE MUKDEN (1905)

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No dia 10 de março de 1905 terminava em Mukden, capital da Manchúria, a maior batalha da guerra entre a Rússia e o Japão.


Por Rachel Gessat


"Os barris de vodca eram sangrados a baionetas, abertos a faca e a machado. Um bando de homens desvairados lutava para abri-los, e bebia o líquido precioso em xícaras, jarras e velhas latas de sardinha. Cossacos, muçulmanos, soldados de infantaria, dragões, militares de todos as patentes participaram dessa louca bebedeira. Envoltos na cinza e na fumaça dos depósitos em chamas, eles pareciam demônios do álcool, lutando nos escombros do inferno."

Com essas palavras, um repórter descreveu a situação na cidade de Mukden, poucos dias antes de ser tomada pelas tropas japonesas. A capital da Manchúria foi palco da principal batalha da Guerra Russo-Japonesa (1904-1905). Segundo um correspondente da revista norte-americana Times, durante as várias semanas de batalhas, o comando militar tornou-se cada vez mais brutal e selvagem.

A bravura animalesca e a astúcia individual ou de um batalhão definiam o vencedor do dia. A 3 de março de 1905, os japoneses romperam a linha de defesa russa. Quatro dias mais tarde, o comandante-geral do exército da Rússia ordenou a retirada de suas tropas, para escapar de um cerco total. A retirada virou fuga em pânico e, em 10 de março, as tropas japonesas ocuparam Mukden.

Nos combates, 70 mil japoneses e 20 mil russos morreram ou saíram feridos, vítimas de uma guerra colonial supérflua entre a potência russa e o emergente Japão. Ambos ambicionavam os territórios da Manchúria e da Coreia. A Rússia havia tomado a dianteira na corrida imperialista: arrendara a península chinesa de Liotung e conquistara o acesso ao Oceano Pacífico via Port Arthur. O Japão estava decidido a impedir, se necessário pelas armas, uma nova expansão russa no Oriente.


Avaliação equivocada

A Rússia entrou na guerra com uma avaliação completamente equivocada da situação. Um ano antes da derrota devastadora em Mukden, um alto diplomata havia dito ao general Kuropatkin: "Alexei Nikolaevitch, você conhece a situação interna da Rússia. Para deter a revolução, precisamos de uma pequena guerra vitoriosa". Uma vitória militar deveria despertar o sentimento nacionalista e desviar a atenção das crescentes tensões no império czarista. Acreditava-se que o Japão não teria condições de resistir às tropas russas.

Tropas do 55° Regimento de Podil russo se concentrando para a Batalha de Mukden


Arrogante, Moscou negou-se a fazer concessões, quando os japoneses quiseram resolver politicamente o conflito de interesses na China e na Coreia. Na madrugada de 9 de fevereiro de 1904, os japoneses atacaram de surpresa navios de guerra russos na base naval de Port Arthur (atual Lüshunkou), na Manchúria, sem declarar guerra oficialmente. Esse episódio marcou o início de uma série de derrotas arrasadoras para a Rússia, que pensava apenas numa "pequena guerra contra o nanico Japão".

Poucos semanas depois de perderem Mukden, os russos passaram por um fiasco no mar, próximo a Tsushima. A frota russa do Báltico navegara 28 mil quilômetros para contornar a África. Chegando ao estreito de Tsushima, foi totalmente dizimada pelos japoneses, nas noites de 27 e 28 de maio de 1905. Essa derrota forçou o czar Nicolau II a aceitar, em 9 de junho, as negociações de paz propostas pelo presidente norte-americano Theodore Roosevelt.

A guerra terminou com o Tratado de Portsmouth, assinado a 5 de setembro de 1905. Para a Rússia, o conflito não passou de uma dispendiosa aventura colonialista, com considerável perda de prestígio nas relações internacionais. No campo da política interna, as consequências foram fatais: a guerra, que visara a acalmar as tensões sociais, desembocou na Revolução Russa de 1905.

Fonte: DW


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quarta-feira, 16 de outubro de 2019

CRUZADOR "AURORA": SÍMBOLO DA REVOLUÇÃO RUSSA

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Todo russo – e cidadãos mundo afora – aprendem que o Aurora disparou o tiro que marcou o início da Revolução Bolchevique, porém, a história completa dessa embarcação vai muito além no tempo. O famoso cruzador é, de fato, um dos navios de guerra mais heroicos e inafundáveis da história naval russa.

Por Boris Egorov


O Aurora, o navio de guerra mais lendário da Rússia, é sobretudo associado à Revolução de 1917. Acredita-se – à parte de controvérsias – que seu tiro em branco foi o sinal para os soldados e marinheiros revolucionários lançarem um ataque ao Palácio de Inverno, onde o Governo Provisório estava baseado; e assim, teria começado uma nova era na história russa. Antes desse tumultuado evento, no entanto, o Aurora superou diversos momentos difíceis e sobreviveu a tragédias.

A construção do cruzador começou em 1897 e foi concluída seis anos depois. Por ordem pessoal de Nicolau II, o navio recebeu o nome da deusa romana da aurora.

O Aurora no início do século XX


Guerra contra o Japão

O primeiro grande conflito do navio foi a Guerra Russo-Japonesa. Em outubro de 1904, como parte do Segundo Esquadrão do Pacífico, o Aurora viajou ao mar Báltico, iniciando um longa trajeto rumo ao Extremo Oriente para combater os japoneses.

No caminho, o esquadrão quase deu início a uma guerra contra o Império Britânico. Em uma noite coberta por nevoeiro, os marinheiros russos confundiram os barcos de pesca ingleses com torpedeiros japoneses e abriram fogo.

O incidente foi resolvido pacificamente, mas o Aurora não saiu ileso. Assim como ocorreu com os pescadores ingleses, o cruzador russo também foi confundindo na escuridão com um navio inimigo e danificado por disparos. Além disso, o padre ortodoxo que estava a bordo ficou gravemente ferido e morreu pouco tempo depois.

Na maioria das vezes, porém, o Aurora foi um navio de sorte, especialmente quando entrou em ação na desastrosa Batalha de Tsushima contra a frota japonesa, mas milagrosamente sobreviveu. Mesmo sofrendo 18 ataques de projéteis inimigos, o cruzador conseguiu encontrar refúgio no porto neutro de Manila, onde foi alocado.

O casco do Aurora foi severamente avariado na Batalha de Tsushima

Em 1910, o Aurora visitou a cidade italiana de Messina para receber uma medalha pelos marinheiros russos que participaram de operações de resgate após o terremoto de 1908. Naquela época, um incêndio começou na cidade durante a noite, e a tripulação do Aurora foi a primeira a chegar para socorrer. Por esse feito, eles também foram premiados com milhares de laranjas e limões.


Primeira Guerra Mundial e Revolução

Durante a Primeira Guerra Mundial, o Aurora ficou encarregado sobretudo de missões de patrulha e apoio às operações de tropas terrestres. Também sobreviveu com sucesso a confrontos com navios de guerra e hidroaviões inimigos.


A hora de o Aurora brilhar chegou quando os bolcheviques invadiram o Palácio de Inverno e derrubaram o Governo Provisório. O tiro em branco do navio de guerra foi um sinal para o início do ataque, embora algumas pessoas afirmem que o Aurora abriu fogo somente após o assalto já ter começado. Desde então, o navio de guerra passou a ser celebrado como um dos principais símbolos soviéticos.

Quando a Guerra Civil Russa chegou ao fim, em 1922, o Aurora foi convertido em um navio de treinamento. Quando a Segunda Guerra Mundial começou, a embarcação retornou ao serviço militar e foi incluída na defesa antiaérea de Leningrado.

O Aurora em serviço na defesa de Leningrado


Novas tarefas - museu e símbolo

Depois de 1945, os dias conturbados do navio enfim terminaram. Desde então, o navio ganhou um lar permanente na margem do rio Neva, passando a servir como museu e um dos símbolos de Leningrado (atual São Petersburgo).

Um último episódio, entretanto, resgatou o passado revolucionário do antigo navio. Em 1975, o capitão Valéri Sablin e seus seguidores apreenderam uma fragata antissubmarino em Riga e seguiram a Leningrado para iniciar uma nova revolução. Os planos de Sablin para ancorar seu navio de guerra ao lado do símbolo da Revolução Russa nunca se materializaram, porque sua embarcação foi rapidamente interceptada pela Frota do Báltica da União Soviética.

Fonte: Russia Beyond



segunda-feira, 11 de junho de 2018

IMAGEM DO DIA - 11/6/2018

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Couraçado defesa costeira Almirante Ushakov durante a Batalha de Tsushima (1905).
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terça-feira, 19 de dezembro de 2017

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR – GENERAL IWANE MATSUI

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* 27/7/1878 - Nagoya, Japão

+ 23/12/1948 - Tóquio, Japão


O General Iwane Matsui comandou as forças expedicionárias enviadas para a China durante a Guerra Sino-Japonesa. Foi executado por sentença do Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente no pós-guerra por seu papel no Massacre de Nanquim.


Iwane Matsui nasceu na província de Aichi. Participou na Guerra Russo-Japonesa e se formou na Academia Militar em 1906. Foi comandante do 29º Regimento de 1919 a 1921. Em seguida foi designado para a Força Expedicionária de Vladivostok, onde permaneceu até 1922. Entre 1922 e 1924 foi chefe da Agência de Serviços Especiais de Harbin, na Manchúria e, posteriormente, assumiu o comando do 35º Regimento, posto que ocupou até 1925.

Apís uma breve passagem pelo Departamento de Pessoal do exército, em 1929 recebeu o comando da 11ª Divisão, na qual permaneceu até 1931. Após isso foi incluído na delegação japonesa, em Genebra, na Conferência Mundial do Desarmamento, um esforço por parte da Liga das Nações para promover o desarmamento mundial.

Em 1933, Matsui ascendeu ao generalato e foi membro do Conselho Supremo de Guerra até 1935, quando foi nomeado Comandante-em-chefe do Exército do Distrito de Formosa.

Matsui reformou-se em 1935, mas, em 1937, retornou de sua aposentadoria para comandar a Força Expedicionária de Xangai, que seguiu para tomar a cidade durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa. Este comando foi indicado pessoalmente pelo imperador japonês Hirohito. Ao assumur o comando, de acordo com Fumimaro Konoe, Matsui disse que a única forma de subjugar Chiang Kai-shek era conquistar Nanquim.

Em 23 de agosto, o general Matsui e sua força chegaram ao campo de batalha de Xangai, onde ele recebeu o 10º Exército para o reforço. Em 7 de novembro, Matsui assumiu o comando de todas as forças japonesas na área de Xangai, que foi chamado Exército Expedicionário da China Central. Depois de vencer a batalha de Xangai, Matsui pediu permissão para avançar contra Nanking. Em 1° de dezembro recebeu uma resposta positiva e, embora o comando da Força Expedicionária fosse passado para o príncipe Asaka Yasuhiko, Matsui continuou a ser o comandante-em-chefe na China Central. Ao compartilhar o comando da Força Expedicionária com um parente do Imperador, surgiriam dúvidas sobre Matsui ter a total responsabilidade pelo Massacre de Nanquim que se produziu quando da tomada da cidade.

O General Iwane Matsui comando um desfile em Nanquim. Sua omissão perante o massacre ocorrido na cidade resultaria em sua condenação e execução


No dia 10 de dezembro começou a batalha de Nanquim, que terminou três dias depois. O assassinato e estupro de civis chineses começou imediatamente, mas foi temporariamente interrompido no dia 17, quando o general e príncipe Asaka Yasuhiko marchou para Nanking.

Matsui não estava presente durante o massacre em Nanquim, visto que adoecera, e anotou em seu diário que o estupro e a pilhagem prejudicacam a reputação do Exército Imperial japonês, o que revelou o seu conhecimento do massacre em desenvolvimento. Além disso, em um discurso durante o funeral de um número de policiais mortos em ação, em 7 de fevereiro de 1938, mencionou que "alguns atos abomináveis que ocorreram nos últimos cinquenta dias não serão repetidos".

Tanto o General Matsui como o Príncipe Asaka Yasuhiko foram chamados de volta, em 1938.  Matsui reformou-se definitivamente e fixou-se em Atami, na província de Shizuoka, onde, junto com vários membros de sua comunidade, ajudou a construir uma estátua de Kannon, a deusa da Ásia representa a misericórdia. Em 29 de abril de 1940 foi condecorado por sua participação na guerra.


Julgamento 

Após a Rendição do Japão na 2ª Guerra Mundial, Matsui foi julgado pelo Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente, pela sua omissão durante o massacre de Nanquim. Matsui expressou sua vergonha perante o massacre, mas indiretamente culpou o príncipe Asaka Yasuhiko e Tenente-General Yanagawa Heisuke, comandante do 10º Exército, pelos assassinatos, por não coibirem os homens sob seu comando direto. Matsui afirmou que alguns oficiais riram quando manifestou indignação pelo ocorrido, e que, por encontrar-se enfermo, não poderia intervir.

Em 1948, o Tribunal considerou que Matsui não estava o enfermo suficientemente para não ter tentado impedir a matança, e que ele tinha ciência do que aconteceu em Nanquim. O Tribunal considerou-o culpado de crimes de guerra e ele foi enforcado em dezembro, na Prisão de Sugamo, na mesma cerimônia em que foi enforcado o ex-primeiro-ministro Hideki Tojo.

Seu nome foi incluído no Livro das Almas do Santuário Yasukuni, que é tão venerado indiretamente, o que provocou protestos em todo o mundo, especialmente na China.

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sábado, 28 de outubro de 2017

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR – MARECHAL ŌYAMA IWAO

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* 10/10/1842 - Kagoshima, Japão

+ 10/12/1916 - Tóquio, Japão


O príncipe Ōyama Iwao foi um marechal-de-campo e político japonês, sendo um dos fundadores do Exército imperial japonês.


Ōyama nasceu em família de samurais que pertencia ao clã Shimuzu. Foi um protegido de Okubo Toshimichi, participou da derrubada do Xogunato Tokugawa, e teve um papel importante na Restauração Meiji. Foi comandante-chefe da primeira brigada independente durante a Guerra Boshin. Durante o Cerco de Aizu, foi comandante das posições de artilharia do Exército imperial japonês, no monte Oda. Durante o cerco, foi ferido pela guerrilha de Aizu sob o comando de Sagawa Kanbei.

Em 1870, estudou na Escola Militar Especial de Saint-Cyr na França, e foi o observador militar oficial do Japão durante a Guerra Franco-Prussiana. Estudou três anos (1870-1873) em Genebra, onde aprendeu línguas estrangeiras e ficou fluente em russo. Ōyama ficou conhecido como o primeiro cliente japonês da Louis Vuitton, depois de ter comprado alguns equipamentos durante sua estadia na França. 

Posteriormente voltou à França após ser promovido general para estudos especializados. No seu regresso ao Japão, ajudou no estabelecimento do Exército imperial japonês, que foi usado para reprimir a Rebelião Satsuma, apesar de que Ōyama e seu irmão mais velho fossem primos de Saigō Takamori.

Na guerra sino-japonesa foi designado Comandante chefe do segundo exército japonês, e desembarcou na Península de Liaodong, avançou para Port Arthur em meio a uma tormenta, cruzou Shandong, onde capturou a fortaleza de Weihawei.

Por seus serviços, Ōyama foi incluído no sistema de nobreza japonesa (Kazoku) com o título de marquês, e, três anos depois, foi promovido a marechal. Na guerra russo-japonesa (1904-1905) foi nomeado comandante chefe das forças japonesas na Manchúria. Com a vitória do Japão, o Imperador Meiji o nomeou kōshaku (príncipe).

Ōyama foi ministro da guerra em vários gabinetes e, como chefe de estado, defendeu o poder autocrático da oligarquia (Genrō) indo de contra os direitos democráticos. Entretanto, sob o governo do primeiro ministro Yamagata Aritomo, foi reservado e se retirou dos assuntos políticos. Desde 1914 foi declarado Guardião do selo privado.

O General Ōyama em campanha durante a Guerra Russo-Japonesa


Tinha a habilidade falar e escrever em várias línguas europeias fluentemente, e tinha simpatia com o estilo arquitetônico europeu. Quando foi ministro da guerra, construiu uma casa em Tóquio baseado em um modelo de castelo alemão; entretanto, sua esposa reclamou e insistiu que os quartos das crianças fossem remodelados no estilo japonês, para fazer ênfase a origem japonesa deles. A casa foi destruída durante os bombardeios aéreos na Segunda Guerra Mundial. A esposa de Ōyama, Yamakawa Sutematsu, foi irmã dos antigos vassalos do clã aizu, Yamakawa Horishi e Yamakawa Kenjiro; e era conhecida como uma das primeiras estudantes femininas a serem enviados aos Estados Unidos pela Imperatriz do Japão, no começo da década de 1870. Esteve vários anos nesse país, graduando-se na Vassar College em 1882.

Ōyama foi um homem obeso, cujo peso excedia os 95 kg, e consumia muita carne. Morreu aos 75 anos em dezembro de 1916, e, recentemente, sua morte foi atribuída a complicações de diabetes.



segunda-feira, 21 de agosto de 2017

MUITA POMPA PARA A GUERRA: OS UNIFORMES DA RÚSSIA DO CZAR

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As inúmeras mudanças nos uniformes militares russos na época do último czar.

Por Alexandr Verchínin


O último czar russo, Nikolai II, tinha uma paixão talvez maior do que os seus antecessores por atributos militares externos: manobras, desfiles e uniformes. O seu pai, Aleksandr III, um homem que não gostava de grandes públicos e que apreciava coisas singelas, havia simplificado o uniforme dos soldados russos. Os bordados de renda, o uniforme de gala e os exuberantes enfeites de crina de cavalo foram abolidos.

Já Nikolai II acreditava que os elementos cerimoniais dos uniformes eram parte necessária da vida militar de soldados e oficiais. Mal subiu ao trono, em 1894, e reformulou a roupa da cavalaria. O novo uniforme mais lembrava a vestimenta de seus antecessores distantes que marcharam sobre Paris em 1814: jaquetas de abotoamento duplo afuniladas na cintura com bainha colorida na lapela e punhos. Em vez do simples cinturão de couro com a bainha para a espada, introduzido no reinado anterior, os oficiais voltaram a usar a faixa de gala bordada.

O uniforme simples do Exército introduzido por Aleksandr III se manteve em uso até a guerra russo-japonesa. Os soldados russos foram para essa batalha vestindo túnicas brancas e quepes que variavam de cor, dependendo da unidade militar, mas que eram cobertos por uma capa também branca. Quanto aos oficiais, usavam túnicas brancas.

Por saltar à vista e se distinguir tão bem ao longe, aquele uniforme transformava os soldados russos em alvos fáceis para os artilheiros inimigos. A situação ficou tão grave que os combatentes começaram a pintar a vestimenta por iniciativa própria. Em 1904, teve início a confecção de guimnastiôrkas (tipo de camisa longa e larga)  dos soldados e túnicas dos oficiais em tecido cáqui.

Admirador das pompas militares, Nikolai II posa para fotografia em meio a seus oficiais

A derrota da Rússia na guerra russo-japonesa levou a novas alterações no uniforme. Por um lado, as batalhas demonstraram que a roupa do Exército precisava ser adaptada às novas condições de combate. Por mais que as camisas brancas como a neve fossem do agrado dos soldados, e as brilhantes dragonas ao sol, dos oficiais, não dava para virar mira fácil de um franco-atirador ou de uma metralhadora inimiga.

Em 1907, o exército foi inteiramente vestido com uniformes cáqui. O quepe com pala se impôs definitivamente como principal atributo da chapelaria militar, enquanto as calças largas, enfiadas dentro das botas, substituíram por completo as calças justas, tendo apenas os cavaleiros mantido as reithose (calças justas de equitação) cinzas com elementos coloridos. As túnicas e camisas brancas viraram para sempre “coisa do passado”. Os novos uniformes dos oficiais eram cáqui com bolsos no peito e botões metálicos. As guimnastiôrkas dos soldados também receberam bolsos, mas os seus botões eram feitos de couro pressionado.


Psicologia da moda

Para elevar a moral do Exército derrotado, surgiu um novo uniforme cerimonial  ou de gala. Todos os soldados receberam jaqueta de abotoamento duplo com debrum (acabamento feito entre duas costuras) de cor viva. Os oficiais dos regimentos ganharam bordados de ouro sobre a jaqueta, e os generais, um ornamento especial com a forma de folhas de carvalho.

Em algumas unidades foram retomadas as já esquecidas barretinas, confeccionadas  no mesmo modelo daquelas usadas pelos soldados russos em 1812. No Regimento de Granadeiros foi ordenado que se voltasse a colocar sobre o ombro direito os alamares, tal como no século 18, com o monograma de Ekaterina II. As faixas de cintura de prata se assemelhavam àquelas usadas no tempo de ​ Suvorov. Os elementos do uniforme militar do glorioso passado da Rússia deveriam levantar o moral dos combatentes.


Triunfo do espírito

A Primeira Guerra Mundial, que eclodiu em 1914, não permitiu aos soldados russos apreciar plenamente a beleza do novo uniforme cerimonial. Não restou outra opção, senão colocá-lo de lado, uma vez que na frente de batalha ele não tinha qualquer utilidade. Os oficiais tiveram que vestir um uniforme do mesmo tipo do dos soldados.

Elaborado uniforme do Regimento de Cavalaria de Guarda

Todos os elementos chamativos e brilhantes dos uniformes, botões e insígnias das platinas, foram pintados com cores escuras para os tornar invisíveis aos artilheiros inimigos. As correias entrelaçadas do cinto da espada foram substituídas por correias de couro que se cruzavam nas costas e que mantinham o cinturão com um coldre para o revólver e uma bainha para a arma branca. Junto com a túnica militar e a guimnastiôrka começou a ser usada a jaqueta, cuja moda foi introduzida pelas fileiras dos aliados do exército britânico.

A falta de material também levou a alterações no estilo da vestimenta militar. As tropas do front do Cáucaso receberam autorização para confeccionar as suas tcherkéskas com tecido cinzento caseiro. A falta de couro levou à substituição maciça das botas com caneleira enrolada.

Soldados russos durante a Guerra Russo-Japonesa de 1905


Supunha-se que o uniforme cerimonial do Exército russo seria mais uma vez trajado nas capitais dos estados inimigos derrotados – Berlim e Viena. Chegou mesmo a ser feita um traje especial para a futura parada da vitória. O chapéu de feltro em forma de capacete, imitando o antigo capacete russo, foi criado na véspera da guerra para as celebrações por ocasião do jubileu da dinastia reinante. Longos capotes com martingales costurados na região do peito, um sobre outro, faziam lembrar o caftã dos arqueiros russos.

Tudo isso deveria simbolizar o triunfo do espírito eslavo sobre o seu eterno inimigo – a Alemanha. No entanto, a guerra se arrastou e levou a uma revolução. O novo uniforme acabou sendo herdado pelo Exército Vermelho, cujos soldados o tornaram visível e reconhecido no mundo inteiro.

Fonte: Gazeta Russa