"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



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segunda-feira, 24 de abril de 2023

CARTA DE DESPEDIDA DE UM PILOTO KAMIKAZE

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Carta manuscrita de despedida para sua família escrita pelo Cabo Nobuo Aihana, 18 anos de idade, pertencente ao Corpo Especial Kamikaze da Marinha Imperial japonesa. 


“Entrei para o Corpo Shinbu Esquadrão de Ataque e vou pagar minha dívida de gratidão para com o país.

Pai e Mãe, eu me propus à batalha em alto astral. Pai e Mãe, eu coloquei uma foto do meu irmão mais velho no meu macacão de voo. Pai e mãe, estou profundamente envergonhado de mim mesmo que, até o final, não corrigi o meu discurso impróprio e rude de uma criança.

Mãe, você me criou desde que eu tinha seis anos de idade, e eu nunca disse 'mãe' para você que é mais do que minha mãe biológica. Como deve ter sido triste para você. Eu pensei muitas vezes em chamá-la, mas eu não fiz diante de você, pois tinha vergonha. Agora é a hora para eu chamá-la em voz alta: 'Mãe'.

Aeronave Kamikaze atacando em baixa altura o porta-aviões USS Yorktown

Provavelmente o meu irmão mais velho, no centro da China, também sente o mesmo. Mãe, por favor, perdoe nós dois. Agora, como estou saindo para a batalha para fazer um ataque especial, a minha única preocupação são as duas coisas mencionadas acima. Para além destas, eu não tenho arrependimentos.

As pessoas vivem 50 anos e eu viverei uma vida longa de 20 anos de idade. Quanto aos 30 anos restantes, dei a metade a cada um de vocês, pai e mãe. Por favor, usem o dinheiro guardado na caixa de cigarros.

Pai e Mãe, eu estou indo. Eu estou indo com um sorriso e a certeza de destruir um navio inimigo."
Nobuo Aihana


Cabo Nobuo Aihana, kamikaze da Marinha Imperial japonesa morto aos 18 anos de idade


Fonte: Museu de Imagem do Japão

domingo, 5 de fevereiro de 2023

QUATRO CARTAS DE UM COMANDANTE DE CAVALARIA DO EXÉRCITO NAPOLEÔNICO

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As correspondências entre lideranças ou pessoas comuns constituem-se em valiosas fontes para o estudo dos fatos históricos.  


Publicamos, a seguir, quatro cartas escritas pelo coronel Castex, do Exército Francês, publicadas, pela primeira vez, na revista Carnet de la Sabretache n° 123, de março de 1903.
Bernard-Pierre Castex foi um hábil comandante de cavalaria francês. 

Castex nasceu em Pavie, na região de Armagnac, em 29 de junho de 1771. Em 1792 voluntariou-se para os Caçadores a Cavalo (Chasseurs à cheval) de seu departamento (Gers) e foi feito general de divisão, em 28 de outubro de 1813. Napoleão tornou-o Barão do Império em 1808. Luís XVIII concedeu-lhe o título de Visconde em 1822, nomeou-o Grande Oficial da Legião de Honra e concedeu-lhe a Grã-Cruz de Saint-Louis. O Visconde de Castex faleceu em Strasburgo, no dia 19 de abril de 1842.

A seguir, quatro correspondências do coronel Castex que contribuem para a pesquisa histórica das Guerras Napoleônicas:


Belmar, 15 de outubro de 1806.

Você deve ter ficado surpreso por não ter recebido notícias minhas durante minha estada em Versalhes. Não pude fazê-lo, tendo permanecido ali apenas seis dias, em meio a uma variedade de ocupações. Além disso, eu não teria lhe dado nenhuma notícia mais satisfatória do que esta.

Ontem (em Jena), derrotamos completamente o Exército Prussiano. Os remanescentes desse exército se retiraram em desordem. Perseguimos o inimigo sem que ele pudesse se evadir. Eu mandei realizar uma carga pelo 7º Regimento de Caçadores que eu havia comandado como major por três dias, que resultou na minha promoção a coronel no campo de batalha. O Imperador pediu para me ver e disse: “Você é um homem corajoso, você é um coronel. Diga aos caçadores que eu sabia que eles eram melhores que os saxões e os prussianos”. Para mim, aquele foi o melhor dia da minha vida. Meu pai e minha mãe, sem dúvida, compartilharam a satisfação que a ocasião me proporcionou.

Mais tarde, quando tiver tempo, darei alguns outros detalhes. O coronel Marigny (do 20º de Caçadores) havia assumido o comando de seu regimento oito dias antes desta batalha. Ele foi morto por uma bala de canhão: é o seu regimento que agora comando.

CASTEX.


(Para seu amigo Despax).
Ming, 12 de março de 1807.

Tem sido impossível para mim, meu caro amigo, enviar-lhe qualquer notícia mais cedo. Desde 28 de janeiro [de 1807] me encontro constantemente na vanguarda e você deve saber que o correio não costuma seguir muito de perto. É, portanto, somente esta razão que me deu o prazer de escrever para você. Eu estava tanto mais ansioso para encontrar um momento favorável para esta ocasião, pois estou convencido de que todos vocês devem estar preocupados, especialmente depois das várias batalhas que vivemos no mês de fevereiro.

A do 8º em particular [Eylau] não poderia ter sido mais devastadora para os russos, muito mais do que foi para nós. Em uma palavra, o campo de batalha de Eylau é o mais horrível de todos os terrores já testemunhei em minha vida. Notei que havia pelo menos quatro russos mortos para cada francês. Meu regimento sofreu um pouco em todo esse tempo, mas com alguns dias de descanso não será mais perceptível. Os bravos homens que morreram serão substituídos por outros.

Quanto a mim, estou indo muito bem. O descanso que estou desfrutando no momento está me fazendo muito bem. Eu até gostaria que durasse mais alguns meses, mas duvido que dure.

CASTEX.


Burghausen, 30 de abril de 1809.

Três batalhas, três combates e tantas vitórias. Eu estou indo bem.

A Baviera foi completamente evacuada e estamos marchando para Viena, onde provavelmente estaremos dentro de um mês. Os jornais fornecerão outros detalhes.

Enquanto isso estou montando meu cavalo para encontrar meu lugar na vanguarda do exército.

CASTEX.


Neustadt, 17 de maio de 1809.

Estou bem, meu caro amigo.

O exército está em Viena e meu regimento fica nas fronteiras da Hungria, onde esperamos encontrar mais milho do que o Landsturm (de que nos falaram), se tivermos vontade de cruzar a fronteira.

Enquanto isso, estamos nos recuperando um pouco de nossas fadigas. Não vou falar de nossos sucessos, convencido de que os jornais se preocuparam em lhe dar todos os detalhes, mas lhe direi que Dayrens estava tão cansado que ficou para trás, a 30 léguas daqui, junto com os outros oficiais feridos.

CASTEX.



sábado, 7 de janeiro de 2023

A DESCONHECIDA GUERRA PSICOLÓGICA UTILIZADA PELOS BRITÂNICOS NAS FALKLANDS/MALVINAS

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Em plena Guerra das Malvinas, um soldado argentino mal treinado e desprovido de armamentos, com frio e fome, faz a guarda de uma colina. O ano era 1982.

Por Max Seitz


Ali, assim como no resto do arquipélago, o vento é constante e não há uma única árvore para se proteger da chuva - somente pedras. O jovem está mais longe de casa do que nunca, quer fugir e ficar perto de sua família. Ele tem medo e poucas esperanças. A comida e os suprimentos são cada vez mais escassos e é improvável que o local seja reabastecido tão cedo. Mas não há outro remédio senão esperar a hora fatal, quando lutará contra as forças britânicas, muito melhor preparadas e armadas do que ele.


De repente, cai em suas mãos um panfleto com os escritos: "Ilha de Condenados".
"Soldados das forças argentinas: vocês estão completamente sozinhos. Da sua pátria não há esperança ou ajuda. Vocês estão condenados à triste tarefa de defender uma ilha remota (...) Não é justo que paguem com suas vidas pelas ambições tortuosas desta louca aventura."

Poucos dias depois, o jovem soldado abandona seu posto e se entrega à unidade britânica mais próxima.


Guerra psicológica

Assim, o governo do Reino Unido imaginava que poderia executar uma "guerra psicológica" (Psywar, na expressão em inglês), estratégia adotada no início do conflito no sul do Atlântico para atingir a moral dos soldados inexperientes que a Argentina havia enviado ao arquipélago. O panfleto é real e faz parte de uma série de documentos secretos recém-revelados pelo Ministério da Defesa britânico.

Os arquivos revelam detalhes até então desconhecidos dessa missão secreta para tentar "manipular" as forças argentinas durante a guerra que matou 649 soldados argentinos e 255 britânicos, entre 2 de abril e 14 de julho de 1982. "Esse material vem à tona só agora porque acabaram de transcorrer os 35 anos exigidos por lei para que pudéssemos divulgá-lo", explicou a autoridade dos Arquivos Nacionais, em Londres, onde os documentos podem ser consultados sob medidas de segurança restritas. Trata-se de uma pasta que contém 189 páginas de documentos etiquetados como "ultra-secretos", sob a referência DEFE 24/2254. Neles, são revelados os detalhes do plano, implementação, exemplos e lições aprendidas da guerra psicológica no arquipélago.


'Explorar o sentimento de isolamento'

A missão de "Psywar" fazia parte da "Operação Corporate", o nome da maior ofensiva militar para recuperar as Ilhas Malvinas. Nos documentos, é possível constatar que o governo britânico deu ao chamado Grupo Especial de Projetos (GEP) a missão de "enganar" as tropas argentinas no arquipélago em abril de 1982, quando a guerra havia acabado de começar. O GEP é uma pequena unidade de oficiais especializados em guerra psicológica dentro do Ministério da Defesa britânico.

Em termos gerais, a missão deles era espalhar o medo diante de um contingente britânico com melhor preparo, contra o qual a derrota seria inevitável. Seguindo essa "ideia de força", um dos documentos definia três metas específicas para o GEP.

- A primeira era "reforçar a percepção argentina sobre a determinação do governo britânico (de recuperar as ilhas) e ressaltar também o poder da força-tarefa (a frota enviada ao arquipélago) mostrando a capacidade do arsenal do Reino Unido."
A segunda era "intensificar a percepção entre os argentinos de que seus líderes são irresponsáveis", ao enfatizar a "escassez de suprimentos nas ilhas".
O terceiro objetivo, o mais ambicioso da operação, era "a desmoralização da tropa argentina nas ilhas", apelando para emoções.

Um dos pressupostos utilizados pelo GEP foi explorar o isolamento dos soldados argentinos nas ilhas.

Isso implicava "explorar qualquer sentimento de isolamento nas tropas de ocupação (argentinas) para que a defesa argentina das Ilhas Falklands (denominação britânica para as Malvinas) pareça insignificante diante da força-tarefa britânica", diziam os documentos. E quando nos arquivos se fala em isolamento, a referência feita não é apenas ao isolamento físico das ilhas, mas também ao desamparo psicológico: a ideia era também tirar proveito do afastamento dos soldados de seus familiares e amigos.


Guerra de panfletos

Para levar a guerra psicológica ao arquipélago, o Grupo Especial de Projetos escolheu "duas armas", segundo os documentos secretos: a produção de panfletos e a instalação de uma emissora de rádio em espanhol. A história da Rádio Atlântico Sul (RAdS) é bastante conhecida. Muito já foi escrito sobre ela, mas há aspectos menos conhecidos, como seu surgimento, operação e alcance - algo que os arquivos do Ministério da Defesa do Reino Unido revelam parcialmente.

Os panfletos produzidos em diferentes momentos do conflito - foram impressos 12 mil exemplares de cada um - são, talvez, o capítulo mais fascinante da guerra psicológica descrita nos documentos oficiais. Um dos panfletos se inspira na rápida derrota da tropa argentina nas Ilhas Geórgia do Sul, também ocupadas pelo país sul-americano. Ali, o capitão-de-fragata Alfredo Astiz sucumbiu em 24 de abril de 1982 diante da superioridade das forças britânicas.


O panfleto, que inclui uma foto de Astiz se rendendo, explora em particular o sentimento de separação.
"Seus valorosos companheiros de armas que estavam há pouco tempo nas Ilhas Geórgia do Sul voltaram à terra natal. Fotografias deles recebendo honras militares e reunidos com seus entes queridos apareceram em todos os jornais", diz o documento.

"Eles tomaram uma decisão correta e honrada. Você deve agora fazer o mesmo. Pense no perigo em que você se encontra. Seus suprimentos de guerra e alimentos são muito escassos. Pense em seus familiares e em sua casa, todos esperando seu retorno."

Outro panfleto descreve uma situação ainda mais dramática: 
"Todos os rigores de um inverno cruel irão cair sobre vocês e o exército argentino não está em condições de enviar os suprimentos e reforços de que vocês tanto precisam".
E completa: "Seus familiares vivem sob terror, sob o medo de que nunca voltarão a vê-los."


Salvo-conduto e canhões

Entre os panfletos impressos durante o conflito, um deles oferece aos soldados argentinos uma solução prática para "fugir" de sua "situação de desespero": um salvo-conduto assinado por ninguém menos do que o comandante das forças britânicas, o almirante John "Sandy" Woodward.


O documento, com objetivo claro de estimular a deserção, certifica: 
"O soldado que estiver portando este passe assinou seu desejo de não continuar na batalha. Ele será tratado estritamente de acordo com o estipulado pela Convenção de Genebra e deverá ser retirado da área de operações o mais rápido possível".

E ainda acrescenta, para tranquilizar o soldado: 
"Serão providenciados alimentos e tratamento médico e depois ele será internado em algum albergue, onde esperará sua repatriação com segurança".

O texto traz instruções precisas sobre como usar o salvo-conduto. Recomenda ao beneficiário: 
a) entregar sua arma; 
b) manter o documento de salvo-conduto em posição bem visível; 
c) aproximar-se do integrante das forças britânicas que estiver mais perto.

No entanto, a guerra psicológica com panfletos não terminou como havia planejado o GEP britânico, a unidade encarregada pela "ofensiva desmoralizadora". Por várias razões. Em um dos documentos secretos, o GEP reclama das dificuldades causadas pela "falta de (informações de) inteligência" sobre as "características psicológicas do público" para tirar o maior proveito da estratégia com os panfletos. Essa falta de inteligência, acrescenta, também impossibilitou comprovar se os panfletos tiveram alguma efetividade na região.

O que fica claro com os arquivos revelados é que os panfletos foram despachados para as Malvinas nos navios HMS Fearless e HMS Hermes e que houve relatos de que vários deles chegaram a ser distribuídos, ainda que em outros casos tenha sido impossível confirmar se eles efetivamente chegaram aos destinatários.

Tropas britânicas em marcha após desembarcarem nas ilhas

O GEP ressalta outro obstáculo que teve de enfrentar: as limitações técnicas para lançar os folhetos no "teatro de operações". "Não foi desenvolvido nenhum projétil para lançar os panfletos como um canhão de 105mm", lamenta. "Também não houve qualquer dispositivo de uso oficial para lançar os panfletos dos aviões de guerra." Na prática, tudo dependia da boa vontade dos militares britânicos no campo de batalha, que tinham outras prioridades na guerra.


Ondas de rádio

Nos documentos divulgados pelas autoridades britânicas, é possível ler que no fim de abril de 1982 o Ministério da Defesa do Reino Unido propôs a criação de uma emissora de rádio para "rebaixar a moral dos soldados argentinos" nas Malvinas. A missão, que levava o nome secreto de "Operação Moonshine" ("Luz da Lua"), deu origem à Rádio Atlântico Sul (RAdS). Seus programas, destinados a "intensificar o sentimento de isolamento das tropas argentinas e estimular sua rendição", seriam produzidos em Londres por uma equipe de 25 pessoas, majoritariamente militares.

Entre eles: um diretor, jornalistas, apresentadores, tradutores, engenheiros do rádio e "coletores" (membros do serviço de inteligência encarregados de obter informações relevantes de todas as fontes possíveis).


De acordo com um dos documentos divulgados, a equipe trabalhou de maneira secreta, em um local da capital britânica. Para evitar comprometer suas operações, os empregados precisavam usar uma senha secreta - "Pinóquio" - para se referir à rádio ou aos seus objetivos. Essa senha sugere a ideia de engano, mas, paradoxalmente, o grupo encarregado da guerra psicológica insiste que "a RAdS se apresentava como uma emissora neutra e imparcial", que "informava os fatos" com fontes do governo britânico e da Argentina, "se este último fosse compatível com as metas".

A justificativa para esse tipo de orientação editorial pode ser encontrada em um dos documentos: "No decorrer da crise, as autoridades argentinas buscaram maneiras de justificar suas ações e provar, especialmente para seu próprio povo, que estavam sendo bem-sucedidos." "Montaram uma campanha de propaganda em grande escala em que a verdade foi ignorada. Muitas declarações eram tão exageradas e absurdas que se desmentiam por si mesmas", completa.


'De iniciantes'

Segundo os arquivos secretos do Ministério da Defesa, a "Operação Moonshine" gerou resistência em outras áreas do governo britânico e na BBC, cujos serviços Mundial e Latino-Americano já faziam transmissões no arquipélago e no território argentino. A BBC também se opôs à iniciativa do governo de assumir o controle de uma de suas antenas na Ilha Ascensão - no meio do Oceano Atlântico - para lançar sua "arma psicológica" pela frequência 9,71 MHz. 

A RAdS fez transmissões em espanhol entre 19 de maio e 15 de junho durante quatro horas por dia. A programação incluía boletins de notícias, comunicados, reportagens, e, eventualmente, até músicas.

No entanto, conforme se constata no material divulgado, os líderes da "Operação Moonshine" acabaram frustrados. Em um dos documentos, há uma pergunta ao então ministro da Defesa, John Nott, se ele acreditava que a RAdS havia contribuído de alguma maneira na captura dos soldados argentinos. "As transmissões eram muito boas...mas eu diria que não tiveram um efeito maior no resultado", respondeu. Nott parecia julgar de maneira otimista a qualidade da programação da rádio. Porque os arquivos secretos detalham vários problemas nela - para começar, há uma citação à própria BBC dizendo que ela considerava que o conteúdo era "de principiantes" e denunciando que "comprometia" sua imparcialidade.

É possível identificar outros problemas por meio de uma comunicação do Exército argentino interceptada pela inteligência britânica, que é falha e cujas conclusões o governo do Reino Unido acabou aceitando. "A linguagem usada era similar à da América Central e faltava conhecimento do espanhol falado na Argentina", dizia o documento. Os britânicos reconhecem isso como um erro estratégico: como poderiam conseguir uma identificação emocional na guerra psicológica se usam expressões da língua que não são faladas ali?

Mas o documento em questão vai além: "Nenhum soldado tinha ideia do que era a RAdS (...) Os soldados argentinos nem estavam sabendo dessas transmissões, nem chegaram a escutá-la devido às circunstâncias." "A maioria das tropas se encontrava no chão e, com exceção de alguns oficiais, nenhum deles tinha receptores" e que "quando surgia alguma oportunidade de escutar rádio, sintonizavam nas rádios da Argentina".

Fonte: BBC


sexta-feira, 14 de setembro de 2018

O JUDEU QUE HITLER PROTEGEU DAS LEIS NAZISTAS



O líder da Alemanha Nazista, Adolf Hitler, fez uma intervenção pessoal para proteger Ernst Hess, um judeu que fora seu antigo comandante nas trincheiras de Flandres, durante a Primeira Guerra Mundial.

Em uma carta de 27 de agosto de 1941 para a Gestapo, Heinrich Himmler, principal responsável pelo extermínio industrial de judeus em campos de concentração, instruiu a polícia secreta nazista para permitir que Hess fosse protegido de perseguição e deportação por "desejo pessoal do Führer". Himmler também instruiu a todas as autoridades que o velho companheiro de Hitler  não era "para ser importunado de qualquer forma."  A carta foi descoberta em um arquivo de Gestapo por Susanne Mauss, editora do jornal Jewish Voice From Germany.

Mesmo tendo sido condecorado como herói da Primeira Guerra Mundial, sua vida começou a se complicar em 1936, quando as leis  nazistas  o forçaram a se demitir do cargo de juiz. Também há relatos de que neste mesmo ano Hess foi espancado diante de sua própria casa por uma gangue de nazistas. Os favores do Führer lhe permitiram fugir para a Itália sem ser identificado como judeu, entretanto, a partir de 1942 o cerco da solução final trouxe até mesmo para Hess o perigo da morte. Seus familiares foram todos deportados para campos de concentração, e ele só não teve o mesmo destino por ser casado com uma cristã.

Ursula Hess, sua filha que hoje tem 88 anos, falou que, segundo relatos de seu pai, o contato com Hitler só foi possível através de outro combatente que esteve na companhia em Flandres, Fritz Wiedemann tinha se tornado assessor de Hitler e foi o grande articulador das concessões cedidas ao judeu. Hess tinha poucas lembranças do jovem soldado Adolf Hitler, mas destacava que Adolf não tinha amigos e se mantinha muito isolado.

A seguir, a carta de Himmler:




Fonte: The Telegraph 



sábado, 2 de setembro de 2017

RONALD REAGAN RECEBEU UMA CARTA DE RECRUTAMENTO DO CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS ENQUANTO ERA PRESIDENTE DOS EUA - SUA RESPOSTA FOI SENSACIONAL

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Mesmo tendo 73 anos e ocupando o cargo de Presidente dos Estados Unidos na época, Ronald Reagan recebeu uma carta do Corpo de Fuzileiros Navais (USMC) perguntando se ele gostaria de se alistar em 1984.

Pode ter sido um erro grosseiro ou apenas uma piada da Corporação com seu comandante-em-chefe, ou, nas palavras de Reagan em sua resposta, o resultado da "ativa imaginação de um cabo”. Em qualquer caso, a Companhia Histórica do USMC compartilhou em sua página do Facebook a carta que o Presidente enviou de volta ao então Comandante dos fuzileiros, General Paul X. Kelley, em 31 de maio de 1984.  A resposta de Reagan foi sensacional.

"Eu lamento que eu deva recusar o convite para me alistar no Corpo dos Fuzileiros Navais dos Estados Unidos," Reagan escreveu no papel timbrado oficial da Casa Branca. "Tão orgulhoso quanto eu sou a respeito de minha aptidão física, creio que é melhor continuar como Comandante-em-Chefe. Além disso, no momento atual seria muito difícil passar dez semanas em Parris Island”, referindo-se ao centro de treinamento de recrutas dos fuzileiros.

Com a espirituosidade que lhe era peculiar, Reagan observou que os democratas provavelmente apreciariam sua saída da Casa Branca, mas teria que recusar o convite visto que sua esposa Nancy amava sua residência atual e o próprio Reagan estava "totalmente satisfeito com seu trabalho."

"Você consideraria um adiamento até 1989?", escreveu Reagan. Vale a pena lembrar que Reagan serviu na Força Aérea do Exército dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial.

Confira a carta completa abaixo:



Fonte: We are the Mighty


sábado, 20 de maio de 2017

ISRAEL DESCLASSIFICA MILHARES DE DOCUMENTOS DA GUERRA DOS SEIS DIAS

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Israel desclassificou nesta quinta-feira milhares de documentos oficiais que datam da Guerra dos Seis Dias e que relatam as discussões das autoridades israelenses sobre o futuro da Cisjordânia, cuja ocupação há 50 anos é o centro do conflito entre israelenses e palestinos.


Os arquivos nacionais israelenses publicaram milhares de documentos, gravações e depoimentos da guerra de 5 a 10 de junho de 1967, bem como das semanas anteriores e seguintes.  No final do conflito, que opôs Israel ao Egito, Jordânia e Síria, o Estado judeu ocupou a Cisjordânia, Gaza, Jerusalém Oriental, as Colinas de Golã e a Península egípcia do Sinai.

A publicação das atas do “gabinete de segurança” israelense permite o acesso inédito a informações sobre esta guerra, que já é alvo de muitas pesquisas e trabalhos históricos.

Em 15 de junho de 1967, cinco dias após o fim da guerra, os ministros do gabinete de segurança discutiram as diversas opções para os territórios ocupados. O ministro das Relações Exteriores da época, Abba Eban, alertou para um potencial “barril de pólvora” e os riscos da ocupação israelense da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, manifestando os termos de um debate que ainda divide a sociedade israelense.

Aqui temos a presença de duas populações, uma se beneficia de todos os direitos civis e a outra tem todos esses direitos negados”, declarou Eban em um trecho publicado pela imprensa israelense.

É um quadro com duas classes de cidadãos que é difícil de defender, mesmo no contexto da história judaica. O mundo tomará partido do movimento de libertação deste um milhão e meio de palestinos", acrescentou.

De acordo com os documentos liberados, o primeiro-ministro Levi Eshkol cogitou enviar a população árabe para o Brasil

A possibilidade de transferir os palestinos para outro país foi avaliada durante a reunião do gabinete de segurança. O primeiro-ministro Levi Eshkol disse: “se dependesse de nós, gostaríamos de enviar todos os árabes para o Brasil”.

Ao que o ministro da Justiça, Yaacov Shimshon Shapira, objetou: “Eles são os habitantes desta terra e agora vocês os controlam. Não há nenhuma razão para expulsar os árabes e transferi-los para o Iraque”.

E Lévi Eshkol respondeu: “Não seria um grande desastre (…) Nós não nos infiltramos aqui, o território de Israel é nosso por direito”.

Estes documentos permitem também acompanhar a evolução moral do governo durante a guerra, o medo por sua explosão, a euforia após a destruição da força aérea egípcia e as vitórias israelenses nas frentes jordaniana e síria.

Fonte: Isto é

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quinta-feira, 12 de maio de 2016

DESCOBERTO DIÁRIO QUE CONTA A HISTÓRIA DE CERCO ANGLO-PORTUGUÊS NA GUERRA PENINSULAR

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O título não desvenda muito. “Journal 1811”, da propriedade de John Squire, um oficial do exército inglês, é nada mais nada menos que um importante documento que nos conduz à história do século XVIII, num momento em que Napoleão tentava expandir o seu império. E para qualquer português, há algo na capa que nos capta imediatamente a atenção. A palavra “Alentejo”, no canto superior direito.

Tudo porque, neste diário, o oficial inglês, elogiado pelo seu especial talento para a escrita, descreve alguns detalhes técnicos do cerco anglo-português de 1811 a Badajoz, liderado pelo Duque de Wellington.

Mas como foi um diário de um oficial inglês, que escreve sobre o Alentejo, parar a uma livraria de livros em segunda mão na Tasmânia? “Os donos anteriores colecionaram centenas de milhares de livros”, explicou Mike Gray, um dos proprietários da Cracked and Spineless. “Alguns deles estavam num armário, por isso pedi a uma pessoa interessada em livros antigos para ver se encontrava alguma coisa. Trouxeram-me o diário e eu pensei 'está bem, talvez uns 20 dólares, mas vou verificar’”, acrescentou.

O interior do diário encontrado na Austrália quase por acaso
 
O que Mike Gray não esperava era que os especialistas viessem a considerar este diário um verdadeiro achado. John Squire é conhecido pelos historiadores por ser referido várias vezes em relatórios do Duque de Wellington. Há inclusive cartas da autoria de Squire na British Library.

Para Gavin Daly, perito na Guerra Peninsular da Universidade da Tasmânia, este diário é um “tesouro”, tendo adiantado à BBC que a correspondência entre a caligrafia do diário e a do oficial do exército britânico já foi confirmada.

O vida de John Squire após o cerco de Badajoz foi curta: o oficial inglês morreu em 1812, vítima de doença.

Fonte: BBC

quarta-feira, 4 de maio de 2016

O REGIMENTO DO GOVERNADOR-GERAL E A DEFESA DO TERRITÓRIO BRASILEIRO





Portugal compreendeu que faltava às capitanias uma autoridade que, vivendo no Brasil, pudesse organizar o seu povoamento e coordenar os esforços de colonização. Nesse sentido, o rei D. João III instituiu, em 1548, a figura do governador-geral, trazendo para o Brasil uma autoridade real que o representasse, sem, contudo, extinguir as capitanias hereditárias.

A capitania da Bahia, cujo capitão-donatário Francisco Pereira Coutinho havia sido morto pelos índios Tupinambás, foi adquirida pela Coroa para sediar a nova administração colonial. Sua localização, mais ou menos centralizada em relação à linha costeira do Brasil, facilitaria as tarefas atribuídas aos governadores-gerais.

O Rei D. João III criou o governo-geral  para organizar o seu povoamento e coordenar os esforços de colonização no Brasil.


Para operacionalizar o novo modelo administrativo, o rei fez publicar, em 17 de dezembro de 1548, o Regimento do Governador-Geral. Contendo 48 artigos, que disciplinavam detalhadamente a instalação do governo, a concessão de sesmarias, a organização do comércio, as medidas para a defesa, e o trato com os índios, invasores e outros mais, o Regimento deixava claro que a ação do Governo-Geral seria complementar às dos donatários: sem maior interferência na administração das capitanias, deveria criar maior ligação entre elas, bem como prestar-lhes o auxílio da Metrópole. 

Soldado besteiro do século XVI. De acordo com o Regimento do Governador-Geral, cada capitania deveria possuir pelo menos 20 bestas para prover sua defesa


O governador seria auxiliado por outras autoridades nomeadas pelo rei: um ouvidor-mor, encarregado da justiça; um provedor-mor, responsável pela administração das finanças, e um capitão-mor, a quem cabiam os encargos da defesa da costa. O Regimento estabelecia alguns pressupostos que os donatários deveriam atender para realizar a defesa de suas capitanias:

"Cada capitão em sua capitania será obrigado a ter ao menos dois falcões, seis berços e seis meios-berços, vinte arcabuzes e pólvora para isso necessária, vinte bestas, vinte lanças ou chuças, quarenta espadas e quarenta corpos d´armas de algodão, dos que na dita terra do Brasil se costumam. Os senhorios de engenho e fazendas [...] hão de ter terras ou casas fortes, terão ao menos quatro berços, dez espingardas com pólvora necessária, dez bestas, vinte espadas, dez lanças ou chuças, e vinte corpos d´armas de algodão. Todo morador das ditas terras do Brasil, que nelas tiver casas, terras ou águas ou navios, terá ao menos uma besta, espingarda, espada, lança ou chuça."

(Regimento de Tomé de Sousa, de 1548.  Disponível em http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/brasil-colonia-documentos-2-regimento-de-tome-de-sousa-1548.htm. Acesso em 11 out. 2013)

O Regimento de 1548 estabeleceu, de fato, a primeira organização militar do Brasil. O rei D. João III escolheu, como primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Sousa, militar profissional que havia lutado contra os mouros na África. Juntamente com o novo governador, que chegou à Bahia em 29 de março de 1549, vieram cerca de 600 soldados e 400 degredados, a primeira força militar regular do Brasil, com o objetivo de constituir uma reserva estratégica. Nesse mesmo ano, fundou-se Salvador, a sede do novo Governo-Geral.



Conheça essa e outras histórias lendo

"A guerra do açúcar: as invasões holandesas no Brasil"


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