A homenagem do Blog a nossas leitoras, amigas e colaboradoras pelo Dia Internacional da Mulher.
A
propaganda de guerra nazista fazia delas verdadeiros monstros: as milhares de
mulheres do Exército Vermelho que lutavam contra os invasores alemães. Agora,
este capítulo está no foco de uma exposição em Berlim.
Por
Oliver Samson
Entre
800 mil e um milhão de mulheres serviram no Exército Vermelho de 1941 a 1945,
mais de 100 mil juntaram-se ao movimento de resistência na Rússia. A maioria
era jovem e alistara-se voluntariamente no exército. E uma parte considerável
lutou diretamente no front, como pilotas, atiradoras de elite, enfermeiras, em
funções de reconhecimento ou dirigindo tanques. Houve períodos em que as
mulheres em uniforme perfaziam 8% do contingente total do Exército
Vermelho. Muitos são os mitos que existem em torno de sua atuação, até hoje
nunca foi feito um balanço objetivo.
Em
lugar histórico
Uma
apresentação objetiva dos fatos é o que tenta agora a exposição Masha, Nina,
Katyusha — Mulheres no Exército Vermelho 1941-1945, à mostra no museu
russo-alemão no subúrbio de Karlshorst, em Berlim. O casarão suburbano não
aparenta ter sido palco de um capítulo decisivo da história mundial: mas foi aí
que o marechal Keitel assinou a capitulação da Alemanha, em maio de 1945,
colocando um ponto final na Segunda Guerra Mundial na Europa. Na época da
República Democrática Alemã, ele já abrigou um museu soviético, que foi
reaberto em 1995, depois de expurgado de todo tipo de propaganda política.
Mulheres
normais
Grupos
de veteranas já foram visitar a exposição sobre sua história, o livro de
visitantes está repleto de inscrições em alfabeto cirílico. Ao que tudo indica,
as visitantes reconheceram suas biografias. Mas há também muitas observações em
alemão, falando da emoção causada pela exposição. E atestando seu respeito por
aquelas mulheres.
Aviadoras soviéticas posando para uma foto de propaganda
Claro
que elas não tinham nada das "mulheres-machos" que a propaganda
nazista fazia delas e que, no fundo, refletia muito mais o medo masculino do
que a realidade de vida das soldadas. A mulher na frente de batalha na União
Soviética era também um contraste demasiado chocante para a imagem de mulher do
lar e mãe de futuros soldados que o nazismo impôs na Alemanha. E apenas em
parte as mulheres o Exército Vermelho correspondiam à imagem de heroínas
estilizadas de regimentos exclusivamente femininos. Eram mulheres normais, que
sofriam com o dia-a-dia nos campos de batalha, como testemunham as fotografias
e os textos da exposição: medo, fome, falta de sono, esgotamento, doenças,
ferimentos e morte.
A
morte era uma ameaça bastante real para as soldadas, quando caíam em mãos dos
inimigos. A fama de que seriam mulheres-machos violentas,
"animalescas" e "degeneradas", divulgada pela propaganda
nazista, determinava o tratamento que lhes era dado pelas tropas que as capturavam.
Muitas eram fuziladas ainda no front, ou enviadas para campos de concentração.
Propaganda
ainda vive
Esse
tipo de propaganda chega a ser repetido em memórias da guerra, como a que o
satirista alemão Vicco von Bülow — conhecido sob o pseudônimo de Loriot —
publicou no semanário Die Zeit em 1992: "Durante a guerra estive muitas
vezes acampado diante de regimentos femininos. O que essas mulheres faziam com
seus inimigos eram as coisas mais bárbaras que já vi na vida". Não há
dúvida de que os russos também praticaram muitas atrocidades numa guerra em que
a meta era exterminar o inimigo. Mas a verdade é que a Rússia nunca teve
batalhões de combate formados exclusivamente por mulheres. Talvez Loriot
devesse visitar a mostra, pelo menos para atualizar suas lembranças.
Fonte:
DW
.
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