Bravo November recebeu quatro medalhas em três guerras
Por André Vargas
São raras as aeronaves de série que adquirem fama individual. A mais famosa é o Enola Gay, o bombardeiro B-29 Superfortress que lançou a bomba atômica em Hiroshima. Longe de ser tão conhecida, a história do Chinook britânico de matrícula ZA718 merece ser contada. Conhecido como Bravo November, em 35 anos de vida operacional este CH-47 esteve em três guerras: Falklands/Malvinas (1982), Iraque (2003) e Afeganistão (2006-2010), além de desdobramentos operacionais no Líbano, Alemanha, Irlanda do Norte e Curdistão. Submetido a fogo inimigo, em quatro ocasiões seus pilotos receberam a Distinguished Flying Cross (DFC), prestigiosa condecoração da RAF, a Real Força Aérea britânica. Feitos que renderam ao hoje lendário aparelho um lugar de honra no Museu da RAF, em Londres. Para os militares, este Chinook se tornou The Survivor, já o jornal Daily Mail o apelidou de Herocopter.
A fama do ZA718 nasceu na Guerra das Falklands/ Malvinas, entre Reino Unido e Argentina. Integrante do primeiro lote de 30 Chinnok adquiridos em 1978, na versão HC1 - similar aos CH-47C norte-americanos -, em abril de 1982, com a identificação Bravo November na fuselagem, foi embarcado para o sul do Atlântico com outros quatro aparelhos no cargueiro porta-contêineres Atlantic Conveyor. Em 25 de maio, quando o navio foi afundado por mísseis Exocet lançados por caças Super Étendard da marinha argentina, o Bravo November estava no ar carregando suprimentos. Realocado para o porta-aviões Hermes, se tornou o único Chinook britânico disponível. Mesmo sem manutenção, até a rendição argentina, em 14 de junho, voou 109 horas, transportando 1.500 soldados, 95 feridos, 650 prisioneiros e 550 toneladas de carga.
O Bravo November em ação nas Falklandas em 1982. Após o afundamento do navio Atlantic Conveyor, foi o único Chinook restante para apoias as forças britânicas
Os primeiros tripulantes a ganhar a DFC foram o squadron leader (equivalente a major, na FAB) Dick Langworthy e o flight lieutenant (capitão) Andy Lawless. No voo noturno que transportava os oficiais que negociariam a rendição argentina, uma forte nevasca obrigou uma redução de velocidade e altitude. Um defeito no altímetro fez com que o Bravo November atingisse o mar a 100 nós (185 km/h). Com os motores afetados pela água do mar, Langworthy conseguiu voltar ao ar e completar a missão mesmo com a porta do copiloto arrancada.
O segundo grande momento do Bravo November surge em março de 2003, na segunda Guerra do Golfo. Decolando do porta-aviões Ark Royal, foi a primeira aeronave britânica a desembarcar fuzileiros reais na península Al-Faw para a tomada de instalações petrolíferas. O squadron leader Steve Carr conduziu o aparelho a 30 metros do solo com o sistema de visão noturna prejudicado pelas nuvens de poeira erguidas pelos tanques americanos e sob risco de ser vítima de fogo amigo.
A matrícula Bravo November pela qual o Chinook ficou conhecido
O aparelho volta ao centro da ação na noite de 11 de junho de 2006, na província de Helmand, no Afeganistão. O flight lieutenant Craig Wilson, após completar duas missões arriscadas, voando a 45 metros do solo, se voluntariou para levar reforços ao front e retornar com dois feridos. As 24 horas de ação ininterrupta renderam a Wilson uma condecoração por "coragem excepcional e extraordinária habilidade em voo". A quarta DFC vem em 2010, também no Afeganistão, quando o flight lieutenant Ian Fortune é atingido no capacete por um disparo durante o resgate de uma patrulha emboscada por talibãs. Com a aeronave alvejada diversas vezes, Fortune teve seu óculos de visão noturna e sua viseira inutilizados. Mesmo assim, manteve o controle do aparelho, resgatando seis soldados feridos.
Chinook da RAF desembarcando tropas no Afeganistão
Para quem espera ver o célebre helicóptero no Museu da RAF, vai um alerta: a parte dianteira da fuselagem em exposição é a de um Chinook americano pintado para representar seu congênere britânico. O Bravo November ZA718 continua em serviço.
Fonte: Aeromagazine
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