"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quinta-feira, 16 de setembro de 2021

A RÚSSIA ENTRE OS ALIADOS NA 1ª GUERRA MUNDIAL

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Antes de assinar um tratado de paz em 1917, país fez importantes contribuições com o seu Exército Imperial Russo no reforço à guerra dos aliados.

Por Dmitri Kochko


Ao pensar sobre a Rússia e a Primeira Guerra Mundial, os historiadores geralmente se concentram no Tratado de Brest-Litovsk, que pôs fim à guerra para a Rússia, o mau desempenho do Exército russo e o papel que a guerra desempenhou no desencadeamento da Revolução de Outubro.

Mas, em vez disso, as pesquisas do historiador Sergue Andolenko analisam o papel desempenhado pela Rússia no esforço de guerra dos aliados. Nascido na Rússia, Andolenko foi general e historiador militar. Ele emigrou para a França após a Revolução de Outubro, onde estudou na Escola Militar Especial de Saint-Cyr.

Pável Andolenko, filho de Sergue e ex-oficial da Marinha Francesa, falou à Gazeta Russa sobre os estudos conduzidos pelo pai.


1914: O Marne

O Exército russo foi um dos melhores de seu tempo, segundo Adolenko, mas tinha dois grandes problemas: as dimensões do território da Rússia e sua economia subdesenvolvida. O império era tão grande que, logisticamente, era difícil manter o fornecimento de armas para o fronte. A economia da Rússia, que estava apenas começando a ser impactada pela modernização, não era forte o suficiente para resistir a um conflito global prolongado.

No entanto, apesar dessas desvantagens, o Exército russo ainda conseguiu causar impacto nos dois primeiros anos da guerra. Em 17 de agosto de 1914, lançou uma ofensiva contra a Prússia Oriental, região da província alemã na costa sul-oriental do Báltico. A Rússia concordou em realizar a ofensiva a pedido dos franceses, para que o Exército francês pudesse se concentrar em defender o ataque alemão no Marne, no nordeste da França.

Infantaria russa em ação na Prússia Oriental


Essa ofensiva, que, segundo o historiador de São Petersburgo Víktor Pravdiuk, foi realizada “em prol dos aliados”, custou ao país nada menos que 100 mil homens e terminou com uma derrota na Batalha de Tannenberg.

Porém, as primeiras vitórias russas provocaram pânico no Alto Comando alemão – e tanto, que a Alemanha tirou dois corpos do exército e uma divisão de cavalaria do Front Ocidental para lutar contra a Rússia. Esta foi uma das razões para o “milagre” no Marne.


1915: Verdun

Andolenko descreve 1915 como “Verdun antes de Verdun”. E foi em 1915 que o Exército russo teve que enfrentar tudo o que a indústria alemã era capaz de produzir.

Em 1915, o número de perdas humanas superou até mesmo o de 1914, e a indústria russa se mostrou incapaz de acompanhar as exigências da guerra. Soldados russos foram forçados a pegar as armas de seus companheiros mortos no campo de batalha apenas para ter algo com o que lutar.

No entanto, a guerra continuou, com soldados russos usando baionetas, facas e até mesmo os próprios punhos. Mais de 1,4 milhão de soldados russos foram mortos ou ficaram feridos naquele ano.

Percebendo, porém, que não poderiam ganhar em ambas as frentes, os alemães ofereceram um acordo de paz com um bônus: os estreitos turcos e Constantinopla.

Do ponto de vista militar, os próprios russos deveriam ter pedido uma trégua, já que sua inferioridade em termos de armas e equipamentos estava resultando em enormes perdas. Mesmo assim, o tsar Nikolai II decidiu rejeitar a oferta alemã.


1916: Recuperação russa

Em 1916, a Alemanha voltou sua atenção para a Frente Ocidental. Os russos usaram o breve período de alívio para abastecer e reequipar suas forças, lançando mais tarde pelo menos duas grandes campanhas, que se revelariam decisivas para o resultado final da guerra.

A primeira delas foi uma ofensiva em junho, liderada pelo general Aleksêi Brusilov, na Bessarábia – região que atualmente faz parte da Moldávia e da Ucrânia. A iniciativa incapacitou dois milhões de combatentes inimigos.

A segunda foi liderada pelo general Nikolai Iudenitch, que derrotou os turcos nas montanhas do Cáucaso, na fronteira sul da Rússia, e conseguiu chegar ao rio Eufrates, na Turquia.

Soldados russos entrincheirados no Front Oriental


A recuperação do Exército russo trouxe novo otimismo aos aliados. Winston Churchill, ministro das Armas da Grã-Bretanha, observou que “alguns episódios da Grande Guerra são mais surpreendentes do que a restauração, a reconstituição e o esforço gigantesco da Rússia em 1916”.

No início de 1917, muitos participantes e observadores do conflito de ambos os lados estavam convencidos de que o Exército russo já havia vencido a guerra, pelo menos de acordo com o general Adolenko.“O Exército russo não foi derrotado; muito pelo contrário”, diz seu filho, Pável Andolenko.


1917: Abdicação do czar

Em janeiro de 1917, os austríacos começaram a negociar com os franceses, ingleses e italianos para dar um fim à guerra – fato que o czar Nikolai II desconhecia. Se o imperador soubesse, ele provavelmente não teria abdicado em março – uma ação que teve um profundo efeito sobre o moral dos soldados do Exército russo.

Sem imperador, eles não sabiam por quem estavam lutando. Afinal, o lema do Exército Imperial era “Fé, czar e pátria”.

Estima-se que 2 milhões de soldados russos tenham morrido na Primeira Guerra Mundial. As perdas russas superaram até as francesas, que totalizaram cerca de 1,4 milhão. “Os exércitos francês e russo foram os que mais se sacrificaram pela vitória, e devemos ter em mente que ambos lutaram em estreita cooperação durante a guerra, cada um se esforçando para aliviar o outro e suportando os principais ataques do inimigo”, afirma Pável Andolenko.

No final da guerra, apesar do Tratado de Brest-Litovsk, o marechal francês Ferdinand Foch escreveu: “A França não foi apagada do mapa da Europa sobretudo devido à coragem dos soldados russos”.

Fonte: Gazeta Russa


terça-feira, 24 de agosto de 2021

IMAGEM DO DIA - 24/08/2021

 

Granadeiros da Guarda Imperial Francesa. Foto batida no Campo de Châlons, França, em 1866.  


sábado, 21 de agosto de 2021

EDITOR DO BLOG PARTICIPA DO II SEMINÁRIO A FORÇA TERRESTRE NAS OPERAÇÕES DE DEFESA DO LITORAL



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Editor do Blog participa de conferência sobre doutrina da Artilharia de Costa


No dia 10 de agosto, cooperando com a Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea, o editor do Blog Carlos Daróz-História Militar, historiador e oficial de Artilharia do EB, participou do II Seminário "A força Terrestre nas operações de defesa do litoral", no qual apresentou a conferência A ARTILHARIA DE COSTA E A DEFESA DO LITORAL NO BRASIL EM UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA.

O editor do Blog Carlos Daróz-História Militar apresentando sua conferência


A Artilharia de Costa durante a Revolta da Armada em 1893


Canhão Vickers-Armstrong 152,4mm do 7º Grupo Móvel de Artilharia de Costa disparando na Praia do Cassino, Rio Grande-RS, década de 1960.


O seminário ocorreu com a participação de integrantes da Artilharia do Exército e do Corpo de Fuzileiros Navais e tem, como principal objetivo, atualizar a doutrina sobre a defesa do litoral.



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domingo, 15 de agosto de 2021

BATALHA DE KRBAVA (1493)

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A derrota na batalha significou o fim da resistência independente dos croatas aos turcos, e também um prelúdio à derrota do exército croata-húngaro em Mohacs, um pouco mais tarde, que significou o fim do reino croata-húngaro que durou por 425 anos.


No final do verão de 1493, Jakub-pasha irrompeu com seus soldados através de Stankovci e Stupa, na Estíria, e devastou Celje e Ptuj. Ao retornar da Eslovênia, os turcos também saquearam o Zagorje croata, onde queimaram e saquearam a rica cidade do Príncipe Frankopan, Modrush, na qual estava localizada uma diocese.

Ao retornar à Bósnia, contudo, Jakub Pasha deparou-se com as forças feudais croatas em Mala Kapela. As forças combinadas da Croácia, constituídas por exércitos de todas as famílias nobres de Frankopan, Gusic, Berislavic, Subić e outros, lideradas pelo ban de Derenchin, encontraram-se com o exército turco em Krbavsko Polje, no sopé de Udbina.

Tropas croatas enfrentando os turcos

A infantaria mal equipada teve dificuldades para manter o terreno. A cavalaria feudal croata, significativamente mais pesada que a turca, era muito lenta para lutar eficientemente. Alguns príncipes caíram já no início da batalha, e, quando Ivan Frankopan morreu, o pânico se espalhou entre as fileiras. Pouco depois, Ban Derenchin foi capturado (além dele, os príncipes capturados foram Nikola Frankopan Trzakic e Karlo Gusic), enquanto Bernardin Frankopan foi resgatado. Sem o seu comandante, o resto do exército croata foi dividido, enquanto se retirava ou se afogava no rio.

O exército croata foi tão profundamente derrotado que apenas duzentos homens, dentre vários milhares, conseguiram sobreviver. Após a batalha, os turcos cortaram os narizes dos derrotados para levá-los ao sultão, em troca de uma recompensa.

Soldados turcos recolhendo os despojos no campo de batalha

Indubitavelmente, a nobreza croata após a batalha de Krbava, enfraquecida e empobrecida, já não conseguiu mais proporcionar uma resistência mais forte, e os turcos abriram caminho para novos avanços em relação à Lika na Europa.

A Batalha de Krbava foi, de alguma forma, um prelúdio para a Batalha de Mohacs, onde o Rei Ludwig II Jagielo foi morto e resultou na entrada da Croácia no Império Habsburgo, o que determinou o futuro do povo croata por muitos séculos. Muitos autores consideram essa batalha como o início dos cem anos de guerra no Reino da Croácia e no Império Otomano, que terminou com a Batalha de Sisak em 1593.


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segunda-feira, 9 de agosto de 2021

ESTRANHAS ARMAS INOVADORAS

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Às vezes, vencer uma guerra significa ser um pouco mais inovador do que o inimigo. Afinal, é bom preservar o elemento surpresa, e como o adversário já está preparado para qualquer arma convencional, é preciso ousar um pouco e esperar que funcione.  A seguir, seis armas diferenciadas que se destacaram nas duas guerras mundiais por seu caráter inovador.


O avião grande que carregava aviões menores

Quando viagens aéreas ainda eram algo novo e perigoso, vários projetistas e militares tentaram desenvolver, sem muito sucesso, porta-aviões que voassem. Na União Soviética, uma ideia maluca meio que funcionou: eles decidiram “amarrar” pequenos aviões em um muito maior.

Tupolev TB-3 utilizado no Projeto Zveno

A foto acima é resultado do projeto Zveno de Stalin, que consistia em dar novos usos a bombardeiros russos colossais como o Tupolev TB-3 – no caso, transportar até seis caças-bombardeiros Polikarpov I-16. Todos os aviões tinham que acionar seus motores para a gerigonça decolar.

Polikarpovs I-16 acomodados sobre a asa de um TB-3

O avião maior deveria levar os bombardeiros menores para alvos que normalmente estariam fora de seu alcance, dando aos russos uma boa vantagem. No local certo, os bombardeiros podiam se separar do Tupolev e, depois de cumprir seu papel, os pilotos podiam tentar recolocá-los no avião maior em pleno voo ou pousá-los nas proximidades. Tal façanha chegou a ser realizada em pelo menos 30 ataques antes de a ideia ser abandonada.
  
O morteiro de 600 mm

O Karl-Gerat de 600 mm

No final de 1930, Hitler encarregou o fabricante de armas Rheinmetall de desenvolver um morteiro com um calibre de 600 milímetros. O resultado foi Karl-Gerát, com um motor diesel de 580 cavalos de potência capaz de levá-lo a uma velocidade máxima de quase 10 km/h.

Isso pode não soar muito impressionante, mas o ritmo lento de viagem é compensado pelo fato de que o obus autopropulsado (a maior arma autoutopropulsada já feita) tinha uma munição pesada de 2.170 kg e 60 cm de diâmetro. O alcance do seu projétil mais leve (1.250 kg) era de pouco mais de 10 km.

O devastador impacto de uma granada do Karl contra um prédio na Polônia

O avião-barco alemão

Concebido em 1936 e tendo entrado em serviço por volta de 1940, o Blohm & Voss BV-138 foi um veículo alemão com uma crise de identidade. Era um barco? Era um avião?

Bem, ele foi, basicamente, os dois. E só para ficar mais estranho, ele tinha três motores aéreos e o que parecia um bambolê em torno da coisa toda.

A principal missão do BV-138 era reconhecimento, encargo no qual se destacou por ser o primeiro barco voador manobrável o suficiente para evitar tornar-se queijo suíço ensopado ao primeiro sinal de uma metralhadora inimiga.

O avião-barco BV-138 com sua bobina de desmagnetização em forma de bambolê

Surpreendentemente, a versão mencionada foi a variante mais impressionante e bizarra do veículo. Não tinha armas, justamente para dar espaço para o estranho bambolê, que era, na verdade, uma bobina de desmagnetização concebida com o propósito de deslizar sobre a superfície da água e explodir minas navais com a magia do magnetismo.

A maravilha de madeira

À primeira vista, o De Havilland DH-98 “Mosquito” não parece mais estranho do que qualquer outra aeronave militar da 2ª Guerra Mundial. Mas o diferencial deste veículo da Real Força Aérea britânica é que ele era feito do mesmo material que aquela estante de livros que você comprou e parece sempre estar à beira do completo colapso: madeira compensada.

O De Havilland DH-98 Mosquito era fabricado com madeira compensada e possuía notável desempenho

Os britânicos precisavam de uma aeronave de combate multifunção para ajudar a afastar a infestação nazista que estavam enfrentando. A empresa De Havilland resolveu aproveitar a abundância de materiais fornecidos pela própria Mãe Natureza e criar um bombardeiro bimotor que deixava todos os outros aviões da Europa engasgados com sua serragem.

Apesar de ser de madeira (ao contrário, por causa disso), o Mosquito não só superou todas as expectativas – desde bombardeio milimétrico a foto-reconhecimento de alta velocidade –, como também era melhor que outros aviões contemporâneos e podia ir mais rápido que qualquer coisa que a Luftwaffe lançou até 1944.  Por seu desempenho superior, o Mosquito foi apelidado de "Maravilha de Madeira".

O avião com três asas

Na 1ª Guerra Mundial, um engenheiro alemão olhou para um biplano e pensou: “Quão melhor seria voar com ainda mais asas?”. A lei do “menos é mais” afirma que isso quase certamente terminou em desastre absoluto. Mas não.

Apesar da produção de míseras 320 unidades, o chamado Fokker Dr.I Dreidecker entrou para a história como um demônio alado bem-dotado que podia passar a perna em qualquer coisa que os franceses ou britânicos lançassem em direção ao rosto de Deus de 1917 a 1918.

O Fokker Dr.I foi pilotado por ases alemães, como Werner Moss e o Barão Vermelho

Graças a essa asa adicional, o Fokker tinha um poder enorme de elevação. Nas mãos de um piloto experiente, manobras incríveis eram possíveis: o ás alemão Werner Voss foi capaz de virar o avião 180 graus para atacar brutalmente seus atacantes com as metralhadoras 8 mm do Fokker.

E você também já pode ter ouvido falar de um outro piloto que ficou famoso por enviar pelo menos 70 pilotos aliados para seus túmulos de fogo a partir do cockpit apertado do triplano: Manfred von Richthofen, também conhecido como Barão Vermelho.


Os tanques “engraçados” de Hobart

O Major-general britânico Percy Hobart era uma pessoa muito criativa. O resultado disso foram os chamados “Hobart’s Funnies”, uma série de tanques modificados para executar funções não muito comuns de tanques.

Por exemplo, “The Crab” foi um tanque com um tambor rotativo coberto de correntes enferrujadas. Não servia para lavrar campos – era um caça-minas. As correntes batiam no chão com tanta força que as destruíram enquanto o tanque mantinha os seres humanos dentro dele intactos.

O "The Crab" malhando um campo minado com suas correntes giratórias

Para trabalhos que o “The Crab” não podia aguentar, havia a “Aunt Jemima”. Esta modificação foi feita para remoção de minas antitanque, geralmente enterradas mais profundamente, que eram então desencadeadas pelo peso de um haltere gigante de 29 toneladas.

Com dispositivos mais pesados do que o "The Crab", o "Aunt Jemima" podia neutralizar minas anticarro

Talvez o mais engraçado de todos os Hobart’s Funnies foi o “Duplex Drive”, ou DD Tank. O DD surgiu como resultado da necessidade de levar blindados para as praias da Normandia o mais rapidamente possível. Ao adicionar uma lona e hélices, os Aliados criaram um tanque anfíbio que apenas ocasionalmente naufragava. Uma vez em terra, a lona era retirada para revelar o verdadeiro poder de fogo do tanque.

Um Duplex Drive cruzando rio com sua lona retrátil



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quinta-feira, 5 de agosto de 2021

I SEMINÁRIO INTERNACIONAL "INDEPENDENCIAS LATINOAMERICANAS: UNA MIRADA DESDE LA HISTORIA MILITAR"

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Comemorando o bicentenário do Exército do Peru, o Instituto de Estudios Históricos del Ejército del Perú-CPHEP promove na próxima semana o I Seminário Internacional "Independencias hispanoamericanas: una mirada desde la historia militar".

Contando com a participação de pesquisadores de todos os países da América do Sul, o editor do Blog Carlos Daróz-História Militar representará com muito orgulho o Brasil com a comunicação "Um nuevo ejército para un nuevo país: el soldado brasileño en la guerra de la independencia", pesquisa no âmbito da história social que desenvolvi tendo como objeto as forças do nascente exército brasileiro no contexto da emancipação política do Brasil.

Para quem gosta de História Militar, uma excelente dica.





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PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR - TENENTE-GENERAL MANUEL MARQUES DE SOUZA 1º

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* 27/2/1743 - Rio Grande-RS

+ 22/9/1822 - Rio de Janeiro-RJ


Manuel Marques de Souza 1º foi o primeiro filho do Rio Grande do Sul a governá-lo como província independente, a então Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul, e a comandar suas Armas, embrião da atual 3ª Região Militar. Ainda, foi o primeiro gaúcho a atingir a maior posição na hierarquia militar da época, o posto de tenente-general, hoje general de exército.

Nascido no ano de 1743, em Rio Grande-RS, apenas 6 anos depois da fundação da cidade pelo Brigadeiro de Infantaria José da Silva Paes, assentou praça aos 22 anos de idade no Regimento de Cavalaria de Milícias, em 1765, ingressando como tenente, 5 anos mais tarde, na 1ª linha do Exército. Tinha início o período de sua vida de integral dedicação às lides castrenses, só interrompido por sua morte, em 1822. Assim, das Milícias do Rio Grande ao Comando das Armas da Capitania, foram cerca de 57 anos de significativos serviços prestados, quase que totalmente exercidos no atual Rio Grande do Sul, os quais em muito contribuíram para a demarcação e manutenção das fronteiras brasileiras, protegendo-as ou as reconquistando de invasores espanhóis em diversas oportunidades.

Ao longo de sua trajetória militar, evidenciou sempre notável vocação para a profissão das armas e um acendrado espírito guerreiro, os quais transmitiu ao filho e ao neto, seus homônimos e igualmente partícipes da história da fronteira do Rio Grande e do Brasil, tendo o neto sido consagrado como Conde de Porto Alegre. A despeito da primazia familiar, foi nos campos de batalha, longe de seus herdeiros, onde as qualidades de Manuel Marques mais se assinalaram.

Entre as principais campanhas das quais participou, ressalta-se a reconquista da Vila de Rio Grande, sua cidade natal, em 10 de abril de 1776, quando foi considerado herói ao dirigir sobre ela o ataque principal, na ocasião em que ocupava o posto de tenente ajudante de ordens do Comandante do Exército do Sul. Como coronel, comandou a fronteira do Rio Grande e a sua tropa - a Legião de Cavalaria Ligeira - na vitoriosa guerra de 1801, onde eliminou as guardas espanholas entre os rios Piratini e Jaguarão, as do Chuí e São Miguel e venceu o combate do Passo das Perdizes, incorporando, ao final, expressiva faixa do atual território brasileiro. 

Oficial e soldado portugueses atuantes na fronteira Sul do Brasil na Guerra de 1801

Como marechal-de-campo, coube-lhe comandar a vanguarda da campanha do Exército Pacificador da Banda Oriental em 1812, na qual obteve expressivas vitórias em Santa Teresa, Castilhos, Rocha e Maldonado, adotando a sua estratégia preferida de "atacar antes de ser atacado". Nas guerras contra Artigas, de 1816 e 1820, a qual contou com a participação de seu filho, prestou assinalado concurso ao esforço de guerra que culminou com as vitórias sobre Artigas na fronteira do Rio Pardo, em Catalão e em Taquarembó, além do apoio à Divisão de Voluntários Reais, enviada de Portugal, que conquistou Montevidéu.

Por seu valor indiscutível, seu dinamismo e liderança nas batalhas e imensurável contribuição para o estabelecimento e proteção da fronteira sul do País, o Tenente-General Manuel Marques de Sousa foi imortalizado na História do Brasil e do Exército Brasileiro como paladino da defesa da integridade e da soberania do Brasil na Região Sul, região hoje em grande parte sob responsabilidade militar da 8ª Brigada de Infantaria Motorizada, a qual, presta-lhe uma homenagem, assumindo a designação histórica de “Brigada Manuel Marques de Sousa 1º”.

Fonte: 8ª Bda Inf Mtz



sábado, 10 de julho de 2021

A BATALHA DO LAGO REGILO (c.496 a.C)

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A Batalha do Lago Regilo foi uma lendária vitória romana sobre a Liga Latina logo depois da fundação da República Romana. 


Os latinos eram liderados pelo já idoso Tarquínio Soberbo, o sétimo e último rei de Roma, deposto e expulso em 509 a.C., e seu genro, Otávio Mamílio, o ditador de Túsculo. A batalha foi a última tentativa dos Tarquínios de voltarem ao trono de Roma. Segundo a lenda, Castor e Pólux lutaram pelos romanos nesta vitória. A ameaça de uma invasão de Roma pelos seus antigos aliados no Lácio levaram à nomeação de Aulo Postúmio Albo como ditador. Ele escolheu Tito Ebúcio Helva para ser seu mestre da cavalaria.

O ano exato no qual a batalha ocorreu é incerto e já era assim nos tempos antigos. Lívio localiza a batalha em 499 a.C., mas afirma que algumas de suas fontes também sugerem que ela pode ter acontecido no ano do consulado de Postúmio em 496 a.C. A outra principal fonte para este período, Dionísio de Halicarnasso também concorda com esta data. Autores modernos também já sugeriram 493 a.C. ou 489 d.C.

O Lago Regilo ficava no centro de uma cratera vulcânica, entre Roma e Túsculo, e foi drenado no século IV a.C.. Segundo Lívio, os volscos, uma tribo vizinha que habitava a região ao sul do Lácio, havia mobilizado um exército para ajudar na luta dos latinos contra Roma, mas a pressa do ditador romano em se engajar rapidamente no combate fez com as forças volscas chegassem atrasadas.

Condições atuais de um dos possíveis lugares onde o Lago Regilo (Cratera Prata Porci, Monte Compatri) se localizava


Choque de forças

O ditador Postúmio liderou a infantaria romana e Helva, a cavalaria. Tarquínio estava com seu último filho ainda vivo, o primogênito Tito Tarquínio. Conta-se que a presença dos dois aumentou ainda mais o fervor dos romanos no combate.

Logo no início, o rei foi ferido ao tentar atacar Postúmio. O mestre da cavalaria atacou Mamílio e os dois foram feridos, Ebúcio no braço e o ditador latino, no peito, e acabou obrigado a se afastar do combate e comandá-lo à distância. Os soldados do rei, incluindo muitos romanos exilados, começaram a levar vantagem sobre as forças republicanas e os romanos sofreram um revés quando Marco Valério Voluso, cônsul em 505 a.C., foi morto por uma lança enquanto atacava Tito Tarquínio, mas Postúmio engajou sua própria guarda pessoal na luta e progresso inimigo foi interrompido.

Reprodução de moeda que homenageia Tarquínio Soberbo

Enquanto isso, Tito Hermínio Aquilino, famoso por ter lutado ao lado de Horácio Cocles na Ponte Sublício e cônsul em 506 a.C., atacou Mamílio e o matou; porém, ele próprio foi morto por um dardo enquanto tentava retirar os espólios de seu inimigo vencido. Como o resultado da batalha ainda era duvidoso, Postúmio ordenou que os cavaleiros desmontassem para lutar a pé, forçando os latinos a se retirarem, o que lhes permitiu capturar o acampamento latino. Tarquínio e o exército latino abandonaram o campo de batalha e o resultado foi uma vitória decisiva para os republicanos. Postúmio e seu exército voltaram para Roma e o ditador celebrou seu triunfo sobre os latinos.

Uma lenda muito popular conta que os Dióscuros, Castor e Pólux, lutaram com os romanos na forma de dois jovens cavaleiros. Postúmio ordenou então a construção do Templo de Castor e Pólux no Fórum Romano, no exato local onde os dois teriam dado de beber aos seus cavalos. 


Consequências

Depois desta vitória, um tratado conhecido como "Foedus Cassianum" ("Tratado de Cássio") firmou uma aliança entre romanos e a Liga Latina. O tratado foi batizado em homenagem ao cônsul Espúrio Cássio. 

Este conflito marcou um ponto de inflexão no qual Roma tornou-se o poder dominante no Lácio, embora ainda reconhecesse a autonomia e independência de várias cidades-estado latinos. Ele estipulava que os latinos deveriam prover aliança militar aos romanos no caso de ameaças externas e que quaisquer exércitos mobilizados para este fim seriam comandados por romanos. Também legalizou o casamento entre cidadãos romanos e latinos, um antigo ponto de disputa, e recobrou o comércio da região.



terça-feira, 29 de junho de 2021

UNIFORMES - OFICIAL DOS ATIRADORES ARGELINOS, 1867

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Tenente do 3º Regimento de Atiradores Argelinos do Exército Imperial Francês. 


Renato Coutinho


Excelente foto batida em 1867. Este veterano veio de baixo. Começou sua carreira militar como praça, sargento na Guerra da Criméia, servindo no 5º Batalhão de Caçadores a Pé do Exército Imperial Francês, quando foi condecorado por bravura com a Medaille Militaire (condecoração que aparece nesta foto). Foi promovido a 2º tenente (sous-lieutenant em francês), promoção que recompensou sua conduta exemplar sob fogo, quando tinha 29 anos de idade. Foi promovido a 1º tenente com 34 anos (simplesmente "tenente" em francês). 

O oficial também lutou na Campanha do México. Em 1870, quando eclodiu a Guerra Franco-Prussiana, era capitão comandando uma companhia de um dos batalhões do excelente 3º Regimento de Atiradores Argelinos. Na Batalha de Froeschwiller, o 3º Regimento de Atiradores Argelinos combateu com uma tenacidade fora do comum e sofreu baixas muito pesadas. O capitão teve o quepe arrancado de sua cabeça por um projétil de fuzil prussiano, o qual também arrancou alguns cabelos de sua cabeça. Outra bala inimiga partiu a lâmina de seu sabre (esse mesmo sabre que aparece na foto). O capitão deu sorte naquele dia... Não foi ferido... Cerca de 82% dos oficiais do regimento foram mortos ou feridos naquele terrível dia. 

Ele foi agraciado com a Légion d'Honneur pela conduta/liderança exemplar que teve naquela batalha. Encerrou sua carreira militar em 1884, como coronel comandando um regimento de infantaria de linha francês.


segunda-feira, 14 de junho de 2021

IMAGEM DO DIA - 14/6/2021

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Grupo de veteranos franceses da Batalha de Verdun durante uma viagem aos EUA para ajudar a apoiar o Terceiro Empréstimo da Liberdade, promulgado em abril de 1918, e que permitiu a captação de US$ 3 bilhões em títulos de guerra a 4,5% de juros.



domingo, 13 de junho de 2021

BAIONETA: A ARMA QUE MILITARIZOU O CAMPONÊS RUSSO

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A baioneta estreou nos exércitos europeus no final do século 17 como uma espécie de “arma de destruição em massa” primitiva. As armas de fogo da época eram pouco precisas e apresentavam diversos problemas técnicos. Mas a baioneta imediatamente revolucionou os rifles pesados e ineficientes nos quartéis da Europa.


Por Alexandr Verchínin


No final do século XVII surgiu uma novidade no continente europeu que iria mudar drasticamente a dinâmica e eficácia do combate de infantaria: a baioneta. Esse punhal fixo montado abaixo do cano de um fuzil permitia que um soldado em terra lutasse contra um adversário de perto quando o uso de qualquer arma de fogo já era impraticável.

As tropas preferiam recorrer ao gatilho e balas, acumulando rapidamente uma grande quantidade de corpos em ambos os lados. Mas um esquadrão de infantaria armado com fuzis e baionetas não só conseguia resistir contra os ataques de cavalaria, mas era também capaz de montar ataques que poderiam acabar com setores inteiros das tropas inimigas.

Os soldados russos se familiarizaram com a baioneta no início do século XVIII, e comprovaram de cara os benefícios dessa lâmina fixa montada abaixo do cano da arma. A inconsistência do calibre e falhas de disparo muitas vezes tornavam os rifles obsoletos e ineficazes no campo de batalha, especialmente para as tropas compostas por trabalhadores rurais.

Mas um fuzil com uma baioneta afiada era muito parecido com o tridente usado pelos camponeses russos desde a infância. Enquanto o soldado de infantaria europeia tentava fincar a baioneta no peito do inimigo, com seu fuzil mantido na altura do ombro, os granadeiros russos atacavam no “estilo camponês”, empunhando o objeto na posição vertical contra a barriga. Quando a baioneta penetrava, eles largavam a coronha do rifle e impulsionavam a baioneta. Além disso, o modelo triangular da baioneta russa tornava a arma mais fácil de penetrar em roupas grossas e deixar feridas profundas e de difícil cicatrização. “A bala é tola; a baioneta, uma boa companheira”, disse certa vez o famoso general russo Aleksandr Suvorov, que enfatizou a necessidade de habilidades de luta entre os cadetes do exército.

Enquanto os fuzis de cano liso do final do século XVIII tinham alcance de até 100 passos (cerca de 75 metros), a infantaria de Suvorov cobria essa distância em 30 segundos, permitindo que o inimigo desse apenas um voleio antes de ser massacrado pelas ondas de tropas russas.

Em algumas ocasiões, seus protégées venciam forças muitas vezes maiores em número e armas. “O inimigo tem mãos como nós, elas só não sabem manusear a baioneta”, escreveu Suvorov. Antes da campanha italiana contra os franceses, em 1799, ele supervisionou pessoalmente o treinamento de baioneta para o Exército austríaco aliado, que também contava com técnicas de combate corpo a corpo.

Napoleão cobrara uma vitória contra as forças russo-austríacas na Batalha de Austerlitz, em 1805, mas o general francês elogiou mais tarde as habilidades dos inimigos russos. “Os russos lutaram contra seus adversários um por um. Eu vi como soldados lutavam sozinhos com tanta confiança, como se tivessem o apoio de um batalhão”, afirmou.

Na batalha de Leipzig, em outubro de 1813, alguns soldados do Regimento de Salvaguarda Finlandês foram cercados por forças inimigas superiores. Os granadeiros revidaram com baionetas fixas até que apenas um soldado continuasse vivo. Ferido 18 vezes, ele foi preso e, em seguida, citado por Napoleão como um exemplo de habilidade de combate próximo para o seu exército.

Infantaria russa realiza um ataque à baioneta na Batalha de Berezina


Na Guerra da Crimeia, nos anos de 1854 e 1855, os britânicos e franceses experimentaram a fúria da carga de baioneta russa durante o cerco de Sebastopol.

A Rússia pode não ter vencido a guerra, mas o efeito de suas lâminas foi uma memória persistente para os vencedores. Doze anos depois, O Reino Unido e a França até pressionaram a organização russa da Sociedade Internacional da Cruz Vermelha a convencer as autoridades militares russas a abandonar o uso de golpes de baioneta contra o estômago. A Rússia concordou formalmente com o pedido, mas seus soldados muitas vezes continuavam a lutar usando o estilo antigo.

Até o início do século XX, as habilidades de combate com baioneta da Rússia eram consideradas as melhores da Europa, apesar de não haver orientações escritas – as habilidades eram passadas de soldado para soldado.

A baioneta russa também encontrou aplicação na nova era de fuzis de disparo rápido e até foi adotada em alguns dos principais rifles alemães na Primeira Guerra Mundial. Mas a baioneta foi gradualmente suplantada por variantes, que seriam amplamente introduzidas no Exército Vermelho – antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial interromper essa reforma.

A rapidez do ataque nazista à União Soviética indicou que ainda havia muito espaço para a baioneta no campo de batalha quando a guerra eclodiu. O soldado soviético Ivan Ischenko, por exemplo, matou sete alemães em combates corpo a corpo perto de Kirovograd, em 1944, usando sua afiada baioneta russa.

Depois da guerra, o Exército soviético finalmente adotou a faca-baioneta, que foi lançada com o novo fuzil de assalto Kalashnikov. A antiga arte marcial se espalhou para além do ambiente militar como uma variação de esgrima, com carabinas e baioneta. Não durou muito mais do que uma década, no entanto, e foi retirada a pedido do Comitê Olímpico Internacional, que considerava a modalidade excessivamente agressiva e militarista.

Fonte: Gazeta Russa