Em 28 de abril de 711, os árabes atravessam o Estreito de Gibraltar em direção à Espanha. Em quatro anos, conquistam quase todo o país, chegando até a França.
Por Jens Teschke
Tarik ibn Ziyad, o governador da cidade de Tânger, desembarcou na Baía de Algeciras com cerca de 8 mil soldados. Primeiro ele se instalou à volta do penhasco de Calpe, onde construiu suas primeiras fortalezas. Mais tarde, esse penedo recebeu o nome Djabal Tarik – o monte de Tarik – atualmente conhecido como Gibraltar.
Algumas semanas mais tarde, aportaram outros milhares de soldados – berberes em sua maioria – e Tarik seguiu terra adentro. O primeiro choque sangrento entre os árabes e os visigodos que dominavam a Espanha data de 19 de julho de 711. Os dois exércitos enfrentaram-se por vários dias e somente a traição por parte das tropas do rei Roderico decidiu a batalha. O caminho para Córdoba e Sevilha estava aberto para os mouros.
O reino visigótico estava praticamente esfacelado, a resistência era quase nula. Pode-se dizer que houve um colapso interno total após o primeiro ataque dos agressores estrangeiros, bloqueando qualquer resistência por parte da população cristã.
Os visigodos haviam subestimado o perigo representado pelos árabes. Depois que Tarik começou sua marcha do sul para o norte, bastaram apenas sete anos até que os novos conquistadores se estabelecessem. A penetração da cultura muçulmana na Europa tem consequências até hoje.
UE reconectou Espanha ao continente
Para a Espanha, a invasão representou o desligamento quase total da Europa, o início de uma história quase hermética desde a Idade Média até a Era Moderna. Segundo o historiador Michael Borgholte, da Universidade Humboldt de Berlim, não é exagero afirmar que só com a sua filiação à União Europeia é que a Espanha voltou a se conectar com o resto do continente.
Visto sob o pano de fundo da história europeia, a conquista muçulmana da Espanha foi o campo de experiências para o choque e a simbiose de três culturas, representadas pelas três grandes religiões: Cristianismo, Islamismo e Judaísmo.
O processo de fertilização cultural foi especialmente intenso no século XI, sobretudo na cidade de Toledo. Os conhecimentos linguísticos de numerosos judeus eruditos ali residentes lhes permitiram traduzir para o latim os relatos históricos em árabe e grego. Por outro lado, a cidade logo atraiu estudiosos da Inglaterra, França e Alemanha para estudar esses documentos antigos.
A expansão muçulmana na Europa possui reflexos até os dias atuais
Porém, desde o século IX, as tensões cresciam. Partes da Espanha começaram a ser reconquistadas pelos cristãos. O resultado foram cruéis perseguições e pogroms, como, por exemplo, em 1066, quando 1.500 famílias judaicas foram assassinadas.
Início da Reconquista
A fase de poder ilimitado dos mouros acabou em 718, mas foi apenas no ano de 732 que os sucessores de Tarik sofreram a derrota definitiva. Eles haviam chegado longe, atravessado os Pireneus até Poitiers. Sob os golpes de Charles Martel, o avô de Carlos Magno, a Gália foi resgatada para a Europa. Após a vitória de Poitiers começou a Reconquista.
O processo foi difícil, já que os muçulmanos dilapidaram o país em sua retirada. A Espanha estava despovoada, cada investida dos cristãos, de 718 a 1493, implicou a recolonização uma a uma das regiões abandonadas. Antes de cada próximo passo, o vácuo deixado pelos mouros tinha que ser preenchido.
A Batalha de Poitiers, em 732, assinalou o limite da expansão muçulmana na Europa e o início da longa Guerra de Reconquista
Em 1493 os mouros estavam definitivamente vencidos. Com o apogeu dos reis católicos seguiu-se uma catolização radical da Espanha, excluindo qualquer possibilidade de convivência pacífica entre as diferentes culturas e religiões. Um ano antes, começara o êxodo dos judeus para os países vizinhos, expulsos pelo casal real Fernando e Isabel.
Hoje, tanto por seu passado como pela situação geográfica, a Espanha é a ponte entre a União Europeia e a África.
Fonte: DW
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