No
dia 6 de maio de 1936, a Itália realizava o sonho de transformar o país em
império. Da sacada do Palazzo Venezia, Mussolini anunciou que tropas italianas
haviam ocupado Adis Abeba e dominado a Abissínia.
Por
Oliver Ramme
No
delírio da vitória, ninguém podia imaginar que a empreitada colonialista
italiana na África Oriental seria de pouca duração. Em Roma, só se pensava em
comemorar a revanche por uma derrota sofrida há 40 anos. Em 1896, a Itália fora
humilhada na fronteira entre a Eritreia e a Etiópia, no maior conflito militar
ocorrido até então em solo africano. Oito mil soldados italianos morreram na
batalha de Adua.
Arrogantes,
os italianos haviam subestimado a força e o engenho tático das tropas do
imperador Menelik. Com a derrota, a Itália teve de enterrar as suas ambições de
se tornar uma das grandes potências coloniais.
O
país foi obrigado a pagar reparações; milhares de prisioneiros de guerra foram
submetidos a trabalhos forçados, na construção da capital, Adis Abeba. Quarenta
anos depois, essa humilhação continuava doendo aos italianos, como prova uma
carta do escritor direitista Gabriele d’Annunzio a Mussolini: "Ainda sinto
a cicatriz de Adua no meu ombro", escreveu.
Mais
de dez anos de preparo
Pouco
depois da subida de Mussolini ao poder, em 1922, haviam sido armados os
primeiros planos para um ataque à Etiópia. Mas somente em 1935 a Inglaterra e a
França consentiram silenciosamente a invasão. Supostamente, Paris e Londres
teriam cedido para impedir que Mussolini fizesse uma aliança com Hitler. De
março a setembro de 1935, 177 mil soldados italianos desembarcaram com armas e
equipamentos de transporte na cidade portuária de Massaua (Eritreia).
Forças italianas modernas não encontraram dificuldade em subjugar a Abissínia
As
advertências do imperador Haile Selassié de que a Etiópia não ficaria de braços
cruzados no caso de uma invasão foram ignoradas em Roma. Na madrugada de 3 de
outubro, o exército italiano cruzou o rio fronteiriço Mareb, abrindo uma frente
de combate de 70 quilômetros.
Segundo
a emissora BBC, poucos minutos após a invasão, o governo da Abissínia enviou um
telegrama à Liga das Nações, em Genebra, informando que aviões italianos
atacavam Adua e os combates já se estendiam em direção a Agamee.
Crueldade
e transgressão à Convenção de Genebra
A
campanha militar avançou lentamente. Sobretudo as longas distâncias dificultavam
o abastecimento dos 500 mil soldados italianos. A Liga das Nações condenou a
agressão, impôs um embargo de armamentos e um boicote econômico à Itália. As
sanções, porém, não tiveram efeito e o embargo foi suspenso poucos meses
depois.
A
guerra na Abissínia foi conduzida com toda a crueldade imaginável, incluindo o
uso do gás mostarda, numa evidente transgressão à Convenção de Genebra,
assinada pela Itália em 1925. Os italianos levaram mais de meio ano e perderam
4 mil soldados até entrarem vitoriosos em Adis Abeba, obrigando Selassié a
fugir para o exílio em Londres.
O fraco exército da Abissínia não foi capaz de conter os italianos
Nos
anos seguintes, a resistência etíope foi duramente reprimida, principalmente
depois de um atentado ao vice-rei Rodolfo Graziani – nomeado por Mussolini. Num
dos incontáveis massacres, 400 monges foram executados num mosteiro copta.
O
domínio do império italiano criado por Mussolini sobre a Etiópia só durou cinco
anos. Fustigada pela guerrilha, a Itália praticamente não conseguiu ocupar o
território e explorar as ambicionadas matérias-primas.
Em
1941, durante a Segunda Guerra Mundial, tropas do Reino Unido expulsaram os
italianos e recolocaram Selassié no trono. Um ano antes, Mussolini havia
declarado guerra à França e ao Reino Unido. As relações entre a Itália e a
Etiópia somente se normalizaram em 1997, quando o presidente italiano Oscar
Luigi Scalfaro foi a Adis Abeba, "para encerrar definitivamente um
vergonhoso capítulo da história".
Fonte:
DW
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