"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



terça-feira, 2 de agosto de 2022

OS TANQUES CHRISTIE SOVIÉTICOS

.

Construtores soviéticos de tanques e o engenheiro norte-americano John Walter Christie pareciam destinados a trabalhar juntos.

Por Alexandr Verchínin


Em 1929, a delegação soviética que visitou as fábricas norte-americanas e europeias em busca de novos projetos para fabricação de blindados se deparou com John Walter Christie. Na época, o norte-americano trabalhava na melhoria do chassi do seu tanque. A sua ideia era usar grandes molas para a suspensão, mas a instalação delas exigia espaço adicional, o que contrariava a concepção de um taque ligeiro pequeno e rápido. Ao resolver este problema, Christie mostrou seu potencial de inovar: ele introduziu uma alavanca especial que transformava a orientação da mola de vertical para horizontal. Graças a isso, ela podia ter o tamanho que fosse necessário.

O projeto de Christie interessou aos soviéticos, que decidiram agir rapidamente, uma vez que os concorrentes – os poloneses – rondavam ali, e a Polônia era vista como um dos potenciais adversário da União Soviética na guerra que estaria por vir. Decidiram então comprar não o tanque em si, mas apenas o seu chassi – o que de mais valor havia no modelo de Christie.

Outro aspecto que tornava aquele negócio muito importante era o fato de o americano concordar em transferir para a parte soviética toda a documentação técnica, envolvendo-se pessoalmente na organização da produção dos tanques na URSS e permitindo o acesso de engenheiros soviéticos à produção dos veículos.

O revolucionário sistema de Chassis Christie


Os motores Liberty utilizados no modelo de Christie já eram produzidos em fábricas soviéticas sob uma marca diferente. No total, US$ 60 mil foram pagos por dois tanques – um valor bem alto para a época. Pelas peças de reposição foram outros US$ 4.000. Mas a maior parte do custo – US$ 100 mil – correspondia aos direitos técnicos e patentes.

A dificuldade estava no fato de não existirem relações diplomáticas entre a União Soviética e os Estados Unidos em 1930 e, por isso, o negócio foi oficialmente efetuado pela empresa Amtorg, criada pelo governo soviético para a aquisição de tecnologia no exterior. Além disso, um "acordo verba entre cavalheiros" foi feito por Christie e pelo chefe da delegação soviética, Khalepski. No final da década de 1930, dois exemplares do tanque sem torres foram enviados por mar para a URSS.


Bom, mas não ótimo

Já em Moscou, os veículos foram estudados nos mínimos detalhes. Na época, os engenheiros soviéticos tinham adquirido grande experiência em trabalhar com blindados estrangeiros. O modelo de Christie recebeu uma avaliação geral positiva, mas os testes principais seriam feitos no campo de treinamento militar.

Em dez dias, o tanque de Christie (ainda sem torre) percorreu uma distância de 150 km. Ao se livrar das lagartas quando passava para a estrada, o tanque alcançava a velocidade sem precedentes de 70 km/h. Equipado com rodas, superava facilmente as trincheiras e fileiras de arame farpado.

Mas também era evidente que havia deficiências: a suspensão do tanque não era suficientemente estável, o assento do condutor era muito apertado e a unidade de controle, pouco prática: ao fim de 5 horas de marcha, o tanquista ficava exausto. O motor superaquecia e na velocidade máxima era fácil perder o controle da viatura. Em outras palavras, ainda havia muito a ser feito. Mesmo assim, de um modo geral, essa máquina tinha um potencial grande.

Tanque da série BT em ação

"Considerando a forma com que foi apresentado nos testes, o tanque de Christie é uma máquina de deslocamento universal. Como máquina de combate, ainda requer muito trabalho e uma série de melhorias e alterações no projeto", concluiu a comissão responsável por avaliar o modelo. 

O tanque de Christie foi aceito para produção sob o código BT (de “tanque rápido”, em russo). Paralelamente, foi decidido descontinuar a produção dos modelos T-18. Foi a fábrica de Kharkov – uma das maiores do país e especializada na fabricação de veículos lagarta – que ficou incumbida de fabricar o tanque segundo o projeto de Christie. Um ano depois se deu o lançamento dos primeiros BT. Até o início da 2ª Guerra Mundial, esse era um dos tanques mais populares no Exército Vermelho. No entanto, o projeto mais importante desenvolvido com base no modelo de Christie foi o famoso T-34.

BT-7 do Exército Vermelho


Fonte: Gazeta Russa


Nenhum comentário:

Postar um comentário