"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

FALECIMENTO DO CAPITÃO SCEPANIUK, UM DOS PIONEIROS DO PARAQUEDISMO MILITAR NO BRASIL







O Blog Carlos Daróz-História Militar lamenta informar o falecimento do Capitão Pqdt nº 44 Casemiro Scepaniuk, aos 92 anos, no Rio Grande do Sul, um dos pioneiros do paraquedismo militar no Brasil.

Ao velho Soldado Paraquedista, a nossa homenagem em um texto de autoria do jornalista Lino Tavares, publicado em 2009.



UMA LENDA VIVA DO PARAQUEDISMO MILITAR

Por Lino Tavares

O Bairro Partenon, um dos mais tradicionais de Porto Alegre, a Capital dos Pampas, abriga em seu interior muitas entidades e cidadãos ilustres, que se notabilizaram nos mais diversos ramos da atividade humana. Entre eles, o capitão reformado do Exército Casemiro Scepaniuk, de 89 anos, é com certeza um dos mais celebres moradores do local. Deve-se tal notoriedade ao fato de ser um dos pioneiros do paraquedismo militar brasileiro, iniciado com a criação da Brigada Paraquedista – hoje Brigada de Infantaria Paraquedista – localizada na região conhecida como Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Scepaniuk é o paraquedista militar de nº 44, sendo o mais antigo deles, residente em terras gaúchas.

Ele nasceu em Erechim, no ano de 1921, em uma família de origem eslava. Fez o serviço militar obrigatório em 1939, servindo, durante dois anos, no 5º Regimento de Cavalaria, acantonado no bairro Boqueirão em Curitiba, dando baixa em 1941 como soldado. De volta ao Sul, Trabalhava como motorista de ônibus em Porto Alegre, quando o presidente Getúlio Vargas declarou guerra às Forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), para a qual foi convocado, ficando de prontidão com a sua guarnição, aguardando ser chamado para o conflito mundial. Em razão de promoções emergenciais que se fizeram necessárias no Exército (até então doutrinado pela Comissão França-Brasil), para adequar-se ao treinamento e organograma do US Army, que resultou no aumento de contingente em face da criação de novas Organizações Militares, o então soldado Casemiro Scepaniuk, mesmo sem ser cabo, foi encaminhado diretamente para frequentar um curso rápido de formação de sargentos. 

Já graduado, foi inscrito na Escola de Educação Física do Exército, pois era uma atleta nato, sendo antigo jogador do clube Britânia (hoje Paraná Clube). Com essas credenciais, integrou a equipe de atletismo do Exército, em corridas de fundo e meio-fundo. Mas o chamado para participar da guerra não veio. Na Escola de Educação Física, Scepaniuk teve contato com as primeiras turmas de Paraquedistas que voltaram dos Estados Unidos e estavam recrutando candidatos naquela Escola e na então recém criada Escola Militar de Rezende (atual AMAN). Contudo, ele não gostou dos exercícios físicos ministrados pelos paraquedistas, considerando-os fora dos padrões sob os quais havia cursado a Escola de Educação Física, razão pela qual recusou o convite que lhe fora feito nesse sentido.

Terminada a guerra, surgiram rumores de que o Brasil iria diminuir seus efetivos militares, para fazer frente aos problemas políticos e econômicos decorrentes de sua participação no conflito. Certo dia, Scepaniuk recebe um radiograma do Ministério da Guerra, nestes termos: 

“O Coronel Nestor Penha Brasil, comandante da Escola de Paraquedistas, convida o 3º Sargento Cav Casemiro Scepaniuk a prestar exame nesta instituição, para, após ser aprovado, cursar no Fort Benning/Georgia/USA, o curso de Paraquedista Militar”

Mostrou o documento a um amigo subtenente, dizendo que não iria aceitar o convite, por discordar da ginástica dos paraquedistas, segundo ele muito puxada para os padrões normais. Ouve então do amigo o seguinte conselho: “Meu filho, esta é uma oportunidade de ouro que está sendo apresentada a você, aqui no Regimento. Você e muitos outros vão ser desligados por excesso de contingente. Vá logo fazer esta prova e seja o que Deus quiser”.

O então sargento Pqdt Scepaniuk, em atividade paraquedista

 Sensível ao conselho do companheiro mais graduado e mais antigo, o 3º Sargento Casemiro Scepaniuk aceitou o convite, foi fazer o curso e se tornou o Paraquedista número 44 em um total de 47 oficiais e sargentos que foram para os Estados Unidos, tornando-se os pioneiros do paraquedismo militar brasileiro, 12 dos quais ainda são vivos. De volta ao Brasil, sempre esteve ligado a área da Educação Física, na qual atuou como treinador de várias equipes de futebol, como o Clube Botafogo de Futebol e Regatas, bem como instrutor de atletismo do Núcleo da Divisão de Paraquedistas do I Exército (hoje Comando Militar do Leste).

Já como 2º sargento, o paraquedista Scepaniuk pesquisou e descobriu uma falha em um gancho do paraquedas, que se abria, mesmo depois de ser devidamente colocado no cabo de ancoragem das aeronaves, tendo já ocasionado uma morte e alguns feridos, salvos pela abertura do paraquedas reserva. Ciente disso, criou um simples “pino de segurança”, que, inserido no referido gancho, não permitia sua abertura acidental, conseguindo com essa ideia genial salvar muitas vidas.em acidentes com saltos enganchados.

Chamado aos Estados Unidos, os fabricantes de paraquedas, maravilhados com a invenção, cientificaram-no sobre a difusão dessa sua ideia pelo mundo, entre vários países, inclusive o Brasil, ficando o importante dispositivo de segurança em forma de pino conhecido popularmente como “chipanique”, embora o nosso inventor conterrâneo nunca se dispusesse a patentear o importante invento.

O hoje Capitão QAO Pqdt Casemiro Scepaniuk Integra o Grupo Grafonsos, que congrega paraquedistas de todo o Brasil, com sede em Porto Alegre, contingente esse que costuma desfilar na Parada de Sete de Setembro de Porto Alegre e participar de encontros de confraternização com companheiros paraquedistas da Ativa, como o realizado dia 22 do corrente, em Alegrete, no Oeste gaúcho, contando com a presença desse veterano militar, que é uma lenda viva do Paraquedismo do Exército Brasileiro.

Nossos agradecimentos ao Paraquedista Ricardo Freire, do Grupo Grafonsos, que colaborou gentilmente, pesquisando e fornecendo os dados biográficos relativos ao personagem central desta reportagem.

Fonte: Cel Leonardo Araújo

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2 comentários:

  1. Quando dei meu primeiro salto no Campo dos Afonsos em 1965, saltei sem preocupaçao sabendo que o gancho de meu paraquedas estava preso com a invençao deste audaz companheiro , vai com Deus amigo. J. Roberto pqd 12.500 Brasil Acima de Tudo.

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    1. Obrigado pelo testemunho, Pqdt José Roberto. Brasil acima de tudo!

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