sábado, 28 de fevereiro de 2015

INVASÕES BRITÂNICAS NO RIO DA PRATA

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Causou enorme espanto e sentimento de impotência entre os sul-americanos o deslocamento da Royal Navy, a Marinha Real Britânica, em direção às frias águas do Atlântico Sul durante a Guerra das Malvinas, no ano de 1982. Reproduziu-se, naquela ocasião, o que fora um grande tormento um século e meio antes para as então jovens nações sul-americanas logo depois do Movimento da Independência - a "diplomacia das canhoneiras". A todos veio à memória que aquele tipo de operação punitiva permeou por várias vezes as relações das potências europeias com os povos sul-americanos durante o século XIX.




Ingleses no Rio da Prata


Para os argentinos, a ameaça de uma intervenção naval britânica não trazia nada de inusitado. Na verdade, a Guerra das Malvinas, ocorrida em 1982, foi o quarto enfrentamento entre os súditos de Sua Majestade e os habitantes do Prata desde os tempos colônias. Nesta rememoração, selecionamos dois desses confrontos: o primeiro deles ocorrido entre 1806 e 1807, conhecido como as Invasões Inglesas, e o segundo, aquele que se deu com a ocupação das ilhas Malvinas, em 1833.


Descontando-se as constantes ações de corsários ingleses na bacia do Prata, a primeira e mais séria demonstração de interesse britânico em se apossar de Buenos Aires ocorreu quando Sir Home Popham, atrás de "lucro e glória", como ele mesmo escreveu, organizou em 1806 uma expedição naval com fins da sua conquista, sem que para tanto tivesse recebido qualquer autorização oficial para isso.


Ele fora informado por um negociante norte-americano que a cidade de Buenos Aires, muito mal defendida, possuía uma considerável reserva em dinheiro avaliada em US$ 27 milhões, o que imediatamente fez crescer-lhe a cobiça.

Sir Home Popham, o invasor de Buenos Aires



Visualizou, por igual, a possibilidade de furar o protecionismo mercantil do decadente império espanhol, esperando fazer com que as mercadorias vindas de Londres penetrassem em definitivo no interior do continente Sul-Americano. Quem ocupasse a embocadura do Rio da Prata faria cair todo o cone sul em suas mãos.




Sir Home Popham, primeiro invasor de Buenos Aires



Tomando Buenos Aires, Popham desejava ter acesso direto a um desconhecido e exótico mercado. Contudo, os mercadores ingleses se frustraram mais tarde com o fato de que o hinterland do Cone Sul, formado pelas províncias de Entre-Rios, Corrientes e do Paraguai, era praticamente despovoado, estando longe das expectativas de formar um público consumidor relevante. Mas isso foi mais tarde.


O almirante inglês organizou então um comboio naval que transportaria 1,6 mil soldados e que teria como ponto de partida a recém-conquistada Cidade do Cabo, na África Austral, ocupada pelos britânicos em 25 de julho de 1805, e também a Ilha de Santa Helena, no Atlântico.


Num primeiro momento, a força expedicionária inglesa não teve dificuldades em tomar a capital do então Vice-Reino do Prata em 25 de junho de 1806, tendo em vista que a principal autoridade espanhola, o vice-rei Sobremonte, retirou-se para Córdoba sem resistir, levando consigo 9 mil onças de ouro do seu patrimônio.


Para surpresa dos britânicos, os portenhos não demoraram em reagir. Uma aliança entre comerciantes espanhóis, burocracia estatal-militar e estancieiros crioulos, representados, respectivamente, por Alzaga, Liniers e Pueyrredón, retomaram a cidade com certa facilidade.



Fonte: Terra

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domingo, 22 de fevereiro de 2015

EUROPA CRIA ACERVO PARA LEMBRAR 1ª GUERRA

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  No centenário do conflito, instituição ligada à UE roda o continente em busca de objetos de quem fez parte da história.  Coleção inclui carta do então combatente Hitler a colega de trincheira.



Por Rodrigo Vizeu
Quando era pequeno, o alemão Markus Geiler, 46, sempre ouvia que só existia graças à Bíblia. No caso, um exemplar específico, atravessado por um estilhaço de obus e que salvou seu avô na Primeira Guerra Mundial.  A guerra eclodiu há cem anos, quando o herdeiro do trono austro-húngaro, Francisco Ferdinando, foi morto por um nacionalista sérvio, levando à escalada que envolveu a Europa e o mundo.

Aos 23 anos, o avô de Markus, o soldado alemão Kurt Geiler, lutava em Verdun (França), uma das batalhas mais mortíferas do conflito. Dormia, usando a Bíblia como travesseiro, quando os franceses jogaram o explosivo dentro do abrigo alemão. Todos morreram, exceto Geiler.  "Essa Bíblia é um memorial antiguerra, mostra como ela é cruel e sem sentido", conta o neto do soldado. 

Markus tornou a história conhecida por meio de um projeto da fundação holandesa Europeana, ligada à União Europeia, que roda o continente para catalogar e fotografar objetos e documentos da época da guerra. A ideia é tornar público e de fácil acesso um material que se manteve restrito às famílias por cem anos. A entidade já digitalizou mais de 125 mil itens privados, além de reunir outros 400 mil antes espalhados em bibliotecas, centros culturais e arquivos audiovisuais.

Em outubro, o site com todos esses documentos (http://europeana1914-1918.eu), hoje em inglês e outras dez línguas, estará em português, marcando a campanha de coleta em Portugal. Uma coleta no Rio de Janeiro está planejada para março de 2015, em parceria com o arquivo da cidade.

Uma descoberta de grande repercussão, via doação anônima, foi um cartão postal enviado em 1916 pelo então cabo do Exército alemão e futuro ditador Adolf Hitler. Após ter sido ferido em combate na França, Hitler foi para Munique, na Alemanha, e de lá enviou o postal a um amigo de trincheiras, Karl Lanzhammer. Aquele que seria o pivô da Segunda Guerra Mundial diz estar sob tratamento dentário e demonstra ansiedade para voltar a combater na Primeira: "Vou me apresentar como voluntário para o front imediatamente".

 
Brasil

Apesar da participação marginal do Brasil na Grande Guerra, duas histórias trágicas recolhidas pela Europeana têm ligação com o país.  

O jovem italiano Ernesto Pascotto emigrara com a família para o Brasil e decidiu visitar a terra natal em 1915.  Ao chegar lá, a Itália entrou na guerra ao lado da França e do Reino Unido. Pascotto acabou obrigado a se alistar e enviado para um campo de treinamento.  Nas cartas divulgadas por um parente, o soldado reclama de ser obrigado a lutar e diz esperar que a guerra acabe antes que ele esteja pronto para o combate.  No entanto, o desejo não se cumpriu. Pascotto acabou morto em combate em dezembro do mesmo ano em que foi alistado.  

Cartão postal enviado por Adolf Hitler em 1916


Outra história com final triste é a dos Davroux, uma família francesa que vivia em São Paulo e decidiu voltar quando a guerra eclodiu porque o pai, Jacques, se achava no dever de defender a pátria, contra os conselhos dos parentes que haviam permanecido na França.  Ele embarcou num navio com a mulher, Marthe, e os dois filhos. A bordo, conviveram civilizadamente com alemães que viajavam com o mesmo propósito.  Já no front, em março de 1915, Davroux relata a falta de avanços militares, típica da guerra de trincheiras, e reclama da proibição de ir ao funeral da mãe e do desinteresse de seus superiores em fornecer roupas e equipamentos para as tropas, o que o obrigava a usar um uniforme de bombeiro parisiense.  Quatro meses depois, ao atacar com seu pelotão uma bem armada trincheira alemã, Davroux, que chegara a oficial, foi baleado na barriga, morrendo na hora.

Em uma carta de caligrafia torta e tremida, diferente de suas demais, a recém-viúva Marthe relata a morte.  "Não posso imaginar infelicidade igual. Parece que ele ainda está ao meu lado, meu desafortunado Jacques! Nunca me recuperarei de tamanha dor."

A última carta digitalizada é de 1921. Seis anos após a morte, o corpo do militar, enfim, foi transferido do cemitério do front para Paris.  Marthe, que nunca se casaria novamente, afirma: "Eu esperava incessantemente o corpo de meu pobre Jacques".

Fonte: Folha de São Paulo

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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

"HERÓI OCULTO" É CONDECORADO AOS 105 ANOS POR TER SALVO MAIS DE 600 CRIANÇAS DO NAZISMO

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Um inglês que salvou mais de 600 crianças dos nazistas no início da Segunda Guerra Mundial foi condecorado na República Tcheca com a mais alta honraria do país – a Ordem do Leão Branco.


Nicholas Winton, de 105 anos, tinha apenas 29 anos em 1939 quando conseguiu oito trens para levar 669 crianças – a maioria delas judias – da Tchecoslováquia quando eclodiu a Guerra. Elas foram conduzidas para a Inglaterra e para a Suécia, onde ficaram livres das ações dos nazistas.

Setenta e seis anos depois, o britânico participou de uma cerimônia no Castelo de Praga, onde recebeu o prêmio.  Em seu discurso, ele agradeceu aos britânicos que aceitaram receber as crianças em suas casas.

"Quero agradecer a todos vocês por essa tremenda expressão de agradecimento por algo que aconteceu comigo há quase 100 anos", disse Winton. "Fico muito contente que algumas das crianças ainda estejam aqui para me agradecer."

"Eu agradeço aos britânicos por dar uma casa para eles, por aceitá-los e, claro, a enorme ajuda dada por muitos tchecos que fizerem o que puderam para lutar contra os alemães e tentar tirar as crianças do país", finalizou.

'Sem medo'

A missão notável do homem apelidado de "Schindler britânico" veio à tona somente no final de 1980. Mas tudo começou em 1938, após a ocupação nazista da região dos Sudetos - nome usado para as áreas de pré-guerra na Tchecoslováquia.  Winton visitou campos de refugiados fora de Praga e decidiu ajudar as crianças a conseguirem licenças britânicas, da mesma forma como as crianças de outros países foram resgatadas no "kindertransport".

Na época, ele era um corretor de ações em Londres, e vinha de uma família judia alemã, então estava bem consciente da urgência da situação.

"Eu sabia do que estava acontecendo na Alemanha mais do que muita gente e, com certeza, mais do que os políticos", disse à BBC. "Nós tínhamos pessoas ficando conosco que eram refugiados da Alemanha naquela época. Alguns que sabiam que suas vidas estavam em perigo."

Mas ele ressaltou que não teve medo de ajudar. "Não houve nenhum medo pessoal envolvido."  Winton conseguiu lotar oito trens com crianças que saíram da Tchecoslováquia, antes da eclosão da Guerra. Mas um nono trem, o que estava ainda mais cheio – com 250 crianças – não conseguiu cruzar a fronteira antes do conflito tomar conta do país.

A atitude de Winton ficou 'oculta' por 50 anos – ele não contou a ninguém o que fez – até que sua mulher encontrou um livro de recordações e descobriu.  Quando questionado pela BBC sobre o que achava que tinha mudado daquela realidade de 70 anos atrás para a que vive hoje, o homem de 105 anos não foi muito otimista. "Acho que não aprendemos com os erros do passado", disse.  "O mundo hoje está em uma situação mais perigosa do que jamais esteve e considerando que agora temos armas de destruição em massa que podem acabar com qualquer conflito, nada está seguro mais."

Fonte: BBC Brasil

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