Desde a transferência da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, o clima nas forças militares era de competição. No Exército, enquanto os portugueses ocupavam os postos mais altos, os brasileiros ficavam com os mais baixos. Acusações ocorriam dos dois lados: os brasileiros acusavam os portugueses de autoritários e arrogantes e os mesmos acusavam os brasileiros de despreparados. Na Marinha a situação era pior, pois, praticamente todos os postos eram ocupados por portugueses.
Quando a Revolução do Porto aconteceu e mostrou seus reais interesses em relação ao Brasil e D. João teve que voltar a Portugal, a insubordinação explodiu, com os brasileiros não aceitando as ordens dos oficiais portugueses, e esses recusando a aceitar as ordens do príncipe-regente D. Pedro.
Após o Dia do Fico, em 19 de janeiro de 1822, iniciou-se a formação de um Exército brasileiro, mas a desconfiança na qualificação militar e na sua lealdade provocaram a contratação de mercenários para ajudar nas lutas de terra e mar. Rapidamente chegaram os oficiais estrangeiros com seus comandados. Entre eles, os ingleses Lord Cochrane, John Taylor e John Grenfell; o francês Pedro Labatut e o português Carlos Lecor. Após o 7 de setembro, as lutas pela independência ocorreram onde a presença lusitana era maior: Bahia, Grão-Pará, Maranhão e Cisplatina.
Na Bahia
Com a Revolução do Porto, a população da Bahia dividiu-se, e os conflitos entre brasileiros (contra a recolonização) e portugueses (a favor da recolonização) aumentaram. Quando as Cortes portuguesas nomearam o general português, Madeira de Melo, para governar a província os conflitos armados tiveram início. A partir de 14 de fevereiro de 1822, "A cidade vira um grande campo de batalha. Brasileiros e portugueses buscam controlar seus pontos estratégicos, usando de extrema violência. Na perseguição a um grupo de brasileiros, soldados portugueses invadem o convento da Lapa, assassinando a abadessa Joana Angélica, que heroicamente o defendia."
Após cinco dias de combate, os portugueses anunciaram o controle de Salvador, enquanto os brasileiros comandados por Manuel Pedro se refugiaram na região do Recôncavo Baiano. Com o apoio de latifundiários, organizaram-se os batalhões patrióticos, formados por combatentes da capital e do interior da Bahia. Destacou-se então, a baiana Maria Quitéria, moradora de Feira de Santana que alistou-se nos batalhões patrióticos. Lutando corajosamente contra o machismo, existente na época, e os portugueses, obteve o posto de cadete e após a guerra recebeu das mãos do imperador a comenda da Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul.
Em 22 de setembro de 1822, teve início a reviravolta. Na Câmara Municipal de Cachoeira foi proclamada a independência, instalando-se um governo paralelo. Enviados por D. Pedro, os brasileiros foram auxiliados pelo general Labatut e o almirante Lord Cochrane cercando a cidade de Salvador, impossibilitando-a de receber alimentos e munições. Em abril de 1823, a situação de Salvador era dramática, faltavam alimentos e as doenças matavam os mais fracos. Em 2 de julho de 1823, o general Madeira de Melo entregou sua rendição. Os brasileiros haviam libertado a Bahia e garantiam a independência.
No Grão-Pará
A Revolução do Porto também provocou reações contraditórias na província do Grão-Pará.
Inicialmente, portugueses e brasileiros se uniram com a decisão das Cortes de criar uma monarquia constitucional, porém, quando as Cortes decidiram recolonizar o Brasil, o padrão de reação se repetiu: brasileiros contra as decisões das Cortes, de um lado, e portugueses, à favor das Cortes, de outro. Em abril de 1823 chegou de Portugal, o brigadeiro José Maria de Moura, para governar a província. Em 1º de março, os primeiros combates tiveram início, porém as tropas portuguesas reagiram com violência. Várias pessoas morreram e foram feridas e 267 foram presas.
Em agosto de 1823, D. Pedro I enviou para Belém, um navio comandado por Grenfell. Usando de astúcia anunciou que, uma grande esquadra estaria chegando à Belém e que, qualquer resistência por parte dos portugueses seria inútil. Com medo da ameaça, os portugueses não reagiram e a província de Grão-Pará se incorporou ao Império do Brasil, em 12 de outubro de 1823.
Contudo a mentira não durou muito. Como a esquadra não chegava, os portugueses reiniciaram as perseguições aos simpatizantes da independência. A violência iniciada pelos portugueses foi revidada com mais violência pelos brasileiros. Grenfell resolveu agir para acabar com os confrontos e convocou a população para uma reunião, em frente ao palácio do governo. Com a população reunida, escolheu cinco soldados ao acaso, e mandou executá-los. Depois prendeu 256 militares no porão de um navio, onde morreram sem ar e sem água. Assim, Grenfell apaziguou a província.
No Maranhão
A província do Maranhão era também uma região com forte presença de portugueses. Por isso, ao saber da independência, se colocou contrária a ela. Apesar disso, lentamente os brasileiros foram conquistando o apoio de várias cidades e povoados maranhenses, e aos poucos, os portugueses foram ficando isolados. Contudo, a capital, São Luís, permanecia controlada pelos portugueses. Enviada pelo Rio de Janeiro, uma frota comandada por Lord Cochrane aproximou-se de São Luís fingindo ser um reforço português. Conchrane conseguiu desembarcar seus homens e aprisionou alguns chefes militares portugueses. Usando-os como reféns, conseguiu conquistar o controle da cidade. No final de agosto de 1823, o Maranhão se incorporava ao Império.
Na Cisplatina
Ocupada desde 1816 pelas forças de D. João, a Banda Oriental foi rebatizada como Cisplatina. Após a independência, a disputa entre tropas brasileiras e portuguesas pela posse da região começaram. Comandadas pelo português Carlos Lecor que, resolveu apoiar D. Pedro, as tropas brasileiras tiveram que recuar para o Rio Grande do Sul, pois, os portugueses, chefiados por D. Álvaro da Costa, conseguiram controlar Montevidéu, capital da província. Reunindo 1.800 homens, Lecor contra-atacou. Cercando Montevidéu, as tropas portuguesas, formadas por 2.000 homens resistiram bravamente. Contudo, a chegada de três navios, comandados por David Jewett, começaram a desequilibrar as ações. Em 18 de novembro de 1823, os brasileiros tomaram a cidade e mantiveram a Cisplatina unida ao Império.
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