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A evolução dos uniformes acompanhando a progressão das sociedades e da arte da guerra encontrou um exemplo paradigmático durante a Primeira Guerra Mundial. Ignorando ou desconsiderando a evolução tecnológica doas armamentos, as lideranças francesas resistiram a modificar os uniformes de suas tropas alegando que estariam enfraquecendo o elan combatente francês.
No texto de Barabara Tuchman, no clássico Canhões de Agosto, podemos mensurar a dificuldade enfrentada pelas lideranças que queriam introduzir uniformes camuflados, ou com baixa visibilidade, no Exército Francês, tarefa que somente pôde ser efetivada no final da guerra:
"Quando olhamos para o soldado francês de 1914, ano inicial da Primeira Guerra Mundial, a primeira coisa que te atordoa são as cores brilhantes do elegante uniforme. Os soldados de infantaria franceses usavam calças vermelhas extravagantes, casacos azuis vistosos e quepes vermelhos chamativos. Este era o uniforme de combate, não apenas uniformes de passeio.
Uniformes franceses de 1914: calças garanca vermelhas que representavam o elan militar, mas que expunham os soldados às armas modernas
Os exércitos mais profissionais do mundo daquela época já tinham notado o erro. Os britânicos por exemplo, haviam adotado o uniforme caqui após a Guerra dos Bôeres, e os alemães fizeram a mudança do azul marinho prussiano para o cinza-campo (feldgrau). Entretanto, em 1914 os soldados franceses ainda usavam os mesmos casacos azuis, quepes vermelhos e calças vermelhas que herdaram das guerras napoleônicas, quando os combates se resumiam a fuzis enfileirados lado a lado apontando para os inimigos que estavam a apenas duzentos passos de distância... Naquele tempo não precisavam de camuflagem.
Visitando o front da Guerra dos Bálcãs em 1912, Messimy, o ministro da Guerra francês viu as vantagens obtidas pelos búlgaros fardados com cor fosca e voltou para casa determinado a tornar o soldado francês menos visível. Seu projeto para vesti-lo em cinza-azul ou cinza-verde levantou um uivo de protesto. O orgulho do Alto comando do Exército era tão intransigente em desistir de suas calças vermelhas quanto em adotar armas pesadas.
O prestígio do exército foi mais uma vez colocado em jogo. Para eles, vestir o soldado francês em alguma cor lamacenta e inglória seria realizar os mais profundos sonhos dos intelectuais e dos maçons. Era banir 'tudo o que é colorido, tudo o que dá ao soldado seu aspecto vívido', escreveu na época o jornal Echo de Paris, 'é contrariar tanto o gosto francês, quanto sua função militar'.
Messimy apontou que os dois não mais poderiam ser sinônimos, mas seus oponentes conservadores se mostraram irredutíveis. Em uma audiência parlamentar, o ex-ministro da Guerra, M. Etienne, falou pela França:
- Eliminar as calças vermelhas? - gritou com veemência.
- Jamais! Le pantalon rouge c'est la France! ("Nunca! As calças vermelhas são a França!")
Por que tão impressionante respeito ao que tornaria um soldado tão visível, um alvo fácil para o rifle de um sniper inimigo ou de uma metralhadora? Esse júbilo de cores vivas provinha das experiências militares das potências anteriores à Primeira Guerra Mundial - britânicos, franceses e alemães - que se limitava a lutar contra pessoas que na maioria das vezes não tinham rifles ou metralhadoras: rebeldes mal armados lutando contra o domínio colonial na África ou na Ásia. Os generais sabiam, é claro, que isso não seria mais válido para essa nova guerra em escala total na Europa, mas há sempre aquela diferença curiosa entre saber e agir, e os militares não estão imunes a isso.
Reencenadores franceses com o uniforme bleu horizon, utilizado no final da guerra
Centenas de milhares de tropas da infantaria francesa e cavalarianos com couraças polidas e brilhantes tiveram que morrer como alvos fáceis para metralhadoras alemãs - exemplo disso é a batalha das Fronteiras, que ocorreu em poucas semanas do início da Guerra, e ficou marcada para sempre como o dia mais sangrento da história militar francesa, onde mais de 27 mil soldados franceses morreram em um únienadores franceseco dia - antes que os novos uniformes na cor Azul-horizonte (bleu horizon) fossem distribuídos às tropas no início de 1915."
Fonte: TUCHMAN, Barbara. Canhões de Agosto. Rio de Janeiro: BibliEx, 1998.
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