"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sábado, 27 de maio de 2017

O HEROÍSMO DOS ATIRADORES ARGELINOS NA BATALHA DE FROESCHWILLER

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Por Renato Coutinho

"Nós vamos todos morrer aqui, se necessário for!" 
Coronel Pierre François Jean Raphael Suzzoni 
(comandante do 2º Regimento de Atiradores Argelinos em 1870).


Guerra Franco-Prussiana, agosto de 1870, França invadida. Batalha de Froeschwiller/Wörth (6 de agosto de 1870): 37.000 soldados e oficiais franceses, apoiados por 101 canhões, enfrentam 81.000 soldados e oficiais prussianos, bávaros e de Württemberg, com 300 canhões. Os militares franceses combateram com uma tenacidade fora do comum naquele dia, lutando em grande desvantagem numérica e enfrentando o devastador fogo da artilharia prussiana, superior em quantidade e qualidade. Aliás, diga-se de passagem, a artilharia prussiana salvou o dia, pois as brigadas e divisões de infantaria germânicas foram repelidas com muitas baixas sofridas nas primeiras três horas de batalha. 

Vários regimentos de infantaria de linha franceses lutaram muito bem. Muitos batalhões de Caçadores a Pé, quase todos, combateram muito bem (alguns combateram de modo extraordinário), mas o grande destaque foi para os três regimentos de Zuavos e os três regimentos de Atiradores Argelinos. Eles simplesmente combateram como demônios, lutando com ferocidade e tenacidade raramente observadas em um campo de batalha, pagando preço altíssimo pela resistência incrivelmente tenaz.

O 2º Regimento de Atiradores Argelinos foi a unidade francesa que sofreu maior número de baixas naquele dia. Esse regimento de infantaria de elite foi praticamente destruído. Durante quase seis horas de intenso combate, defendendo parte de uma floresta logo abaixo da vila de Froeschwiller, o 2º de Atiradores Argelinos primeiro derrotou e repeliu uma brigada de Infantaria da Bavária, com três regimentos de infantaria, contra-atacando ferozmente com carga de baioneta depois de violento e demorado tiroteio, colocando os bávaros em fuga acelerada. Em seguida, derrotou e repeliu uma brigada de Infantaria da Prússia, também com três regimentos de infantaria, novamente contra-atacando ferozmente com baionetas após sangrento e demorado tiroteio. 

"Nós vamos todos morrer aqui, se necessário for!", bradou o Coronel Pierre François Jean Raphael Suzzoni, comandante do 2º Regimento de Atiradores Argelinos, antes de perder a vida na batalha


Antes que a brigada prussiana entrasse em contato com seu regimento, o Coronel Suzzoni proferiu a arrepiante frase que aparece no topo do texto:

- "Nós vamos todos morrer aqui, se necessário for!"

O devastador fogo da artilharia prussiana causou muitas baixas no regimento durante o ataque da infantaria prussiana, e não cessou com o recuo da brigada prussiana.

Às 14:30h, Suzzoni foi morto ao ser atingido por um estilhaço de projétil de artilharia prussiano. A batalha continuou. Regimentos das duas brigadas germânicas que foram repelidas, mais uma descansada brigada de infantaria prussiana, lançaram novo ataque com enorme apoio da precisa artilharia prussiana. 

O 2º Regimento de Atiradores Argelinos resistiu durante mais 55 minutos antes de praticamente deixar de existir. O regimento foi flanqueado por ambos os lados e quase completamente cercado. Os militares deste regimento não arredaram, não perderam a coesão, não entraram em pânico, não tentaram correr e combateram até o amargo fim.

Atirador argelino na Guerra Franco-Prussiana.  Durante a Batalha de Froeschwiller, os homens do 2º Regimento lutaram como leões e a unidade sofreu 93% de baixas.

"Estávamos em um círculo de ferro e fogo", disse um atirador argelino. Quase todos os oficiais do regimento tombaram mortos ou feridos. O 2º Regimento de Atiradores Argelinos iniciou a batalha com 2.900 militares, oficiais e praças, e terminou o dia com apenas 250 homens aptos para o combate (esses 250 conseguiram escapar do cerco sob o comando de um capitão do regimento). O regimento sofreu 2.650 baixas, aproximadamente 93% de seu efetivo.


O capitão Henry Arthur Viénot foi o oficial mais antigo a sobreviver à batalha, e liderou os 250 homens remanescentes do regimento

Se o feito e o oficial protagonista fossem norte-americanos, britânicos ou alemães, e o combate tivesse acontecido no século XX, principalmente durante a 2ª Guerra Mundial, (aparentemente, a história militar se resume ao século XX), seria um feito de armas muito mais conhecido, admirado e lembrado e, provavelmente, já teria virado filme. Porém, como o combate não ocorreu no século XX e teve militares franceses como protagonistas, desses que se rendem após o primeiro disparo (o estereótipo idiota que predomina na internet), quase ninguém conhece essa batalha e número ainda menor conhece esse combate em particular. 

Poucos já ouviram falar ou leram sobre os soldados franceses que combateram como leões na Batalha de Froeschwiller. Raramente são lembrados fora da França.

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