No
dia 6 de outubro de 1973, tropas egípcias e sírias atacaram Israel. Em pleno
feriado do Yom Kippur, estourava o quarto conflito armado do Oriente Médio, que
ficou conhecido como "Guerra de Outubro".
Por
Peter Philipp
Em Israel, o
maior feriado religioso judeu é o Yom Kippur, um dia de completa tranquilidade
e de jejum: os transportes públicos param, o rádio e a televisão não fazem
transmissões, e quem tem um mínimo de fé religiosa renuncia à comida e à
bebida. As sinagogas ficam mais cheias que nunca: é o dia de pedir perdão a
Deus pelos grandes e pequenos pecados do ano que se encerra.
Isso era o que
se esperava também em 1973: na véspera do Yom Kippur, o país iniciou o
tradicional retiro religioso, e os postos de fronteira com os territórios
palestinos foram fechados. Porém, fatos fora do comum ocorreram no dia 6 de
outubro. Começara o quarto conflito armado do Oriente Próximo, depois
denominado Guerra do Yom Kippur, Guerra do Ramadã ou, simplesmente, Guerra de
Outubro.
Ataques
simultâneos
Israel fora
inteiramente surpreendido: às 14 horas as forças armadas egípcias e sírias
atacaram ao mesmo tempo: as primeiras, no Canal de Suez; as outras, nas colinas
de Golã.
Cinco divisões
egípcias, com 70 mil homens, cruzaram o Canal de Suez em diversos pontos e
puderam vencer facilmente os cerca de 500 soldados israelenses que guardavam a
chamada "Linha de Bar-Lev", na margem oriental do canal.
Até que chegasse
o reforço do interior do país, os egípcios já tinham ampliado suas cabeças de
ponte e reconquistado uma parte da Península de Sinai, que fora completamente
perdida para Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Tropas egípcias celebram a travessia do Canal de Suez
Nas colinas de
Golã, também ocupadas por Israel desde 1967, a guerra começou com um ataque
maciço da força aérea e da artilharia sírias. Pouco depois, avançaram divisões
blindadas com um total de 1.400 tanques de guerra, seguidas de duas outras
divisões. Os israelenses foram surpreendidos também nas colinas de Golã,
sofreram graves perdas e tiveram, principalmente, de evacuar os povoados
construídos na região desde 1967.
Combates
na Síria
Por pouco os
israelenses não perderam o controle sobre as colinas de Golã. Somente no
terceiro dia de guerra é que a contraofensiva começou a lograr êxito. As
colinas foram reconquistadas em dois dias e, a partir do terceiro dia, o palco
da guerra era o território sírio.
Os israelenses
avançaram até Sasa, a aproximadamente 40 quilômetros de Damasco. Na frente
egípcia, eles lograram cruzar o Canal de Suez e conquistar o território entre o
canal e a estrada Suez-Cairo. Nesse avanço, o Terceiro Exército egípcio foi
cercado e isolado do restante do país.
A guerra durou
mais tempo do que as anteriores. Entre outras coisas, porque as superpotências
abasteceram as partes beligerantes com grande quantidade de armas. E as Nações
Unidas só puderam conclamar a uma trégua em 21 e 22 de outubro.
A conclamação
foi acoplada à Resolução 338 do Conselho de Segurança, na qual se fala de uma
solução justa para o conflito do Oriente Médio e da necessidade de devolução de
territórios ocupados. Na Europa, sentiu-se pela primeira vez naqueles dias os
efeitos da nova arma árabe, o boicote de petróleo.
Difíceis
negociações
No dia 24 de
outubro de 1973, os combates terminaram. O Egito teve um total de 15 mil
vítimas; a Síria, 3 mil e Israel, 770. A situação territorial estava mais
confusa que antes. No final de 1973, foi convocada uma conferência de paz da
ONU em Genebra, cujos dois encontros em nada resultaram.
Em difíceis
negociações no quilômetro 101 da estrada Suez-Cairo, foi feito então um acordo
de desentrelaçamento das tropas. No início de 1974, Israel retirava-se da
margem ocidental do Canal de Suez.
Também o Egito
recuava para a posição anterior ao início da guerra. Com a Síria, as
negociações foram feitas através da mediação dos Estados Unidos, representados
pelo secretário de Estado Henry Kissinger. Também neste caso, chegou-se a um
acordo de desentrelaçamento mútuo das tropas. No Sinai, foram novamente
estacionadas tropas da ONU. Às colinas de Golã, foi enviada a tropa Undof, das
Nações Unidas, com observadores para o cumprimento do acordo.
Busca
dos responsáveis
Depois da
guerra, começa em Israel uma busca sistemática dos responsáveis. Para tal, éi
instituída uma comissão de inquérito, a Comissão Agranat. Constata-se logo que
o serviço secreto militar e também os políticos fracassaram: os preparativos de
guerra dos egípcios e dos sírios tinham sido observados desde 1972, mas sempre
interpretados como manobras militares ou simulação.
Os serviços de inteligência israelenses não conseguiram identificar a ameaça dos sírios e egípcios
Israel estava
seguro demais de sua própria força, tanto da superioridade das próprias tropas
como das instalações de defesa no Canal de Suez.
O chefe do
Estado Maior das Forças Armadas israelenses, David Elazar, quis mobilizar as
tropas antes do início da guerra, mas os políticos vetaram. Eles não
acreditavam numa guerra e não queriam, com a mobilização, aumentar a tensão
reinante.
A
primeira-ministra Golda Meir e o seu ministro da Defesa, Moshe Dayan,
renunciaram. Também Elazar passou para a reserva. Eles jamais se recuperaram do
fracasso durante a Guerra de Outubro.
Mas essa guerra
abriu também as portas para os esforços políticos: ambos os lados viam-se como
vencedores e assim em igualdade de direitos. Com isso, pelo menos o Egito e
Israel finalmente se dispuseram a fazer um acordo de paz.
Fonte: DW
Grande e decisivo momento na história de Israel ! Incrível a proporção de perdas entre Israel, Siria e Egito ! Pelo tamanho foi uma reedição de Davi contra Golias e no final proporcionou o acordo de Camp David, em 1979, que selou a paz com o Egito e a devolução da Península do Sinai.
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