"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quinta-feira, 7 de abril de 2016

COMPOSITORES PRANTEARAM EM MÚSICA OS MORTOS DA PRIMEIRA GUERRA

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Com o avanço do grande conflito, aos poucos foram cessando os sons patrióticos, e o entusiasmo rapidamente deu lugar ao horror das trincheiras. O clamor da música heroica deu lugar ao lamento pelos caídos em batalha. 


Por Klaus Gehrke


Quer em Berlim ou Viena, quer em Paris ou Londres – em quase toda a Europa a mobilização das Forças Armadas, no final de julho de 1914, despertou uma onda de aprovação. Com entusiasmo, jovens se alistavam voluntariamente para servir na guerra, na esperança de que, após um breve período no front, regressariam como heróis, com uma medalha no peito. Mas a realidade nos campos de batalha era outra.


Primeiras dúvidas

Enquanto nas cidades, bem longe da frente de batalha, os sons heroicos dominavam nas salas de concerto, já a partir do fim de 1914 alguns membros do clã de compositores começaram a questionar a legitimidade da guerra, tão propagada pelo governo.

Claude Debussy (1862-1918), fervoroso patriota francês, escrevia em 1916: "A guerra continua – não dá para entender. Quando é que o ódio vai finalmente acabar? É sequer preciso falar de ódio, neste processo histórico? Quando vai se deixar de confiar o destino dos povos a uma gente que enxerga a humanidade como meio de ascensão?"

Com sua canção Noël des enfants qui n'ont plus de maison (Natal das crianças que não têm mais lar), Debussy escreveu uma das primeiras obras impactantes sobre os cruéis efeitos da guerra.


Um monumento musical

Quando mais a luta durava, mais os músicos tratavam da morte em suas composições, e pranteavam a perda de amigos próximos. Uma das peças mais conhecidas dessa categoria é a suíte para piano de Maurice Ravel (1875-1937) Le tombeau de Couperin, composta entre 1917 e 1919 e posteriormente transcrita por Ravel para orquestra.

Tombeau é uma forma musical barroca com que compositores homenageavam seus colegas falecidos. Ravel dedica sua obra ao clavecinista francês François Couperin (1668-1733). Como os seis movimentos foram sendo compostos sucessivamente durante a Primeira Guerra, logo a suíte se transformou num outro tipo de homenagem fúnebre: cada peça traz uma dedicatória para um amigo do compositor, caído em batalha.



Porém Ravel não foi o único músico a expressar luto através da música de piano, durante o grande conflito: o britânico Frank Bridge (1879-1941), por exemplo, escreveu uma sonata para seu colega Ernest Farrar, morto em 1918.


Réquiem para todas as vítimas da guerra

Em 1915, o também organista Max Reger começou a compor um Requiem "em homenagem aos soldados alemães caídos", mas a obra permaneceria incompleta.

O mesmo ocorreu com um Oratorium gegen den Krieg (Oratório contra a guerra), iniciado por Hanns Eisler (1898-1962) no ano seguinte, quando prestava o serviço militar. Esse compositor alemão, que cresceu num lar social-democrata e depois se filiou ao Partido Comunista, foi um dos colaboradores musicais de Bertolt Brecht. Do célebre dramaturgo é o texto da canção Epitaph auf einen in der Flandernschlacht Gefallenen (Epitáfio para um soldado caído na Batalha de Flandres).

Somente anos após o fim da Primeira Guerra Mundial, o inglês Ralph Vaughan Williams (1872-1958) iria elaborar suas experiências nos campos de batalha franceses. Sua terceira sinfonia, intitulada Pastoral Symphony , data de 1922.

E mais de um quarto de século antes de Benjamin Britten (1913-1976) escrever seu aclamado War Requiem, que reflete o horror da Segunda Guerra, seu compatriota John Foulds (1880-1939), hoje praticamente esquecido, apresentou, com A World Requiem, uma denúncia comovente contra a matança sem sentido entre 1914 e 1918.


Parábola sobre a sedução do poder

Ao contrário de muitos de seus colegas, que, com maior ou menor entusiasmo patriótico, serviram ao czar nos campos de guerra, em seu exílio na Suíça o russo (mais tarde naturalizado francês e americano) Igor Stravinsky (1882-1971) foi poupado de tais missões fatais.

Porém até ele se ocupou do tema da guerra em 1918: "L'histoire du soldat foi minha única obra cênica com implicações atuais", diria o compositor em 1962.  O protagonista dessa "história do soldado" baseada num conto folclórico russo tenta enganar o diabo, mas termina derrotado por ele. Potencializado pela música stravinskiana, o vivaz texto de C.F. Ramuz se transformou numa parábola impressionante sobre a sedução do poder.

Quanto a obra de Stravinsky estreou em 28 de setembro de 1918 em Lausanne, a Primeira Guerra Mundial estava a apenas algumas semanas de seu fim. Seus efeitos no processo criativo de muitos compositores, no entanto, permaneceram durante muito tempo.

Fonte: DW


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