"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A GUERRA DE 1812

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De 1812 a 1815 os EUA travaram com a Grã-Bretanha uma “segunda guerra de independência”.  Os britânicos não queriam o confronto e, do lado americano, os motivos eram obscuros, não ficando claro se os EUA pretendiam ou não anexar o Canadá parcial ou totalmente.



Início da guerra

Os EUA declararam guerra à Grã-Bretanha em 18 de junho de 1812, uma decisão controversa, pressionada pelo presidente James Madison e pelos políticos belicistas – os “falcões” – partidários do expansionismo americano.  Os EUA, no entanto, estavam mal preparados para a guerra e, ainda que seu pequeno exército permanente fosse reforçado por voluntários de serviço temporário, os americanos apoiavam-se em milícias estaduais.  Madison acreditava que essas forças seriam suficientes para ocupar o Canadá.  Isso era possível na teoria, uma vez que os maiores recursos da Grã-Bretanha estavam comprometidos com a guerra na Europa contra Napoleão, deixando um contingente mínimo no Canadá.  Uma invasão do território britânico em agosto de 1812, no entanto, terminou em desastre: o ataque em três frentes foi rechaçado por um punhado de soldados britânicos, milícias canadenses e guerreiros indígenas.


Vitória americana no mar

O revés para os EUA em terra foi compensado por significativas vitórias navais.  De uma maneira geral, a Marinha dos EUA não chegava nem perto da poderosa Marinha Real britânica, que possuía mais de 700 navios de guerra.  Os EUA possuíam apenas 17, nenhum maior do que uma fragata.  No entanto, a principal força da Marinha Real participava do bloqueio aos portos franceses e não podia ceder navios para a guerra americana.  As fragatas dos EUA eram mais bem armadas do que as britânicas e tripuladas por oficiais e marinheiros habilidosos e determinados.

Fragata norte-americana desembarcando tropas no início da guerra


Foi um choque para o orgulho britânico quando o USS Constitution triunfou em combates individuais contra as fragatas HMS Guerrière e HMS Java; e a USS United States capturou a fragata HMS Macedonian.  Os navios de guerra e os corsários norte-americanos aplicaram um duro castigo à navegação comercial britânica.

As mais importantes vitórias navais americanas, no entanto, foram conquistadas no lago Erie.  O comandante Oliver Hazard Perry assumiu o comando de um pequeno esquadrão de navios de guerra construídos no local para se contraporem ao domínio britânico no lago.  Em 10 de setembro de 1813, Perry derrotou uma força britânica de tamanho equivalente à sua e, graças ao controle das águas do lago, os EUA retomaram Detroit, que fora perdida no ano anterior, garantindo, desse modo, a posse de Ohio.



Luta contra indígenas

O resultado selou também o destino de Tecumseh, líder da tribo shawnee que lutava ao lado dos britânicos.  Quando seus aliados se retiraram de Detroit, ele teve que acompanhá-los, sempre perseguido pelas forças do americano William Henry Harrison.  Em 1813, na batalha do Thames, os britânicos e os indígenas foram vencidos e Tecumseh foi morto.

O chefe shawnee Tecumseh, morto na batalha de Thames quando lutava ao lado dos britânicos


Com a pressão do conflito e o passar do tempo, o Exército dos EUA se organizou e passou a lutar sob melhores lideranças.  O general Winfield Scott despontou como herói americano em meados de 1814, quando os EUA organizaram uma segunda e mais bem planejada invasão do Canadá.  Ele conduziu seus homens à vitória em Chippewa e, em seguida, foi gravemente ferido em um duro confronto em Lundy’s Lane em julho.

No sul, outro oficial americano destacou-se na luta contra os nativos: o coronel Andrew Jackson, comandante da milícia do Tenessee.  Uma facção da tribo creek, conhecida como os Cajados Vermelhos, começara a lutar contra os EUA.  Em 1814, a milícia de Jackson, apoiada por outros índios creek e cherokee, lançou uma campanha contra os Cajados Vermelhos, massacrando-os na batalha de Horsehoe Bend, em março. 

Apesar dos êxitos, em 1814 a maré da guerra estava virando contra os EUA.  Na Europa, Napoleão fora deposto em abril, o que liberou tropas e navios britânicos.  Apesar das façanhas dos marinheiros americanos, o poderio da Marinha Real começou a se fazer sentir: as fragatas USS Chesapeake e USS Essex tinham sido capturadas e um bloqueio cada vez mais rígido do litoral dos EUA teve severo impacto na economia do país e nas finanças governamentais.

Principais batalhas da Guerra de 1812




Queima da capital

Livres para atacar em qualquer ponto do litoral, os britânicos enviaram, em agosto de 1814, tropas recém-chegadas da Europa para assaltar Washington.  Sob o comando do general Robert Ross, os britânicos expulsaram a milícia que defendia a cidade e queimaram prédios públicos.  No mês seguinte, os britânicos tomaram o Maine oriental, mas uma invasão do estado de New York, a partir do Canadá, fracassou.

Tropas britânicas queimando a capital Washington

O general britânico George Prevost conduziu um exército até a cidade de Plattsburgh, no lago Champlain, mas a força naval que o acompanhava foi derrotada por um esquadrão lacustre americano, sendo ele obrigado a recuar.



O fim da guerra

A essa altura, os dois lados estavam extenuados com o conflito.  As lutas somente ocorriam como forma de obter vantagens potenciais nas negociações de paz que tiveram início em Ghent, na Bélgica.  Os britânicos decidiram se apoderar de nova Orleans, com o almirante Alexander Cochrane à frente de um corpo de soldados oriundos da Jamaica.  Em 8 de janeiro de 1815, protegido pela escuridão, um exército britânico comandado por Edward Paekenham tentou um assalto frontal à fortificações defendidas por Andrew Jackson, já promovido a general, e seus 5 mil soldados.  Paekenham foi morto e a operação abandonada.  As tropas não sabiam que um acordo de paz – o Tratado de Ghent – havia sido assinado duas semanas antes.  A notícia só chegou em fevereiro.

O general Andrew Jackson, herói da Guerra de 1812 e, mais tarde, presidente dos EUA


A única mudança territorial resultante da Guerra de 1812 foi o ganho pelos EUA do território espanhol de Mobile, no Alabama.  A guerra estimulou uma onda nacionalista nos EUA e no Canadá.  O Star-spangled banner, escrito por Francis Scott Key durante o assalto a Baltimore, se tornaria o hino nacional americano.  Disputas de fronteira entre EUA e Canadá foram resolvidas por acordos no decorrer do século XIX.

A guerra propiciou liberdade para milhares de escravos negros que fugiram de seus donos americanos e se juntaram aos britânicos.  Para os americanos nativos, porém, a guerra trouxe mais opressão.  Andrew Jackson liderou ataques a indígenas e as escravos fugidos na Flórida, na Guerra Seminole, de 1817-1818.


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