"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sábado, 24 de outubro de 2009

A BATALHA DE TANNENBERG (1914) – UMA VITÓRIA CLÁSSICA

O general Paul von Hindenburg, assumiu o comando das forças alemãs e aniquilou o exército russo em Tannenberg. Forçou a evacuação da Prússia e entrou em território russo. Esta foi, provavelmente, a mais completa e espetacular vitória da 1ª Guerra Mundial - o cerco e a destruição do 2º Exército Russo virtualmente acabou com a invasão russa da Prússia Oriental, antes mesmo desta ter realmente começado. A interceptação de mensagens, desavenças pessoais e a desobediência militar tiveram um papel preponderante. Tudo isto ocorreu entre 26 e 30 de agosto de 1914.

A incursão russa no território alemão tinha duas pontas. O general Samsonov começou a levar seu 2º Exército para a região sudoeste da Prússia Oriental enquanto o general Rennenkampf avançava para a região nordeste com o seu 1º Exército. Os dois exércitos planejavam combinar um assalto contra o 8º Exército alemão do general Prittwitz: Rennenkampf faria um ataque frontal, enquanto Samsonov envolvia Prittwitz pela retaguarda.

Este era o plano inicial dos russos. Entretanto, Rennenkampf resolveu alterá-lo após a vitória incoerente sobre o 8º Exército na Batalha de Gumbinnen, após a qual fez uma pausa para recompor suas forças.

Prittwitz, abalado com a ação em Gumbinnen e com medo de ser cercado, ordenou uma retirada para o rio Vístula. Quando Helmuth von Moltke, o Chefe do Estado-Maior da Alemanha, recebeu estas notícias, chamou Pittwitz e seu ajudante von Waldersee para Berlim - na verdade uma exoneração - e optou por uma combinação mais agressiva enviando Paul von Hindenburg - que retornou de sua aposentadoria aos 66 anos - e Erich Ludendorff para assumirem o comando.

Chegando à Prússia Oriental em 23 de Agosto, Hindenburg suspendeu imediatamente a ordem de retirada de Prittwitz e autorizou o plano de ação do Coronel Maximilian Hoffmann, chefe de operações de Prittwitz. Apesar de Hindenburg e Ludendorff receberem créditos pela ação subsequente em Tannenberg, o plano, na realidade, foi elaborado em detalhes por Hoffmann.

Hoffmann propôs um engodo onde tropas da cavalaria seriam usadas como fachada no Vístula. A intenção, no entanto, era confundir Rennenkampf que, como era do seu conhecimento, mantinha uma profunda desavença pessoal com Samsonov e estaria inclinado a não socorrê-lo se tivesse uma justificativa plausível.

.


Neste meio tempo, o I Corpo do general Hermann von Francois seria transportado por trem até o extremo sudoeste para encontrar a asa esquerda do 2º Exército de Samsonov. Os outros dois corpos de Hindenburg, sob o comando de Mackensen e Below, aguardariam ordens para se deslocar a pé para o sul onde confrontariam a ala direita de Samsonov. Finalmente, um quarto corpo permaneceria no Vístula para encontrar Samsonov quando seu exército se deslocasse para o norte. A armadilha estava armada.

Enquanto isso, Samsonov, infernizado por problemas de comunicação e de suprimentos, ignorava completamente que Rennenkampf havia decidido fazer uma pausa para lamber suas feridas em Gumbinnen, imaginando que suas forças continuavam se movendo para o sudoeste.

Samsonov também estava totalmente desavisado do plano de Hoffmann ou da sua execução. Seguro de que seu 2º Exército estava em vias de perseguir e destruir o 8º Exército supostamente em retirada, ele continuou movimentando seu exército de doze divisões - três corpos - na direção noroeste do Vístula. O restante do VI Corpo foi deslocado para o norte, em direção ao seu objetivo original, Seeburg-Rastenburg.

Em 22 de agosto, o grosso das forças de Samsonov alcançou as extremidades da linha germânica, lutando (e vencendo) pequenas ações enquanto continuava a avançar para o cerco preparado pela armadilha alemã.


O general Hindenburg observa o campo de batalha com seu estado-maior

Ludendorff expediu uma ordem para o general Francois para iniciar o ataque na ala esquerda de Samsonov em Usdau em 25 de Agosto. Estranhamente, Francois rejeitou o que era claramente uma ordem direta e decidiu esperar até que seu apoio de artilharia estivesse em posição. Ludendorff - acompanhado de Hoffmann - viajou até Francois para repetir a ordem. Relutante, Francois concordou em começar o ataque, mas reclamou da falta de granadas.

Ao retornar do seu encontro com Francois, Hoffmann recebeu duas mensagens interceptadas pela inteligência que haviam sido transmitidas em texto claro por Rennenkampf e por Samsonov. Seu conteúdo era explosivo.

A primeira, enviada por Rennenkampf, revelava a distância entre o seu exército e o de Samsonov. Além disso, detalhava os planos iminentes da marcha do seu 1º Exército e que a marcha não era ao encontro do 2º Exército de Samsonov.

A importância da mensagem era clara: os alemães não precisariam temer uma intervenção do 1º Exército Russo durante seu assalto às forças de Samsonov. A segunda mensagem, enviada por Samsonov, era igualmente interessante.

Na véspera, 24 de Agosto, tendo enfrentado sem sucesso o XX Corpo alemão pesadamente entrincheirado na Batalha de Orlau-Frankenau, Samsonov observou o que ele considerou uma retirada geral dos alemães na direção de Tannenberg e além. Consequentemente, sua mensagem transmitia planos detalhados da rota que pretendia seguir para perseguir as forças alemãs.

De posse das duas mensagens, Hoffmann apressou-se em alcançar Ludendorff e Hindenburg para entregar os textos interceptados. Enquanto Ludendorff se mostrava cético quanto à autenticidade dos mesmos, Hindenburg, que ouvira Hoffmann relatar as diferenças pessoais existentes entre Rennenkampf e Samsonov, estava inclinado a alterar os planos do Oitavo Exército de acordo com as informações.

Hindenburg e Hoffmann argumentaram que, no final das contas, Francois poderia esperar a chegada de suprimentos de artilharia suficientes antes de iniciar seu ataque em Usdau, o qual acabou ocorrendo efetivamente dois dias mais tarde, em 27 de agosto. Mas Ludendorff, preocupado em demonstrar sua autoridade sobre Francois, insistia que o ataque deveria ser iniciado como definido originalmente.

Francois, entretanto, não tinha intenção de atacar sem o suporte da artilharia. Ficou discutindo com Ludendorff para ganhar tempo e, como queria, iniciou seu ataque em 27 de agosto, obtendo um sucesso marcante. Tomando Soldau, na borda russa, cortou a comunicação com o centro de Samsonov e suas forças confinaram a esquerda de Samsonov junto à fronteira.

Apesar do sucesso, Francois não tinha a confiança de Hindenburg e muito menos a de Ludendorff, principalmente porque ambos voltaram para Berlim para assumir a direção e conduzir a guerra.

Neste ponto, Ludendorff, temeroso de que as forças de Rennenkampf pudessem entrar subitamente em combate, ordenou que Francois se movesse novamente para o norte. Esta foi outra ordem ignorada por Francois, que escolheu levar seu corpo para o leste a fim de evitar que o centro de Samsonov fizesse uma retirada e atravessasse a fronteira. Apesar de executado em desobediência a uma ordem clara de Ludendorff, sua ação audaciosa contribuiu para o retumbante sucesso que se seguiu.

Tendo decidido em 25 de agosto - data em que recebeu as duas interceptações - que as forças de Rennenkampf dificilmente se uniriam às de Samsonov, Ludendorff enviou os dois corpos estacionados em Gumbingen para o sul onde, no dia seguinte, encontraram e entraram em ação contra o VI Corpo de Samsonov que se dirigia para o norte, em direção a Bischofsburg. Surpresas e desorganizadas, as duas divisões bateram em retirada separadamente na direção da fronteira russa.

Ignorando os avisos de um avanço maciço dos alemães que se moviam para o sul, Zhilinski, comandante de Samsonov, em 26 de agosto enviou o 1º Exército de Rennenkampf para o oeste, para Königsberg, uma distância considerável da localização de Samsonov. Devido ao alto grau de inimizade existente entre Samsonov e Rennenkampf, este não estava particularmente inclinado a socorrer Samsonov.

Para azar de Samsonov, Hoffmann e Ludendorff interceptaram a ordem em texto claro (novamente não cifrada) de Zhilinski para Rennenkampf. Os alemães despacharam prontamente Below de Bischofsburg para reencontrar-se com o centro alemão e enviaram Mackensen para o sul para encontrar-se com o general Francois em Willenberg, ao sul de Bischofsburg (o que ocorreu em 29 de agosto). Samsonov estava cercado.

Finalmente, em 28 de agosto, Samsonov percebeu o perigo ao qual havia se exposto. Com suprimentos criticamente escassos e com seu sistema de comunicação em frangalhos, suas tropas debandaram e o VI Corpo foi vencido. Consequentemente, ordenou uma retirada geral na tarde do mesmo dia.

Era o fim das forças de Samsonov. Debandaram diretamente para dentro do cerco das forças alemãs, muitos jogando suas armas fora e correndo do inimigo. A ajuda vinda da fronteira russa em forma de contra-ataques foi fraca e insuficiente.


















Generais Alexander Samsonov (à esquerda) e Pavel Rennenkampf (à direita): suas graves desavenças pessoais contribuíram para a derrota do exército russo em Tannenberg




Na ação, foram capturados 95.000 soldados russos, cerca de 30.000 foram mortos ou feridos e, do total de 150.000 homens apenas cerca de 10.000 escaparam. Os alemães sofreram menos de 20.000 baixas e, além dos prisioneiros, capturaram mais de 500 armas. Foram precisos sessenta trens para transportar o equipamento capturado para a Alemanha.

Samsonov, perdido com seus ajudantes nas florestas ao redor, suicidou-se com um tiro na cabeça por sentir-se incapaz de relatar a dimensão do desastre ao czar Nicolau II. Uma das versões é que seu corpo foi encontrado pelos alemães, que fizeram um funeral militar. Outra é que nunca foi encontrado.
.
Alguns dos Prisioneiros russos
.

3 comentários:

  1. Muito interessante.Eu procurava material sobre essa batalha quando encontrei seu blog.Muito bem explicado.

    ResponderExcluir
  2. aiii voce nao sabe um lugar que tenha assim , mais resumido ? é o que eu preciso e nao acho

    ResponderExcluir
  3. O que eu não entendo nessa e em outras batalhas desastrosas é porque não há o uso extensivo da cavalaria e em Tannemberg de aviação para que os comandantes tivessem uma idéia clara do dispositivo e movimentação das tropas inimigas.

    ResponderExcluir